Te Odeio Por Te Amar

Capítulo 49 - Que susto!


* Paulina narrando *

O Hospital em que Carlos Daniel estava não era tão longe, mas parecia que eu nunca chegaria. Me sentia aflita, ansiosa, agitada, preocupada. Não sabia exatamente o que tinha acontecido com Carlos Daniel e o medo de perdê-lo se apoderou do meu ser.

Não queria me sentir tão apegada a uma pessoa como fui com Mauricio no passado, ele destroçou o meu coração e desde então, me mantive distante de relacionamentos, não queria passar por tudo de novo por medo, não sei se suportaria mais uma decepção e aqui estava eu novamente nervosa, angustiada, com medo de perdê-lo como se não pudesse mais viver sem ele. Enquanto dirigia, meus olhos ardiam prejudicando minha visão, não conseguia parar as lagrimas que saíam involuntárias de meus olhos.

“Meu Deus, por favor, que não seja nada grave!” Eu pedia a Deus em silencio durante todo o caminho em minha oração. “Deus do céu, porque eu o amo tanto assim?!”...

Quando finalmente cheguei ao Hospital Sán Jose, me dirigi até a recepção, mencionei Carlos Daniel Bracho, e após me identificar, uma senhora baixinha aproximou-se e tocou o meu braço esboçando um simpático sorriso.

– Bom dia, senhorita Martins! – Olhei para ela um tanto confusa, a principio eu não entendi como ela sabia o meu nome, mas logo ela se apresentou. – Sou a Matilde.

– Matilde! Ah, desculpa! É um grande prazer conhecê-la. – Lhe sorri e nos cumprimentamos com um breve abraço.

– O prazer é todo meu, minha filha! Finalmente nos conhecemos, apesar de ser nesta circunstancia... – Ela sorriu e apertou minhas mãos.

– E... Como ele está? – Perguntei respirando fundo, sentindo meus olhos pinicarem e minha barriga gelar com a expectativa.

– Está dormindo. A enfermeira deu a ele um remédio forte para amenizar as dores, mas não se preocupe, ele ficará bem e quando vir a senhorita vai ficar muito contente.

– Ai, eu estava tão preocupada, Matilde... Ele me disse que me avisaria quando chegasse em casa, mas não ligou. A culpa é minha! – Disse sentindo a minha voz falhar e meus olhos encherem.

– Não diga isso, a senhorita não tem culpa nenhuma por nada, vivemos em um mundo em que não podemos mais andar tranqüilos nas ruas que não sabemos o que nos pode acontecer. Venha, vamos até a lanchonete. – Me segurou no braço e me guiou até a lanchonete do Hospital.

– Mas eu poderia ter pedido para ele ficar, já estava ficando tarde e...

– Não se martirize, ele está acostumado a dirigir em qualquer horário ou dia da semana e nunca lhe aconteceu nada, se aconteceu desta vez é porque tinha de acontecer. Deus sabe de todas as coisas, minha filha. Deixe tudo nas mãos Dele. – Mais uma vez, aquela senhora segurou em minhas mãos e me transmitiu segurança, tranqüilidade, ela parece uma mulher de fé e com um bom coração, a partir daí eu entendi o porquê Carlos Daniel gosta tanto dela.

– Obrigada, Matilde... Ele tem sorte de ter alguém assim como a senhora ao lado dele.

– Eu vi o meu menino nascer, cuidei dele e dos irmãos dele quando muito pequenos, acompanhei cada fase do crescimento deles, mas com o Carlos Daniel sempre tive um apego maior, ele é como um filho para mim, o filho que nunca tive. – Ela disse emocionada. – Mas mais sorte ele tem de ter conhecido alguém como a senhorita, era justo o que ele precisava, ele é um homem maravilhoso, de família, de caráter limpo, honrado e tem passado por coisas que jamais mereceu, mas Deus é tão grandioso e bom com ele que depois que ele te conheceu, tudo está mudando na vida do menino. – Continuou sorrindo-me com esperança.

Eu não entendi bem o que aquela senhora estava querendo dizer, ela mal me conhecia e já dizia essas coisas, não sabia quase nada sobre a vida de Carlos Daniel e me senti um tanto confusa com suas palavras.

– Não precisa me olhar assim, senhorita Paulina... – Ela disse me despertando de meus pensamentos. Será que estava tão evidente o que eu pensava? – Eu sei o que estou dizendo e logo a senhorita entenderá. Ele está como há muito tempo eu não o via, parece um menino apaixonado. – Sorrimos juntas. – E, claro, como não estaria se está apaixonado por um anjo...

Matilde foi interrompida por uma garçonete que nos trazia as xícaras de café e as torradas que pedimos. Fiquei muito surpresa com o jeito que aquela senhora me tratava e com todas as palavras ditas por ela ao meu respeito em tão pouco tempo, não sabia o que lhe responder diante de tudo aquilo.

Tomamos nosso café em alguns minutos, minha ansiedade estava me matando, apesar de ela tentar me tranqüilizar o tempo todo, não podia deixar de pensar nele, precisava vê-lo, confirmar por mim mesma se ele realmente estava bem.

Terminamos o café e a breve, mas boa conversa e retornamos à recepção. Ela me acompanhou o andar do quarto em que Carlos Daniel estava, paramos frente à porta e ela me disse que nos deixaria a sós, que iria em casa descansar um pouco, pois havia passado toda a noite no Hospital, a agradeci de coração e entrei no quarto.

Não pude segurar as minhas lágrimas, ele estava dormindo e parecia sereno, mas estava muito machucado, em seu abdômen uma faixa grande estava atada, um de seus braços estava apoiado em uma espécie de tipóia, e o rosto dele estava inchado, com alguns hematomas e pontos. Me aproximei mais dele para vê-lo de perto e o meu coração se apertou quando o vi tão debilitado, não parecia ter sido algo simples, e sim, resultado de uma grande maldade que fizeram com ele. Eu não conseguia entender o que podiam ter feito, ainda não sabia de nada, mas quem fez isso com ele não pode ficar por aí solto, este crime não pode ficar impune.

Agradeci a Deus por tê-lo livrado e acariciei os cabelos dele, estava com o rosto um pouco inchado pro causa dos hematomas, mas não deixava de ser lindo e, estar ali perto dele mais aliviada por ver que ele está fora de perigo me fez perceber o quanto o amo e o quero ao meu lado. Já não dá pra evitar, eu o amo com todas as forças do meu coração e preciso tê-lo comigo.

# Carlos Daniel narrando #

Acordei com o som de choro e por um momento me senti confuso, todo o meu corpo doía e minha cabeça parecia que ia explodir. Mesmo com a visão um pouco embaçada pelo sono, reconheci Paulina sentada na cabeceira da minha cama, estava com a cabeça entre as mãos, chorando.

Não entendia o porquê das lágrimas, tudo estava bem agora, não suportava vê-la chorando. Levei minha mão livre até ela, acariciei seu braço e ganhei sua atenção.

Paulina me mirou com seus olhos vermelhos e transbordando de lágrimas e mesmo aflito por vê-la assim, lhe sorri demonstrando que não havia motivos para lágrimas.

– C-Carlos Daniel! - Ela disse meu nome entre soluços enquanto me olhava cheia de preocupação.

– Eu estou bem, meu amor! - Disse a ela a olhando nos olhos. – Não precisa chorar!

– Você me deu um susto tão grande! - Disse de forma apressada enquanto tentava mandar para longe as lágrimas que molhavam seu belo rosto. – Eu... Eu fiquei desesperada quando soube! - Explicou em meio ao choro.

– Calma, meu amor! - Pedi segurando sua mão, puxando-a para mim. – Vem cá!

– Não! - Ela disse tentando se manter distante. – Você esta machucado! - Disse me olhando alarmada.

– Uma abraço não vai me quebrar! - Disse brincando. – Venha... Eu preciso senti-la! - Disse ignorando sua preocupação.- Preciso mais que nunca senti-la! - Completei a olhando seriamente.

Paulina ainda com lágrimas se aproximou de mim e meio que deitou-se a meu lado tentando não me apertar e mesmo com a leve pressão de seu corpo sobre o meu não pude evitar um gemido de dor e quando a senti se afastar com medo de ter me machucado, a impedi.

– Tudo bem! - Disse a impedindo de se afastar. – Só preciso ficar assim com você!

A necessidade de senti-la era maior que todas as dores físicas naquele momento. E estando ali, em meus braços podia sentir seu corpo tremer, suas lágrimas escorriam de seu rosto caindo sobre meu ombro e enquanto a mantinha ali, próxima a mim, acariciava suas costas tentando deixá-la calma, mas o efeito parecia contrário.

– Shhhh! - Pedi a abraçando. – Calma vida minha, já passou! - Pedi novamente. – Estou bem agora! - Repeti.

– Não consigo deixar de pensar que você poderia ter morrido! - Disse em meio ao choro que vinha com força. – Você está tão machucado! - Completou em meio ao choro e senti um tremor percorrer seu corpo.

– Não pense nisso! - Disse a ela me afastando apenas o suficiente para olhá-la nos olhos. – Eu estou aqui e estou bem! – Tentei tranqüilizá-la enquanto secava suas lágrimas. – Venha... Deite-se aqui comigo! - Pedi fazendo espaço na apertada cama para que Paulina deitasse ao meu lado.

Vi sua resistência, e sem dar a ela chance de se recusar, a puxei para deitar em meu peito ignorando as pontadas de dor em minhas costelas.

Aos poucos a percebi mais calma e ficamos assim por algum tempo...

– Quem fez isso com você? - Ela me questionou quando estava mais tranquila e se afastou sentando-se para me olhar nos olhos.

Seus olhos ainda estavam vermelhos, mas as lágrimas pareciam ter cessado.

– Não sei... Ele... Eles estavam de máscara, eu não vi... Não me lembro! - Disse pensativo.

– A polícia tem que prender quem fez essa covardia com você! – Ela disse me obervando.

– Não se preocupe com isso agora, meu amor! - Pedi segurando sua mão e a levando até meus lábios deixando um beijo em sua palma.

– Não tente me distrair, Carlos Daniel! - Ela disse sorrindo enquanto me olhava.

– Só não quero pensar nisso agora, a única coisa que desejo é ir para casa no momento! - Disse sorrindo.

– O médico disse quando você poderá ir para casa? - Ela perguntou me olhando seriamente.

– Não! - Disse dando de ombros. – Mas assim que ele vier aqui, pedirei que me libere! - Expliquei a observando.

– Como assim? - Perguntou franzindo a testa. – Você não pode simplesmente pedir ao médico que te libere! - Advertiu séria. – Ele irá te dar alta quando achar que pode ter alta!

– Hum! - Resmunguei com o seu tom autoritário. Mais um lado que não conhecia nela... – Que seja! – Disse já sentindo uma dor começar a me incomodar.

Caímos novamente em silencio, Paulina ainda parecia preocupada e me olhava de forma séria, eu não poderia dizer a ela que o Mauricio estava por trás de tudo isso, não poderia vê-la se culpando pelo caráter ou pela atitude daquele homem. Não suportaria vê-la sofrendo por culpa daquele canalha. Detestava ter de mentir para ela, mas era necessário, ela já estava sofrendo por me ver assim, e por seu olhar podia muito bem imaginar que minha aparência não era nada boa.

– No que está pensando? - Perguntei a olhando curioso.

– Que eu poderia ter te perdido hoje! - Enquanto ela dizia, vi seus olhos novamente serem inundados pelas lágrimas.

– Mas não perdeu! - Disse a olhando seriamente. - Tenho que permanecer bem vivo para cuidar de você! – Entrelacei minha mão a dela com carinho.

– Nesse momento você é quem precisa de cuidados! - Ela rebateu sorrindo enquanto secava as lágrimas que voltavam a escorrer por seu rosto.

– Por favor, meu amor... Não chore! - Pedi. – Não suporto ver essas lágrimas! - Completei sentindo meu coração se apertar.

Era tão estranho me sentir assim depois de tanto tempo, pensei que nunca mais poderia amar alguém novamente e como eu amava essa mulher em minha frente, vê-la sofrendo era horrível.

– Perdoe-me! - Ela pediu afastando o olhar do meu. – Sou mesmo uma boba por ficar chorando... Você está ai todo dolorido e eu quem fica chorando! - Disse olhando suas mãos que se mexiam de forma nervosa na minha.

– Não... Você não tem porque pedir perdão!

E ignorando as dores que atingiam meu corpo me esforcei para sentar, sentia como se cada osso de meu corpo fosse triturado com cada movimento que fazia, mesmo assim me sentei e quando ganhei sua atenção, olhei no fundo daqueles olhos verdes...

– Te amo tanto que me dói ver essas lágrimas! - Disse enquanto levava minha mão até seu rosto em uma carícia leve.

Minhas palavras não serviram para acalmá-la, mas talvez fosse bom ela deixar as emoções virem em forma de lágrimas, segurar poderia deixá-la doente, eu mais que ninguém sabia o quão ruim era segurar sentimentos ruins.

– Meu amor! – Chamei a sua atenção de volta. – Você irá lá pra casa comigo? - Perguntei esperançoso.

– E-eu... Não sei, tenho que ligar para casa e avisar! - Disse alarmada. – Falando nisso, esqueci completamente de avisar a Sophia que está tudo bem agora! - Disse rapidamente buscando o celular na bolsa.

– Isso é um sim? - Perguntei enquanto a olhava divertido.

– Não o deixaria sozinho! - Ela respondeu e me olhou rapidamente enquanto discava uma seqüência de numeros no aparelho.

Paulina se afastou apenas um pouco para falar ao celular e enquanto ela falava, não podia deixar de admirá-la, ela estava tão linda, se vestia maravilhosa, estava sempre deslumbrante, e agora que as coisas estavam mais calmas, não podia deixar de lembrar do nosso fim de semana na fazenda.

Mesmo com tudo que estava acontecendo, as únicas coisas que conseguia recordar eram dos momentos maravilhosos que passamos naquela fazenda, cercados pela natureza, nos amando... Essas lembranças estariam gravadas em minha mente por toda a eternidade. Nunca poderia me esquecer como ela se entregou a mim, como entregou sua vida a mim...

– Sophia quer falar com você, Carlos Daniel! - Paulina me disse me despertando dos meus devaneios.

– Ah sim... - Disse pegando o aparelho de sua mão. – Olá, minha cunhada favorita! - A cumprimentei bem-humorado.

– Você está bem mesmo? - Ela perguntou em seu tom alegre. – Não estão mentindo para mim? - Perguntou.

– Estou muito bem! - Respondi sorrindo.

– Não dá para acreditar, porque você e a Lina tem uma tendência forte a esconder as coisas de mim! - Explicou com desconfiança.

– Se quiser ver com seus próprios olhos e só ir me visitar! - Disse rindo.

– Irei mesmo! - Disse rindo do outro lado. – Amanhã darei um jeito de ir te visitar! - Completou.

– E será muito bem-vinda! Mas você libera a sua irmã mais um pouco comigo? – Perguntei brincalhão.

– Olha que você já está abusando, hein espertinho! – Ela disse travessa.

– Ai, é que estou muito mal! – Respondi fazendo manha e Paulina me olhou com o olhar de advertência e logo sorriu.

– Você está é no céu porque eu sei que ela vai cuidar muito bem de você. Ela está sim liberada, mas depois vocês terão que me compensar!

– Claro, veremos o que poderá ser compensado. – Disse sorrindo, tê-las conhecido foi algo que mudou a minha vida por inteiro, jamais imaginei que pudesse voltar a ser como um dia fui e Paulina está resgatando tudo em mim, e sua irmã Sophia é sua cúmplice.

Eu e Sophia ainda conversamos por mais alguns minutos, mas logo tivemos que encerrar a ligação com a chegado do doutor...

– Bom dia, doutor! - O cumprimentei. – Essa é Paulina, minha namorada!

– Muito prazer! - Disse Paulina o olhando seriamente. – Como está o Carlos Daniel? - Perguntou aflita, ansiosa para saber algo.

– Não temos com que nos preocuparmos o senhor Bracho sofreu apenas fraturas nas costelas, por sorte os hematomas são superficiais, em poucos dias o inchaço vai passar e as manchas irão sumir por completo, o braço manteremos imobilizado por alguns dias e tomando todos os medicamentos, creio que em algumas semanas estará como um homem novo! - Explicou o doutor sorrindo ao final.

– E quando posso ir para casa, doutor? - Perguntei ansioso para sair daquele hospital, detestava hospitais e mais que nunca queria poder estar em casa.

– Agora mesmo! - Ele disse sorrindo enquanto terminava suas anotações.

– Tem certeza que é seguro, doutor? - Paulina perguntou me olhando com preocupação. – Ele ainda está muito debilitado! - Explicou aflita.

– Não se preocupe, senhorita! - Disse o médico tranqüilizando-a. – Ele irá ficar bem em casa! É só seguir direitinho a todas as minhas orientações e nada dará errado. Com licença. - Completou sorrindo e nos deixando a sós.

– Viu? - Disse a olhando. – O doutr disse que estou bem, você não tem que ficar com essa carinha de preocupada! - Completei sorrindo enquanto a olhava.

* Paulina narrando *

Foi tudo melhor do que eu esperava, Carlos Daniel foi liberado na mesma manhã, ele dizia que estava bem, mas com tantos machucados eu sei que ele apenas diz isso porque não quer me preocupar mais.

Apenas precisei ligar para Matilde e avisar que já estávamos indo.

– Hoje vai conhecer a minha casa, meu amor. – Ele disse me olhando quando entramos no carro.

– Sim, vou conhecer um pouco mais sobre você. – Respondi tocando-lhe a barba por fazer.

– Vai conhecer a Matilde.

– Já a conheci! – Respondi com um sorriso travesso. – Ela me recebeu lá no Hospital hoje cedo. Que fofa é a Matilde, por isso você gosta tanto dela, não é?

– Sim, a Matilde é adorável. Ela sempre esteve do meu lado, sempre cuidou de mim, sempre foi como uma... – Ele deixou a frase morrer e ficou pensativo por um instante. – Mãe. – Concluiu sério.

– Sim, ela me falou sobre isso, disse que cuidou de você e de seus irmãos desde que nasceram, mas que você é o mais apegado a ela. – Eu disse sorrindo para ele.

– Matilde esteve comigo nos momentos em que mais precisei e quando eu saí de casa, ela insistiu em me acompanhar. – Ele disse e sorriu pensativo. – Ela foi a que me apoiou quando ninguém mais o fez...

– Você quer dizer, a sua... família? – Perguntei de uma maneira tão espontânea que não percebi o quão inconveniente fui naquele momento, apenas me dei conta quando senti que ele se sentiu um tanto incômodo.

– Meu amor, será que a gente pode falar disso outra hora? – Ele pediu fazendo cara de agonia.

– Tudo bem, meu amor... – Respondi conformada, se ele tem algum problema com sua família e não quer falar, eu entendo, também não é o momento propicio, quando ele sentir que deve me dizer, ele o fará.

– Te garanto que... – Ia dizendo, mas logo começou a se mexer no banco do carro com o desconforto. – Ai... Agr... – Resmungou em gemidos.

– O que está sentindo, Carlos Daniel?! – Perguntei alarmada.

– Está doendo! – Ele disse devagar. Por sorte estávamos parando num sinal vermelho e eu pude desprendê-lo do cinto de segurança.

– Fica tranqüilo, deve ser normal sentir essas dores. Logo você vai deitar e descansar, não se preocupa meu amor. – Eu disse em tom tranqüilizador, tentando acalmá-lo, mas me sentia muito preocupada e aflita por vê-lo daquela maneira.

Continuei dirigindo por alguns minutos até Carlos Daniel me avisar que já estávamos próximos à casa dele. Eu conhecia aquele bairro, mas nunca tinha entrado nestas propriedades, jamais imaginei que parte delas pertenciam à ele. Chegamos até dois grandes portões de entrada que foram acionados e lá dentro um segurança dirigiu-se até nós para nos saudar, perguntou como Carlos Daniel se sentia e logo seguimos pela entrada da mansão, não pude deixar de observar cada detalhe daquele lugar, era magnífica! Reduzi bastante a velocidade em que seguia e contemplei a entrada daquela casa, um grandioso jardim a sua volta com um caminho definido pelas vegetações e algumas esculturas espalhadas por ele, mais à frente um enorme caminho de grama e pedra nos levava à entrada da casa, uma casa enorme branca que realçava com os detalhes das portas e janelas de vidro fumê e o telhado marrom dava um leve destaque em relação a cor da casa. Pinheiros e palmeiras também se destacavam frente aquela casa esplêndida, ainda no jardim, notei algumas espreguiçadeiras para tomar sol e uma espécie de fonte de mármore, uma área coberta por uma estrutura feita de madeira com umas mesas e algumas cadeiras também faziam parte daquele jardim tão bonito.

– Bem vinda a minha casa, meu amor! – Ele disse enquanto me observava, eu devia estar com cara de boba.

– Carlos Daniel, esta casa é linda! – Disse apaixonada.

– Obrigado, eu mandei construí-la, mas ainda não está pronta. – Fiquei ainda mais surpresa porque não sabia que esta casa é nova, tampouco parecia estar inacabada. – Ainda há muito o que fazer, a parte de fora está quase pronta, mas dentro não chegou a terminar, quase todos os cômodos desta casa não são utilizados. – Ele disse com o tom triste na voz. – Estive pensando em vendê-la.

– Vendê-la? – Perguntei confusa, uma casa tão bonita e que transmite tanta paz e tranqüilidade como esta, seria uma pena vendê-la.

– Sim, para uma família maior. Para alguém que tenha filhos. Não sei o que deu em mim para construir esta casa tão exagerada. – Ele disse em tom sério e no mesmo instante me perguntei se ele não pensa em ter filhos, o que num futuro poderiam desfrutar da casa que, com certeza, os proporcionaria muito conforto e lazer, as crianças podiam brincar muito pela casa e percorrer por este enorme jardim com animais de estimação ou com os amigos que os viesse visitar, de tantas maneiras esta casa poderia ser bem desfrutada...

– Mas você não quer ter...

– Com licença. – Ia perguntando, mas um jovem rapaz se aproximou do carro, interrompendo-me. – Bom dia! Senhor Carlos, vim para ajudá-lo a subir para o seu quarto. – Ele me cumprimentou quando saí do carro e então percebi que ele era o mesmo rapaz que foi lá em casa um dia buscar o carro de Carlos Daniel, o mesmo que me entregou um bilhete.

– Obrigada... Gabriel... É este seu nome, não é? – Perguntei tentando me recordar.

– Sim, senhorita, seja bem vinda! – Disse cordialmente e foi até Carlos Daniel para ajudá-lo.

– Obrigada! – Sorri e os acompanhei, e Matilde apareceu na porta principal para nos receber.

– Bendito seja Deus! Que bom que já está em casa, meu filho! – Ela disse com um largo sorriso indo até Carlos Daniel, que também lhe sorriu. – Senhorita Paulina, seja bem vinda! – Segurou em minhas mãos e sorriu amavelmente. – Já está tudo pronto lá em cima. Você tem não quer ficar em um quarto aqui em baixo? – Ela perguntou seriamente à Carlos Daniel.

– Não Matilde, não é necessário. Eu consigo subir as escadas, não se preocupe.

– Tudo bem, como quiser. Vamos, eu vou com vocês até o quarto.

Matilde nos conduziu até o quarto de Carlos Daniel e durante todo o caminho, também não pude deixar de notar a beleza daquele lugar, a entrada, as escadas, os corredores, era tudo muito bem planejado e de muito bom gosto, mas como ele disse, estava realmente inacabado, parecia que alguns lugares da casa estavam isolados, não tinha decoração nem pintura e nem móveis em quase todos os cômodos da casa pelo pouco que pude notar e não entendia o porquê um lugar como este não era tão valorizado e, o contrário do que o lado de fora mostrava, o lado de dentro parecia mais triste, mais... obscuro.

A parte de cima era mais iluminada, mais alegre, havia alguns quadros pintados pelos corredores em tom pastel, algumas esculturas pequenas por algumas partes tapetes persas cobriam o piso polido dos corredores. Era um lugar muito bem cuidado, moderno e com aspecto completamente familiar.

Chegamos ao quarto de Carlos Daniel, e dessa vez não me surpreendi tanto, as cortinas estavam abertas, e as janelas de vidro revelavam o grande jardim que acabei de contemplar lá de baixo, as paredes em tom cinza claro e um pouco de azul, o teto branco com pequenas luzes, algumas abajures, um sofá, uma poltrona, e uma modesta escrivaninha de madeira, uma enorme cama e uma TV frente a ela, era um quarto muito grande e de muito bom gosto. O quarto de Carlos Daniel tinha muito dele e suas características: elegante, charmoso, atraente, agradável, bonito, sedutor, cafajeste... E isso me chamou muito atenção, deixando-me pensativa.

Gabriel o ajudou a deitar-se na cama e eu o ajudei a acomodar-se melhor, pedi a Gabriel que comprasse os remédios que o médico havia receitado e Matilde me deu algumas orientações de como solicitar algum empregado na casa ou de como chamá-la caso precise de algo, ela é muito simpática e me fez ter a sensação de que já a conhecia há muito tempo e me sentir a vontade na casa de Carlos Daniel. Ela nos deixou a sós e disse que logo voltaria com os remédios e algo de comer.

– Como se sente, meu amor? – Perguntei sentando perto dele, notando-o sério.

– Me sinto ótimo, minha vida! – Ele respondeu forçando um sorriso.

– Ai, Carlos Daniel, não seja duro consigo mesmo, eu sei que está sentindo dores, meu amor, e muito fortes. – Eu disse carinhosa, tocando o rosto dele e ele sorriu.

– Mas estando você aqui comigo, nada mais importa, nem as dores fortes. – Acariciou a minha mão com o seu rosto. – Obrigado por ficar comigo, Paulina, estou contente que tenha vindo aqui para casa, apesar de que não queria que fosse nessas circunstancias e...

– Shh.. – O interrompi colocando meu indicador em seus lábios. – Não pense assim, pense que você vai ficar bom logo, que ainda teremos tempo para muitas coisas, inclusive para você me mostrar esta casa tão linda que tem. – Completei encantada.

– De verdade você gostou dela? – Perguntou sorrindo.

– Sim, é maravilhosa!

– Ela pode ser sua! – Ele respondeu me olhando atentamente.

– Carlos Daniel, eu... Eu não estou com você pelo que você tem e eu...

– Eu sei, meu amor, e é por isso que eu penso em um dia, não muito distante, dividir uma casa assim com você, não só a casa, mas a minha vida! – Ele me disse tocando seus lábios nos meus suavemente.

Me deleitei no sabor daqueles lábios que eu tanto amava, no calor dos beijos que eu tanto adorava, nossas línguas tocavam uma na outra tão intensamente e tão intimamente que pareciam serem almas gêmeas e o toque macio de seus lábios contra os meus me fazia desvanecer a cada momento em que nosso beijo se intensificava, ele me puxou mais contra si e me apertou um pouco quando, sem querer, eu apoiei meu braço em seu peito e ele ofegou com um gemido, sentia dor e senti um enorme pesar ao constatar.

– É melhor a gente ir com calma ou posso te machucar. – Disse quando nos afastamos e acariciei seus lábios vermelhos pelo beijo, ele fez uma carinha de bobo tão linda que eu só tinha vontade de beijá-lo ainda mais, ao invés de afastá-lo de mim, mas era melhor evitarmos, ele precisa de repouso e absoluto e eu vou cuidar dele!