Te Odeio Por Te Amar

Capítulo 68 - "Surpresas"


* Paulina narrando *

Alguns dias depois...

— Que bom que conseguiu um tempinho para vir comigo ver a casa que te falei antes de ir viajar. Tenho certeza de que não vai se arrepender. - Disse Célia enquanto estávamos em seu carro a caminho dessa casa que ela disse que era perfeita para mim e Carlos Daniel.

— Trabalhei dobrado para poder ir para Miami com a consciência tranquila de que deixaria tudo em ordem.

— E eu tenho muito orgulho de você, principalmente porque por fim resolveu ir ao encontro do seu amor. - Brincou.

Chegamos em frente a uma enorme fachada que parecia tomar a rua em que estávamos de fora a fora, Célia parou seu conversível vermelho em uma guarita, retirou seus óculos de sol e identificou-se.

— "Somos Célia Alonso e Paulina Martins, viemos para ver a Luciana de la Fuente."

Esperamos apenas um pouco e os grandes portões automáticos se abriram, deixando-me quase sem fôlego.

— Vou entrar devagar para que você possa admirar cada detalhe. - Ela disse enquanto dirigia em pouca velocidade.

— Célia, é... É incrível! - Eu disse olhando em volta.

Entramos pelo hall de entrada que nos direcionava até as portas principais da mansão, o caminho era rodeado pelo jardim imenso com grama verdinha e algumas árvores perfeitamente podadas. Era tudo muito verde e impecável.

— Bom, vamos dar uma volta inteira por ela, quero que veja a outra entrada antes de vermos a Lu. - Ela disse acelerando um pouco mais antes que eu pudesse descrever a fachada da casa, o que me deixou também totalmente deslumbrada.

— Não precisa se esforçar para me convencer de que essa casa é maravilhosa, Célia! - Respondi ainda olhando por todos os lados quando retirei meus óculos escuros.

— Eu sei que não, assim como sei que já está apaixonada por ela. - Ela disse convencida e rimos juntas.

— Você conhece mesmo os meus gostos, mas essa casa não é nada modesta, o que me faz pensar que o preço também não é.

— Tenho certeza de que essa palavra não existe no vocabulário de Carlos Daniel Bracho. - Disse dando uma piscadela e rimos novamente.

O outro lado da casa era tão incrível quanto toda a frente, a grama verde rodeava toda ela, do outro lado, no térreo uma enorme entrada com portas de vidro fumê que mais me pareceram ser garagens. Olhei para cima, aquela casa espetacular de três andares me deixou perplexa, suas enormes janelas de vidro, as paredes impecavelmente feitas de pedra, todo o seu redor, o andar do meio era todo rodeado de sacadas, por fora se via alguns cômodos e supostamente, por dentro se tinha uma vista ampla do lado de fora.

— Como achou essa casa? E por que pensou em mim? - Perguntei quando Célia parou o carro em frente às escadas de pedra que nos levariam ao primeiro andar.

— Minha amiga Luciana é corretora de imóveis, a melhor do México. Estávamos conversando e comentei sobre você, então ela disse que poderia nos mostrar algumas casas, mas quando disse que tinha essa, que é perto de sua casa e da fábrica, preferi dar uma prioridade e semana passada ela me trouxe aqui. Quando vi tudo isso lhe disse que não precisaria mais mostrar as outras.

— Eu sempre passo pelo outro lado, como nunca pude reparar nela...? - Me perguntei em voz alta ainda admirada com toda a beleza daquela casa.

— Então foi amor à primeira vista? - Perguntou Célia brincalhona.

— Sim, estou encantada! É simplesmente linda e é a poucos metros do parque onde eu e Carlos Daniel nos conhecemos.

— Jura? Desse detalhe eu não sabia, mas agora tenho a plena certeza de que a casa já é de vocês!

Descemos do carro e subimos pelas escadas até a entrada principal, onde havia uma enorme piscina, algumas plantas ornamentais e sofás brancos perto da porta, olhei mais uma vez para cima e fiquei ainda mais impressionada com o design daquele lugar, uma enorme sacada de vidro e aço dava a impressão de que flutuava sobre as águas da piscina, tinha pouca mobília, mas parecia que estava pronta para morar ou que ali já havia moradores.

— Célia, que bom que chegaram! - Disse uma moça alta loira vindo em nossa direção com um largo sorriso nos lábios. - Você deve ser a Paulina, é um prazer conhecê-la, sejam bem-vindas! - Cumprimentou-nos e nos guiou até o interior da casa.

— É incrível, Luciana! - Eu disse quando adentramos a entrada principal, e novamente olhei em volta, ali também não tinha muita mobília, apenas os móveis planejados em madeira maciça e os lustres de vidro.

— Sim, você tem que ver toda a casa!

Luciana nos levou em todos os cômodos e eu fiquei realmente encantada com cada detalhe, incluindo o piso impecável de madeira polida, as paredes de vidro retráteis, a cozinha gourmet, o ginásio, que ficava no andar debaixo frente à piscina. A casa tem sete quartos e seis banheiros, uma biblioteca, uma sala de jogos, sauna, vários espaços ao ar livre com jardins fechados e terraços, piscina de hidromassagem, sem esquecer de mencionar que a garagem pode comportar até oito carros. É uma casa incrivelmente grande, aconchegante e elegante.

— É tudo muito lindo, Luciana! A Célia tinha razão quando falou tão bem desse lugar.

— Sim, a Célia também super recomendou o casal de amigos que está prestes a se casar e pediu para não vendê-la antes que vocês a vissem.

— Imagino que muitos já estejam de olho nela.

— Sim, mas como a Célia é minha amiga e gostei de você, posso lhes dar a prioridade e vendê-la para vocês.

— Muito obrigada, mas gostaria que meu noivo também visse e neste momento ele está em Miami à trabalho.

— Bom, este não é um grande problema. Preparei este portfólio com todos os detalhes da casa, - disse me entregando uma revista que continha fotos e descrição de toda a casa. - e também temos este arquivo em 3D, temos um programa que dispõe aos clientes um tour pela casa como se estivesse dentro dela. Quanto a alterações na decoração e nos ambientes, nós também podemos cuidar de tudo de acordo com o que vocês pedirem. – Concluiu ao me entregar um pendrive.

— Isso é ótimo! - Respondi satisfeita e Luciana apenas precisou de alguns dos meus dados.

...

>> 1 hora depois

— E então Lina, gostou mesmo da casa? - Perguntou Célia depois de sairmos da mansão enquanto dirigia.

— É perfeita, Célia! Acho que o Carlos Daniel também vai adorar. - Muito obrigada pela indicação, estou maravilhada!

— Acho que com seus toques ela ficará perfeita para vocês, não pude deixar a Lu vendê-la sabendo que você iria adorar. - Sorriu. - Mas então, sua viagem é hoje, não é?

— Sim, daqui a duas horas.

— E o bonitão já sabe que você está indo?

— Não, eu vou fazer uma surpresa! - Respondi com um largo sorriso nos lábios e Célia me olhou com malícia.

— Hmm... E você vai fazer valer, não é danadinha?

— Com certeza! Não deixarei passar nada!

— E eu quero saber de tudo depois! - Continuamos rindo e Célia me levou para casa, lhe agradeci e nos despedimos com Célia me desejando boa sorte e boa viagem.

Minhas malas já estavam prontas, eu só precisava de um banho e falar com todos antes de ir para o aeroporto. Pedro já as havia colocado no carro e me esperaria descer no horário que combinamos.

# Carlos Daniel narrando #

— Essa semana foi muito produtiva, Carlos Daniel. O projeto foi pré-aprovado, o contrato assinado e agora, mãos à obra! Hoje devemos comemorar! – Isabel disse ao adentrar a minha sala com um enorme sorriso nos lábios enquanto eu conferia alguns números em meu laptop.

— Trabalhamos duro por isso, mas esse é só o começo de muito trabalho, não acha que deve esperar mais um pouco antes de comemorar? – Perguntei virando-me na cadeira giratória para olhá-la e ela vinha em minha direção com um copo de burbom entregando-me.

— Tenho a plena convicção de que tudo está mais que encaminhado, este projeto é magnífico e só temos a ganhar com ele, claro que ainda teremos muito que fazer, mas o mais difícil já fizemos, e com sucesso! – Disse empolgada ao erguer seu copo em direção ao meu para um pequeno brinde.

— Obrigado por todo o apoio, Isabel. É notável que acredita muito nesse projeto. – Respondi-lhe com um meio sorriso e tomei todo o conteúdo daquele copo de uma vez só.

— Não agradeça por isso. – Sorriu. – Você está cansado, vamos jantar antes de retornarmos ao hotel, não há mais o que fazer por hoje.

— Não posso. Tenho que conferir alguns cálculos antes de ir.

— Você tem trabalhado muito mais do que deveria, está tudo encaminhado, não deveria ficar aqui até tão tarde todos os dias. Não vejo motivos para se apressar.

— Preciso voltar para o México ainda esta semana, tenho assuntos a resolver em minha empresa e...

— Uma mulher. – Ela disse sendo direta. – Sei que tem uma namorada. – Disse ao sorrir e tomar um gole de seu burbom.

— Sim, estamos noivos. Pedi sua mão há alguns dias. – Sorri ao recordar-me de quando Paulina me disse “sim, mil vezes sim”.

— Parabéns, ela é uma mulher de sorte. – Isabel sorriu e ergueu seu copo antes de tomar o último gole.

— Não, eu que sou um homem de sorte por ter a Paulina. – Sei que naquele momento, minha possível expressão era de bobo apaixonado, mas não me importei. Paulina é a minha luz e eu a amo mais que tudo, pensar nela fez meu coração encher-se, senti-me ainda mais satisfeito por estar quase finalizando a primeira parte do meu trabalho em Miami para voltar para seus braços.

— Bom, então vamos? Posso te dar uma carona e você pode me fazer companhia no jantar.

Olhei para aqueles números e pensei por uns instantes. “Não fará diferença alguma se eu for agora ou daqui a uma hora.”.

— Vamos. Hoje o Saul disse que não poderia vir, vou aproveitar seu motorista.

* Paulina narrando *

Estava ansiosa, inquieta, não pude descansar um minuto sequer no avião e, quando anunciaram que já estávamos prestes a aterrissar no aeroporto internacional de Miami, meu coração deu um salto. Já se passava de sete da noite na américa e eu não conseguia parar de pensar na surpresa que faria para Carlos Daniel ao chegar em seu hotel.

O clima estava mais quente do que no México e respirei encantada ainda olhando em volta do aeroporto, fazia alguns anos que não visitava Miami e não havia me esquecido da sensação de bem-estar que este lugar me proporciona.

Ao desembarcar, não demorou muito para que despachassem as malas e, na área de desembarque já havia um homem segurando uma plaquinha com o meu nome. Apresentei-me e ele disse que se chamava Saul, também mexicano, como Marta havia me dito ao passar todas as coordenadas.

— Senhorita Paulina Martins? – Perguntou cordialmente quando me aproximei a ele e lhe sorri.

— Sim, é o Saul Diaz?

— Sim, senhorita. Seja bem-vinda! – Disse ao encarregar-se de minhas malas. - Deixe-me ajudá-la.

— Obrigada.

“Saul me disse que é motorista particular do senhor Bracho aqui em Miami e, conforme Martita lhe havia recomendado, ele não poderia suspeitar que eu estivesse chegando.”

— O senhor acha que ele já está no hotel essa hora? – Perguntei quando já estávamos quase chegando.

— Creio que não, senhorita. O senhor Bracho sempre fica até tarde trabalhando, ele pode chegar por volta das nove.

Realmente Carlos Daniel está trabalhando dobrado, não deve estar dando trégua para um descanso e me senti culpada, culpada principalmente por não estar ao seu lado dando-lhe o apoio que ele precisa, ainda mais quando pode estar tão estressado pelo trabalho diário.

Chegamos no hotel e Saul retirou as malas do carro, passando-as para o mensageiro, que veio imediatamente em nossa direção para receber-nos. O agradeci gentilmente e ele, novamente, me desejou boas-vindas.

O hotel era Miami Beach Edition, nunca havia me hospedado nele, mas sempre tive vontade. Sua fachada branca com algumas plantas em volta era muito elegante e me fascinava. O lobby, assim como a fachada, também era branco e sofisticado.

— Boa noite, eu gostaria de saber se Carlos Daniel Bracho já está em seu apartamento, por favor. – Perguntei gentilmente para o recepcionista que me atendeu com um largo sorriso no rosto.

— Boa noite, senhorita. O senhor Bracho ainda não retornou. – Respondeu-me prontamente ao conferir o computador.

— Bom, tenho uma reserva em nome de Paulina Martins. – Entreguei-lhe minha identidade e o rapaz me pediu para preencher uma ficha de cadastro.

— Senhorita Martins, há duas reservas com o seu nome. Uma é para um apartamento individual e a outra já está sendo utilizada.

— Provavelmente é a mesma suíte que o meu noivo Carlos Daniel está, estava reservado para os dois, mas eu não pude vir antes. – Expliquei sorrindo e ele retribuiu o sorriso.

— Os dados conferem com a reserva. – Disse ao conferir minha identidade com o sistema. - Sendo assim, posso abrir um novo apartamento individual para a senhorita ou posso gerar uma nova chave na suíte do senhor Bracho.

— É claro, eu ficarei com ele. Obrigada.

Esperei apenas um minuto até que o simpático rapaz me entregou um cartão chave e orientou-me onde ficava o quarto de Carlos Daniel.

...

Já na porta de um dos elevadores do hotel, enquanto esperava, enviei uma mensagem para Célia e outra para Sophia avisando que já havia chegado, quando algo me fez olhar para o lado em direção à porta principal do lobby. Meu coração falhou uma batida no exato momento em que avistei Carlos Daniel adentrando, mas ele não estava sozinho, estava acompanhado por uma mulher que, por sinal, estava sorridente demais, como se estivessem trocando uma conversa engraçada e, provavelmente, íntima.

Cerrei meus dentes e respirei fundo com o intuito de controlar o nervosismo que me atingira no momento, não pude evitar a raiva que me consumiu, mas precisei reprimi-la antes de tirar conclusões precipitadas, me forcei a sorrir ao ficar totalmente de frente a eles e Carlos Daniel notou minha presença e me olhou em total surpresa, avançou os passos deixando a mulher um pouco para trás e me lançou aquele sorriso de lado que eu tanto venero.

— Meu amor, não posso crer no que os meus olhos veem! – Ele disse quando estávamos de frente um para o outro, ele me tomou em seus braços e ficamos abraçados por um tempo. – Não me aguentava de saudades.

— Pois acredite, meu amor, sou eu em carne e osso. – Lhe sorri e toquei sua barba por fazer quando nos afastamos um pouco e vi a mulher aproximar-se mais de nós. Ela mudou totalmente o seu semblante feliz franzindo o cenho e olhou-me como se estivesse preocupada com algo, pois o seu olhar me pareceu bastante questionador.

Tomei Carlos Daniel imediatamente com um beijo discreto, mas que deixaria bem claro para ela quem era a mulher que acabara de encontrar, passei minha mão pelas costas de Carlos Daniel e subi até a sua nuca, uma mulher como ela não deixaria passar despercebido o anel de noivado em meu dedo.

— Estou com tantas saudades, minha vida. – Carlos Daniel sussurrou ao meu ouvido quando me abraçou forte mais uma vez, o olhei rapidamente e limpei seus lábios manchados com o meu batom. – Por que não me disse que viria para ir buscá-la no aeroporto? – Ele perguntou com os olhos brilhantes ao tocar minha bochecha.

— Essa deve ser a sua namorada. – Disse a mulher dona de uma voz suave após pigarrear e, ao mesmo tempo, sensual, o que me deixou ainda mais irritada. Com certeza fingiu não ter visto o anel de noivado de propósito para me afrontar interiormente.

— Noiva e muito em breve, senhora Bracho. – A corrigi rapidamente e ela sorriu de lado. Engoli em seco quando a vi melhor, uma mulher extremamente bonita, elegante, com olhos verdes brilhantes. Uma mulher que chama a atenção de qualquer homem por onde quer que vá.

— Sim, noiva, desculpe-me.

— Meu amor, essa é a Isabel Velásquez, ela representa EMC. Estamos trabalhando juntos no projeto.

Meu coração gelou no exato momento em que o ouvi dizer. “Não é possível que ele nunca a tenha mencionado durante todo esse tempo. Uma mulher assim compartilhando com ele todos os dias no trabalho e, supostamente, no mesmo hotel...”. Meus pensamentos me derrubaram juntamente com os ciúmes que me dominaram e, mais uma vez, forcei um outro sorriso tentando ser, no mínimo, cortês.

— Engraçado, meu amor, pois não lembro de você ter falado dela para mim. – Olhei para ele ainda com o sorriso estampado no rosto e a vi esboçando um meio sorriso, como se estivesse indignada.

— Sabe que o assunto ‘trabalho’ está fora de pauta para nós. – Ele disse sorrindo ao beijar meu pescoço enquanto ainda me abraçava.

O elevador chegou no andar que solicitei chamando a nossa atenção antes que ela dissesse algo.

— Aí está o elevador. – Eu disse e tomei a mão de Carlos Daniel, que estava em minha cintura, ela fingiu não se importar e perguntou:

— Não vamos mais jantar, Carlos Daniel? – A mulher perguntou olhando para ele e em seguida lançou seu olhar para mim e sorriu de lado, senti que estava querendo me afrontar, mas rebati da melhor maneira que pude.

Preferimos jantar no quarto. – Enfatizei as palavras abraçando o pescoço de Carlos Daniel, que não parava de me olhar, beijei levemente seus lábios e sorri, como se não estivéssemos frente a ninguém.

As portas do elevador iam se fechando, mas antes, ela não deixou de dizer:

— Deixemos nosso jantar para um outro momento então, Carlos Daniel. Até mais e, seja bem-vinda Paulina, foi um prazer conhecê-la. – Completou com um meio sorriso.

Apenas sorri para ela e voltei a atenção para Carlos Daniel enquanto as portas do elevador se fecharam, mas não pude deixar de sentir uma enorme insegurança me dominar, o que me incomodou profundamente.

Não consegui esconder meu desgosto e o olhei de uma maneira diferente, não pude dizer nada, pois fui surpreendida por um intenso beijo e não pude desvencilhar-me dele senão correspondê-lo de imediato, sentindo arrepios por todo o meu corpo. “Que saudades eu sentia de seus braços, de seu cheiro, de sua boca”. Antes do que esperamos as portas do elevador se abriram no andar que pedimos, mas ele não cessou seu beijo ardente, continuou tomando minha boca e não o impedi, apenas segurei um pouco mais as portas antes que fechassem e não pudéssemos descer no nosso respectivo andar.

— Temos que sair daqui... – Eu disse quando cessamos o beijo e ele assentiu, puxando-me rapidamente para o corredor e encostou-me contra a parede, beijando-me mais uma vez, me embriagando de desejo.

Por fim, adentramos a suíte máster de Carlos Daniel e, antes que eu pudesse contemplar o lugar, ele me tomou em seus braços e me apertou contra si, espalhando beijos por meu pescoço, por mais um momento havia me esquecido de tudo e me deixei levar por suas carícias, mas subitamente me veio à tona o olhar daquela mulher e em seguida a maneira como eles adentraram juntos o saguão do hotel. Me senti rapidamente tensa e fiz Carlos Daniel perceber, afastando-o de mim.

— Não dá. – O olhei nos olhos, a raiva já havia me dominado por completo novamente.

— O que foi? – Ele perguntou ainda atônito, seus cabelos bagunçados e sua carinha sexy me deixariam rendida, mas o ciúme que senti podia ser maior que isso. – Você tá muito cansada?...

Afastei-me completamente dele e caminhei em direção à sala que havia no apartamento. Carlos Daniel me seguiu e se pôs atrás de mim abraçando-me.

—...Posso te fazer relaxar inteira. – Sussurrou ao pé do meu ouvido enviando uma onda de calafrios por meu corpo e apertou um de meus seios tirando a sustentação de minhas pernas ao sentir seu membro enrijecido tocando minhas nádegas.

Não consegui responder, eu queria tanto quanto ele, aquela nuvem de desejo se intensificou quando senti meu vestido caindo ao chão e a boca de Carlos Daniel já tomava posse de meus ombros, desatando o fecho do sutiã enquanto colocou uma de suas mãos dentro de minha calcinha tocando meu ponto mais íntimo. Subitamente me vi começando a ser invadida pelo prazer que apenas ele podia me proporcionar.

— Tem uma banheira ali, - apontou para o cômodo jogando sua gravata, ao retirá-la rapidamente. – uma cama ali, - jogou sua camisa branca em direção ao quarto, - uma piscina lá, - dessa vez jogou o cinto e não pude conter um sorriso, - e aqui temos um sofá e um tapete bem felpudo, - disse ofegante ao ficar completamente nu e não contive uma leve gargalhada quando ele me virou para olhá-lo e me deitou no tapete daquela sala, rapidamente tirou minha calcinha e ficou entre minhas pernas.

— Parece que você lê os meus pensamentos. – Eu disse sorrindo sobre ficarmos ali mesmo e ele sorriu cafajeste.

Me pus rapidamente de quatro e senti uma de suas mãos em meu ombro e a outra acariciou a extensão de minhas costas descendo até minha bunda e ali apertou forte. Quando menos esperei, o senti penetrando rápido e bem profundo dentro de mim, gemi alto o seu nome quando ele moveu-se um pouco posicionando-se melhor.

— Isso! – Gemeu ele ao começar com leves movimentos de vai e vem.

— Sim... – Ofeguei revirando os olhos de prazer. – Maravilhoso... – Suspirei alto e o ouvi gemer mais e mais.

Ele começou a mover-se mais rápido entrando e saindo de dentro de mim e cada vez mais intensificava os movimentos, fazendo-me delirar na imensidão daquele desejo e, subitamente, puxou-me para um beijo ardente. Afastei-nos para ficar de frente um para o outro e o fiz deitar-se no tapete, sentei-me em seu quadril e me posicionei bem antes de começar com novos movimentos, Carlos Daniel não parava de me olhar, em seus olhos a luxúria, o desejo, a paixão, não resisti e o beijei com fogo e veemência enquanto ainda fazia movimentos circulares sobre ele.

— Gostosa... – Carlos Daniel gemeu alto nos movíamos mais rápido, sorri em satisfação cada vez que intensificávamos nosso momento.

...

Fizemos amor várias vezes naquela noite, com uma trégua apenas para o jantar, que mal foi tocado. Todos os cômodos daquele lugar foram muito bem aproveitados e, já exaustos, finalizamos na banheira, com um banho quente com sais de flores e regado de carícias e depois nos acomodamos na cama, Carlos Daniel deitou e puxou-me para abraçá-lo e acariciou minhas costas enquanto eu apenas sentia sua respiração e as batidas de seu coração recostada em seu peito. Nos braços dele era onde eu amava estar, onde eu encontrava refúgio, conforto, felicidade e paz, mas naquela noite algo estava diferente, naquela noite eu sentia uma coisa me incomodar e algo dentro de mim dizia que minhas intuições eram verdadeiras. “Isabel Velasquez”, esse nome me veio à memória como ecos junto com as lembranças de horas atrás e me senti nauseada no exato momento.

Sentei-me rapidamente na cama e pus uma das mãos em minha cabeça, respirei fundo e fechei os olhos. Carlos Daniel, imediatamente, se pôs ao meu lado.

# Carlos Daniel narrando #

— Meu amor, está tudo bem? – Perguntei tocando seu rosto. – Está pálida. – A olhei preocupado.

— Sim, estou. Só me sinto um pouco enjoada. – Ela assentiu com um meio sorriso e, prontamente, levantei-me e fui em direção ao frigobar, peguei uma água sem gás, abri e lhe entreguei.

— Tome, beba um pouco de água. – Ela pegou a garrafa e tomou alguns goles.

— Obrigada! – Sorriu e devolveu, fechou os olhos e respirou levemente. Observei cada detalhe. Linda como sempre e aparentemente frágil, a tomei em meus braços e a aconcheguei ali por alguns instantes.

— Vou chamar um médico agora mesmo, minha vida.

— Não é necessário, amor... Acho que é passageiro, já estou me sentindo um pouco melhor.

— A culpa é minha, você fez uma viagem exaustiva e não descansou como deveria.

— Não seja bobo, não creio que seja por isso. – Ela disse ao me olhar nos olhos e sorriu. – Viu? Já me sinto melhor. – Sorriu mais largo e acariciou meu rosto, peguei suas mãos e as beijei.

Nos deitamos novamente e ficamos em silêncio desfrutando apenas da companhia um do outro enquanto trocávamos carinhos quando o silêncio foi quebrado por Paulina:

— Há quanto tempo se conhecem? – Perguntou ainda deitada em meu peito, não entendi sua pergunta imediatamente.

— Hmm? – Murmurei buscando compreensão.

— Como se conheceram?

— De quem está falando? – Respondi com outra pergunta e Paulina levantou a cabeça de meu peito e com seu indicador, fez um desenho qualquer ali.

— Ué, da Isabel. De quem mais poderia ser? – Franziu o cenho e me olhou seriamente.

Estranhei aquela pergunta repentina, mas imaginei que Paulina estava com ciúmes e por isso não deixaria escapar o fato de eu estar trabalhando com uma mulher e não ter lhe mencionado.

— Nos conhecemos aqui desde que eu cheguei aqui. Por quê? – Perguntei-lhe e sorri, ela estava com ciúmes e foi gracioso notá-lo.

— Ela é muito linda. Não é?

— Eu não sei, não reparei. – Respondi ficando desconcertado e Paulina afastou-se para me olhar melhor.

— Não reparou naquele sorriso encantador e no belo par de olhos? Impossível! – Sorriu com um pouco de sarcasmo e permaneci sério a olhando.

— Ela é bonita, mas não vejo nada de incomum em sua figura.

— Então acha ela bonita. – Sorriu com ironia e sentou-se novamente.

— Ela é bonita, mas isso não me interessa...

— Ela gosta de você. – Paulina disse sendo objetiva enquanto me olhava seriamente, eu não sabia o que dizer, não tinha cabimento algum o que ela acabara de dizer e passei a me sentir confuso.

— O quê?

— Está apaixonada por você. – Disse mais uma vez ainda me observando, não pude deixar de sorrir. “Seu ciúme poderia ser tanto ao ponto de pensar o que não era verdade?”

— Como pode pensar isso?

— É muito óbvio, eu vi como ela te olhava lá no saguão, como os olhos dela brilhavam e como sorria para você...

— Senhorita Martins... – A puxei para mais perto de mim e encostei nossos corpos. – A senhorita fica mais linda quando está com ciúmes, sabia? – Toquei a ponta de seu nariz com meu indicador e a abracei enquanto distribuía leve beijos em seu ombro.

— Já transaram? – Perguntou em tom seco fazendo-me parar imediatamente. A olhei um tanto decepcionado e as palavras quase não saíam de minha boca.

— Claro que não. – Afastei-me dela para olhá-la francamente. – Por que me pergunta isso, Paulina? – Virei de costas para e levantei da cama, ficando de pé, meu coração quase saindo pela boca. – Por acaso não confia em mim?

— Não foi isso que quis dizer, Carlos Daniel.

— Então o que insinuou, afinal? – Senti tanta decepção que não pude esconder, a olhei rapidamente irritado e notei sua feição mudar ao me ver chateado. Ela baixou o olhar e ficou calada. Respirei fundo e sentei novamente na cama, ao lado de Paulina esperando sua resposta.

— Eu confio em você, mas não confio nelas.

— Você não confia em mim, pois para que aconteça algo entre mim e alguma outra mulher, eu precisaria deixar que aconteça e isso não é o que está acontecendo. Estou com você e apenas com você, essa foi a minha escolha e por isso quero que seja minha esposa, se não fosse assim, não estaríamos juntos. Repudio qualquer tipo de traição, você sabe disso.

— E por que escondeu que está trabalhando com ela? – Perguntou ficando nervosa, seus olhos molhados e sua pele cada vez mais pálido.

— Por Deus, Paulina! Eu não escondi que estou trabalhando com ela.

— Omitiu. Se omitiu é porque não queria que eu soubesse.

— Assim como você omitiu que estava com o Levy?

— O quê? Is-so é diferente. – Gaguejou e pôs a mão sobre a testa. - Levy é apenas um amigo e colega de trabalho.

— É sim... Bem diferente, pois meu relacionamento com Isabel é estritamente profissional. Não há relevância alguma mencioná-la. Já aquele Levy, sei muito bem o que quer com você e não adianta me dizer que não tem nada a ver. – Respondi com total ironia e irritação ao me levantar da cama.

— Não se justifique com...

Paulina não disse mais nada, apenas correu para o banheiro e se prostrou no chão frente ao vaso sanitário. Corri atrás dela, agora preocupado, e vi que estava vomitando. Senti minha consciência pesar naquele exato momento, ela já não parecia bem desde que começamos a discutir e agora passava mal por minha causa.

— Lina... – Com muito pesar, ajoelhei-me ao lado dela, segurei seus cabelos e massageei suas costas no intuito de ajudá-la, o rosto já não era mais pálido, estava vermelha como um tomate. Eu não sabia o que fazer, só conseguia me sentir responsável por seu mal-estar. -...Me desculpa, amor... – Acariciei seus cabelos quando ela parou de vomitar e me olhou com seus olhos vermelhos e colocou as duas mãos na cabeça.

— Quero tomar um banho frio... – Ela disse baixinho ao segurar meu braço. – Me ajuda?

— Claro que sim, minha vida... – Levantei-me rapidamente e a ajudei a se despir e entrar na ducha fria.

Enquanto Paulina tomava banho eu a observava de perto, peguei meu celular e liguei para Rodrigo, torcendo para que ele atendesse imediatamente, como sempre.

— Pronto! – Rodrigo disse ao atender.

— Rodrigo, estava dormindo?

— Não, acabamos de chegar no hotel. Por quê? Aconteceu algo?

— Bom... A Paulina está aqui comigo, ela chegou hoje mais cedo e não está se sentindo bem.

— Mas o que houve? Vocês estão no hotel?

— Sim, estamos em meu quarto. A Patrícia pode vir aqui examiná-la? – Pedi apreensivo enquanto a observava tomar banho.

— Claro! Estamos aí em cinco minutos.

Desligamos a chamada e levei uma toalha até Paulina, que a tomou e enrolou em seu corpo pegando outra para secar os cabelos.

— Se sente melhor, Lina? – Perguntei receoso ao ajudá-la sair do box. Ela me olhou serena e esboçou um leve sorriso assentindo com a cabeça.

— Sim, bem melhor. Eu acho que a comida não me fez bem.

— Vem, vou te levar para o quarto. – Sem ela esperar, a carreguei em meus braços e ela me olhou apertando os olhos.

— Não seja exagerado, Carlos Daniel... Eu estou bem, posso caminhar sozinha. – Disse seriamente e a coloquei sobre a cama cuidadosamente.

— Pode pegar minha mala, por favor? Preciso vestir algo. – Imediatamente busquei sua mala e a pus sobre a cama ao lado dela.

— A Patrícia está vindo, ela vai te examinar. – Disse sentando-me ao seu lado e Paulina me olhou com os olhos bem abertos.

— Não é para tanto, eu estou bem, de verdade. – Disse olhando-me e enquanto abria a mala. – Deve ter sido porque não descansamos após o jantar. – Paulina continuava séria, ainda não me olhava nos olhos e eu estava apreensivo demais com isso, uma enorme vontade dentro de mim me fazia querer volta a falar sobre o assunto anterior, mas eu deveria ser cauteloso e esperar que ela ficasse bem.

— Mesmo assim é melhor termos a certeza de que você ficará bem.

— Carlos Daniel, eu...- Paulina ia dizendo quando foi interrompida com as batidas na porta.

— Vista-se, enquanto isso vou recebê-los. – Ela concordou e dei-lhe um beijo na testa antes de sair do quarto.

...

— Boa noite, Carlos Daniel. O que aconteceu? – Patrícia perguntou após nos cumprimentarmos.

— A Paulina passou mal, estava tonta e vomitou.

— Quando foi isso?

— Faz uns quinze minutos. Ela diz que não é nada, mas estou preocupado.

— Bom, deixe-me vê-la.

— Vou aguardar aqui na sala. – Disse Rodrigo à Patrícia, que assentiu e a conduzi até o quarto.

Ao adentrarmos, Paulina estava sentada na cama encostada na cabeceira, sorriu ao ver-nos e acomodou-se melhor.

— Meu amor, essa é a Patrícia, ela veio te examinar. – Falei com preocupação e Paulina olhou para Patrícia e sorriu.

— Boa noite, Patrícia. – Disse Paulina com um meio sorriso.

— Como vai, Paulina? – Patrícia respondeu aproximando-se mais.

— Já me sinto melhor, não precisava incomodá-la, de verdade.

— Imagina, não é incômodo algum. É um prazer, e que bom que veio à Miami. – Patrícia disse também sorrindo.

— Obrigada, Patrícia. Por favor, sente-se! – Disse Paulina apontando para a beira da cama ao seu lado.

— Bom, a princípio vou te fazer umas perguntas básicas e logo te examino. – Disse Patrícia abrindo sua maleta. – Carlos Daniel, deixe-nos a sós, por favor. – Patrícia disse ao levantar-se, tocando meu ombro. – Fique tranquilo que a Paulina vai ficar bem. – Sorriu pacífico e concordei, ainda que apreensivo por deixá-las a sós.

— Está bem, mas se precisar de qualquer coisa, é só me chamar.

Aproximei-me de Paulina e beijei-lhe a testa, depois as deixei a sós e fui ter com Rodrigo.

* Paulina narrando *

O enjoo já havia passado e eu me sentia muito melhor, com certeza foi pela comida que eu acabei passando mal. Não havia necessidade de incomodar Patrícia e Rodrigo com algo assim, mas Carlos Daniel já o havia feito. Patrícia é muito simpática, sorridente e meiga, eu sabia que nos daríamos muito bem. Perguntei se havia sido uma coincidência por ela estar com seus instrumentos médicos, mas ela disse que os levava por onde quer que fosse.

— Bom, me conta. Você veio da capital do México para Miami, estava em casa antes ou fez alguma outra coisa? – Perguntou enquanto colocava um estetoscópio em volta do pescoço e começou a fazer algumas anotações em uma espécie de prontuário.

— Eu trabalhei pela manhã, depois encontrei uma amiga e fui para casa.

— Tomou café da manhã antes de sair para o trabalho? O que comeu?

— Comi uma fruta, queijo, pão, tomei suco e café. Acho que foi isso.

— Almoçou também?

— Comi uma barrinha de cereal antes de encontrar a Célia, depois eu já tinha pouco tempo para ir para o aeroporto e não comi nada, mas fiz uma refeição no avião.

— Nos dias anteriores tem se alimentado direito?

— Mais ou menos, meus dias têm sido uma correria. Tinha muito trabalho e estava acompanhando as vítimas do incêndio, eu saía cedo de casa e chegava tarde.

— Então o café, almoço e a janta eram superficiais...? – Perguntou seriamente sem deixar de fazer suas anotações.

— Sim.

— E é a primeira vez que se sente mal dentro desses dias?

— Na verdade não. Me senti um pouco tonta e fraca duas vezes na semana passada.

— Não pensou em procurar um médico?

— Não, eu atribuí tudo à rotina pesada que estava tendo. – Respondi tornando-me um pouco preocupada, não imaginei que ela fosse me fazer tantas perguntas.

— Hmm... – Ela murmurou e mais uma vez fez anotações. – Está tomando algum remédio? Fazendo algum tratamento com medicamentos?

— Não, nada.

— Pílulas anticoncepcionais?

— Bom... Sim e não. Estava, mas ultimamente não tenho conseguido seguir tomando corretamente, acabo esquecendo.

— E quando têm relações sexuais, usam preservativos?

Senti meu rosto esquentar no exato momento e sei que não consegui esconder, pois Patrícia riu no mesmo momento em que deixou de olhar o prontuário e me olhou quando percebeu que hesitei.

— Sei que as perguntas são invasivas, mas é necessário perguntar tudo que puder. – Explicou sorrindo.

— Tudo bem. – Disse-lhe um tanto sem jeito. - Bom, nem sempre usamos camisinha.

— E quando foi a última menstruação?

— Faz pouco mais de um mês. – Respondi pondo-me pensativa.

Okay... – Respondeu voltando sua atenção para o papel e continuei a observando. – Hoje, quando começou a se sentir enjoada? Sentiu algo mais além disso?

— Não, eu estava muito bem. Jantamos apenas há umas duas horas, mas... – Hesitei mais uma vez sem saber como continuar a frase e Patrícia me observava com atenção.

— Mas...?

— Você sabe... Eu... Nós... – Gaguejei ao tentar explicar e mais uma vez senti meu rosto esquentar. – Bom, depois do jantar nós...

— Entendo, não precisa ficar sem graça, Paulina. Pode acreditar, já ouvi coisas muito mais embaraçosas do que “nós transamos depois do jantar”. – Disse descontraindo e sorri sem graça. – Acho que você não sabe, mas minha especialidade é ginecologia e obstetrícia e eu já vi de tudo. Então, não precisa ficar sem graça, agora você está falando com uma médica, mas pode me ver como uma amiga também. – Patrícia sorriu amavelmente e logo pegou em sua maleta um medidor de pressão.

— Obrigada, Patrícia. Bom, você entendeu.

— Sim. Não se preocupe. – Disse retirando o estetoscópio do pescoço. – Agora, vou aferir a sua pressão.

Ela colocou o aparelho em meu braço e contou com o relógio de pulso. Depois fez mais algumas anotações enquanto dizia:

— Sua pressão está normal, Paulina... Não houve nenhuma alteração. Vou checar seus batimentos e sua respiração agora. – Ela pôs o outro aparelho em meu peito e pediu para inspirar e respirar algumas vezes. -... Por aqui também não vejo nenhuma anormalidade.

Depois ela pressionou com leveza meu abdome perguntando se sentia algum incômodo e também não sentia nada. Colocou uma pequena luz em meus dois olhos e depois fez mais algumas anotações.

— E então, Patrícia? O que acha que tenho? – Perguntei sem mais conseguir esperar.

— Bom, Paulina... Você me disse que não se alimenta direito há alguns dias, que se sentiu mal outras duas vezes além dessa e que esteve muito ocupada nos últimos dias. Disse que não está fazendo uso de nenhum medicamento, que não tem feito uso de nenhum contraceptivo e que está com a menstruação atrasada. – Senti um arrepio percorrer o meu corpo ao imaginar o que, provavelmente, estaria por vir. – Acredito que devido ao estresse que você tem enfrentado e junto com a má alimentação, esses sintomas apareceram. Estou passando um hemograma para que possamos ter certeza.

Baixei o olhar e respirei fundo, por um momento achei que Patrícia me diria outra coisa, mas fui surpreendida quando ela continuou a dizer:

— Quero que faça também um exame de gravidez. – A última palavra ecoou em meus ouvidos e não consegui pensar em mais nada além do fato de que eu já poderia estar gerando um outro ser dentro de mim. “Essa era a outra coisa que achei que ela diria e ela acabou dizendo”. Senti-me assustada e emocionada ao mesmo tempo e fiquei perdida nessas sensações quando fui desperta pela voz de Patrícia que já concluía a frase: “...por isso é necessário realizá-lo”.

— V-você pode dizê-lo novamente? – Perguntei ainda um pouco aturdida.

— Eu disse que também estou passando um beta para nos certificarmos, pois, os sintomas também podem ser esses e, apesar de minha especialidade eu não posso afirmar nada, o exame é necessário para que possamos ter o diagnóstico exato.

— E-está bem.

— Agora vou chamar o Carlos Daniel, ele deve estar muito inquieto e preocupado. – Disse com um leve sorriso enquanto eu ainda continuava parada, tentando absorver sua outra hipótese.

Patrícia saiu do quarto por uns instantes e voltou com Carlos Daniel, que veio na frente e sentou-se ao meu lado com sua feição preocupada.

— Como está, meu amor? – Perguntou ao tocar meu rosto.

— Bem... – Respondi com um sorriso e ele segurou minha mão e olhou para Patrícia, que se aproximou de nós.

— Como ela está, Patrícia? O que houve?

— Para que possamos descobrir serão necessários alguns exames.

— Quais são esses exames? Você acha que é algo muito sério? Vamos agora a um hospital? – Perguntou afoito, o que fez Patrícia com seu jeito exagerado.

— Meu amor, fique tranquilo. A Patrícia acha que posso estar com uma anemia, não tenho me alimentado direito nos últimos dias, então o que aconteceu hoje pode ter sido consequência disso. – Eu expliquei antes que Patrícia dissesse algo.

Patrícia me olhou e meneou a cabeça em compreensão. Pensei em contar sobre o outro exame quando ficássemos a sós, apesar do receio que sentia ao fazê-lo criar muitas expectativas sobre termos um bebê e esse não ser o momento. Uma vez ele me contou que ficou muito arrasado quando pensou que seria pai e tudo não passou de um engano de sua ex noiva, eu não quero fazê-lo sentir assim novamente, mas sabia que teria de ser honesta quanto a tal hipótese.

Eu, dentro do meu ser, já semeava uma esperança de que essa hipótese estivesse correta, não poderia negar que se estivesse grávida de um filho de Carlos Daniel nada me faria mais feliz nesse mundo e sabia que ele ficaria tão feliz que não caberia em si e não queria ser responsável por sua frustração caso estivesse apenas com os sintomas de estresse.

— Conheço um Hospital próximo que é excelente, se você não se importar, eu mesma posso acompanhar a Paulina e agilizar com os exames amanhã cedo.

— Não queremos incomodá-la, Patrícia. – Eu disse ficando sem graça, Patrícia já estava fazendo muito por nós, não seria justo tomar mais de seu tempo.

— Não é incômodo algum, Paulina. Afinal, não farei nada amanhã, o Rodrigo estará trabalhando e o que eu faço é compras ou passeios, nada mais. – Sorriu amavelmente.

— Bom, se é assim tudo bem, mas eu também as acompanharei. – Carlos Daniel disse e não pude argumentar, apesar de saber que ele tinha de trabalhar ao invés de ir comigo ao hospital, eu queria que ficar mais um tempo com ele e saber que ele ficaria mais algumas horas longe daquela mulher me causava certo alívio.

— Então combinado. Amanhã bem cedo encontro vocês. – Disse Patrícia enquanto colocava seus instrumentos de volta na maleta. – Agora descansa um pouco, Paulina e, Carlos Daniel, é bom que ela coma alguma coisa antes de dormir. E amanhã precisa estar em jejum de, pelo menos três horas.

— Está bem Patrícia, muito obrigado por tudo.

— Não tem de quê, Carlos Daniel. Boa noite Paulina, até amanhã.

Patrícia despediu-se de mim com um beijo rosto e eu lhe enviei um abraço ao Rodrigo, Carlos Daniel fez um sinal de que já estaria de volta e me deixaram sozinha no quarto. Fechei os meus olhos e, em um gesto involuntário, pus minhas mãos sobre o meu ventre, sentia em meu coração algo diferente quando imaginava a possibilidade de ter um bebê. Sorri ao constatar tal ideia.

— Está se sentindo bem mesmo, minha vida...? – Carlos Daniel perguntou ao retornar ao quarto, sentou-se em minha frente e tocou minhas pernas na cama.

— Sim, Carlos Daniel... Estou bem.

— Quer alguma coisa? Água?

— Não, eu... Preciso te dizer uma coisa. – Senti meus batimentos aumentarem quando o via atento ao que eu dizia enquanto franzia o cenho.

— Está tudo bem mesmo, Paulina? Você parece um pouco emocionada. – Ele disse tocando meu rosto ao chegar mais perto de mim. Respirei fundo, pois estava transparecendo o que realmente sentia e ele havia percebido.

— A Patrícia solicitou um exame de gravidez também. – Ver a reação dele foi inexplicável. Carlos Daniel ficou estático, como se estivesse absorvendo aquelas palavras, igual a mim quando Patrícia falou, ele agarrou minhas duas mãos e as uniu apertando-as nas suas. Depois, já com seus olhos emocionados, olhou e tocou meu ventre, depois olhou no fundo dos meus olhos.

— Faz todo sentido... Meu Deus, Lina... Você pode estar grávida! – Ele disse com tanta emoção que, ao mesmo tempo em que eu fiquei feliz, fiquei também com mais receio por ter acabado de criar nele tamanha expectativa. Sei que um filho é tudo que ele mais quer na vida.

— Não é nada certo, Carlos Daniel... É apenas uma possibilidade.

— Eu sei, meu amor... Mas é muito provável que sim, ainda esta semana você comentou que sentiu vertigem quando chegou do trabalho, sei que não estava se alimentando direito, estava muito preocupada com as vítimas do incêndio. – Ele disse segurando firme minha mão.

— Sim, mas não foi nada demais e...

— Fizemos amor há duas semanas e não nos prevenimos. – Não pude esconder o sorriso que brotou de meus lábios, estava chateada com ele há menos de uma hora e esse sentimento havia se dissipado, substituído apenas pelo imenso amor que eu sentia por ele, o que parecia ter intensificado ainda mais. E vê-lo tão emocionado apenas por pensar que eu poderia estar gerando um filho seu me fazia amá-lo ainda mais.

— E se eu estiver...

— Então nada poderia me fazer mais feliz e completo... – Disse baixinho com um largo sorriso no rosto e acariciou meu ventre com carinho. – Ter uma família com você é o maior desejo do meu coração. – Ele disse com seu jeito fofo e me abraçou, chorei de uma mistura de sentimentos que eu ainda desconhecia, depois ele se afastou um pouco e me beijou com suavidade.

— Carlos Daniel, não sabemos ainda se está acontecendo ou não. Não quero que fique muito esperançoso e depois se decepcione demais. – Expliquei quando nos separamos do beijo.

— Não se preocupe, Lina... Se não for agora, será no momento que tiver de ser. – Ele me sorriu compreensivo e logo olhou novamente para o meu ventre acariciando-o. - Mas se você estiver mesmo grávida, eu serei o homem mais abençoado da terra. – Disse carinhoso e me aconchegou em seus braços, ficamos ali em silêncio por alguns minutos, apenas sentindo um ao outro.

...

# Carlos Daniel narrando #

Estava tão ansioso e expectante por saber se Paulina está mesmo esperando um bebê que sabia que não dormiria aquela noite. Pedi uma sopa com torradas para ela jantar e quando olhei o relógio ainda apontava as 23h. Não conseguia parar de admirá-la e pensar na excelente mãe que ela será, é tão doce, amável, paciente, inteligente e mandona... Já conseguia imaginá-la cuidando e educando os nossos filhos, mas por hora me contive e não lhe disse todas as coisas que passavam por minha imaginação até termos a certeza, afinal, sei que Paulina temia que eu me decepcionasse demais com um negativo, mas sendo o caso, eu estava também pronto para isso.

Depois de me certificar de que Paulina estava melhor após ter tomado a sopa, escovamos os dentes juntos e sorríamos um para o outro, estávamos bem, apesar de termos discutido antes de ela ter passado mal, e isso me deixava um pouco mais leve. Apenas a possibilidade de termos um bebê havia nos mudado em pouco tempo, era como se algo dentro de mim houvesse melhorado e eu sentia que com Paulina também era assim

— Eu gostaria de dormir para que as horas passem logo e saibamos os resultados dos exames, mas me sinto ansioso demais para pregar os olhos. – Confessei a olhando quando já havíamos deitado na cama.

— Carlos Daniel, e se eu estiver apenas estressada ou com alguma anemia? – Paulina perguntou com apreensão no olhar e toquei-lhe a bochecha.

— Então vou cuidar de você para que fique perfeitamente bem, e na hora certa nosso bebê virá...

— Eu não quero que se decepcione com...

— Shh... Não se preocupe com isso, eu estou pronto para qualquer resultado, e estarei sempre ao seu lado em tudo. – Acariciei o rosto dela e aproximei-me mais para um selinho em seus lábios.

Paulina dormiu em pouco tempo e a contemplei por alguns minutos até também ser dominado pelo sono.

...

Na manhã seguinte:

Bem cedo já estávamos no Hospital Dignity Health junto com Patrícia, eu e Paulina estávamos nervosos com o resultado, apesar de não deixarmos transparecer demais, mas sabíamos que Patrícia havia notado, com certeza. Não demorou muito para que Paulina fosse chamada para a sala de exames e eu a acompanhei, foi muito rápido, a enfermeira apenas retirou sangue de Paulina e nos pediu para aguardar pelo resultado.

— O resultado sairia em, pelo menos, duas horas, mas consegui solicitar como prioridade para que seja mais rápido. Acho que dentro de meia hora já o teremos. – Patrícia disse sorrindo e nos entregou dois cafés. Eu me sentia tenso e ansioso, mas para Paulina disse que estava perfeitamente bem para tranquilizá-la.

Conversamos um pouco enquanto esperávamos pelos resultados, mas logo o celular de Patrícia tocou fazendo-a ter de se afastar um pouco de nós, parecia que alguém de sua clínica precisava de algum auxílio de suma importância e ela teria de orientá-lo.

— Vamos à lanchonete, Lina... Você precisa comer alguma coisa. – Disse a Paulina chamando a sua atenção ao tocar seu queixo, ela estava completamente pensativa naquele momento.

— Eu não vou conseguir comer nada por agora. – Ela respondeu ao me olhar e sorriu. – Quando chegarmos no hotel eu prometo que tomo um café da manhã reforçado.

— Tudo bem, mas se os resultados não saírem em meia hora, você vai comer algo, combinado?

— Combinado.

Logo, uma funcionária do Hospital chamou pelo sobrenome de Paulina. Os resultados já estavam prontos, foi ainda mais rápido do que Patrícia pensou. Acompanhei Paulina, que pegou dois envelopes e me olhou com os olhos trêmulos.

Segurei uma de suas mãos para lhe transmitir confiança e nos afastamos para um lugar um pouco mais privado ali mesmo na enorme sala de espera, Patrícia ainda estava ao telefone e não quisemos interrompê-la, então Paulina me disse que preferiria abrir o Beta primeiro antes de avisar a Patrícia, concordei com sua decisão e então, atentamente ela abriu o envelope, retirou o papel que estava dentro e ficou ali por uns segundos lendo-o, segundos estes que mais me pareceram horas por tão ansioso que estava pelo resultado.

— E então, meu amor...?

...