Te Odeio Por Te Amar

Capítulo 54 - "Segredo"


# Carlos Daniel narrando #

Estava deitado em minha cama lendo um livro enquanto esperava Paulina chegar, assim não me entediava tanto e o tempo parecia passar mais rápido, tinha passado uma tarde tranqüila depois que Paulina e Sophia saíram, fiz algo que não fazia há anos, joguei videogame, assim o tempo passou voando, mas quando eu pensava que minha noite também poderia ser tranqüila...

– Mãe! - Exclamei em surpresa quando a vi entrar pela porta do meu quarto. – Quem a deixou entrar? - Perguntei já que colocando na defensiva, não podia evitar, não com Antônia Bracho, não depois de tudo que a mulher que bate no peito dizendo ser minha mãe foi capaz de fazer.

– Não preciso ser anunciada! - Respondeu com uma leve irritação que rapidamente foi substituída por um sorriso afetado. – Sou sua mãe! - Aproximou-se e me deu um beijo rápido e seco no rosto.

Senti vontade de limpar meu rosto no instante em que ela se afastou, nunca imaginei em toda minha vida que um dia poderia me sentir assim com a pessoa que me deu a vida, nunca esperei tamanha traição da pessoa que mais admirava no mundo, da mulher a qual eu me espelhei para me tornar o homem de verdade.

– O que quer aqui? - Perguntei me sentando de forma ereta, desconfortável com sua presença.

– Somente agora fiquei sabendo de seu acidente! - Disse me olhando com uma preocupação fingida. – Como se sente? - Perguntou me observando friamente.

– Não está vendo?! - Dei de ombros, era óbvio como eu me sentia.

– Até quando vai me tratar com essa total falta de respeito? - Ela me perguntou parecendo indignada com meu jeito de tratá-la.

Permaneci em silencio, não estava a fim de começar essa discussão novamente.

– Vim porque estava preocupada com você, meu filho! - Disse se aproximando e segurou minha mão enquanto me olhava demonstrando uma angústia que estava muito longe de sentir.

– Não precisa se preocupar comigo! - Exclamei me afastando de seu toque, e levantei-me devagar vestindo um robe que estava próximo. E como já viu o que queria e já deve estar satisfeita, é tarde e eu quero descansar.

Vi a máscara de controle escorregar apenas um milímetro de seu rosto e a vi ao ponto de mostrar realmente quem era Antônia Bracho.

Apenas duas vezes em minha vida me lembro de vê-la perder o controle da situação, e se não fosse pelo som de passos vindo do corredor, essa poderia ser a terceira vez que presenciaria a perda de compostura da minha mãe.

Salvo pelo gongo.

– Oi, Carlos Daniel... – Paulina dizia ao entrar pela porta de meu quarto quando parou de falar ao ver que eu não estava sozinho. - Ah, desculpe, não sabia que estava acompanhado! – Ela disse oferecendo à Antônia um sorriso terno, desses que somente Paulina era dona, mesmo sendo para a pior pessoa do mundo.

– Ela já está de saída, meu amor! - Disse rapidamente.

Não pude deixar de notar o olhar carregado de desdém que Antônia lançou para Paulina, que já estava ao meu lado.

– Vejo que está sendo muito bem cuidado! - Observou ignorando meu tom irritado.

– Melhor impossível! - Exclamei rapidamente enquanto puxava Paulina para meu lado de uma forma protetora e ela me olhou confusa.

– Não vai apresentá-la à sua mãe, Carlos Daniel? – Antônia perguntou sem deixar de olhar minuciosamente para Paulina, que sorriu sem graça e tomou a iniciativa.

– Me desculpe a minha falta de educação, senhora...

– Antônia! – Ela disse rapidamente completando a frase de Paulina. – Somente Antônia, por favor.

– Érr... Antônia. Sou Paulina Martins... – Paulina disse amavelmente e estendeu sua mão para a mulher que a olhava com descaso.

Eu apenas observava tudo em silencio, conhecia a minha mãe o suficiente para cogitar o que passava pela sua cabeça, que opinião já formara sobre Paulina e isso conseguia me irritar mais que o suficiente. Ela correspondeu ao gesto de Paulina e sorriu com o canto dos lábios.

– Quero aproveitar e deixar como lembrete o aniversário de sua avó, Carlos Daniel, é daqui um mês e ela não vai ficar nada contente se você não aparecer.

– Pois eu sinto muito pela vovó, mas eu não vou. – Respondi decidido.

– Não vai querer causar mais este desgosto à sua avó, não é? – Ela perguntou com ironia, erguendo uma sobrancelha, agora ignorando totalmente a presença de Paulina.

– Com a vovó Piedade eu me entendo, não se preocupe... mamãe! – Respondi seco, demonstrando com o meu tom de voz que não queria que se intrometesse no que diz respeito a mim e a minha avó.

– Você que sabe, mas ela não vai ficar nada contente ao saber que o neto preferido dela se recusa mais uma vez ir à sua festa de aniversário. Lembre-se de que ela não tem mais idade para aborrecimentos, e principalmente por causa de seus caprichos.

– Não preciso de seus sermões, e mais uma vez, deixa que com a minha avó eu me entendo. – Eu disse contendo a minha raiva enquanto segurava a mão de Paulina firme.

– Espero que consiga convencê-lo, senhorita... Martins. – Antônia olhou para Paulina e lhe sorriu.

– Apenas Paulina, por favor. – Paulina lhe respondeu de igual forma, retribuiu o sorriso e logo me olhou com os olhos bem abertos que, provavelmente, me pediam para ter paciência.

Paulina não sabia com quem estava se metendo e, por seu jeito de olhar para aquela senhora à nossa frente, ainda demoraria um bocado para descobrir quem era sua sogra, mas eu estava ali para defendê-la.

– Bom! – Disse Antônia olhando Paulina de uma forma que não me agradou para nada. – Está tarde, agora eu vou embora. - Nos olhou rapidamente.

Não entendi bem seu olhar, mas quando algo vinha daquela senhora era bom eu tratar de entender logo.

– Eu a acompanho até a porta! - Paulina ofereceu gentilmente.

Rapidamente a segurei pelo braço impedindo que saísse do meu lado.

– Ela sabe o caminho, meu amor! - Expliquei rapidamente lançando um olhar sombrio à senhora a nossa frente.

Mesmo depois da forma seca com que a tratei, a senhora Bracho não perdeu a pose, seguiu seu caminho ainda se sentindo por cima.

Com a saída da minha mãe pude sentir toda a tensão em meu corpo se dissipar, só não relaxei totalmente porque ao meu lado Paulina me olhava cheia de reprovação.

– Não devia tratar sua mãe dessa forma! - Argumentou me olhando seriamente. – Ela estava preocupada com você! - Disse tentando dar à visita da minha mãe um pouco de humanidade.

Não pude conter um riso sem graça.

– Ela veio não por preocupação! - Expliquei acariciando seu rosto que me olhava cheia de confusão. – Queria alguma coisa, ela sempre quer algo quando aparece por aqui! - Expliquei tentando sanar sua confusão.

– Não gosto da forma com que trata sua mãe!- Paulina disse me olhando seriamente. – Mãe é tudo, Carlos Daniel, e...

– Um dia você vai entender porque a trato dessa forma! - Disse lhe sorrindo. – Agora não é o momento para falarmos disso, a única coisa que desejo nesse momento é dormir, estou muito cansado! - Expliquei apelando para algo que sabia que faria Paulina não tocar mais no assunto “Antônia Bracho” pelo menos por agora.

* Paulina narrando *

Chegar à casa de Carlos Daniel e encontrá-lo com a sua mãe, para mim foi uma baita de uma surpresa, não imaginei que a conheceria assim, e a primeira impressão que tive dela foi... Estranha.

Carlos Daniel e Antônia Bracho não se parecem em nada no que diz respeito à aparência, provavelmente Carlos Daniel se parece com seu pai. Ela é uma mulher loira, com olhos verdes, magra, alta e dona de uma postura de dar inveja, muito requintada e elegante, discreta e também muito bonita, é visível que é uma mulher vaidosa e se cuida, nem parece ter um filho da idade de Carlos Daniel, e pude admirá-la com discrição, mas algo nela me incomodava e eu não sabia exatamente o porquê, ela não parece ser afetuosa, mas foi educada, e a forma que ela me observava era indescritível e me deixou desconfortável, mas não demonstrei, não faço idéia do que se passou em sua cabeça quando me viu entrar por aquela porta, estava tão surpresa quanto eu, mas pareceu não se agradar com o que viu, ou talvez tenha sido impressão minha e estou pensando coisas que não são certas.

Ainda me perguntava por que ela e Carlos Daniel não se dão bem, porque Carlos Daniel a trata dessa maneira, mas isso não poderia ser algo que me afetasse, não sem antes eu entender seus motivos...

Tomei um banho relaxante e jantei com Carlos Daniel, ainda pensava sobre a visita de sua mãe, e no que ela disse sobre convencê-lo a ir para o aniversário de sua avó.

– No que está pensando, Paulina? – Ele me perguntou enquanto eu ajeitava a cama para deitarmos.

– Em nada, meu amor... Por quê? – Perguntei distraída.

– Porque está calada desde que jantamos...

– Não, também estou cansada, hoje eu não parei.

– Você trabalha muito, não é? – Ele perguntou me olhando sério.

– É, principalmente agora que as coisas estão melhorando lá na fábrica...

– Fico feliz que tudo esteja melhorando por lá, tenho certeza que você é uma ótima administradora. – Acariciou meu rosto tirando meus cabelos de meus olhos.

– E você tem que ir lá ver o nosso progresso. – Eu disse satisfeita, com certeza ele que ficaria feliz por ver como seu dinheiro investido estava sendo aproveitado.

– E irei, meu amor, muito em breve. – Me aproximei dele devagar e dei um leve beijo em seus lábios, logo, acariciei seu rosto e lhe sorri. Tão lindo o meu amor...

– Sabe... Estou tão apaixonado por você... – Ele disse me deixando sem graça, e continuei sorrindo, meu coração faltou sair pela boca com essas palavras. – Nunca alguém mexeu tanto comigo como você faz. Eu vivia num mundo escuro antes de você aparecer, num mundo cheio de sombras e você me tirou de lá, você é a minha luz, Paulina, é a minha vida e eu te amo tanto...

– Eu também te amo, Carlos Daniel. – Não sabia o que dizer mais, só senti meus olhos umedecerem e gotas caírem molhando meu rosto, eu também estou apaixonada por ele e sei perfeitamente o que ele sente agora, também me sinto assim e não sei como seria a minha vida sem ele.

O beijei mais uma vez apaixonada, entregue, amando-o agora mais do que antes e, palavras não eram necessárias neste momento, apenas estarmos juntos era algo que significava muito para ambos, era algo que já nos supria. Com Carlos Daniel me sinto feliz, plena, completa, ele me faz feliz e eu o amo com todas as forças do meu coração.

# Carlos Daniel narrando #

Puxei Paulina para que se deitasse em meu peito e ficamos assim, apenas em silencio acolhidos pela penumbra do quarto.

Envolto na sensação de tê-la ao meu lado consegui finalmente relaxar por completo, mesmo não conseguindo afastar de minha mente a estranha visita da minha mãe.

Em poucos minutos Paulina já dormia e mesmo com os remédios eu não conseguia dormir, sentia como se algo apertasse meu peito, não sei bem porque, mas a visita da minha mãe estava se tornando algo muito perturbador para mim. Com a chegada de Paulina não consegui descobrir a que se devia a visita dela a uma horas dessas.

Mas algo me dizia que não demoraria muito para descobrir...

Acabei adormecendo em algum momento e acordei muito cedo na manhã seguinte, Paulina ainda dormia, e com a pouca luz que entrava pelas janelas conseguia ver seu rosto delicado adormecido.

Mais linda impossível.

Ainda sentia uma leve angustia pela visita da noite passada, mas mesmo assim decidi que era melhor esquecer tudo aquilo. Bem que tentei, mas o fato de Paulina parecer tão preocupada com a forma com que trato minha mãe me fez pensar que talvez esse seja o momento de contar a ela quem é e o que fez minha mãe para odiá-la tanto.

– Bom dia, meu amor! - Paulina disse me tirando dos meus devaneios, nem ao menos a percebi acordar.

– Bom dia! - Sorri-lhe enquanto me aproximava dando-lhe um beijo nos lábios.

Paulina me olhava com um olhar questionador, mas não comentou nada a respeito de suas preocupações comigo. Foi melhor assim, talvez esse ainda não seja o momento para ela saber da parte obscura da minha vida.

– Acordou cedo hoje! - Ela observou como que quem não quer nada enquanto ainda me olhava com um olhar investigativo.

– Você roncou a noite toda! - Brinquei tentando distraí-la. – Não pude dormir! Completei com um falso ar de cansado.

– Mentiroso! - Exclamou rindo. – Eu não ronco! - Defendeu-se rindo.

– Ronca sim, minha vida! - Insisti na brincadeira enquanto me deleitava com sua risada.

Esse som era capaz de tirar qualquer preocupação que pudesse estar atormentando meus pensamentos.

– Mentira sua! – Ficou corada, adoro quando ela fica assim vermelhinha.

– Sophia nunca te disse que você ronca? - Perguntei a olhando divertido.

– Nunca por que eu não ronco! - Argumentou divertida enquanto tomava distancia de mim fingindo estar com raiva da brincadeira.

Mesmo com meu corpo reclamando pelo movimento, a puxei de volta para perto.

– Sophia nunca seria capaz de chateá-la por isso! - Disse pensativo. – Mas eu não pude dormir, e uma pessoa com sono sim é capaz! - Completei a segurando firme para que não se afastasse de mim novamente.

– Carlos Daniel! – Ela protestou rapidamente.

– Paulina! – Eu disse seu nome mais para mim mesmo do que para protestar por algo.

Paulina me olhava nos olhos tentando se manter séria, impossível, nem mesmo eu poderia me manter sério muito tempo olhando aqueles olhos verdes tão cheios de vida.

– Você não ronca, minha vida! - Admiti de forma carinhosa.

– Eu sabia! – Ela riu alto.

Me aproximei inalando o doce perfume que emanava de sua pele, céus, esse perfume era capaz de me tirar o fôlego, e sem nem ao menos calcular meus movimentos, minhas mãos a apertou pela cintura contra meu corpo de forma provocativa e enterrei meu rosto na curvatura de seu pescoço buscando mais daquele inebriante perfume. E como forma de provocá-la beijei-lhe o pescoço arrancando o mais leve dos suspiros...

– C-carlos Daniel! - Paulina disse meu nome em um suspiro diante das leves caricias que distribuía em seu delicado corpo.

– Estou com tanta saudade, meu amor! - Sussurrei em seu ouvido com a voz rouca de desejo.

Paulina nada respondeu, não era indiferente à minha saudade, e isso apenas me incentivou a prosseguir com minhas carícias, arrancando dela qualquer resistência que ainda pudesse existir.

* Paulina narrando *

Uma semana se passou após a visita da mãe de Carlos Daniel, o que me deixou intrigada e ainda pensativa, não entendia porque Carlos Daniel a trata de um jeito tão rude, mas não quis ser inconveniente e lhe perguntar, esperaria que ele tomasse essa atitude quando achasse prudente. Ele estava melhorando cada vez mais rápido, seguia o tratamento corretamente, apesar de sua teimosia de sempre, ele não sentia mais as dores fortes de antes e isso não ajudava em nada que parasse de me provocar buscando pelo que ainda não podíamos fazer, o contrário, só aumentava mais a insistência em saciar a sua infinita carência. Nos divertíamos bastante com isso, apesar de ser algo que não tem tanta graça assim. Se conter de desejo estava se tornando uma tarefa árdua para nós dois que tínhamos tanto amor para compartilhar, mas estávamos nos conhecendo de outra maneira, e isso nos bastava por enquanto.

Estava observando Carlos Daniel enquanto ele fazia exercícios respiratórios indicados por Daniela, fisioterapeuta, quando Matilde chegou ao quarto com um sorriso nos lábios.

– Carlos Daniel, tem uma surpresa tão agradável para você... – Ela disse muito contente, nunca a tinha visto tão contente assim e sorrimos ao vê-la tão sorridente.

– E que surpresa tão boa é essa, Matilde? – Ele perguntou levantando-se e indo em direção à Matilde, que afastou-se da porta, dando espaço para que outra pessoa entrasse.

– Ora, mas pra quê tanta cerimônia com a chegada de uma velha abandonada pelo neto...? – Ouvi uma voz madura, parecendo ser de uma senhora já de idade, eu ainda não conseguia vê-la, mas Carlos Daniel ficou parado, perplexo.

– Vovó Piedade... – Ele disse com a voz embargada. – O que... O que está fazendo aqui?

– Ao invés de fazer pergunta boba, porque não abraça essa velha aqui que está cheia de saudades de seu neto ingrato? – Ela disse também com voz embargada e Carlos Daniel a abraçou com dificuldades.

Não pude me conter ao ver aquela cena, o carinho, o respeito, o amor que existia entre eles era muito grande, notava-se de longe. Me aproximei deles e os observei mais de perto, junto com Matilde que tinha os olhos cheios de lágrimas e os fitava encantada.

– Por acaso esqueceu da que te criou desde bebê para nem sequer ter a consideração de dizer o que aconteceu com você? – Ela perguntou quando cessou o abraço, segurando o rosto dele com suas duas mãos de seus olhos pequenas gotas de lágrimas caíam.

– Não, vovó... É que... – Carlos Daniel deixou a frase morrer e baixar o olhar daquela senhora tão simpática e tão preocupada.

Ela é muito baixinha, tem cabelos vermelhos, tem um ar sofisticado e dona de uma elegância que me inspirou a realeza. Mas o que mais me chamou atenção foi a maneira que ela olhava para Carlos Daniel, com um olhar tão amoroso, terno, acolhedor, carinhoso, preocupado... Tantos sentimentos dentro de um simples olhar, era como uma mãe olha para o seu amado filho.

– É que é o caramba, que poxa... Eu, como a sua avó, tinha o direito de ser a primeira a saber, o que acontece com o meu neto, independente do que seja, e sempre sou a ultima, e isso é um descaso! – Ela disse advertindo-o com seu dedo indicador levantado e ele a olhava desconcertado.

– Achei que já haviam lhe contado, vovó. – Matilde explicou.

– Que me contado que nada, naquela casa eu sempre fico por fora das coisas quando tenho que ser a primeira de todas! – Ela disse olhando Matilde. – Bom, mas isso já não importa... – Deu de ombros quando me olhou e parou de falar rapidamente e eu lhe sorriu e acenei para ela.

– Olha... Mas que... Mas que coisa mais linda! – Ela largou a mão do neto e caminhou em minha direção, erguendo suas mãos até mim, eu fiz o mesmo e ela segurou firme minhas mãos e me olhou no fundo dos olhos. Parecia estar surpresa. – Carlos Daniel...

– Sim vovó, ela é Paulina. – Carlos Daniel também se aproximou e me abraçou pelos ombros. – A minha namorada.

– Paulina... – Ela repetiu meu nome me olhando. - Essa é a moça que você me falou outro dia pelo telefone, certo meu neto? – Perguntou a senhorinha seu desviar os olhos de mim.

– Sim, vovó.

– Ohh, mas esse rosto de anjo não me deixa dúvidas de que é a causadora desse novo brilho de seus olhos. – Eu sorri, apesar de confusa. Ela nem me conhecia e já demonstrava tamanho carinho por mim e o único que eu podia fazer naquele momento era retribuí-lo. – Sou Piedade Bracho, avó desse ingrato, é um prazer finalmente conhecê-la, minha filha. – Ela disse amavelmente, ainda segurando as minhas mãos.

– O prazer é meu, dona Piedade.

– Vovó, minha filha. Me chame de vovó Piedade.

– Vovó Piedade. – Repeti carinhosa e ela sorriu alto.

Carlos Daniel a conduziu até o sofá e nos aproximamos dela junto com Matilde para conversarmos. Contamos como aconteceu desde que Carlos Daniel sofreu o acidente e ela não parava de me agradecer por ficar com ele durante sua recuperação, ela nos contou algumas travessuras que Carlos Daniel fazia quando era criança e que perdeu as contas de quantas vezes ele ficou de castigo, contou também que ele foi expulso do colégio uma vez por ter colocado um sapo na mesa da professora e rimos muito de todas aquelas histórias. As horas passaram voando enquanto conversávamos, mas o contrário do que pensamos, a vovó Piedade não ficaria na casa de Carlos Daniel.

– Bom, preciso voltar para casa. Está muito tarde e não tenho mais idade para ficar até altas horas fora de casa. – Riu e rimos junto com ela, era incrível como o humor de Carlos Daniel ficava bom quando estava com sua avó. Gostei disso.

– Porque não dorme aqui em casa, vovó? – Carlos Daniel perguntou prontamente.

– Lá em casa ninguém sabe que eu dei essa fugidinha. Você sabe. – Piscou para ele. – Não quis ter de ficar dando explicações para ninguém, e sabe como é, não iam querer me deixar vir só e eu não recebo ordens de ninguém, você me compreende, não é?

– Sim, vovó, mas devia ter avisado, devem estar preocupados com a senhora.

– Que preocupados que nada! – Ela disse dando de ombros. – Ali ninguém parece notar a minha presença, não se importariam com a ausência tampouco, não são umas poucas horinhas que fará diferença.

– Bom, de qualquer forma, obrigado por ter vindo me visitar, vovó. – Carlos Daniel disse segurando em suas mãos, e notei seus olhos vermelhos por forçarem segurar um choro contido.

Eu fiz menção de sair, mas eles pediram que eu ficasse, então voltei ao meu lugar e os observei com admiração.

– Meu neto, como não viria... Mas se Matilde não me dissesse, não saberia... – Ela disse acariciando os cabelos dele. – De todas as formas, teria que vir aqui pessoalmente para dizer que gostaria muito que fosse ao meu aniversário. Há anos você não vai lá e...

– Vovó, entenda que...

– Eu sou sua avó, Carlos Daniel... Aquela casa também é sua e todos sentem a sua falta, e ainda mais essa pobre velha que convalesce mais e mais a cada dia que passa.

– Não diga assim, vovó, eu...

– Não quero mais desculpas, meu filho... Quero apenas que você vá... Paulina, minha filha, convença-o e vá com ele! – Pediu me olhando, mas eu não lhe respondi nada, não sabia o que dizer.

– Se Paulina for eu posso considerar, mas ainda assim, não sei vovó...

– Pense bem, meu neto... Será de grande alegria para mim, vê-los em meu aniversário, será o melhor presente! – Ela explicou enquanto levantava-se e ele rapidamente tentou ajudá-la. – Não, não quero ajuda, estou velha, mas posso me levantar sozinha.

Nos despedimos daquela tão agradável senhorinha e Carlos Daniel estava radiante, era perceptível o que ele sentia por ela, a admiração e o respeito se viam através de seu olhar, eu estava totalmente satisfeita por saber cada vez mais sobre ele, o homem que eu estava a cada dia mais e mais apaixonada, e a cada pouco que eu conhecia dele, conseguia me sentir mais intrigada por saber mais e mais do homem que quero ter pra sempre ao meu lado.

...

# Carlos Daniel narrando #

Um mês se passou, Paulina passou a dividir os dias em que ficava em minha casa com dias que passava em sua casa, quando ela não dormia comigo era como se faltasse um pedaço de mim, era maravilhoso tê-la ao meu lado, me sentia feliz, pleno e renovado a cada dia que acordava ao seu lado, ela dedicou todos esses dias a cuidar de mim e sempre agüentava minhas “crises”, e esse foi o mês mais difícil de minha vida, dormir ao lado de Paulina não tem sido uma tarefa nada fácil para mim, esse mulher esbanja sensualidade sem nem ao menos se dar conta.

“Parece que fazia anos que a tive em meus braços lá na fazenda. Gostaria que minha vida congelasse no tempo exatamente quando estávamos lá na fazenda vivendo um sonho que rapidamente tornou-se pesadelo com nossa volta à Capital.

Lembrar dos momentos que passei nas mãos daquele canalha do Mauricio só me enchia de raiva, de alguma forma teria que mostrar a ele que posso ser tão perigoso ou mais que ele. Não podia permitir que ele quisesse me atingir da forma que sei que poderia me destruir, não podia permitir que se aproximasse de Paulina, da minha Paulina.

Agora que já estou praticamente curado, tenho que começar a tomar minhas providências para mantê-lo bem longe da gente, sei que aquilo foi apenas um aviso, então, não posso ficar aqui parado esperando o recado vir.”

Enquanto penso em como manter Mauricio sob controle observo Paulina adormecida ao meu lado...

– Vou dar um jeito em tudo isso, meu amor! -Sussurrei enquanto acariciava seu rosto de forma leve não querendo despertá-la.

Não sei quanto tempo fiquei ali, apenas a olhando, apenas pensando em como a manteria segura, quando uma idéia me veio à cabeça.

Preciso de alguém de confiança, e tenho o homem certo para esse trabalho, hoje mesmo pedirei que venha, mas preciso fazer isso quando Paulina estiver trabalhando, não quero que ela suspeite de nada. Vai ser melhor assim.

– Você anda muito pensativo! - Me assustei quando fui pego mais uma vez imerso em meus pensamentos. Mais uma vez não a notei acordar, apenas sorri e me aproximei para dar-lhe um beijo de bom dia.

– Estou apenas pensando que já está na hora de voltar a trabalhar! - Menti. – A empresa precisa de mim! - Expliquei quando recebi um olhar sério.

– Tem razão! - Concordou se sentando a minha frente com as pernas dobradas. – Mas precisa que esteja totalmente recuperado! – Completou ainda séria.

– Não diria que estou cem por cento! - Sorri. – Mas estou bem o suficiente para agüentar algumas horas no escritório!

– Por favor, meu amor! - Paulina pediu daquele jeito que sei que mesmo que me pedisse o sol não poderia negar-lhe. – A doutora dirá se pode ou não ir trabalhar! - Concluiu compreensiva.

– Você verá que ela vai concordar que já estou bom! - Respondi sorrindo. – Quem sabe assim você pára de se preocupar e finalmente relaxa! – Acariciei a maçã de seu rosto, apreciando seu sorriso matinal.

– Você é pior que uma criança doente, Carlos Daniel! - Paulina disse me olhando divertida.

Não discuti, sei que Paulina está certa em alguns pontos. Fomos interrompidos por uma leve batida na porta, e antes mesmo da porta se abrir sabíamos bem que era.

– Matilde! – Cumprimentei-a com um sorriso largo ao vê-la. – Bom dia!

– Bom dia, meu menino! - Ela disse toda carinhosa. – Bom dia, minha filha! - Cumprimentou Paulina com o mesmo carinho.

Não podia deixar de me sentir um pouco enciumado, Matilde e Paulina se tornaram tão próximas em tão pouco tempo, era bom saber que as duas se davam tão bem, as duas mulheres que amava, de formas diferentes, mas as amava muito.

– Vim porque a consulta está marcada para às 9h30! - Explicou Matilde preocupada com a hora. – E já são 8h10, não quero que se atrasem!

– Não se preocupe, Matilde! - Paulina disse em seu tom terno. – Em apenas alguns minutos descemos para o café! - Completou já se colocando de pé.

– Já pedi que o Gabriel preparasse o carro! - Disse prestativa.

– Obrigada, Matilde! - Agradeceu Paulina lhe sorrindo. – Não sei o que seria de nós sem toda sua ajuda, acho que não daria conta sozinha! - Explicou agradecida.

– Faço com o maior gosto! - Matilde disse sentindo-se envergonhada com tantos elogios.

Matilde rapidamente nos deixou a sós para que pudéssemos nos arrumar...

* Paulina narrando *

– Não gosto de hospitais. – Carlos Daniel disse com tom amargo quando adentramos o Hospital Sán José. – Odeio agulhas.

– Tranqüilo, Carlos Daniel. – Respondi sorrindo. – Não vamos demorar e não se preocupe que não verá agulhas.

– Assim espero! – Ele respondeu dando um beijo carinhoso em meu rosto.

Fomos até a ala de Ortopedia, nos identificamos e aguardamos a doutora Machado nos chamar. Era o dia de Carlos Daniel fazer alguns exames e ela nos diria como ele está, a doutora nos atendeu e conversou com Carlos Daniel, perguntou-lhe como ele se sentia, como foi durante a recuperação em casa e ele precisou tirar algumas radiografias para termos certeza se estava tudo nos conformes. Enquanto Carlos Daniel terminava de se trocar, na sala de radiografias, eu aproveitei para conversar com a doutora e, assim, tirar algumas duvidas...

– Doutora, gostaria de te fazer uma última pergunta.. Ééé.. – Baixei meu olhar procurando um meio de perguntar o que eu queria.

– Pode perguntar, senhorita Martins, não precisa ficar envergonhada, sou médica e estou aqui para tirar todas as suas dúvidas. – A doutora disse rapidamente de uma maneira tão espontânea que parecia que ela lia os meus pensamentos.

– É que...- Eu tentava encontrar palavras para o que eu queria saber, mas não as encontrava. - Gostaria de saber se o Carlos Daniel continua impossibilitado de fazer esforço... A senhora sabe o que quero dizer... – Senti meu rosto esquentar com o que nem conseguia perguntar.

– Sim, eu entendo. Você quer saber se ele está liberado para fazer sexo. – Direta e reta, e a minha cara, com certeza, que nem tomate. - A resposta é sim, mas claro, com algumas restrições de posições.

– Como assim, doutora?

– Bom, ele não pode se esforçar tanto, sabe...? – Explicou com um sorriso que eu entendia muito bem o que significava.

– Então é melhor não fazer nada que prejudique seu tratamento. – Respondi um tanto... Decepcionada?!

– Não foi isso que eu disse, Paulina. Agora de mulher para mulher, sabemos que existem outros métodos de fazer amor sem que necessariamente o parceiro tenha que fazer tanto esforço. Acho que vocês deveriam tentar. – Ela disse objetiva e deu uma piscadela. – Sorri de volta.

– Entendi, muito obrigada por tudo doutora.

– E então, doutora?! Como estou? – Carlos Daniel aproximou-se de nós e agradeci mentalmente por ele não ter escutado o que acabara de falar com a doutora Machado.

– Está muito bem, sr. Bracho. Novo em folha, mas é claro, por enquanto, ainda não pode se esforçar tanto.

– Me sinto ótimo, doutora! – Ele disse animado.

– Sim, eu sei... Mas ainda assim tem que medir “esforços”. – A doutora respondeu sorrindo, a agradecemos por tudo e nos despedimos.

...

– Viu o que a doutora disse, minha vida?! – Carlos Daniel disse quando estávamos no carro voltando para casa.

– Sim, que está melhor, graças a Deus meu amor.

– Sim, e estou muito feliz, assim como essa noite será. – Ele respondeu com um sorriso malicioso nos lábios, abraçando-me pela cintura e cheirou meu pescoço, causando arrepios em todo o meu corpo.

– Carlos Daniel, se contenha. Gabriel está aqui. – Sussurrei advertindo-o, mas ele sorriu com aquele sorriso cafajeste.

– O que é que tem? – Ele deve saber muito bem o que é um beijo de...

– Carlos Daniel, por favor! – O interrompi antes que ele dissesse alguma besteira ali no carro. – Quieto, por favor.

– Enfim chegamos! – Carlos Daniel disse sorridente. – Vem, meu amor... Vamos lá pra cima.

– Esperem! – Matilde nos recebeu com um olhar preocupado. – Como foi?

– Estou muito bem, Matilde! Pronto pra outra. – Carlos Daniel respondeu totalmente empolgado e rimos de seu jeito de falar.

– Não é bem assim, Carlos Daniel... – O adverti me aproximando de Matilde. – Ele está bem, Matilde, mas tem que se cuidar e não se esforçar tanto, continuar tomando alguns remédios e logo estará cem por cento.

– Ai, assim me sinto mais aliviada, graças a Deus! – Matilde disse pondo as duas mãos no coração e sorriu. – Deus abençoe você, meu filho, e te livre de problemas.

– Não se preocupe Matilde. Depois dessa, agora me sinto melhor que nunca, e nada mais me acontecerá. – Carlos Daniel disse confiante e o olhei sorrindo, o humor dele estava ótimo.

Subimos para o quarto de Carlos Daniel que agora me olhava parecendo um leão faminto, andei um pouco mais à sua frente e fui até o closet de propósito evitando que ele me agarrasse de supetão, como sabia que queria, mas ele foi atrás de mim.

– Oh meu amor, estou com tanta saudade de você... – Ele disse me olhando fixo quando me encostou em um dos armários dentro do closet.

Não tive tempo de dizer nada, Carlos Daniel me tomou com ansiedade, enfiando sua língua em minha boca com habilidade e destreza. Enfiei meus dedos em seus cabelos e os apertei com desejo, aquele beijo delicioso estava aflorando todos os meus sentidos sexuais de uma só vez.

– Carlos Daniel eu... – Tentei me controlar e sair de dentro daquela onda de desejo que me invadiu tão rapidamente, depois de tanto tempo sem tê-lo como eu tanto desejava, não era nada fácil apagar aquele fogo que nos consumia.

– Quero fazê-la minha aqui, agora... – Ele dizia ofegante enquanto distribuía beijos e mordiscadas por meu pescoço, me deixando fora da órbita.

– Também quero ser sua, mas... – Tentei completar quando ele abriu o zíper de meu vestido que, sem eu nem me dar conta, já estava caído em meus pés. – Agora eu preciso sair... – Concluí com dificuldades, mas ele pareceu não escutar.

– Eu te desejo tanto, tanto... – Ele disse quase sem voz quando levantou minha coxa e colocou em seu quadril, me fazendo sentir a força de sua masculinidade e senti a minha intimidade reclamar por senti-lo dentro de mim.

– Eu também, meu amor, mas ainda não... Temos que tomar cuidado e você está muito... Alterado... – Expliquei com muito esforço enquanto ele ainda beijava meu pescoço com ligeireza.

– Sim, e pronto para você... – Ele disse rapidamente, agora desatando seu cinto, me fazendo engolir em seco, não podia vê-lo, não quando o desejava tanto e queria deixar tudo para mais tarde, queria que fôssemos com calma.

– Precisamos conversar, e eu tenho que sair, Carlos Daniel... – Praticamente implorei, lamentando ter de sair justo na hora em que estava prestes a enlouquecer, mas seríamos compensados muito em breve.

Segurei em suas mãos o impedindo de continuar a tirar suas calças e ele me olhou com sua respiração entrecortada, desanimado.

– Não faz isso, Paulina... – Ele disse tentando recuperar o fôlego e apoiou suas mãos no armário que eu estava encostada. Seus cabelos agora bagunçados, eu o olhei encantada com o quão sexy ele fica quando está assim.

– Desculpa, Carlos Daniel, mas eu preciso ir à fábrica ainda, preciso ir em casa ver como estão as coisas por lá. – Eu explicava enquanto ele me ajudava a colocar meu vestido novamente. - Vou avisar que está tudo bem com você e que... Que eu volto pra casa amanhã.

– O quê? – Ele perguntou surpreso com o que ouviu. Parou e me olhou com os olhos bem abertos. – C-como assim volta pra casa amanhã, meu amor? – Passou a mãos por seus cabelos e depois pelo queixo e logo me olhou, agora chateado.

– Isso, você já está bem. Não precisa de maiores cuidados e eu tenho que voltar para minha casa, Carlos Daniel. – Justifiquei o observando, ele não estava preparado para ouvir isso, mas eu tinha que dizer, ainda que me doesse o coração.

– M-mas, Paulina... E se eu tombar de mau jeito e cair, se acontecer algo que me faça sentir mal...?

– Ai por favor, Carlos Daniel! Não fala besteiras! – Pedi afastando-me dele, voltando para o quarto.

– Mas é verdade, Paulina. Posso ficar doente de saudades... – Dizia indo atrás de mim e eu parei para olhá-lo nos olhos.

– Se for assim, eu também ficaria doente de saudades...

– Então, uma maneira de evitar isso é ficando juntos. – Ele argumentou me segurando pela cintura.

– Não vamos nos separar, apenas vamos voltar às nossas rotinas normais.

– Mas vou chegar em casa e não te encontrar aqui e...

– Veremos sobre isso depois, mas eu tenho que ir para casa, tenho que voltar para Sophia, meu pai, Adelina... Eles também sentem saudades de mim... – Justifiquei segurando seu queixo e acariciando-o.

– Tudo bem, depois falamos disso. – Respondeu convencido.

– Tá bom, obrigada amor. – Beijei rápido seus lábios e o olhei nos olhos novamente, ainda em seu abraço. – E, tem o aniversário de sua avó, não esqueceu, né?

– Bom... Eu não vou. – Ele disse desviando o olhar e afastou-se imediatamente.

– Mas por quê? A sua avó está contando com a sua presença... Por Deus, Carlos Daniel... – Pedi tentando ser compreensiva, mas também convencê-lo a ir.

Ele não me respondeu nada, apenas baixou a cabeça e ficou pensativo.

– Você ainda volta hoje?

– Claro que volto, fico aqui com você esta noite, não se preocupe. Mas vamos conversar sobre o aniversário de sua avó, tudo bem?

Carlos Daniel permaneceu calado me olhando, tornou-se pensativo, distante por alguns segundos e segurou minhas mãos acariciando-as quando me aproximei dele.

– Te amo! Tenho medo de te perder, não me vejo mais longe de você, você é tudo para mim... – Ele disse olhando no fundo de meus olhos, me deixando um tanto confusa com sua declaração repentina.

– Você não vai me perder, Carlos Daniel... – Acariciei seus cabelos e lhe beijei apaixonadamente, tranqüilizando-o.

Após nos beijarmos por um tempo, precisei ir, Carlos Daniel não me deixava sair de suas caricias, mas com muita dificuldade consegui resisti-lo por enquanto. Seria melhor esperar mais um pouco para podermos aproveitar a noite e eu já pensava em algo que vai deixá-lo maluco...

...

# Carlos Daniel narrando #

Paulina teve que sair novamente depois de me deixar em casa, eu já estava quase totalmente recuperado, e com minha recuperação vinha a partida de Paulina, sabia que talvez estivesse exagerando, mas a queria apenas para mim todos os dias, queria acordar todas as manhãs e poder admirá-la enquanto dorme.

Teria de me conformar agora com apenas alguns dias da semana, bom, é melhor do que nada. Pensava no meu escritório em casa enquanto folheava pela milésima vez alguns documentos da empresa que estavam pendentes, não sentia ânimo para nada, mas tinha que voltar ao trabalho já!

– Com licença, meu filho. Mas o senhor Rodrigo está aqui, assim como pediu! - Disse Matilde entrando no escritório com seu habitual sorriso.

– Perfeito! – Exclamei, agora me sentindo animado. – Por favor, peça que entre e que ninguém nos interrompa! - Conclui rapidamente.

– Claro, meu filho! - Matilde assentiu me olhando seriamente. – Enquanto isso, vou preparar um café para quando terminarem essa reunião! - Dizia enquanto seguia porta afora.

Não poderia confiar em ninguém mais, poderia contar apenas com o Rodrigo e espero que ele não me decepcione. Bom, ele nunca o fez.

– Boa tarde, Carlos Daniel! - Cumprimentou Rodrigo ao entrar.

Tinha o semblante muito sério e preocupado...

– Olá Rodrigo! E, obrigado por vim. – O cumprimentei com um aperto de mãos e agradeci fazendo gesto para que se sentasse, pois o assunto seria demorado.

– Não tem de quê, estou à disposição! - Dizia enquanto sentava-se à minha frente e me dirigia um olhar profissional.

Bom, eu não precisaria do homem profissional agora, um amigo estava de bom tamanho para mim.

– O que tenho a dizer é muito sério e sigiloso! – Iniciei a conversa olhando-o seriamente.

– Pode contar comigo! – Ele respondeu me olhando de igual forma enquanto se movimentava meio desconfortável em seu lugar.

Levei apenas um instante o observando... Rodrigo sempre me pareceu uma pessoa confiável.

– Preste muita atenção no que vou te dizer Rodrigo! – Dizia enquanto ele me escutava em silencio. – Preciso de um grande favor seu, porque eu não fui assaltado como disse a policia que tinha sido! - Expliquei e observei a surpresa estampar o seu rosto.

– M-mas você disse que foi uma tentativa de assalto!

– Porque não poderia envolver a policia nesse assunto! - Argumentei. – Seria perigoso demais. Maurício não deixaria barato e agiria antes que eu pudesse fazer alguma coisa para impedi-lo!

– Espera... Espera aí... - Pediu fazendo uma pausa, confuso. – Maurício, quem é Maurício? - Perguntou me olhando com o cenho franzido.

– Maurício era noivo da Paulina! - Disse de má vontade. – Ele quem armou tudo isso para mim por causa de alguns problemas que tivemos, mas isso não vem ao caso agora! - Expliquei me sentindo irritado ao me lembrar do que aconteceu lá no restaurante.

– Tudo bem... Mas o que pretende fazer exatamente? - Rodrigo me perguntou ainda não entendendo minhas intenções em agir sem a ajuda das autoridades.

– Pretendo colocá-lo atrás das grades!

– Mas... A policia... - Dizia Rodrigo, mas antes que pudesse terminar o interrompi.

– A policia não vai conseguir mantê-lo preso! – Explodi me sentindo irritado só de imaginar esse desgraçado por aí, ileso. – Quero fazer de um jeito que ele não tenha como escapar da justiça! - Completei respirando fundo.

– E como pretende fazer isso? - Mais uma vez Rodrigo me perguntou seriamente.

– Ainda não sei... – Disse pensativo, levantando-me da cadeira, agora andando de um lado para o outro.

– Tenho uma sugestão. – Ele disse girando-se na cadeira para me olhar.

– Qual?

– Que faça um dossiê desse tal Maurício. – Objetivo o Rodrigo, assim que eu gosto.

– Hmm... Fale mais sobre isso. – Pedi já me interessando pelo assunto e voltei para o meu assento, ficando de frente com Rodrigo novamente.

– É interessante que você saiba mais sobre ele, onde vive, trabalha, de suas diversões e passatempos prediletos, de onde veio, se costuma andar armado, se tem antecedentes criminais, para onde costuma sair, dentre outras coisas...

– Sim, você tem razão. Esse canalha com certeza não tem um bom histórico, e isso pode me deixar em vantagem.

– Exatamente! Tenho como conseguir isso pra você, tenho contatos que podem nos ajudar, e você poderá saber tudo sobre esse cara.

– E em quantos dias você acha que consegue me passar todas as informações?

– Isso depende. Primeiro temos de contratar os serviços, mas creio que é questão de dias. Então você precisará ter paciência para esperar, se quiser um relatório completo dos passos dele.

– Sim, compreendo. Bom, não há problema em esperar mais alguns dias para vê-lo em seu lugar. – Eu disse pensativo, a espera poderia valer à pena.

– Mas você acha que ele pode fazer algum mal à... – Ele disse deixando a frase morrer, referindo-se à Paulina.

– Sim Rodrigo. Esse cara é perigoso, viu o que ele fez comigo?! Ele não está para brincadeiras. Um dia nos encontramos num restaurante, ele a tratou mal e eu lhe dei uma lição lá mesmo, não pude evitar. – Expliquei sentindo uma raiva me dominar enquanto recordava aquela noite. – E alguns dias depois, ele me seguiu, me cercou com alguns capangas, estavam todos armados e encapuzados, exceto esse canalha, que fez com que dois de seus homens me segurassem para que ele pudesse me acertar. Grande covarde!

– E ela não sabe... – Ele insinuou demonstrando estar indignado.

– Não, e nem pode saber! Ele fez muito mal a ela e eu não quero que ela sofra mais, se ela souber que foi ele que me “assaltou”, vai ficar mal e eu não quero isso. Me entende Rodrigo? – Indaguei sua compreensão, eu precisava disso.

– Entendo perfeitamente! – Ele assentiu com um meio sorriso.

– Por isso lhe peço que este seja o nosso segredo.

– Não se preocupe com isso. E vou providenciar tudo e te aviso sobre o custo e outras coisas mais que forem necessárias.

– Pode pagar o que for preciso! Não poupe quanto aos gastos.

– Isso veremos, te aviso de qualquer forma.

– Obrigado por me ajudar sempre, Rodrigo. – Eu disse sorrindo e ele me olhou um tanto assustado, mas era de se entender, eu jamais o havia tratado de forma tão... Afetuosa.

– Estarei sempre por perto para o que precisar. – Rodrigo respondeu me olhando, logo segurando seu celular. – Carlos Daniel, quanto ao senhor Martins... Tenho algumas informações que não vão te agradar... Mas o que você vai fazer se ele continuar se endividando mais e mais, sendo que, você investiu pesado nos negócios deles...?

– Olha Rodrigo, eu não sei... Eu e Paulina estamos tão bem, desde que começamos nunca conversamos sobre seu pai. Ela nunca me disse nada e eu não pergunto, este assunto é pessoal e de certa forma eu a compreendo. Não gostamos de misturar assuntos pessoais com os de trabalho.

– Mas há muito dinheiro aplicado na fábrica, nem com o pai dela você vai falar? Podia alertá-lo, se ele continuar jogando, poderá se complicar.

– Não posso deixar que meu investimento vá por água abaixo se ele se der mal... Mas quanto aos seus vícios, isso é algo que está fora de minhas mãos, eu não tenho nada a ver com o que ele faz, ele sabe quais as conseqüências de seus atos. Imagina só, eu dando conselhos a um velho irresponsável... – Ri com ironia, Rodrigo permaneceu sério.

– Mesmo quando essas conseqüências possam atingir suas filhas? – Ele perguntou com sensatez e meu corpo inteiro tencionou com seu comentário. Não havia pensado por este lado da história.

– Explique melhor...

– Se o Sr Martins continuar sem controle como está, poderá perder tudo, e até mesmo deixar suas filhas na sarjeta. Você não fará nada para impedi-lo?