Teenage Runaway

His Name Is Trouble


“Sentia-se atraída por ele, mais do que gostaria de admitir.” — Um Porto Seguro

― Isso é tão ridículo. ― reclamou Kayla, pela décima vez só naquela noite. O professor Slughorn havia mandado nos entregar um convite ― ou solicitação obrigatória, como Dominique gostava de chamar ― para ir à um jantar do Clube do Slug.

― Tenho que concordar com você. ― disse, procurando alguma roupa descente para usar na ocasião. O bilhete havia deixado bem claro que não era necessário ir de uniforme, então eu procurava por algo bom o suficiente para usar. Kayla não estava nem aí, na verdade. Estava deitada na cama jogando uma bolinha, que ela mesma havia conjurado, no teto, fazendo-a quicar no teto e voltar para a suas mãos.

― Não acha que ‘tá na hora de você começar a se arrumar? ― perguntou Dominique, sentada em sua cama com Donna, minha velha gata, no colo.

― Talvez. ― respondeu, continuando a jogar a bolinha roxa no teto, e eu pude ouvir Dominique bufar. Pouco me importei, afinal conhecia bem aquela ali e sabia que ela ia deixar tudo pra última hora, principalmente porque ela não fazia questão nenhuma de ir.

Escolhi logo a minha roupa, que era na verdade uma saia rodada de cintura alta de cor salmão e um cropped florido de alcinhas. Optei por uma sapatilha de verniz preta nos pés. De acessórios, pus um cintinho preto na saia e coloquei minha inseparável correntinha com pingente em formato retangular dourado e algumas pulseiras e anéis. Resolvi deixar meu cabelo solto e natural, com o normal ondulado. Nos olhos, passei um delineador e rímel, apliquei pó compacto e o mínimo de blush possível, a fim de deixar a maquiagem bem natural. Nos lábios, passei um gloss bem claro.

Olhei para minha melhor amiga, ainda deitada e brincando com aquela maldita bolinha, como se fingisse não ter que se arrumar.

― Jackson, levanta essa bunda daí e vai logo tomar banho. ― ralhei, já impaciente. Ela fingiu não ouvir, e eu suspirei, sabendo que só mandar não iria adiantar. Peguei minha varinha, já cansada dessa “brincadeirinha”.

Accio bolinha. ― disse, e a bolinha que ao invés de voltar para as mãos de Kayla voou diretamente para as minhas.

Ei, deixa de ser chata. ― reclamou, se levantando. ― Já to indo, o.k? ― anunciou, pegando uma toalha no meio das coisas e indo em direção ao banheiro.

― Eu já vou indo, ‘tá? ― avisei, fazendo um carinho em Donna, como se me despedisse. E olhando para Dominique, pedi. ― Não deixa que ela fuja ou enrole ainda mais.

― Pode deixar. ― prometeu, e pudemos ouvir Kayla gritando do banheiro.

― Não preciso de nenhuma babá.

Ri e, já na porta, gritei de volta.

Precisa sim.

[...]

Desci para o Salão Comunal, vendo algumas pessoas lá, inclusive Fred, James, Roxy e Frank.

― Ah, você também vai naquele maldito jantar? ― perguntou Roxy, já parecendo saber a resposta. Fred riu do nervosismo da irmã caçula, e provocou.

― Só está irritada porque nunca foi chamada, e Rose sim. Você só ‘tá com ciúmes. ― Ela ficou escarlate e jogou a almofada mais próxima no irmão, deixando claro que ele estava certo. Ri com isso e Roxy me lançou um olhar de raiva.

― Vai por mim, você não vai perder nada. ― James disse, e me lembrei de que ela já havia entrado uma vez, mas foi expulso. Ignorei os olhares do mesmo sobre mim, e me dirigi a ninguém em especial.

― Rose já foi?

― Saiu há algum tempo. ― Frank respondeu.

― Ela queria esperar vocês, mas demoraram muito. ― disse James, e acrescentou com um sorriso malicioso no rosto. ― E agora eu vejo que essa demora valeu à pena...

O último comentário me fez corar levemente, mas Fred franziu a testa e olhou em volta.

― Cadê minha gata? ― questionou, e James segurou o riso por causa do apelido ridículo que o ruivo deu à minha amiga. Uma vez, quando eu, ele e Frank estávamos conversando, quando eu disse que Kayla tinha faltado um dos horários, Frank disse que Fred também tinha, e James brincou que “ele estava de quatro por ela”. Eu tive que concordar.

― A sua gata entrou no banho agora, por motivos de que ela ficou enrolando o tempo todo e, provavelmente vai se atrasar. ― respondi. ― Agora eu acho melhor ir andando, porque além de eu já estar um pouco atrasada, não faço ideia de onde é a sala do professor Slughorn. ― E fui em direção à saída, mas antes acrescentei. ― E vê se você, Fred Weasley, não faz ela se atrasar ainda mais.

Ele riu e deu um sorrisinho malicioso.

― Bom, isso eu não posso garantir. ― brincou, e eu ri. Esse garoto não presta, como certa morena que eu conheço.

Saí da Torre, ouvindo algumas reclamações da Mulher Gorda, quadro que guardava a entrada do local. Comecei a descer as escadarias de mármore, e ouvi um leve rangido e a Mulher Gorda reclamando novamente, algo como “Esses alunos não conseguem ficar quietos nem um dia”. Ignorei e continuei a descer, até alguém se materializar do meu lado.

― Potter? ― Me surpreendi ao ver o garoto ao meu lado, com o típico sorriso safado no rosto, os cabelos bagunçados e as mãos nos bolsos da calça. ― O que você ‘tá fazendo aqui?

― Quanta ingratidão, ruiva. Vim te acompanhar até a sala do Slughorn. ― respondeu, como se fosse uma coisa óbvia. Bom, pra mim não era.

― E quem disse que eu quero que você me acompanhe? ― questionei, com um pouco de irritação na voz.

― É verdade. ― murmurou, após um tempo pensando. Ele concordou? Assim, tão rápido? ― Você tem razão, eu não posso simplesmente aparecer aqui, do nada, dizendo que vou te acompanhar por esse castelo gigantesco a achar uma sala que você não faz ideia de onde é. Você, sempre pensando bastante, claro que tem razão. ― ironizou, e eu amaldiçoei até sua vigésima futura geração. Ele tem razão, meu subconsciente me lembrou. Maldito seja James Potter.

― Dessa vez você ganhou. ― disse, rendida. Eu precisava dele pra isso, e por mais que não fosse fácil, teria de aguentar todo o trajeto até lá.

Terminamos as escadarias e nos pusemos a andar, eu praticamente seguindo-o. Andamos por alguns poucos minutos, um silêncio constrangedor entre nós, até que ele pareceu cansar disso.

― Sabe, nosso trajeto iria ser muito mais interessante se você tentasse ser, pelo menos uma vez na vida, agradável. ― propôs, e eu bufei.

― Eu sou agradável, o.k? ― retruquei, e vendo o seu olhar incrédulo sobre mim, emendei, contragosto. ― Exceto com você.

― Sabe, eu gostaria muito de saber o que eu fiz pra você me odiar assim. ― murmurou, rindo. Dei um sorriso de lado.

― Eu não te odeio. ― discordei, e ele soltou uma risada irônica. ― Eu só... Não gosto de você. ― explique, com um sorriso de lado. Isso não era mentira, eu não o odiava. Só que me provocava bastante, isso sim. ― E bem, você não faz muito esforço pra mudar o que eu sinto por você.

Ele riu baixinho, e perguntou em tom de brincadeira.

― E o que, exatamente, você sente por mim?

Sabia que aquela pergunta era um pouco séria, mas não tinha certeza, já que eu não sabia se o Potter algum dia, fosse capaz de falar sério.

― Com certeza não é nada muito agradável, acredite. ― respondi no mesmo tom, e ele bufou como se fingisse revolta.

― O pior é que eu acredito. ― falou. ― Eu só não entendo. Eu sou engraçado, inteligente, bom em Quadribol, principalmente. Sou um bom amigo, tipo, te levando até a sala do Slughorn, mesmo sem você ter pedido. ― Eu ri com a última observação, e ele continuou. ― Fora que sou extremamente gostoso, vamos combinar...

― E muito modesto. ― zombei e ele riu, concordando.

― Viu? Cara, como alguém consegue não gostar de mim? ― questionou, fingindo estar inconformado.

― Vai por mim, eu não sou a única. ― disse, e ele riu.

― Ah, é? E quem mais você acha que me odeia? ― perguntou, enquanto descíamos uma escada de mármore, e ouvi um burburinho de conversa mais pra frente, podendo notar que daqui a pouco chegaríamos a nosso destino.

Pensei por um instante. Aquela pergunta era um pouco difícil, já que 90% de toda Hogwarts idolatrava James Potter. Até me lembrar de alguém.

― Cher. ― lembrei. ― E ela te odeia mesmo. ― afirmei no final, e ele riu.

― Que ela me odeia isso não é novidade pra ninguém. ― falou. ― Apesar de que pra mim, todo esse ódio que ela diz sentir por mim é, na verdade, tesão reprimido.

Gargalhei. Duvidava muito que disso, já que Cher não escondia de ninguém o ódio que sentia por ele, alegando que ele havia “destruído e salvado a vida dela”: destruído porque fez ela perder as melhores amigas, feito todos a odiarem e espalharem boatos sobre ela; salvado pois, se nada daquilo tivesse acontecido, ela ainda seria amiga de Lysander Scamander.

― É por esses e outros motivos que você é desprezível. ― comentei, e ele riu.

― Confessa, eu ser desprezível me torna ainda mais interessante. ― disse, convencido. Olhei pra ele e fingi pensar um pouco, enquanto ele fazia uma pose idiota.

― Hmmm... Isso te faz tão interessante quanto um pergaminho amassado. ― respondi, e ele fez uma falsa expressão de ofendido, e pareceu ponderar minha resposta. O burburinho de conversas estava mais próximo agora, e eu sabia que não era mais necessário ele me acompanhar agora. Então ele parou por um instante, e me olhou marotamente.

Eu fui particularmente burra de tão ter percebido o que ele iria fazer logo em seguida: Em um momento estávamos parados num corredor vazio e parcialmente iluminado e em outro, ele já havia me empurrado pra parede que estava atrás de mim, me pressionando contra ela.

― Potter! ― protestei, mas ele não se deu o trabalho de responder. Seu rosto foi diretamente para a curva do meu pescoço, sua respiração quente indo contra minha pele desnuda. Arrepiei com isso, e ele pareceu perceber. Sua boca fez uma pequena trilha de beijos no meu pescoço, suas mãos em minha cintura me segurando firmemente, como se para garantir que eu não fosse fugir.

Mas não acho que elas eram necessárias, pois eu não conseguiria fugir nem se quisesse. Eu estava hipnotizada demais para sair dali.

Deu algumas mordidas estratégicas na curva no meu pescoço, me fazendo gemer baixinho. Mas não tão baixo ao ponto dele não conseguir ouvir. Foi em direção ao meu queixo, e por fim para minha boca.

Sabia que ele não iria facilitar nada para mim. Foi dando pequenos selinhos, cada um deles me fazendo amolecer aos poucos. Por fim, puxou com os dentes o meu lábio inferior e o sugou. Quando a língua dele finalmente entrou em contato com a minha, eu soube que estava perdida.

Sentia todo o meu ser sendo consumido por aquele fogo. Uma de minhas mãos foi quase que imediatamente para o seu pescoço e a outra para seus cabelos, puxando-os. Uma de suas mãos desceu para a minha coxa, apertando com força, o que me fez soltar um fraco gemido entre o beijo.

Minhas pernas pareciam ter tomado vida própria e se entrelaçaram em sua cintura, o puxando ainda mais pra mim. Sua língua explorava cada canto da minha boca, e minhas mãos estavam fazendo um estrago em seus cabelos. Por fim, ele foi diminuindo o ritmo lentamente, sua boca em direção ao meu lábio inferior, novamente o puxando com os dentes.

Se separou de mim, me deixando ofegante, e sua boca foi em direção ao meu ouvido, sussurrando com uma voz rouca.

― E agora, posso ser considerado mais interessante? ― questionou, e minhas pernas se soltaram de sua cintura, suas mãos ainda ao meu redor.

Voltei à realidade, e a culpa pelo que eu havia acabado de fazer surgiu rapidamente, como um tapa na cara. Eu beijei James Potter, meu subconsciente gritava. E eu gostei.

― Eu não acredito nisso. ― murmurei, comigo mesma. Levei as mãos à boca, imediatamente, chocada demais. Olhei para o ser na minha frente, com um sorriso convencido e inegavelmente sexy e quis matá-lo. ― O que foi que você fez, seu desprezível energúmeno?

― Desprezível o quê? ― perguntou, e logo depois balançou a cabeça. ― Quer saber? Não importa. Bom, fiz uma coisa que já devia ter feito a muito tempo. ― respondeu, sorrindo.

Tentei ajeitar minha roupa, agora amassada. Passei as mãos pelos cabelos rapidamente, tentando ajeitá-los da melhor forma que podia. Seria difícil, já que não tinha nenhum espelho. Vi uma armadura de metal na minha frente, e a usei como se fosse um. Teria de servir. Olhando para meu reflexo, me vi completamente corada, os cabelos desgrenhados e a boca inchada. Me arrumei como pude.

Me virei novamente, vendo o desprezível ainda me olhando maliciosamente. Respirei fundo e simplesmente me virei para frente, andando em direção ao barulho. Precisava sair de perto dele o mais rápido possível. Pude ouvi-lo bufar, e novamente passos me seguiram.

― Ah, qual é ruiva, até parece que você não gostou. ― disse. ― Nunca ficou tão atraente e agradável como agora, acredite. ― afirmou, em uma tentativa falha de brincadeira. Aquilo acendeu novamente uma chama em mim, só que dessa vez de ódio.

Virei-me lentamente, meus olhos cravados no ser humano em minha frente. Andei até ele do modo mais sensual que conseguia ― o que era um tanto difícil, já que minha respiração estava descompensada, o batom um pouco borrado e eu tremia um pouco.

Quando estava de frente pra ele, me inclinei um pouco para frente, e quando ele sorriu, achando que eu tinha voltado por outra coisa, concentrei todo o meu ódio e desferi um tapa em seu rosto.

Provavelmente aquilo iria ficar marcado, mas não me importei. Saí o mais rápido que consegui, e pude ouvi-lo gritar.

― Você me paga por isso, ruivinha.

[...]

A sala do Slughorn era grande e simplesmente luxuosa. Estava cheia, cerca de quase vinte alunos de todas as casas, todos misturados entre si. Uma grande mesa de jantar estava no centro da sala, com acentos para cada um, e um maior do que todos na ponta, como se fosse o trono de um rei. Supus que seria do professor, claro. Taças de cristal estavam na frente dos lugares, vários arranjos altos de flores das mais variadas e exóticas possíveis. O teto estava enfeitiçado para parecer um céu estrelado, o que deixava o lugar bem aconchegante.

Algumas poltronas e sofás estavam espalhados nos cantos. Uma pirâmide de taças estava num canto, com algum tipo de bebida vermelha. A pirâmide era enfeitiçada, pois quando observei uma garota tirar uma taça de lá, outra surgiu imediatamente no lugar, substituindo-a.

O professor Slughorn conversava animadamente com três alunos, dois da Corvinal e um da Lufa-Lufa, quando me viu e sorriu largamente.

― Aí está ela, minha aluna estrela. ― esbravejou ele, se aproximando de mim. Olhei para os lados desesperadamente, achando que tinha chamado atenção. Pelo contrário, se três ou quatro tivessem reparado na minha chegada, ainda era muito. ― E onde está sua amiga brilhante, a Rachelle? ― questionou, ao notar que Kayla não estava comigo.

― Hm, ela se atrasou um pouco professor, mas daqui a pouco ela chega. ― respondi, mordendo o lábio inferior logo em seguida, lembrando quase imediatamente de quando o mesmo estava sendo puxado por outro alguém a alguns minutos atrás. Parei quase no mesmo estante.

― Claro, claro. ― disse alegremente, dando uma gargalhada estranha logo depois. ― Terminando de se arrumar, sugiro? Coisas de garotas.

― É, coisas de garotas. ― concordei, sem mais nada pra dizer. ― Hm, eu tenho que ir falar com um amigo meu ali, acabei de ver. ― Tentei fugir, e ele concordou alegremente, falando para comer e beber de tudo.

Fui em direção à pirâmide de bebidas, minha mão trabalhando quase mecanicamente e pegando uma taça. Tremia um pouco, mas precisava esquecer aquilo. Apagar da mente tudo aquilo que não faz bem à alma, como minha mãe sempre dizia. Bebi o estranho líquido vermelho, que tinha um gosto adocicado.

Afastei-me do local, indo em direção à um canto um pouco afastado dali, vazio. De lá, observei melhor as pessoas. Podia ver Rose Weasley conversando com Lily Luna e duas garotas, uma morena e a outra ruiva, ambas da Corvinal, que eu tinha quase certeza serem Lucy e Molly Weasley, suas primas. Em outro lugar, via Peyton Krum flertando descaradamente com Albus Potter, que parecia ignora-la completamente. Lauren Zabini conversava com um garoto que eu não conhecia. Lysander não estava aqui.

De resto, só conhecia Hugo Weasley, irmão caçula de Rose, Lorcan Scamander, irmão gêmeo de Lysander, Luke Zabini e Scott Lancaster, o garoto que Rose não parava de olhar descaradamente. E corar depois, claro.

Me sentia deslocada ali. Não queria me juntar à Rose, onde ela conversava animadamente com as primas, que eu não conhecia. Muito menos com Albus e Luke, que estavam cercados pelas cadelas da escola, e uma ainda era irmã dele. Queria ir embora, porém temia encontrar James Potter, o idiota que havia me agarrado à força ― ou não totalmente à força.

Fui retirada dos meus devaneios por uma voz masculina.

― Você é nova aqui né? ― questionou a voz, e eu virei o rosto para ver um garoto que, por falta de palavras para descrever, devo dizer lindo. Cabelos loiros e curtos, alto e de porte atlético. Um sorriso encantador, por assim dizer. Os olhos de um tom caramelo, e covinhas encantadoras. ― Que pergunta idiota, óbvio que é, chegou aqui esse ano. Sou Will, Will Baker. ― se apresentou, estendendo a mão.

Percebi que estava com a boca aberta e olhando debilmente para o mesmo, e apertei sua mãe rapidamente.

― Alexia, Alexia Dursley. ― Me apresentei, minha voz saindo num tom diferente do que o normal. Fiz um barulho com a garganta, desejando que minha voz saísse normal novamente. ― Mas pode me chamar de Lexi. ― completei, e ele me lançou um sorriso de tirar o fôlego.

― E então, qual é o seu valor? ― perguntou, e eu não entendi a pergunta de imediato, e ele pareceu perceber, acrescentando logo em seguida. ― Qual o motivo de você ter vindo parar aqui? Sua família ou um tipo de dom?

Ah sim, o motivo. O motivo que eu mesma não sabia qual.

― Sinceramente, eu não sei. ― respondi. Ele me olhou como se duvidasse de mim. ― Falo sério. Bom, eu sou boa em poções, mas só isso.

Ele riu de lado e sua covinha ficou aparente.

― Então achamos o seu valor. ― brincou, e eu sorri. Havia gostado dele, e percebi que poderíamos ser bons amigos.

― Ei, você é da Sonserina, certo? ‘Tá no time de organização do baile. ― Ele me olhou e concordou com um aceno de cabeça. ― E então, garoto misterioso, qual é o seu valor? ― brinquei, usando a mesma pergunta que ele me fez. Ele gargalhou e respondeu.

― Família. Minha mãe vem de uma família bruxa tradicional, e meu pai é ex-jogador dos Puddlemere United, então acabei me tornando um dos “alunos estrelas” do Slughorn.

Uau. Ele realmente tinha um motivo, e um bom motivo para estar ali. Aquele era lugar de pessoas como ele, não eu.

Conversamos por mais alguns minutos, e descobri coisas interessantes sobre ele. Que ele tinha uma irmã mais velha chamada Mona e que cursava o sétimo ano, assim como eu. Ele também era artilheiro da Sonserina, e também odiava estar nesse clube.

Com o passar do tempo, o professor pediu que todos nós nos sentássemos para o jantar, e percebi que Kayla já demorava bastante. Me sentei do lado de Will, e antes do jantar ser servido a porta se abriu, fazendo um horrendo barulho que chamou a atenção de todos.

A morena de olhos acinzentados acabara de chegar, usando uma calça quase completamente rasgada, uma blusa corpete preta, seu típico All-Star preto e várias correntes no pescoço. O cabelo havia sido prendido propositalmente de qualquer jeito, e o rosto estava com a típica maquiagem escura de sempre.

― Ops, acho que estou atrasada. ― comentou sarcasticamente, e eu rolei os olhos para o comentário azedo da minha amiga. O sorriso denunciava que alguém havia feito-a se atrasar, e eu fiz um lembrete mental de bater em Fred Weasley assim que o visse.

― Minha aluna estrela! ― esbravejou Slughorn, do mesmo jeito que havia feito quando cheguei. Me perguntei se ele fizera o mesmo com os outros, mas a resposta estava mais que óbvia. ― Sente-se mademoiselle. ― brincou, usando uma palavra francesa. Kayla o olhou com raiva, mas ele pareceu não perceber ― ou talvez tenha ignorado. Se sentou na cadeira vazia ao meu lado, e Slughorn começou um discurso que eu tinha certeza que eu ignoraria.

― Perdi alguma coisa? ― perguntou Kayla, enquanto pegava a taça na sua frente e bebericava calmamente, lançando um olhar furtivo ao loiro ao meu lado. Sorri disfarçadamente.

― Muito mais do que você imagina.

“Eu costumava viver como se só eu existisse, mas agora eu gasto meu tempo pensando em como eu posso tirar você da cabeça. Eu costumava ser durão, nunca realmente me entregava e então você me chamou a atenção, me dando a sensação de ser atingido por um raio.” Somebody To You (The Vamps feat. Demi Lovato)