* Paulina narrando *

– Minha princesa, acorda... – Ouvi a voz de Carlos Daniel baixinho em meu ouvido e sorri sonolenta quando ele roçou seu nariz em meus cabelos. - Hmmm, como adoro seu cheiro... – Acordei com essas palavras que ele dizia me abraçando por trás enquanto ainda estava deitada.

Suspirei e, ainda com os olhos fechados sorri, não havia melhor maneira de acordar que essa.

– Já estou com tantas saudades... – Ele disse com sua voz matinal e acariciou meu pescoço com seus lábios, fazendo-me sentir leves cócegas. – Vamos aproveitar mais um pouquinho o tempo que nos resta antes de você ir trabalhar. – Deslizou seus dedos por meu ombro arrepiando-me ali por onde passava seu toque.

Virei-me para olhá-lo e ele apoiou sua cabeça em seu braço e sorriu cafajeste.

– Bom dia!

– Bom dia, meu céu... Tão linda... – Ele tocou meu rosto passeando os dedos por minhas bochechas e tocou meus lábios, logo, beijando-os. Depois se virou e pegou seu celular direcionando-o para mim.

– O que está fazendo?

– Estou registrando esse momento, você não faz idéia do quanto é linda quando acorda.

– Bobo! – Sorri sem graça cobrindo minha boca com o lençol e ele aproximou seus lábios e beijou minha testa, uma de minhas bochechas, meu nariz e tirou sutilmente o lençol de minha boca para beijá-la.

– Olha só o que eu trouxe para nós... – Apontou para uma bandeja de café da manhã que estava sobre a mesa.

– Hmmm... Estou faminta! – Suspirei e toquei seus cabelos fitando-o com admiração.

– Não é pra menos, depois de uma noite tão cansativa e prazerosa...

– Carlos Daniel! – Exclamei. Ele estava me deixando sem graça.

– É verdade, minha vida... Você é perfeita, você é puro fogo, é pura paixão! – Sorriu cafajeste e tocou meus lábios com os dedos, fazendo-me corar. – E o que foi aquilo dessa noite?! Eu quero mais, muitas noites como essas.

Carlos Daniel tomou meus lábios beijando-os com destreza, posse e sensualidade. Foi um beijo rápido, mas que despertou em mim o desejo de tê-lo novamente.

– Te amo, Carlos Daniel. – Sussurrei lábio contra lábio e ele segurou meu pescoço levemente com suas duas mãos acariciando minhas mandíbulas com seus polegares.

– Te amo, minha vida. – Ele disse espalhando beijinhos por meu rosto. – E a cada dia vou te amar mais. Obrigado por me fazer sentir vivo novamente, me sinto revigorado, feliz, pleno, me sinto um novo homem e vou fazer de tudo para ser melhor a cada dia, por você, pra você...

– Não diga assim, meu amor... Você é um homem maravilhoso e eu te amo do jeito que você é... – Declarei acariciando o rosto de Carlos Daniel que fechou os olhos sob meu carinho e pegou minha mão para beijá-la.

– Eu não quero que vá embora...

– Eu sei... Mas...

– Sim, você também tem uma casa e uma família. Não posso ser tão egoísta. – Ele disse desanimado e me olhou seriamente.

– É sim, e eu também preciso trabalhar. Preciso resolver algumas coisas que estão pendentes, e você também tem que retomar a sua rotina. – Expliquei tocando rapidamente a ponta de seu nariz.

– Sim, tem razão, então isso também me dá o direito de te seqüestrar algumas vezes em casa ou em seu trabalho, senhorita Martins... – Ele disse brincalhão e me agarrou rapidamente, fazendo-me deitar novamente na cama e caímos numa gargalhada.

– Tudo bem senhor Bracho, como o senhor quiser. – Ele me fez algumas cócegas e trocamos mais algumas caricias até tomarmos nosso café da manhã.

Carlos Daniel me entregou um roupão para vestir, trouxe uma enorme bandeja de café da manhã e desfrutamos daquele momento enquanto comíamos, conversávamos e brincávamos apaixonadamente. Aqueles momentos estariam marcados em minha memória para sempre, jamais havia me sentido tão amada e feliz como me sinto quando estou com Carlos Daniel e tal sentimento é impagável.

...

Terminamos nosso romântico desjejum e fomos tomar um banho, o que não foi apenas um banho, pois eu não me atreveria a resistir os braços do homem que tinha, muito menos quando estávamos prestes de nos separarmos. Fizemos amor no chuveiro com calma, sem pressas, queríamos aproveitar ao máximo um do outro e eu não queria que o tempo passasse enquanto estava ali com ele, não queria que nos separássemos, mas também precisava voltar a enxergar outras coisas de minha vida, pois desde que vim para a casa de Carlos Daniel, o coloquei como prioridade e disso eu tinha total consciência.

Saí do banheiro um pouco antes de Carlos Daniel e me empenhei em me arrumar, já estava ficando atrasada, tinha que passar em casa antes de ir à fábrica. Carlos Daniel não tardou muito, também estava disposto a trabalhar e vestiu-se formalmente para voltar ao escritório aquele dia.

– Como se sente? Hoje você está de volta à empresa! – Perguntei sorridente e me aproximei dele ajudando-o a abotoar sua camisa branca.

– Me sinto feliz, forte, cheio de vigor e disposição! – Ele me disse com aquele sorriso cafajeste e beijou rapidamente meus lábios.

– Fico feliz em te ver tão bem, meu amor...

– E graças a você! – Tocou a ponta de meu nariz e sorrimos um para o outro, apaixonados.

– O que acha de eu escolher a gravata que você vai usar hoje, hm?

– Ótima idéia! – Ele sorriu e eu me dirigi até seu closet em busca de uma gravata para complementar sua vestimenta.

Levei um tempo procurando, Carlos Daniel tem muitas gravatas e fiquei em duvida com algumas que havia escolhido. Quando finalmente encontrei a que mais gostei, decidi que também escolheria as abotoaduras, e espontaneamente abri a gaveta de cima, a mais estreita quando algo maior me chamou a atenção fazendo-me estremecer por inteiro.

Dentro da gaveta havia uma foto, a foto de uma mulher. Rapidamente peguei aquele retrato e o vi melhor, uma mulher morena, usava um vestido verde justo de alças e decote, batom vermelho, cabelos negros e longos e em seus olhos extremamente verdes algo que passou a me intrigar. Quem será esta mulher?Me perguntei em silencio sentindo um calafrio percorrer por minha espinha, e sem pensar virei a foto para olhar o verso.

“...Mas sem você eu não me quero.

Só me aceito sendo tua... metade, mulher, paixão.

Sempre tua... Fabíola.”

Quem seria esta mulher? O que faz essa foto escondida aqui nessa gaveta? Por que Carlos Daniel nunca me falou dela?Mil e uma perguntas inundaram minha mente, estava ali agora parada e confusa segurando aquela fotografia, e sem perceber senti meus olhos embaçarem por lágrimas teimosas que os molhavam.

NÃO. Só podia ser brincadeira ou tudo o que estaria passando por minha cabeça não passava de fruto da minha imaginação.

– Meu amor, não encontrou a gra... – Carlos Daniel disse rapidamente quando entrou no closet e me viu segurando aquela foto. Parou de supetão e olhou em seguida para minhas mãos, ficando totalmente estático quando me olhou nos olhos.

“...Só me aceito sendo tua... Tua... Fabíola.” – Reli algumas palavras que continham naquele papel o olhando com sarcasmo e ele se aproximou de mim me olhando seriamente.

– Paulina...

– Quem é Fabíola, Carlos Daniel? – Perguntei objetiva, erguendo a fotografia em minhas mãos na direção dele.

Carlos Daniel permaneceu parado encarando o papel em minha mão.

Enxuguei as lágrimas finas que deslizaram por meu rosto e perguntei novamente:

– Quem é essa mulher da foto?

– Não é ninguém. – Ele respondeu grosseiramente.

– Como não é ninguém se esta foto estava em sua gaveta? – Perguntei aproximando-me, sentindo minhas mãos tremerem de raiva.

– Não é ninguém, acredite Paulina! – Respondeu com uma cara de poucos amigos e me senti irritada com sua resposta.

Não sabia o que responder, apenas dei um passo à frente e quando estive mais perto, joguei a fotografia em sua cara, o olhei com reprovação e atravessei a porta do closet indo em direção à cama para terminar de colocar as coisas em minha bolsa.

– Paulina, não suporto que me trate dessa maneira... – Carlos Daniel se aproximou e me abraçou por trás.

– E como quer que o trate, Carlos Daniel? Acabei de encontrar em uma gaveta a foto de uma mulher linda e atraente com uma dedicatória para você... Como quer que eu aja? – Perguntei retirando suas mãos de minha cintura afastando-me dele.

– Essa mulher é... – Ele respondeu cerrando os dentes. – É alguém que não me agrada recordar. É uma vagabunda, uma sem escrúpulos, sem vergonha! – Continuou dizendo com raiva, nunca havia visto Carlos Daniel assim, mas eu também estava com raiva naquele momento.

– Uma vagabunda que está guardada em uma de suas gavetas?! – Indaguei indignada, meu coração parecia que ia saltar pela boca de tanta raiva que sentia, depois de tudo o que passamos juntos... Eu me abri com Carlos Daniel e lhe contei coisas que jamais imaginei contar a alguém e ele continuava a me esconder coisas sobre sua vida. – Por que guarda a foto desta mulher, Carlos Daniel?

– Eu não guardei... Eu... Eu nem lembrava que isso estava lá. – Ele disse apertando seu punho em nervosismo.

– Por que não me contou sobre essa mulher, Carlos Daniel? Será que é porque ainda é apaixonado por ela? – Eu perguntei sarcástica e ele parou rapidamente e me olhou com indignação. Senti meu coração doer e as lágrimas caíram de meus olhos quando ele se aproximou de mim e disse:

– Não diga o que você não sabe, Paulina! Não tire conclusões do que não conhece apenas porque está com raiva e com ciúmes.

– E eu não tenho razão em me sentir assim, Carlos Daniel? – Perguntei encarando-o de perto.

– Sim, você está no seu direito, mas não diga coisas que não sabe!

– Se não sei de nada é apenas por um motivo! E você sabe muito bem qual é... Quando vai me contar alguma coisa sobre você, Carlos Daniel? Vai ficar ocultando tudo sobre a sua vida ou quer que eu adivinhe por meio de... Pistas?! – Ri ironicamente. – Isso é um absurdo!

– Não é bem assim, Paulina...

– Sabe de uma coisa, Carlos Daniel? Eu vou embora. – O olhei nos olhos, enxuguei mais uma vez as minhas lágrimas, fechei o zíper da bolsa, a tomei e caminhei para a porta do quarto.

– Espera, meu amor... Vamos conversar, você não está sendo justa comigo... – Ele pediu segurando meu braço, impedindo-me de continuar a andar.

– E você está sendo comigo, Carlos Daniel? – O olhei nos olhos e dessa vez segurei as lágrimas. – Me deixa ir embora, quando você confiar e achar que deve me contar algo, sabe onde me procurar. Agora me deixa ir. – Soltei meu braço de sua mão e segui pelos corredores daquela casa tão grande.

Carlos Daniel não foi atrás de mim como pedi. Passei pelas escadas e encontrei Matilde, que me perguntou o que aconteceu para que estivesse chorando, apenas lhe disse que não foi nada demais e que parecia que estava ficando resfriada. Ela entendeu e a agradeci por tudo, assim ela também o fez e pediu que Gabriel trouxesse meu carro, e sem mais conter o choro segui o caminho de carro até a minha casa.

# Carlos Daniel narrando #

Fabíola, Fabíola!!! Essa mulher infernal tinha que ficar entre mim e Paulina justamente agora quando tudo estava indo tão bem? Ela não se cansa de me perseguir? Por que só me traz infelicidade, sua miserável infeliz?

Será que não podia esperar um pouco até eu contar a Paulina sobre meu passado, sua... Desgraçada!? Dizia enquanto amassava aquela fotografia tão insignificante entre minhas mãos, mas que me causou um sério problema.

Me sentia completamente inerte, não sabia o que fazer. Paulina tinha razão, já estamos juntos tempo o suficiente para eu confiar nela e lhe contar sobre meu passado infeliz. Eu não deveria ter deixado que as coisas chegassem a esse ponto. Preciso lhe contar sobre tudo, principalmente agora que a quero como minha esposa.

Apesar da raiva que corrói a minha alma por tudo o que já me fizeram passar, eu não podia deixar que nada disso afetasse o meu relacionamento com Paulina, e se deixasse sempre para depois, podia sofrer sérias conseqüências, e uma delas poderia até ser perder Paulina, e sem Paulina já não vivo mais.

Fiquei parado olhando a porta semiaberta por onde Paulina tinha acabado de sair, ainda tinha a foto em minhas mãos, ou melhor, o que restou daquela foto. Paulina nunca poderia ter encontrado essa foto, não enquanto ainda lhe contei nada sobre meu passado.

Ali, pensando mais sobre o que acabara de acontecer, mesmo entendendo o lado de Paulina e dando a ela razão por se sentir brava comigo, não concordava com sua atitude infantil de simplesmente me dar às costas. Ela sabe o quanto esse assunto me dói. Poderia ter sido um pouco compreensiva... Já havia dito que no momento certo contaria tudo a ela.

– Ah, se ela pensa que vou correr para me explicar, está muito enganada! - Disse a mim mesmo jogando os pedaços daquela maldita fotografia em cima da escrivaninha ao lado da cama.

Decidi que o melhor que tinha a fazer era terminar de me arrumar e seguir para a empresa, com certeza muitos documentos e muito trabalho me aguardavam lá no escritório, e não queria me atrasar depois de estar tanto tempo afastado dos meus negócios.

Rapidamente voltei ao closet em busca de uma gravata e me deparei com a escolha de Paulina. A peguei do chão observando seu bom gosto e tive de me conter para não ir atrás dela.

Nunca corri atrás de mulher nenhuma, e mesmo a amando tanto não começaria com esse hábito! Pensava enquanto olhava aquela peça em minha mão.

Meus pensamentos foram interrompidos por Matilde que me chamava avisando que, como de costume, meu carro já estava pronto. Agradeci sem sair do closet, não queria que Matilde me visse, ela me conhecia muito bem para saber que não estava bem sem ao menos eu precisar abrir a boca.

Coloquei-me em frente a um enorme espelho dizendo a mim mesmo que usaria a gravata escolhida por Paulina apenas porque não queria me atrasar.

Observei minha imagem no reflexo daquele espelho, encarando-me por alguns instantes sem me mover, senti meu peito apertar com o que via, eu encarando a mim mesmo, um olhar insensível pairava sobre meu rosto, céus, há algum tempo não observava esse isso em mim. E meu humor não era dos melhores quando eu deveria estar em meu melhor, ainda mais depois dessa noite que tive... Com ela...

Suspirei cansado, e eis que mais uma vez estava pensando nela... Franzi o rosto em desgosto.

– Esse não é você! - Disse ao meu reflexo, como se esperasse que ele me respondesse o que eu teria que fazer.

Cansado de olhar para o meu eu sombrio, saí do closet e mais uma vez foi como um tapa em minha cara ver a cama toda bagunçada e não poder deixar de pensar que há apenas alguns instantes ela estava ali comigo.

Arfei e saí do quarto rapidamente, desci as enormes escadas e passei por Matilde lhe desejando um bom dia sem ao menos parar para cumprimentá-la direito.

O caminho até o escritório nunca pareceu tão longo e solitário. Tentei pensar em tudo menos em Paulina e sua falta de confiança em mim. O que mais me doía em tudo isso era sua acusação.

“Será que é porque ainda é apaixonado por ela?” Lembrava da pergunta de Paulina. Se ao menos ela soubesse de toda a história... Que eu desprezo a Fabíola com todo o meu ser... Se ela soubesse tudo o que aconteceu não estaríamos brigados! Pensei com amargura.

– Se ela quer me pressionar dessa forma a lhe contar, está indo por um caminho muito errado, as coisas não funcionam assim! – Disse chateado tentando ver alguma razão que me favorecesse. Eu não poderia ser o único culpado.

Mas ela também tinha seus segredos e me contou todos e eu aqui ainda mantenho os meus para mim...

DROGA! Estou em um turbilhão de pensamentos, não sei o que fazer...

– Sou um egoísta por guardar coisas que me machucam apenas para mim? - Perguntei olhando meu reflexo no espelho retrovisor e mais uma vez não obtive resposta alguma, apenas silêncio.

Cansado de ficar falando sozinho, afundei o pé no acelerador e cheguei ao meu escritório em tempo recorde. Estranhei ao entrar e encontrar uma moça loira, bonita até, eu poderia dizer, e então lembrei que tinha mandado Rodrigo demitir a Victória.

– Bom dia! - Disse seco.

Não deixei passar despercebido o temor no olhar daquela jovem, ela provavelmente estava em experiência e, se conheço bem meu pessoal, eles não disseram coisas boas sobre mim para essa moça. Dei de ombros, nunca me importei com o julgamento que tinham de mim e não seria agora que isso me afetaria.

– Por favor, leve umas aspirinas e um café bem forte para minha sala! - Pedi aquela moça sem ao menos perguntar seu nome ou me apresentar.

Notei que ela tremeu diante de meu tom seco e rapidamente saiu em busca do que eu havia pedido.

Tranquei-me em meu escritório, minha cabeça parecia que explodiria se não tomasse algo logo. Qualquer animação que cheguei a ter essa manhã em vir para o escritório desaparecera.

Eu deveria ter permanecido em casa.

Mas para quê? Pra ficar pensando nela e em suas acusações? Pensava irritado.

Passava das 9 horas e já havia quase meia hora que tinha pedido à jovem que me trouxesse as aspirinas e ela simplesmente evaporou. Quando estava prestes a ligar perguntando do paradeiro daquela moça, uma batida tímida em minha porta me fez parar quando estava prestes a pegar o telefone.

Meu coração se agitou... Quem poderia ser? Perguntava-me mesmo sabendo quem seria, mas minha mente queria que apenas uma única pessoa estivesse atrás daquela porta.

– ENTRE! - Disse tenso.

– D-desculpe a demora, senhor... - Disse a jovem entrando em minha sala timidamente. – Tive de ir à Cafeteria! - Explicou acanhada.

– Deixe tudo aí e saia! - Pedi seriamente.

– Sim senhor! – Ela respondeu colocando tudo em minha mesa rapidamente quando algo me passou pela cabeça.

Não podia acreditar que faria essa pergunta a uma estranha, mas... Quem melhor que uma mulher para entender a cabeça de outra mulher...? Uma pessoa de fora poderia enxergar melhor meu problema.

Antes que a jovem pudesse alcançar a porta a chamei de volta. Ela pareceu surpresa. Provavelmente esperava que eu a mandasse embora por sua incompetência ao me trazer um café.

– Como se chama? - Perguntei a observando com curiosidade, ela não parecia ter mais que 22 anos.

– Fabíola, senhor!

Senti meu sangue ferver ao ouvir aquele nome. A olhei irritado, com um olhar mortal, eu diria, a pobre garota não tinha culpa alguma, ela simplesmente possuía o nome que eu odiava ouvir. Esforcei-me e reuni todo meu autocontrole.

– Não é nada, saia... Fabíola... - Pedi entre dentes. Péssima ideia, bom, eu não poderia culpá-la também. – Faça uma ligação e transfira para meu ramal. - Pedi antes que ela saísse.

– Para quem devo ligar, senhor? - Perguntou com a voz trêmula.

– John! – Respondi com frieza.

Onde estava com a cabeça de pensar em contar minha vida a uma estranha, ainda mais com o mesmo nome da mulher que mais odeio? Pensei irritado.

Fiquei feliz por aquela jovem ter conseguido entrar em contato com o John tão rápido. Recuso-me em chamá-la por esse maldito nome, caso pretenda continuar a trabalhar aqui, teremos de arranjar-lhe outro nome! Pensei enquanto esperava que me transferisse a ligação.

– John, preciso falar com você! - Disse assim que John me atendeu esquecendo completamente de minha boa educação.

– Você simplesmente desaparece e depois aparece novamente... - Reclamou. – Terei uma hora vaga para você após às 16 horas! - Disse em tom sério.

– Tudo bem, tudo bem... Acho que posso aguentar esperar até lá! - Respondi irritado.

John nunca me fez esperar. Eu poderia tentar falar com outra pessoa, Rodrigo talvez, mas John era o único que sabia tudo sobre meu passado, três anos como meu analista tinha de servir para alguma coisa no fim das contas.

– Te espero então! - Disse John e encerramos a chamada.

Tentei me distrair com todo o trabalho acumulado, nem ao menos saí para almoçar, pedi que aquela jovem me trouxesse algo leve para comer.

A tarde parecia se arrastar, a cada minuto eu olhava o relógio em cima da estante de livros ali na sala. Tentei afastar todo e qualquer pensamento sobre aquela manhã desastrosa com Paulina e me mantive longe do meu celular, não ligaria para ela.

* Paulina narrando *

Não consegui esconder a raiva que senti quando Carlos Daniel se negou a me contar sobre aquela mulher. Não pude evitar meu ciúme e o silencio dele fez meu coração apertar pelo medo que senti de Carlos Daniel estar mentindo para mim.

Dirigi nervosa até a minha casa e agradeci mentalmente por ninguém ter me visto além de Pedro, que me cumprimentou ao chegarmos juntos na garagem de casa. Ele não percebeu que eu estava chorando.

Entrei em meu quarto e tranquei a porta, sentei em minha cama e tentei segurar aquelas lágrimas tão insistentes.

Não pode ser, Carlos Daniel... Não minta pra mim, por favor... Pensei alto enquanto um filme se passava em minha mente me levando de volta ao closet de Carlos Daniel quando encontrei aquela fotografia.

Deitei na cama e passei a fitar o teto, e as grossas lágrimas voltaram a inundar meus olhos. Sentia-me tão decepcionada... E tudo piorava quando eu pensava que fui imatura e incompreensiva com Carlos Daniel, que podia ter esperado o seu tempo, podia ter lhe dado a chance de se explicar antes de sair de sua casa daquele jeito. Eu não podia evitar o choro, não conseguia esconder a minha raiva e ainda que eu estivesse errada nessa situação, não pensava em voltar atrás.

Carlos Daniel podia sim me dar uma explicação sem a necessidade de uma discussão daquela... -- Mas eu também fui errada, eu deveria ter sido tolerante, deveria ter perguntado de uma forma menos grosseira... -- ...Não, mas eu não vou voltar atrás, não até ele confiar e me contar sobre sua vida, sobre quem esteve nela. Eu tenho o direito de saber...”

Fiquei durante um tempo ali, deitada, olhando para o teto com a minha mente cheia de questionamentos. Por várias vezes senti vontade de ligar, pedir desculpas pela maneira como o destratei e correr para seus braços mais uma vez, mas em outras vezes a minha razão dizia que eu estava certa e não tinha de falar com ele até que tomasse uma atitude. Não sabia o que fazer e aquilo estava me matando por dentro.

– Paulina filha, você está aí? – Me assustei ao ouvir a voz de Adelina do lado de fora do quarto me tirando de meus devaneios.

– S-sim Adelina, já vou! – Respondi passando as mãos por minha cara rapidamente, secando-a e levantei seguindo para o banheiro.

– Está tudo bem? – Ela perguntou ainda na porta.

– Está sim, eu... Eu já vou abrir, espera só um minuto.

Sequei meu rosto rapidamente e segui até a porta. Adelina me esperava com um sorriso no rosto que logo foi desfeito ao notar a minha feição de pranto.

– Estava chorando, minha menina? – Adelina perguntou preocupada e segurou meu braço, conduzindo-me para o interior do quarto e sentei novamente em minha cama.

– Não... Eu só... Só...

– Está com saudade dele...? Do Bracho? – Perguntou com um meio sorriso nos lábios e, por um segundo me pus pensativa, não diria a ninguém em casa o que acontecera esta manhã entre nós.

– É... Sim, você sabe... Estivemos muitos dias juntos e agora... Sinto falta dele... – Lhe sorri de volta e respirei fundo quando ela tocou meus cabelos afagando-os com carinho.

– Me sinto tão tranquila em saber que conheceu alguém igual a ele... – Adelina sentou-se ao meu lado. – É tão bonito ver como vocês estão apaixonados... E você está tão diferente depois que começou a andar com ele...

– D-diferente? – A olhei confusa.

– Sim, está mais radiante, mais contente, mais feliz... Vive mais de bem com a vida, sorri mais, e o mais lindo é o brilho desses olhinhos.

As palavras de Adelina foram como farpas em meu coração. Se ela soubesse... Se soubesse que eu e Carlos Daniel brigamos essa manhã e que eu não sabia em nada do que seria de nós daqui em diante... Se ela soubesse o quanto o amo e o quanto gostaria que tudo estivesse perfeito como há algumas horas... E se ela soubesse como agora dói o meu coração só com o imaginar que tudo o que Carlos Daniel me disse que sentia não passava de mentiras...

– Paulina...? – Mais uma vez Adelina me despertou de meus pensamentos, já não caíam lágrimas de meus olhos, mas com certeza a tristeza ali estaria estampada e eu estava torcendo para que Adelina não notasse nada.

– Desculpa Adelina, eu...

– Não fica com essa carinha, minha filha... Tenho certeza que ainda hoje o seu galã vai aparecer aqui em casa e lhe fazer uma surpresa. – Ela disse animada e eu a olhei rapidamente. Adelina me abraçou e beijou a minha testa.

Gostaria que o que Adelina disse realmente acontecesse, que Carlos Daniel aparecesse e se abrisse comigo, que confiasse em mim e que não me escondesse as amarguras de sua vida, mas não queria criar expectativas em cima dessas palavras...

– Vou à fábrica, Adelina... – Eu disse levantando-me rapidamente.

– Tudo bem, Paulina... Deseja algo em especial para o jantar de hoje?

– Não se preocupe, eu acho que não vou jantar aqui hoje.

– Vai voltar pra a casa do seu namorado? – Sorriu enquanto me olhava animada.

– N-não, eu... Eu acho que vou ficar até mais tarde hoje na fábrica!

– Tudo bem, mas de qualquer forma, vou pedir que Cacilda prepare tortilhas e guacamole, do jeitinho que você gosta.

– Como quiser, Adelina. E onde estão Sophia e papai?

– A Phia está na faculdade e disse que tem alguma coisa pra fazer depois, alguma festa ou algo assim lá mesmo na faculdade, e seu pai já foi trabalhar.

Tudo bem, depois eu falo com eles. – Abracei Adelina e a olhei nos olhos, ela é como a minha própria mãe. – Obrigada, Adelina.

...

Fui para a fábrica trabalhar. Quem sabe ocupando a minha mente com as inúmeras planilhas e relatórios que teria de analisar eu me sinta melhor... Pensava, mas foi inútil, pois não conseguia me concentrar em nada, o contrário, minha mente só me transportava para aquela manhã e para ele, não deixava de pensar no quão injusta foi aquela discussão, que se Carlos Daniel fosse sincero comigo eu não teria tomado aquela atitude e as coisas não estariam como estão agora.

– Paulina?!

– Ai, papai... Que susto! – Eu disse pondo a mão no coração quando me assustei ao notar papai em minha frente segurando alguns papeis em uma pasta.

– Onde está com a cabeça, filha? Estava aí parada, olhando para o nada... Está tudo bem? – Ele perguntou olhando-me com aquele olhar questionador.

– Sim, está... Eu só estou, com um pouco de sono... É isso. – Respondi rapidamente com a primeira coisa que me veio à mente.

– Hmm... E como está o Bracho?

– Está bem, está ótimo! – Respondi esboçando-lhe um sorriso forçado.

– Hmm... Então você já está de volta, não é?

– Sim, pai. Estou. – Disse o olhando rapidamente. – E isso? – Perguntei olhando agora para a pasta em suas mãos.

– Ham... Estes são os holerites dos funcionários para você conferir.

– Ah sim, sim... – Ele entregou a pasta ainda me olhando intensamente, sério. Fingi que não percebi seu olhar sobre mim até ele sair da sala e, quando ele saiu, respirei fundo sentindo o alívio por ele não ter dito mais nada, não estava disposta a discutir com ele sobre meu relacionamento com Carlos Daniel.

Precisava de um tempo sozinha para pensar, para respirar e colocar em ordem os meus pensamentos. Pensei em ir ao meu apartamento, lá pelo menos eu posso refletir um pouco sobre tudo.

Enquanto, inutilmente, eu tentava me concentrar nos números que continham naqueles papeis, assustei-me com o toque do meu celular que fez meu corpo inteiro tremer pela expectativa de ser ele, mas quando olhei para o visor e vi quem realmente era, senti um alivio percorrer por minha espinha, era Célia, e justo no momento em que eu mais precisava.

– Paulina!!! – Ela disse assim que atendi a chamada, seu tom de voz risonho como sempre.

– Célia, minha amiga!

– Como está, menina?! – Perguntou animada. - Ai, mas que pergunta essa minha, hein!

– Bom, estou bem e você?

– Estou ótima, amiga! Mas essa sua voz de desânimo já me respondeu o seu humor. – Fiquei em silêncio, Célia me conhecia o suficiente para saber que eu estava mentindo. – Onde está? Na fábrica?

– Sim, estou trabalhando...

– Olha, quero ver você, mas agora preciso resolver algumas coisas do meu trabalho. Podemos nos encontrar no fim do dia, o que acha de nos vermos umas 16h?

– Bom, estou pensando em ir em meu apartamento na Campos Elíseos...

– Então posso te encontrar lá?

– Acho ótimo! – Nos vemos logo, então. – Respondi com um meio sorriso.

Com os conselhos de Célia eu saberia que atitude tomar, posso ter sido infantil em minhas atitudes e tinha que saber de outra opinião ou não dormiria essa noite.

# Carlos Daniel narrando #

– Senhor Bracho... É um prazer revê-lo depois de tanto tempo! - John disse me oferecendo um discreto, mas irônico sorriso.

– Não sinto prazer algum em revê-lo, John! – Respondi em tom grosseiro.

– Então... À que se deve essa visita tão... Hmm... Inesperada? - Perguntou enquanto tomava seu habitual lugar em sua cadeira de couro giratória e apontou para que me acomodasse.

– Preciso conversar, apenas isso! – Eu disse dando de ombros.

– Sou todo ouvidos. - Disse John permanecendo em silencio, esperando que eu começasse a lhe dizer o que estava acontecendo.

– Lembra da Paulina? - Perguntei o olhando seriamente.

– Sim, a mulher por quem está apaixonado! - Dizia enquanto eu afirmava positivamente.

– Bom... Acontece que estamos juntos e hoje pela manhã Paulina acabou descobrindo uma foto da Fabíola em uma gaveta lá de casa e ficou furiosa quando eu não quis lhe dizer quem era aquela mulher. - Expliquei de uma maneira resumida, louco para não ter mais de tocar ou sequer lembrar esse assunto.

– Se vocês estão num relacionamento precisam se comunicar. Talvez esse seja o problema, você está escondendo dela fatos importantes de sua vida e ela pode estar se sentindo excluída! - Argumentou com seu jeito racional.

– Mas eu mereço ao menos um pouco de credibilidade, confiança... Se não contei nada ainda é porque não estou preparado para isso! - Exclamei indignado. Até mesmo John estava contra mim e eu estava pagando muito bem seus honorários para essa conversa.

– Não, estou dizendo o contrário, senhor Bracho! - Rebateu. – Estou dizendo que vocês dois precisam conversar.

– Não vou falar com ela! - Disse levantando-me já irritado.

– Eu não posso obrigá-lo a fazer isso, mas você é quem está mantendo esse segredo, e por causa disso pode acabar perdendo alguém que ama. Depois de tanto tempo vivendo promiscuamente, vai jogar fora sua felicidade por causa de algumas horas narrando momentos que não lhe agradam falar? - Perguntou encarando-me com aquele olhar que me deixava sem argumentos. Ele estava certo, não poderia debater contra isso, mas eu ainda não daria o braço a torcer.

– Ela tinha que entender e esperar que eu falasse! - Retruquei.

– Como você se sentiria se encontrasse a foto de um homem guardado no meio das coisas dela? - Perguntou John erguendo uma sobrancelha em questionamento.

– Já encontrei uma vez! - Respondi lembrando da fotografia exposta em seu apartamento.

– Já? - Perguntou John perdendo seu foco de psicólogo.

– Sim... - Fiquei pensativo.

– E como ela reagiu? - Perguntou ganhando sua concentração de volta.

Não respondi a pergunta de John, não era necessário. Passei a lembrar da reação de Paulina quando viu aquela foto, de como ela confiou a mim os seus medos e me contou sua intimidade aquela noite mesmo sem sequer nos conhecermos direito... Estamos juntos há algum tempo e eu não lhe demonstrei confiança como a que ela teve comigo.

– Vá para casa e pense sobre isso! - Sugeriu John colocando-se de pé, dando como encerrada aquela conversa.

Eu apenas me coloquei de pé e o olhei rapidamente agradecendo-o e, antes que eu pudesse alcançar a porta, o ouvi dizer:

– Vá atrás dela, Carlos Daniel! – Ele disse em um tom quase autoritário. – Estou falando isso, mas não como o profissional que sou, e sim um amigo, ainda que não me veja assim - Completou sorrindo.

Saí daquela sessão ainda mais confuso...

* Paulina narrando *

Como combinamos, eu e Célia nos encontraríamos em meu apartamento às 16h. Cheguei um pouco antes e nos preparei um café e Célia chegou pontualmente no horário em que combinamos.

– Amiga, que prazer revê-la, e sem pressas! – Ela sorriu e me cumprimentou com um abraço caloroso.

– É Célia, desculpa... Eu realmente não pude te dar atenção por muito tempo durante esse mês, você sabe... – Disse enquanto seguíamos até a sala.

– Sei, e como sei! Tinha alguém esperando você, alguém mais atraente e forte que eu. – Ela brincou caindo numa gargalhada, o que me fez rir também, mas ao recordar dele me pus séria novamente. - Ei ei ei, senhorita Paulina, nada dessa carinha aqui perto de mim. O que houve? – Célia me olhou com o cenho franzido e tocou meus ombros.

– Estávamos tão bem, amiga... Ele é tão lindo comigo, todo esse tempo que estivemos juntos fez com que eu me apaixonasse ainda mais. – Desabafei de uma vez com Célia que me olhava atentamente.

– Ai não Pau... Não fique assim! Olha, vamos fazer o seguinte, vamos sentar e você me conta o que tá acontecendo, mas sinceramente, eu no seu lugar estaria rindo a toa se tivesse um bonitão como o Bracho. – Célia disse rapidamente quase atropelando as palavras, sem me deixar falar, de todos os modos ela não estava errada, já tive motivos muito piores para não sorrir.

Servi-nos café com uns biscoitinhos e Célia não parava de elogiar o cheiro do café que exalou pelo apartamento.

– Ah, era disso que eu precisava... Um café preto! – Célia disse após tomar um gole do café e mordeu um biscoito rapidamente, fazendo uma cara que me fez sorrir. – Está delicioso!

– Você não muda, hein Célia! – Eu disse-lhe sorrindo de seu jeito, mas admirando-a.

– O segredo é viver a vida intensamente, minha amiga, e é isso que eu tento fazer a cada momento... – Célia respondeu animada.

– Sim, isso é verdade... – Respondi com um meio sorriso.

– Bom, então me conta... O que aconteceu com você e o bonitão Bracho?

– Ai Célia, estava tudo as mil maravilhas, até hoje cedo... Nós brigamos. – Respondi já com os meus olhos cheios d’água.

– E por que brigaram?

– Porque encontrei a foto de uma mulher em uma de suas gavetas.

– Mas essa mulher, quem era?

– Não sei, ele não me disse. – Conclui desanimada.

– Mas como não disse? – Perguntou Célia seriamente me olhando nos olhos.

– Ele disse que não era ninguém, que não gostava de falar sobre ela, que não lhe trás boas lembranças.

– Mas se não trás boas lembranças, por que tinha essa foto guardada?

– Foi o que eu perguntei, mas ele ficou estranho, nervoso, irritado.

– Com você?

– Não, com minhas perguntas, com a fotografia.

– Estranho... Mas você já parou para pensar que essa fotografia pode ser de alguma parente dele? Talvez uma irmã, sei lá...

– Nem que eu quisesse, pois no verso da foto havia uma declaração para ele. – Respondi triste e passei minha mão na testa respirando fundo.

– Ai ai ai... É bonita?

– Sim, muito. É uma mulher muito atraente, capaz de apaixonar qualquer homem. – Levantei-me do sofá rapidamente e caminhei até a janela para olhar o lado de fora.

– Ai Paulina, aposto que não é tão bonita quanto você...

– Está enganada, Célia. Ela é realmente linda... – Respondi sentindo meu rosto molhar pelas finas lágrimas que deslizavam de meus olhos.

– Amiga, você está é com ciúmes, por isso se sente assim... – Olhei para Célia inquieta e voltei para o sofá, sentando-me novamente frente à ela.

– Sim, senti ciúmes Célia, não nego, mas o que mais me deixou irritada foi a maneira que Carlos Daniel agiu quando viu aquela fotografia, como ele ficou nervoso quando o questionei, e não entendo o porquê de ele não querer me contar sobre sua vida.

– Talvez não seja algo que não tenha importância ou ele não ache que seja o momento certo para falar.

– Célia, já estamos juntos há algum tempo, tempo o bastante para ele conversar comigo, compartilhar um pouco de sua vida. Sempre respeitei isso nele, mas depois dessa de hoje eu sinto que preciso saber mais coisas sobre sua vida.

– É verdade, e já que ele pretende se casar com você...

Fomos interrompidas pelo o timbre do meu celular que soou alto, busquei o aparelho em minha bolsa e, ao olhar o número pelo visor, senti meu coração saltar. Era Carlos Daniel, olhei para o celular e logo para Célia que estava me observando curiosa.

– Não vai atender? – Ela perguntou quando me viu cortando a chamada.

– Não. – Respondi objetiva.

– Bom, não te julgo. Eu faria o mesmo.

– Faria? – Perguntei confusa, pensei que ela me diria algo contrário às minhas atitudes.

– Claro! Se eu encontrasse a foto de outra nas coisas de meu namorado, a primeira coisa que eu faria era lhe pedir alguma satisfação e se ele não me explicasse... Ah, ele não me veria até ter uma história bem convincente para contar. Mas teria de ser algo justo, tudo dependeria de seus motivos, pois também caberia a mim compreendê-lo dependendo da situação.

– Entendo... Sabe... Quando estivemos aqui neste apartamento aconteceu algo parecido. Mal nos conhecíamos, Carlos Daniel viu um porta-retratos com uma foto minha e de Mauricio abraçados, eu não sabia que aquela foto ainda estava ali, mas ele a encontrou.

– E como ele reagiu? Ficou irritado?

– Não, apenas perguntou quem era o cara da foto. Eu que fiquei muito irritada por ver aquela fotografia ali, achei que tinha eliminado de minha vida tudo que tinha a ver com aquele homem.

– Então, Paulina... Você não acha que...

– Sim, já pensei sobre isso. – Interrompi Célia e passei as mãos por meu rosto. – Já pensei que deveria compreendê-lo, que igual a mim, ele também não deve ter tão boas lembranças e não imaginava que ainda tinha aquela maldita foto...

– Pois então... Por que não atende a ligação dele? – Ela perguntou enquanto víamos mais uma vez meu celular tocar com outra chamada insistente.

– Porque não sei se devo confiar... Não sei se devo acreditar de novo em um homem apenas porque o amo demais. Ele nem sequer me contou quem ela é. Quando estávamos juntos aqui e eu não lhe contei sobre mim, nós não nos conhecíamos e ainda assim eu não demorei em lhe dizer tudo, Célia, eu contei tudo depois! – Expliquei indignada e agora chorava, tentei disfarçar meu choro, mas foi inútil. Célia pegou um copo d’água e me entregou um guardanapo que estava ali perto.

– Tenta dar uma oportunidade a ele quando ele te procurar, escute o que ele tem a dizer.

– Não sei se ele o fará.

– Ele está te ligando, Paulina... Com certeza irá atrás de você. Logo se reconciliarão e ficará tudo bem. Não se preocupe. – Célia disse amavelmente e lhe sorri...

– Ainda não vou atendê-lo Célia. Preciso de mais um tempo pra respirar e pensar.

– Sim, você tem o seu espaço e sei que ele respeita, mas se ele for te ver, receba-o e deixe-o falar.

– Tudo bem... Obrigada pelo conselho, amiga... – Agradeci sorrindo-lhe enquanto acariciava seu braço que tocava o meu.

# Carlos Daniel narrando #

Depois que saí do consultório de John, comecei a pensar melhor em minhas atitudes diante de Paulina. Ela, mais do que ninguém, merece saber sobre os problemas que me afetaram tanto e me tornaram este homem egoísta, leviano insensível. John tinha razão, se estamos juntos, precisamos conversar e eu vou lhe contar o que me ocorreu e quem é a maldita da foto.

Quando cheguei em casa Matilde me esperava com um sorriso nos lábios. Por um momento achei que ela me daria a boa noticia de que Paulina havia me ligado ou me esperava ali em casa, mas não foi o que aconteceu.

Subi para o quarto e tirei minha roupa, peguei meu celular e, apressado, digitei a sequência dos números do telefone de Paulina, e quando se iniciaram as chamadas, meu coração gelou na expectativa de ouvir sua voz.

Andava de um lado para o outro ansioso, ainda não sabia bem o que dizer, mas precisava ouvir sua voz, isso faria com que encontrasse as palavras.

– Droga! – Exclamei chateado quando a chamada caiu na caixa postal e tentei novamente, re-discando aqueles números em meu celular, inútil, a ligação foi cortada rapidamente, indo para a caixa de mensagens. Joguei com raiva meu celular na cama e entrei no banheiro para um banho quente.

Estava começando a ficar ansioso para falar com ela, aos poucos me dava conta do imbecil que fui por não ter lhe contado nada, ela merecia pelo menos uma satisfação e, ao invés disso, fiquei calado igual a um idiota. Saí do banho ainda mais preocupado, nunca mais me permitiria sentir assim por causa de uma mulher, mas com Paulina é diferente e eu sabia que tinha de quebrar um pouco do orgulho que estava sentindo para tentar resolver as coisas entre nós. Não suportava pensar mais sobre isso, pensei se lhe deixaria uma mensagem ou não, mas optei por ligar para a sua casa.

– Casa da família Martins. – Uma voz feminina atendeu ao telefone, a reconheci imediatamente, era Adelina.

– Boa noite, Adelina. Quem fala é o Carlos Daniel.

– Boa noite, seu Carlos. Como vai?

– B-bem, estou bem... A Paulina está? – Perguntei ansioso por uma resposta positiva.

– Ah, ela ainda não chegou... Mais cedo ela ligou avisando que chegaria mais tarde, pois encontraria a Célia, amiga dela. – Explicou Adelina atenciosamente.

– Sei... E sabe onde elas podem ter ido? Preciso falar com a Paulina, mas não consigo pelo celular dela.

– Não senhor, mas se quiser, posso lhe dizer o número da Célia.

– Se não for um problema, por favor... – Respondi com expectativas de que conseguiria localizá-las.

Ótima ideia a de Adelina! Teria de dar um jeito de falar com ela ainda hoje. Só vi a Célia uma vez, mas pelo pouco que sei, suponho que ela me dará uma ajudinha com Paulina.- Pensei com um sorriso preocupado.

Com o número de Célia em mãos, tentava pensar o mais positivo possível e torcia para que ela me dissesse onde estão, sobretudo que Paulina esteja bem. Disquei aqueles números, a ansiedade me matando por dentro, quando Célia atendeu a chamada:

– Célia Alonso falando... – Ela disse ao atender.

– Célia, quem fala é o Carlos Daniel Bracho, por favor, se estiver com Paulina apenas responda sim ou não. – Eu disse rapidamente antes que ela se comprometesse diante de Paulina.

– É... Sim...

– E... Como ela está? – Perguntei preocupado.

– Bem... Na medida do possível...

– É... Eu quero falar com ela, Célia... Liguei duas vezes para seu celular, mas ela não me atende.

– É sim, eu sei... Mas, o que você quer? – Célia perguntou objetiva.

– Preciso vê-la, quero conversar com ela... Eu errei e quero me explicar, lhe pedir desculpas.

– Amm... Entendo...

– Pode me dizer onde estão? Gostaria de vê-la pra saber se está bem mesmo, ainda que de longe, já que ela não quer me ver...

– Bom... É que eu não estou em casa agora, estou com uma amiga aqui na Campos Elíseos... Sabe onde fica?

– Então estão no apartamento da Paulina? – Perguntei com um enorme sorriso nos lábios, se ela estava dizendo isso, é porque sim, eu podia ir até elas.

– Isso mesmo!

– Então estou indo pra aí. – Disse rapidamente pegando minhas chaves. – Chego em 20 minutos.

Desliguei a chamada, terminei de me vestir rapidamente e desci seguindo em direção ao meu carro que ainda estava parado em frente a casa. Pisei fundo no acelerador e segui rumo ao apartamento de Paulina cheio de esperanças de que nos acertaríamos logo.

* Paulina narrando *

–...Ai amiga, desculpa... – Célia disse assim que desligou o celular. – Eu, eu preciso ir...

– Mas por quê? – Perguntei-lhe, mesmo já supondo o que seria.

– Ai, é que... Surgiu um imprevisto. – Ela disse meio agitada.

– Mas aconteceu alguma coisa? Quem era ao telefone, Célia? – Perguntei curiosa, ela ficou estranha desde que desligou a ligação misteriosa que acabara de receber.

– Hmm... Era um... Homem... – Célia respondeu sorrindo, estava pensativa.

– Sim, isso já deu pra perceber. – Sorri com seu jeito, provavelmente ela acabara de arranjar um encontro e não sabia como me dizer.

– Então... Ele quer me ver agora e...

– Não se preocupe. – Lhe sorri compreensiva e ela me olhou sem graça.

– Sabe como é, né? Tá tão difícil encontrar hoje em dia um cara que queira algo sério e esse...

– Tudo bem, eu entendo, mas juízo hein! – Eu disse segurando sua mão e ela a apertou com carinho.

– E você vai ficar bem? – Perguntou olhando-me nos olhos.

– Sim, eu estou bem, não se preocupe.

– Promete que se ele te procurar você vai ouvi-lo com calma? – Célia perguntou afagando minha mão enquanto me olhava de um jeito pesaroso.

– Eu... Prometo sim... – Respondi tranqüilizando-a e ela me abraçou carinhosamente, seguindo cheia de entusiasmo até a porta fazendo-me sorrir de seu jeito maluquinho.

– Então tá, amanhã eu te ligo, tudo bem? – Ela disse já quando estávamos na porta. – Cuide-se, Pau, e tenha uma boa noite!

Assenti e nos despedimos, fechei a porta e me encostei nela, fechei meus olhos e respirei fundo... Estava ali, mais uma vez sozinha, e sozinha com meus pensamentos, meus sentimentos, minhas angústias, sozinha e com saudades dele.

Despertei-me de meus martírios e fui até a mesinha e peguei as coisas do café que tomamos para levar à cozinha quando a campainha tocou novamente.

Será que a Célia esqueceu alguma coisa? Pensei e me dirigi à porta abrindo-a rapidamente, quando quase caí por sentir minhas pernas fraquejarem ao ver quem estava parado ali em minha frente, segurava um grande buquê de rosas vermelhas em frente ao rosto, meu coração parecia querer saltar pela boca quando ele baixou aquele ramo até seu peito, mostrando o seu rosto.

– C-Carlos Daniel...? – O olhei com os olhos bem abertos, não podia acreditar no que via. – O que... O que está fazendo aqui?