Te Odeio Por Te Amar

Capítulo 20 - Pensamentos contraditórios


# Carlos Daniel Narrando #

– John? - Disse assim que meu analista atendeu a minha chamada.

– Quem fala? - Ele perguntou confuso.

– Carlos Daniel Bracho. Preciso falar com o senhor! - Disse em tom serio.

E então pude ouvi-lo bufar do outro lado da linha esperando que eu continuasse...

– Não vai me dizer o que quer falar? - Ele me questionou quando fiquei em silencio.

– Não dá para ser por telefone. Preciso marcar uma sessão para a primeira hora do dia! – Disse-lhe em um tom ainda mais serio, deixando bem claro que não adiantaria tentar argumentar.

– Senhor Bracho?! - O ouvi me chamar enquanto tomava uma respiração profunda. – O senhor não poderia esperar até o dia amanhecer para ligar e marcar sua sessão? - Ele perguntou com uma voz controlada, mas podia sentir que estava irritado.

– Pensei que o senhor tinha me dado seu numero particular para ligar a qualquer hora que precisasse! - Rebati em minha defesa ainda mais irritado que ele, afinal, para quê tinha esse numero se não podia ligar quando bem quisesse?

– Sim, mas em casos de emergência e essa ligação não está me parecendo uma emergência! - Retrucou do outro lado da linha.

– Bom, não liguei para discutir minhas emergências! Liguei porque preciso conversar com o senhor. Passo no seu consultório no primeiro horário! – Concluí sem ao menos esperar que ele respondesse alguma coisa e desliguei o telefone.

Passei ainda alguns minutos irritado pela forma ao qual o Dr. John interpretava minhas emergências. Tudo bem que ainda nem eram 4h da madrugada, mas eu estou pagando uma fortuna para quê?

Passei a madrugada pensando em Paulina, na forma com que nos beijamos... Ela é tão diferente, até o nosso beijo não poderia ser comparado aos que dei nas outras mulheres com que estive, com ela eu não queria que o beijo se encerrasse, queria ter fôlego suficiente para nunca ter que nos afastar, queria ter seus lábios macios contra os meus sempre... Me peguei sorrindo sozinho enquanto relembrava do nosso beijo e quando olhei para o relógio já eram quase 6h da manhã. Pulei da cama e corri para o banheiro, entrei embaixo do chuveiro e enquanto a água quente caía em minha cabeça fazendo todo meu corpo relaxar deixei mais uma vez minha mente viajar...

E dessa vez eu e Paulina estávamos parados no jardim de sua casa na primeira vez que nos beijamos, a forma como nossos corpos estavam próximos quando a puxei de encontro a mim, minha mão tocando sua pele macia... E por alguns momentos ela lutando para sair de meus braços e seus lábios contra os meus, o encontro selvagem de nossas línguas transmitindo ondas de desejo.

Acordei de meus devaneios com Matilde batendo na porta do banheiro para avisar que o café estava pronto. Quando saí do banho e olhei as horas, me assustei por ter ficado quase uma hora embaixo do chuveiro sem me dar conta do tempo.

Tomei apenas um café preto e corri para o consultório do Dr. John, ele provavelmente não estaria de bom humor por tê-lo acordado de madrugada, bom, mas isso pouco me importava, meus cheques todo mês tinham que valer alguma coisa afinal de contas.

– Bom dia, doutor! – Cumprimentei-o sorrindo enquanto me sentava no divã olhando-o.

– O senhor me parece bem feliz para alguém que me ligou às 4h da manhã com uma emergência! - Ele observou enquanto se recostava em sua cadeira de couro e fazia anotações em sua prancheta.

– Nem sempre as emergências são por motivos ruins! – Disse-lhe enquanto me deitava no divã mirando aquele teto sem graça que já era meu velho conhecido.

– Bom, e o que o senhor queria tanto conversar? - Ele me perguntou tentando manter seu tom neutro, mas ainda podia senti-lo irritado.

– Lembra daquela mulher que te contei? A do parque? – Perguntei-lhe enquanto mexia minhas mãos de uma maneira agitada.

– Claro que me lembro! - Ele disse agora conseguindo disfarçar bem sua irritação. – Voltaram a se encontrar? - Perguntou calmamente.

– Melhor ainda, vamos sair para jantar essa noite! – Respondi-lhe enquanto um sorriso brincava em meus lábios.

– Hum, isso me parece muito bom! - Disse enquanto podia escutar o riscar de sua caneta sobre sua prancheta escrevendo suas inúmeras anotações inúteis. – Mas porque motivo está me contando isso?

– Porque te pago para me ouvir! - Rebati virando-me para ele fuzilando-o com o olhar.

– Sim, claro! Perdoe-me, acho que não me expressei bem! – Disse-me remexendo-se incomodado sobre sua poltrona de couro. – O que quis dizer é se existe alguma coisa o incomodando sobre esse jantar? - Explicou em tom sério.

– Bom, sobre o jantar nada me incomoda, talvez, o fato de eu não estar acostumado a levar as mulheres com quem saio para jantar porque sempre vamos direto para a cama! - Explicava enquanto tentava colocar meus pensamentos no lugar.

– Bom, como o senhor mesmo disse uma vez, essa moça é diferente! - Ele disse ainda sério. – Talvez o senhor devesse começar a tentar descobrir de que forma se sente com essa mulher, talvez dê mais importância a vida começando a se descobrir, descobrir o quão bom pode ser ter alguém ao seu lado!

Fiquei algum tempo em completo silencio pensado no que o doutor acabara de dizer... “Como me sinto em relação à Paulina?” Me perguntava enquanto olhava um ponto qualquer sem vê-lo realmente. “Quero ter alguém a meu lado? Quero correr o risco de me decepcionar novamente?” Continuava com minhas inúmeras perguntas.

– Em que está pensado, senhor Bracho? - Minhas inúmeras perguntas e duvidas foram interrompidas pelo Dr.John que me olhava com curiosidade.

– Apenas que o que quero conseguir com esse jantar é matar de uma vez a minha curiosidade com ela, levá-la para cama e na manhã seguinte me esquecer que um dia nos conhecemos! – Disse olhando-o nos olhos e por um momento, em seu semblante neutro pude ver a surpresa? Espanto? Não sei bem o que vi, mas também não me importava com sua opinião.

Despedi-me do Dr.John e segui direto para a fábrica, minha conversa com ele só me serviu para me encher de ainda mais dúvidas sobre deixar que uma mulher entrasse em minha vida novamente, deixar que esse mulher criasse raízes em meu coração... “E para quê? Para despedaçá-lo como já fizeram no passado?” Me perguntava irritado enquanto sentava-me em minha mesa no meu escritório ainda pensativo.

– Não vou agüentar mais uma decepção! - Disse a mim mesmo enquanto observava as enormes janelas.

“Não vou poder juntar os cacos do meu coração novamente...” Pensava enquanto observava os carros na movimentada avenida. “...e Paulina anda mexendo demais comigo, não posso permitir que isso deixe de ser apenas desejo e se transforme em... em algo que possa me ferir!” Pensava ainda sentado em minha cadeira.

Passei um dia cheio de perguntas sem respostas, me questionando a todo o momento porque me sentia assim com esse jantar, porque não conseguia deixar de pensar em Paulina. E confesso que por diversas vezes naquele dia sonhei acordado imaginando como seria nosso jantar e principalmente como gostaria que terminasse, ou melhor dizendo, onde.

Dispensei todas minhas reuniões no final da tarde e voltei mais cedo para casa, não estava com cabeça para trabalhar e então decidi que o melhor seria descansar um pouco já que quase não dormi na noite passada. Matilde estranhou em me ver chegar tão cedo em casa, mas depois de me oferecer um lanche e eu recusar dizendo-lhe que iria descansar até a hora de ter de me arrumar para o jantar, ela pareceu satisfeita.

Virei-me de um lado para outro em minha cama sem conseguir pregar os olhos, estava ansioso demais para conseguir dormir e as horas pareciam se arrastar.

– Ah, Paulina... Você está me enlouquecendo! - Disse a mim mesmo enquanto me deitava de barriga para cima olhando para o teto com um sorriso bobo brincando em meus lábios. – Mas da mesma forma que entrou em minha vida, vou tirá-la, assim que conseguir o que tanto tenho desejado, assim que conseguir uma noite, apenas uma noite quero tê-la em meus braços e então, nunca mais voltarei a vê-la ou procurá-la! - Dizia isso mais para me convencer do que qualquer outra coisa.

Tinha que me afastar de Paulina...

*Paulina narrando*

O dia pareceu amanhecer rápido porque não senti que dormi muito quando ouvi meu despertador tocar e vi que já eram 6h em ponto. Esses dias não tinha tido tempo para correr e decidi fazê-lo rapidinho antes de ir à fábrica, correr era uma forma de me libertar, de espairecer e esse dia já estava sendo um dia misterioso para mim porque estava preocupada com o que viria à noite e eu realmente não sei se estava preparada, já estava começando a me arrepender de ter aceitado aquele convite de ir jantar com ele. Como de costume, calcei meus tênis e vesti minha roupa fitness e segui para o parque, corri por aproximadamente uma hora e logo voltei para casa para me preparar para a fábrica. Estava com uma ansiedade que não conseguia controlar, estava nervosa e temia por esse jantar, perdi a conta de quantas vezes peguei o meu celular com o intuito de ligar e dizer a ele que não iria mais, mas eu sou uma mulher de palavra, apesar de ter aceitado a esse convite estando fora de mim. “Ai meu Deus, o que eu devo fazer?” Me perguntava a todo instante e fui interrompida com o toque do meu celular em uma das vezes que fazia essa pergunta mentalmente mais uma vez, tremi no mesmo instante, podia ser ele e eu não conseguia controlar o meu nervosismo e isso já estava me deixando ainda mais... nervosa. Era Célia, ela me ligou para confirmar o almoço que teríamos e confesso que o alivio me dominou naquele instante, agradeci aos céus por ele não ter entrado em contato comigo mas imaginei que ele logo o fizesse, tomara que não. Confirmei o almoço com Célia e ela ficou de passar na fábrica para me buscar às 12h. Passei uma manhã tranquila na fábrica apenas elaborando algumas planilhas de gastos da fábrica, o que me fez esquecer da noite que viria e as horas passaram tão rápido que me dei conta quando meu ramal tocou com Branca avisando sobre a chegada de Célia, desci correndo ao seu encontro e calorosamente nos cumprimentamos quando eu entrei em seu carro.

– Ai Lina que saudade! – Disse-me ao cumprimentarmos com um beijo no rosto.

– Sim, Célia muita saudade... Você estava aqui e nem me ligou para me avisar... – Disse olhando-a com um tom de advertência.

– Ai amiga me desculpe, é que eu andei realmente muito ocupada por esses dias e eu quase não parei em casa, por isso que eu não te avise, não adiantaria muita coisa. Estou resolvendo algumas coisas sobre o escritório e pretendo comprar um outro apartamento, aí as coisas estavam um pouco agitadas para mim mas agora está tudo OK. – Disse-me sorrindo enquanto fazia a manobra.

– Tudo bem, eu te entendo... Também vivo assim na correria já que agora a fábrica está quase toda sob minha responsabilidade. Temos um novo sócio e agora precisamos fazer tudo certinho para que ele não desista de tudo, ele investiu em quase 50% da fábrica, acredita?

– Uau! Que bom Lina, era disso que vocês realmente precisavam e veio na hora certa, não é?

– Sim, graças a Deus e parece que agora as coisas vão caminhar para um rumo melhor. – Respondi-lhe esperançosa.

– Claro que vão, agora é só seguir em frente! - Disse-me otimista. - E você, como está?

– Eu estou bem, digamos que bem! – Sorri.

– Hmmm... E esse sorriso? – Perguntou-me travessa analisando-me.

– Sorriso? Ué, um sorriso normal Célia. – Olhei-a sorrindo-lhe ainda mais largo e desviei o meu olhar para o caminho que seguíamos.

– Ah sim, mas você não me engana com essa de “sorriso normal” não porque eu te conheço, e muito bem senhorita Paulina. – Disse-me ainda mais travessa. – E quero saber de tudo, do motivo desse sorriso bobo.

Nada respondi, apenas continuei olhando o caminho e seguimos conversando sobre coisas triviais, atualizando-nos sobre nossas vidas, Célia me contou que estava com um namorado novo e estava muito empolgada com ele, ela não tinha muito juízo mas sabia muito bem como aproveitar cada instante de sua vida, uma das coisas as quais eu admirava tanto nela. Chegamos ao nosso restaurante favorito e ao sentarmos, um garçom se aproximou entregando-nos o Menu e fizemos os nossos pedidos que demoraria um pouco e enquanto esperávamos tomamos algo de bebida e conversávamos...

– Então Lina, desembucha de uma vez... – Sugeriu Célia sem dar mais voltas.

– Ai Célia é que... – Suspirei. – Eu conheci um cara. – Disse-lhe desviando o meu olhar para o meu copo que estava sobre a mesa, rodeando a sua borda com os meus dedos.

– Eu sabia! – Disse em alto e bom som quase dando um salto de seu assento, chamando a atenção de algumas pessoas que estavam próximas a nós. Corei imediatamente.

– Por favor, Célia! – A adverti olhando-a seriamente, já estava me sentindo incomoda só de pensar no assunto que conversaríamos e não queria me sentir constrangida assim logo de cara.

– Ai Lina, desculpa! É que ultimamente é tão raro ouvir você dizer isso assim que pra mim é como um milagre vindo do céu. – Respondeu sorrindo voltando ao seu tom normal. – Mas então, conte-me tudo! Estou toda ouvidos... – Continuou olhando-me esboçando um sorriso em seus lábios, apoiando os seus cotovelos na mesa e as suas duas mãos em seu queixo em gesto de atenção.

Contei-lhe tudo, desde que o conheci no parque, sobre a joelhada, sobre o nosso reencontro quando fui buscar Sophia, sobre a festa e também sobre os beijos que trocamos dentro do carro dele e até mesmo sobre o jantar que ele me convidou para hoje à noite e que eu aceitei sem pensar e ainda estava confusa sobre ir ou não.

– Meu Deus Paulina minha amiga! – Disse exasperada olhando-me com olhos arregalados. – Que ma-ra-vi-lha!

– Eu não sei, Célia... Eu...

– Eu nada! Ainda depois de uma joelhada no homem, ele tá atrás de você e você fazendo corpo mole? – Retrucou cortando-me de supetão.

– Célia, ele é o tipo de cara que eu já conheço. Não gosto de lidar com homens dessa laia, você sabe que eu...

– Ai Lina, qual homem não é descarado, me responda? Não existe homem santo ao ponto de não agir com outras intenções ou não nos machucar, tá no sangue deles. E se você não der uma chance, como vai saber?

– Eu realmente não sei, Célia. Ele me parece muito cafajeste, ele é muito audacioso também, atrevido... Me enfrentou de uma maneira tão...

– Paulina, achei uma graça da parte dele ter te enfrentado porque além de os outros caras terem feito isso com você, todos desistiram de te conquistar porque além de você não tê-los deixado fazer isso, você os afasta de uma maneira tão... agressiva. – Disse-me fazendo careta em reprovação. – E eu sinceramente acho que é exagero seu. – Continuou olhando-me seriamente.

– Célia, eu tenho medo... – A olhei também séria.

– Medo de quê? De beijar na boca? De curtir a vida? De se divertir com um cara legal que está caidinho por você? – Lançou-me de uma só vez todas estas perguntas, deixando-me sem uma resposta óbvia.

– D-de me apaixonar... – Baixei meu olhar. - ...e mais uma vez...

– Lina olha, me escuta bem... – Chamou a minha atenção para ela novamente. – Nem todos os homens são iguais e você não pode se limitar dessa maneira, isso não é bom pra você minha amiga!

– Eu sei Célia, mas é que... Eu me sinto insegura, não sei... – Respondi-lhe pensativa, olhando para um ponto qualquer do ambiente em que estávamos.

– Não se sinta assim, Lina... Você tem que se dar uma chance. Talvez esse cara seja o cara que vai te levar ao altar, que vai te dar uma “família”, aquela que você tanto sonhou... – Meus olhos marejaram ao ouvir aquela palavra que realmente tinha tanto significado para mim, mas que tinha perdido completamente a esperança de um dia ter uma só minha. -... e se você deixar escapar essa oportunidade? Vai deixar que o seu suposto “futuro” desapareça de sua vista só por causa de uma insegurança boba?

– Mas eu já não sei mais como agir, o que fazer diante desses tipos de situação. Eu me fechei tanto que já não sei mais como fazer... E eu também não entendo o que este homem me causa, ele me deixa muito confusa, não sei quais são as suas reais intenções e temo a isso. – Respondi-lhe com sinceridade, sem deixar de transparecer o meu semblante cabisbaixo.

– Do que você está falando? – Perguntou-me seriamente. – Sobre sexo? – Olhou-me ainda mais questionadora.

– S-sim! – Respondi-lhe sem graça. Senti minha face esquentar, há tanto tempo não falava sobre sexo com alguém que já não sei se saberia desenvolver o assunto com tranquilidade.

– Ai Paulina! – Exclamou rindo quase a gargalhadas. – Esse não é um grande problema e você o transforma no maior de todos. – Continuou risonha.

– Não para você, bonita! – Não pude deixar de rir também, ela realmente era uma pessoa desinibida, descontraída e apesar de me deixar sem graça quando tocávamos nestes tipos de assuntos, ela era a pessoa mais indicada para que eu falasse sobre.

– Você está indo ao seu ginecologista frequentemente, não é? – Perguntou-me voltando a ficar séria.

– Sim, claro! – Respondi-lhe prontamente.

– E está tudo bem? – Perguntou-me apreensiva.

– Sim, está! – Respondi-lhe com um meio sorriso nos lábios.

– Então, o que te impede de...? – Perguntou-me olhando-me demonstrando segundas intenções em seu gesto para que eu entendesse o que ela estava insinuando.

– Eu não sei... Eu acho que tem que ser por amor e...

– Ahhhh Paulina! – Exclamou exasperada. - Paulina? Pelo amor de Deus, você não pode mais uma vez se limitar ao que provavelmente não demorará a acontecer, ainda mais com o fogo que vocês dois sentem um pelo outro, por favor né? – Brincou olhando-me divertida, em seguida tomando mais um pouco de sua bebida.

– Ai Célia, eu não sei... – Disse sem graça.

– Não sabe? Paulina, você parece das antigas, só você mesmo! – Continuou em tom de indignação olhando-me e não pude responder porque o garçom chegou com nossos pedidos, agradeci mentalmente por isso, a conversa já estava tomando uma proporção que estava me incomodando e realmente não entendia o porque se era essa a intenção dessa conversa com Célia.

Deixamos um pouco esse assunto de lado e comemos tranquilamente conversando sobre outros assuntos corriqueiros e após terminarmos, conversamos um pouco mais e pagamos a conta, já havíamos passado da hora de voltar e eu ainda tinha muito o que fazer na fábrica aquela tarde.

– Paulina! – Chamou-me rapidamente antes de se despedir de mim quando já estávamos em frente à fábrica. – Pense bem, minha amiga! Você precisa se dar a chance... Não pense nos outros senão em você em primeiro lugar. Eu sei que você está fazendo isso mas acho que não está fazendo da maneira correta. Acho que se você não tentar, não saberá se dará certo ou não. Você precisa se dar a oportunidade em primeiro lugar porque se você não o fizer, quem mais o fará? Não existe outra pessoa além de você para correr atrás de sua felicidade e você tem que fazer o que está ao seu alcance e se agora aconteceu tudo isso com você, porque não parar e deixar que as coisas aconteçam? Deixa rolar, amiga! Você sabe que nada acontece por acaso e esse bonitão ter aparecido assim na sua vida e ter te reencontrado assim da maneira que você me disse, você acha que é algo que não se deve descartar ou parar e pensar que pode ser jogadas do destino? Não o deixe escapar, minha amiga! Se não for ele, você saberá mas apenas se tentar. Nenhum homem é perfeito e se você ficar esperando por perfeição, sinto informar-lhe mas não a encontrará em lugar nenhum.

– Sim, minha amiga... Eu compreendo e sei que você tem razão. – Disse-lhe com sinceridade olhando-a nos olhos, segurando-lhe em suas mãos.

– Não tenha medo, deixe simplesmente as coisas irem acontecendo. Logo você saberá o que fazer, como fazer, deixe o seu coração te guiar, pense em você, na sua satisfação em primeiro lugar e deixe que o momento te conduza.

– Sim, obrigada amiga... Mas é que, as intenções dele eu sei que...

– Se for sexo, vai em frente amiga! Esqueça o passado e dê lugar ao novo! – Interrompeu-me antes que eu pudesse concluir. – Não se acanhe por causa disso, se for por isso, lembre-se que você também precisa, não se apegue apenas a sentimentos.

– Célia, mas eu acho que não...

– Claro que consegue, e tenho certeza que vai dar tudo certo... Mas não quero te induzir a nada que você se arrependa depois... Apenas deixe o seu coração te levar e siga-o, tenho certeza que fará o melhor e depois você me diz, tá ok?

– Tudo bem... – Assenti sorrindo-lhe, ela tinha razão, só restava que eu pudesse ter as minhas atitudes e me liberar um pouco mais dessa prisão que era o meu passado e que tanto me atormentava, remetendo agora no meu presente.

– Boa sorte, amiga! Tenho certeza que terão um encontro maravilhoso! – Disse-me dando uma piscadela travessa.

– Obrigada! – Sorri. – Logo mais te digo como foi.

Nos despedimos e eu voltei a minha rotina de sempre. Precisava me concentrar no meu trabalho, mas de tempo em tempo lembrava-me das coisas que Célia me disse e confesso que tudo isso apenas me encorajou ainda mais a ir a esse tal jantar com o homem que me havia feito perder a cabeça completamente.

Saí um pouco mais cedo da fábrica porque havia agendado com um salão de beleza delivery e logo eles estariam em casa para me arrumar, era assim que eu e Sophia fazíamos quando não dava pra ir ao salão e eles eram geniais. Cheguei em casa e dentro de poucos instantes a equipe já estava lá e pronta para iniciarem os seus serviços. A empolgação de Sophia era sem fim e deixei que ela escolhesse o meu vestido, confiava de olhos fechados em seu bom gosto e desconfiava também que ela soubesse o lugar que Carlos Daniel me levaria, então deixei que ela ficasse a vontade para me ajudar, também pedi que fosse discreta ao máximo com o pessoal de lá de casa porque não queria que ninguém soubesse o que eu faria essa noite e com quem eu faria, pelo menos por enquanto não quero que ninguém se inteire sobre esse assunto, ela assentiu. As horas pareciam durar uma eternidade para passarem, eu estava um tanto mais tranquila mas a ansiedade e o nervosismo não me abandonavam, além das palavras de Célia não saírem de minha mente, mas consegui levar tudo numa boa porque procurei respirar fundo e não criar expectativas sobre nada e pensei em realmente deixar as coisas fluírem para ver no que daria.