Te Odeio Por Te Amar

Capítulo 51 - Visita desagradável


* Paulina narrando *

– Você não pode ficar se movimentando, meu amor! – Eu disse essa frase com um enorme sorriso na cara, forçando não demonstrar a raiva que senti quando vi aquela mulher quase em cima de Carlos Daniel. Não queria demonstrar meu sentimento, não nessas circunstancias.

Carlos Daniel me olhou confuso, com certeza pensou que eu teria uma reação contrária a que tive. A mulher que estava quase deitada sobre ele era a tal Verônica, Vanessa, não lembro o nome dela, a mesma que vi com ele na pub aquela noite, e que estava com ele no escritório, era sua secretária. Ela me olhou totalmente surpresa, e o sorriso cínico que tinha nos lábios vermelhos desmanchou-se quando me aproximei deles.

– Paulina eu...

– Não pensei que teria uma visita a essa hora, meu amor. – Eu disse sorrindo enquanto colocava a jarra com água em cima da mesa, notava-se de longe a ironia estampada em minha cara e em meu tom de voz.

– Victória já está de saída. – Ele disse rápido após pigarrear encarando-a.

– Não me disse que está acompanhado, Carlos Daniel. – Ela disse pra ele após me olhar da cabeça aos pés ignorando a minha presença ali. Olhei para Carlos Daniel esperando qual resposta ele lhe daria.

– É, mas como você está vendo eu estou, e muito bem acompanhado pela minha namorada Paulina. – Carlos Daniel respondeu grosseiro. – Vem cá, meu amor. – Disse ao me olhar, estendendo sua mão em minha direção para que eu sentasse ao seu lado na cama. Sentei-me e ele beijou minha mão.

– Namorada? – Ela perguntou perplexa.

– Não apenas a minha namorada, mas mulher de minha vida e futura senhora Bracho! – Ele afirmou com um sorriso e aproximou nossos rostos dando um leve beijo em meus lábios na frente dela.

Senti meu rosto esquentar com o que Carlos Daniel acabara de dizer, mas sorri correspondendo-lhe o carinho e senti que Victória nos estava impaciente. Acariciei seu rosto e segurei sua mão novamente.

– Está na hora de seu remédio, amor. – Eu disse levantando-me rapidamente, indo em busca de um copo com água e seus comprimidos. – Tem que descansar.

– Sim, meu amor. – Ele respondeu enquanto segurava o copo d’água que eu já lhe entregava. – Tchau, Victória, e não se preocupe, estou sendo muito bem cuidado.

– Até mais, Carlos Daniel. – Ela disse aparentemente conformada com um meio sorriso. – Que fique bom logo, que melhore e volte a ser aquele Carlos Daniel saudável e forte que sempre foi e sabe, pode contar comigo para o que precisar. – Ela disse e piscou para ele da maneira mais descarada possível, ela não tinha vergonha na cara, isso era nítido.

– Que gentil, Verônica...

– Victória! – Ela me corrigiu rapidamente, deixando escapar um pouco da postura que tentava manter frente a Carlos Daniel.

– Victória. – Repeti seu lindo nome encarando-a. – Que gentil, mas ele não precisará de nada. Obrigada pela hospitalidade, querida! – Agradeci com sarcasmo e ela me lançou seu olhar carregado de raiva. – Te acompanho até a saída. – Eu disse ao abrir a porta e esperar que ela desse o primeiro passo para fora do quarto para acompanhá-la.

Fui em sua frente e ela me seguiu, andava em passos mais lentos que os meus pelo corredor mas me acompanhava e eu agradeci mentalmente por estar a frente dela e estarmos quase chegando à porta de saída, eu estava muito cansada e, se tinha algo que eu não estava a fim era de discutir com ela, mas para a minha quase surpresa, diminuiu seus passos, parou e me olhou debochada.

– Futura senhora Bracho, não é? – Perguntou de repente. – Então vocês vão se casar?

– Exatamente, querida! Como você ouviu Carlos Daniel dizer. – Respondi confiante, apesar de nunca ter falado sobre isso com Carlos Daniel, eu estava tão surpresa quanto ela, mas ela não tinha que perceber.

– Isso não vai dar certo! – Ela sorriu totalmente sarcástica.

– E posso saber por quê? – Perguntei rindo também sarcástica. Quem essa mulher pensa que é para falar assim?

– Mas é claro! Não vê o que está bem na sua cara? Carlos Daniel não é homem pra casar, ele não é o tipo de homem que se contenta com apenas uma mulher! – Ela disse me medindo.

– Ah, obrigada pelo aviso Verônica... Digo, Victória... Mas acho que isso é uma coisa que só diz respeito ao meu namorado e a mim. Então, agradeço a sua visita, mas já está tarde e nós precisamos dormir. Tenha uma boa noite! – Eu disse com um sorriso nos lábios, nunca foi tão difícil para mim sorrir sem vontade como agora.

– Há! – Ela riu alto, ainda parada a minha frente. – Agora sim tudo faz sentido, agora sim eu entendi o porquê que ele decidiu investir nessa empresa que estava indo à falência. – Ela se impôs ainda mais e me encarou com ousadia, e eu senti meu sangue ferver e minha mão formigar à medida que aquela mulher dizia cada palavra. – O que quer dizer que, junto com as ações, ele também comprou a dona da...

Ela não pôde dizer mais nada, pois no lugar de palavras, apenas ouvi o barulho do forte tapa que dei em sua cara cínica. Não resisti, não pude mais ouvi-la dizer coisas que não são verdades. Ela nem sequer sabe quem sou eu, não sabe o que está falando e não tinha o direito de me ofender daquela maneira. Sentia meu coração bater descompassado e minha respiração presa neste momento, e ela segurou o rosto rapidamente, mas quando tentou reagir, um dos seguranças da casa apareceu junto com Matilde e a segurou antes que ela tentasse me atacar.

– Tire essa mulher daqui, e a partir de hoje ela está proibida de entrar nesta casa! – Eu ordenei sem conseguir pensar em nada mais, não estava em minha casa, mas agora isso não importava.

– Isso não vai ficar assim!!! – Ela gritou furiosa enquanto tentava se soltar do segurança. – Você vai se arrepender amargamente de ter feito isso comigo e ainda por cima, será muito infeliz com Carlos Daniel, ouviu?! Muito infeliz!

– Tire ela daqui! – Pedi pela ultima vez ao rapaz q a segurava inquieta e ele a levou para fora da casa.

Parecia que minhas pernas não poderiam me sustentar, meu coração estava eufórico e a raiva que eu sentia por aquela mulher e por suas palavras me dominaram, eu estava em paz e isso foi o suficiente para me tirar do sério.

– Desculpa senhorita Paulina, eu não vi essa moça entrar e quando vi vocês aqui resolvi chamar o segurança por precaução. – Matilde disse me olhando seriamente. – E, não leve em consideração as coisas que ela disse, por favor!

– Tudo bem, Matilde! Não se preocupe, de verdade!

– Me acompanhe, eu vou lhe fazer um chá de camomila.

Acompanhei Matilde até a cozinha e ela me serviu um chá quente, e enquanto eu esfriava o chá, não pude deixar de pensar no que aquela mulher acabara de me dizer. Eu não queria que as coisas tivessem terminado assim, não que ela não merecesse aquele tapa, mas eu não queria ter caído nas provocações dela. Mas, será que ela tem razão? Será que o Carlos Daniel realmente seria infiel a mim? Ele realmente havia mudado muito nos últimos tempos e se tornado o homem ideal, mas será que ele não se cansaria de tudo e um dia voltaria a sua vida de luxúria? Não, Carlos Daniel mudou e não merece que eu fique pensando essas coisas dele. Afastei aqueles pensamentos de minha cabeça e me concentrei em tomar o chá que já estava esfriando. Matilde me disse mais algumas coisas sobre Carlos Daniel e sobre como cuidaríamos dele durante a semana, mas ainda assim, não pude prestar muita atenção em suas palavras.

– Parece cansada, senhorita. Ainda mais depois desse momento desagradável. – Ela disse tocando o meu braço. – Vai descansar!

– Sim, eu vou Matilde. – Respondi-lhe com um meio sorriso. – Obrigada por tudo, e o chá estava ótimo! Boa noite!

Nos despedimos e eu subi de volta para o quarto de Carlos Daniel.

# Carlos Daniel narrando #

“Esse encontro nunca deveria ter acontecido, Paulina jamais poderia pegar Victoria aqui e, céus, eu não devia ter deixado as duas sozinhas!” Pensava angustiado. Conhecia Victoria bem demais para saber do que aquela víbora era capaz. Victoria poderia estragar minha felicidade com Paulina num estalar de dedos, e ela era bem capaz disso.

Tentei inutilmente me levantar com a intenção de ir atrás de Paulina e Victoria, elas estavam demorando mais que o necessário, e isso não poderia significar uma coisa boa.

As dores que atravessavam meu corpo eram tão fortes que meus olhos lacrimejaram quando tentei me levantar e gemi alto por uma dor aguda que atingiu meu corpo. Sentia como se meus ossos estivessem sendo pisoteados pelo salto alto de Victoria, que se vingava da forma que a tratei, sim, porque vi o ódio em seus olhos quando soube sobre mim e Paulina.

Victoria não poderia me culpar, nunca dei a ela a esperança de que podíamos ter um relacionamento sério, ela sabia desde o início que o nosso era apenas sexo e nada mais. Meu Deus, porque Paulina demorava tanto a voltar?

– Isso não vai acabar bem! - Disse a mim mesmo. Olhava o tempo todo para a porta com a esperança de que Paulina entraria por ela a qualquer momento.

Me arrependo amargamente da vida que levei antes de conhecer Paulina, mas ela não poderia me julgar, nunca escondi dela a vida leviana que levava. Sim, mas ela nunca teve de enfrentar uma mulher com quem estive em meu passado...

– Paulina! Já estava pensando em ir atrás de você! – Eu disse sentando-me devagar, aliviado ao vê-la entrar no quarto. – Você demorou muito e fiquei preocupado... – Continuei tentando ler em seu rosto seu estado de espírito com tudo aquilo.

– A sua... Hãm... – Ela disse parada a certa distancia de mim. –...Nem ao menos sei como me referir a ela! - Disse em tom amargo.

Fiquei em silencio sem entender seu tom ou sua insinuação.

– Secretária, amante, ou seja lá o que ela é! - Disse andando até a cama e parando em minha frente. – Não quero vê-la novamente!

–Ela foi minha amante, Paulina! - Disse enfatizando o FOI. – Ela nunca significou nada para mim e amanhã mesmo estará no olho da rua por seu atrevimento de invadir minha casa! - Disse seriamente.

– Se ela “invadiu” a sua casa é porque você deu a ela essa liberdade, Carlos Daniel! - Disse se afastando e seguindo até a janela para olhar a escuridão lá fora.

– Por favor, meu amor... Me perdoe por isso, não queria que passasse por uma situação dessas, nunca imaginei que Victoria poderia vir aqui!

– Eu juro que a minha maior vontade foi a de sair por aquela porta e nunca mais olhar em sua cara! - Ela disse nervosa sem me olhar.- Juro que quis ir pela primeira vez desde que começamos... - Respirou fundo fazendo uma pausa. – Desde que começamos a nos relacionar, essa é a primeira vez que senti vontade de me arrepender por nos dar uma chance! -Dizia enquanto olhava através da janela provavelmente sem ver. Em seu tom a mágoa era evidente.

– Paulina, meu amor... Não diga uma coisa dessas, sabe que te amo, sabe que Victoria ou qualquer outra que já esteve em minha vida não significaram e não significam nada para mim! - Justifiquei sem saber mais o que dizer para convencê-la de que ela era a mulher que eu amava com toda minha alma.

– Eu entendo que esta mulher está em seu passado, Carlos Daniel, mas a forma como eu vi vocês dois... - Dizia deixando a frase por si só completar seus pensamentos com a cena que presenciou.

– O que preciso fazer para te convencer que eu quero apenas a você? - Perguntei enquanto me forçava a ficar de pé.

Senti todo meu corpo reclamar com os movimentos, mas mesmo assim precisava olhar em seus olhos e senti-la em meus braços para saber que ela não iria fugir.

– Eu te amo! - Disse me aproximando em passos vacilantes. – E não suportaria perdê-la por culpa daquela mulher! – Toquei seus ombros olhando nos olhos, ela permanecia parada perto da janela me olhando com preocupação.

Sentia o suor brotar em minha testa e minha respiração acelerar pelo esforço, mas precisava realmente me acercar a ela.

– Você não deveria se levantar! - Ela protestou, mas ignorei me aproximando, a envolvendo pela cintura, puxando-a para mim.

A mantinha o próxima possível...

– A dor de ver esse olhar de decepção em seu rosto é maior do que qualquer dor que eu possa estar sentindo agora! – Confessei-lhe, nossos rostos a centímetros de distância, nossos corpos colados um no outro.

– Não é decepção! - Ela disse negando com um acenar de cabeça, olhando em meus olhos. – Apenas que estou me perguntando porque ainda estou aqui? - Disse com a testa franzida.

Permaneci em silencio esperando pela resposta de sua própria pergunta.

– E sinceramente, eu não sei se estou certa da resposta! - Disse saindo com cuidado dos meus braços, dando um passo atrás. – Bem... Amanhã nós conversamos sobre isso, eu estou cansada agora! - Ela disse encerrando o assunto enquanto seguia até a cama me deixando em pé, ainda parado próximo a janela.

Com dificuldades consegui chegar até a cama e me deitar, Paulina deitou-se ao meu lado, mas manteve distancia de mim, estava pensativa e muito calada, não sabia o que se passava por sua cabeça. Que coisas ela pensava sobre o que ocorreu hoje, e principalmente, o que Victoria pode ter lhe dito para deixá-la assim? Pensava enquanto a observava em silencio.

– Você está aqui porque me ama tanto quanto eu te amo! - Disse quebrando o silencio pesado que se instalou no quarto. – E sabe que sou outro por você! - Completei a olhando. – Boa noite, meu amor! - Disse me aproximando e beijei seus lábios.

Apenas um tocar de lábios que eu tentei aprofundar, mas não tive a resposta que desejava para prosseguir com aquele beijo. Me deitei a seu lado, não me atrevi a puxá-la para que dormisse em meus braços.

Talvez fosse melhor deixá-la quieta, ela precisava pensar nos acontecimento e talvez consultar seu coração sobre nosso amor, não a culpava por essa dúvida, nunca poderia culpá-la, mas também não poderia deixar de me sentir magoado por essa distancia.

Mesmo com o remédio começando a fazer efeito não conseguia dormir e, passei toda a noite a observando..

Em algum momento durante a madrugada acabei adormecendo e só acordei quando o sol lá fora estava alto, já devia ser bem tarde.

– Bom dia! - Disse Matilde entrando no quarto, me cumprimentando com um sorriso caloroso.

– Bom dia, Matilde! - Respondi a olhando ao coçar meus olhos semi-abertos. – Onde está a Paulina? Perguntei enquanto a procurava olhando em volta.

– Ela saiu antes mesmo do café da manhã! - Disse seriamente. – Nem ao menos quis esperar! - Completou em tom preocupado.

– Ela disse aonde iria? - Perguntei achando tudo muito estranho.

– Não! - Disse Matilde suspirando. – Mas ela vai voltar, não se preocupe! - Completou em tom cúmplice.

– Me dá o telefone, por favor, Matilde? – Pedi quando a primeira coisa que pensei foi em ligar para Paulina.

Enquanto Matilde arrumava o quarto, eu tentava ligar para Paulina e para a minha maior aflição, seu celular só caía na caixa postal. Liguei também para a sua casa, mas Adelina disse que ela não tinha ido para lá, fiquei ainda mais preocupado por não saber aonde ela poderia ter ido e como estaria seus pensamentos sobre mim depois de ontem. Matilde terminou de organizar o quarto da melhor forma possível e saiu. Não conseguia deixar de pensar que talvez, isso fosse um sinal de que tudo estava acabado, de que talvez Paulina tenha chegado à conclusão que não me amava ou que eu não valia a pena.

Senti um nó apertar minha garganta, eu não sei o que faria se ela não voltasse...