Telephone

Prentiss e Prentiss: Orgulho


"O que mais um filho deseja de sua mãe é o amor e o que mais uma mãe deseja de seu filho é a felicidade." Adeilde Barros

Encarando o telefone pelo que parecia décadas ela resolveu ligar para uma pessoa. Primeiro ela pensou o que falaria, ela não poderia ligar e dizer: oi mãe, estou viva. Mas aparentemente ela não tinha nada de melhor para dizer. Pegando o telefone e fazendo uma oração silenciosa ela finalmente ligou.

“Prentiss” a mulher do outro lado da linha atendeu, ela travou, não conseguia dizer nada, parecia uma criança novamente “Oi” foi o que ela conseguiu dizer sem gaguejar, ela jurou escutar a mulher do outro lado respirar profundamente “Emily” a mulher disse calmamente. Ela não conseguiu dizer nada, pelo menos por enquanto, tantos pensamentos passavam por sua mente, mas o predominante ela expressou em voz alta “Há quanto tempo você sabe?” a senhora suspirou “Desde o início” Emily congelou, como ela podia? Todos esses meses sem nenhum contato e esse tempo todo ela sabia, isso foi frio até mesmo para Elizabeth. “Todo esse tempo mãe? Sem ao menos uma ligação, uma carta ou sei lá o que?” A agente disse com raiva, era obrigação da sua mãe verificar como ela estava, afinal é isso que as mães fazem não é mesmo? Nesse ponto ela já não estava sendo racional, ela apenas despejou anos de magoa e decepção “Você ao menos se importa comigo?” Com medo de que seu maior temor fosse real, ela finalizou a chamada para que não ouvisse a resposta.

Alguns dias se passaram, a embaixadora tentou falar com a filha novamente, mas essa não queria conversa. Ela queria dizer a filha que a amava, ela queria dar uma resposta decente a filha, mas Emily como sempre não deixou, seu medo de ser rejeitada a afastou, como sempre fazia e o pior de tudo? Ela sabia que era culpa dela. Era culpa dela não ter demonstrado o amor que sentia para sua garotinha, era culpa sua não estar presente em sua infância, era culpa dela não estar presente para ela. Afinal sua carreira sempre tomou tanto tempo dela, que mal sobrava tempo para a filha.

Emily estava em casa, tinha acabado de chegar de um caso bastante horrendo, tudo bem que todos os casos são horríveis, mas esse era mais. Como pode um filho mantar mulheres, simplesmente por causa que sua mãe não demonstrou amor por ele? Ela sabia o que era ter uma mãe que mal se vê, mas isso não justifica. Interrompendo sua linha de pensamentos o telefone toca, ela olha no visor: mãe. Ela pensa seriamente em deixar tocar, mas ao fazer isso ela só prova o quão criança ela é, então ela decide fazer o que sempre faz: enfrentar o problema.

“Prentiss” ela diz ao atender, “Você não me deu tempo para responder naquele dia” ela rolou os olhos, “Sempre direta em mamãe” a última palavra foi dita em um tom que Elizabeth infelizmente reconheceu de anos atrás, da época de rebeldia da filha, a época em que o sarcasmo era rotina para Emily. “Cale e me escute pelo menos por um momento Emily. Apesar de tudo eu ainda sou sua mãe. Sabe por que eu sabia que você estava viva? Porque fui eu quem te visitei quando você estava inconsciente, fui eu quem patrocinou a sua estadia pela Europa, fui eu quem ficou noites sem dormir à espera de um telefonema dos médicos para darem o veredito sobre seu estado, fui eu que rezei todas as noites para que você ficasse bem, fui eu Emily! Eu sei que não sou a melhor mãe do mundo Emily, afinal quantas vezes eu não te deixei só? Mas eu tento fazer o meu melhor. E haja o que houver eu faço tudo por você” Emily engoliu em seco, ela não sabia o que dizer, percebendo que a filha não estava falando ela continuou “Você pode não se lembrar, mas fui eu que estive com você em seus primeiros dias, fui eu quem te segurou pela primeira vez, fui eu que passei noites mal dormidas ao saber que você não estava bem, fui eu que te ensinei a ser alguém Emily. Eu te peço desculpas se eu não estava lá a cada vez que você se machucava, eu peço desculpas se não fui capaz de demonstrar meu amor por você, mas eu estava ocupada tentando te dar uma vida melhor.” Ela finalizou e ambas ficaram em silêncio, foi quando Emily disse o seu maior desejo, parecia bobagem, mas sempre foi o que ela desejou “Eu apenas queria que a senhora tivesse orgulho de mim” Um sorriso apareceu no rosto da embaixadora “E eu sempre tive orgulho de você querida. Eu sei que meus métodos de educação foram sempre duros, mas o que eu queria lhe ensinar era que a vida é dura, você precisa ser leal as pessoas, mas ao mesmo tempo saber que o mundo é cruel. De todas as coisas que eu já fiz Emily, você é a que eu mais me orgulho” Nesse ponto as lagrimas já escorriam no rosto de ambas “Mas você nunca me disse nada” a agente lamentou, “Eu não sou boa em expressar meus sentimentos Emily.” A embaixadora se justificou “Mas você sempre foi tão dura comigo, eu sempre pensei que você nunca quis ser mãe, afinal eu nem tenho irmãos.” “Eu fui dura com você, porque a vida é dura com a gente Emily, mas se eu fiz isso foi porque eu te amo, mais cedo ou mais tarde você iria aprender isso, se era pra aprender que fosse pelo menos comigo. Sempre sonhei em ser mãe querida, quantas vezes não desejei ter mais filhos, mas como trazer crianças a um mundo tão cruel?” Emily sabia que cada palavra do que sua mãe disse era verdade, assim como as três palavras que ela diria a seguir também era “Eu te amo” e foi nesse momento que ambas as Prentiss sentiram seu coração se aquecer, para pessoas que vivem em um mundo frio, as palavras mais simples server para nos afirmar que ainda existe esperança, ainda existe pelo que lutar e por mais que o mundo seja um lugar cruel, ainda existe amor. “Também te amo, querida”.

Ao finalizarem a ligação, ambas sentiram como se tivesse tirado um peso dos ombros. Tudo bem que elas ainda carregam sua própria bagagem: medos, inseguranças, deveres. Mas se antes elas tinham alguma mínima dúvida, agora ambas tem certeza: o amor entre elas é reciproco, é verdadeiro, é puro.

Não existe manual para ser mãe perfeita, assim como não existe manual para ser a filha perfeita. As mães tentam moldar as filhas para que estas não sofram o que elas sofreram, tudo bem cada uma tem a sua maneira, mas é tudo em nome do amor. Existem mães dos mais variados tipos, sejam elas avós, tias, ou até mesmo de criação, enquanto existir uma mãe no mundo ainda existira amor, compreensão e vida.