Te Odeio Por Te Amar

Capítulo 16 - Coincidência


# Carlos Daniel narrando #

A delegacia estava muito cheia. Muitos adolescentes haviam sido apreendidos e, de pronto, procurei saber algo sobre o grupo que eu seguia dando ao policial suas características. Ele disse que o delegado estava conversando com eles e que eu teria de esperar.

Afastei-me dele sentindo certa irritação enquanto peguei meu telefone e liguei para Rodrigo, provavelmente precisaria dele se quisesse ajudar a garota, mas o que me deixou mais irritado foi não conseguir obter sucesso na chamada para Rodrigo, teria de arrumar uma forma de resolver tudo sozinho naquele momento.

Demorou cerca de meia hora até que consegui falar com o delegado sobre ela e descobri que se chama Sophia Martins.

— O que preciso fazer para que ela seja liberada? - Perguntei seriamente ao delegado que me olhava com interesse.

— Ela é menor de idade, estava com más companhias, está alcoolizada, não vou deixá-la sair assim. Preciso contatar seus familiares para que alguém venha ter com ela.

— Eu sou um amigo da família e posso me responsabilizar por ela. A mãe dela é uma mulher doente e frágil, não pode vê-la aqui. São apenas elas duas. - Menti com a esperança de que ele a deixaria por minha conta.

— Uma assistente social está conversando com ela. É necessário que preencha alguns papeis, assine um termo de responsabilidade e pague a fiança. - Ele disse ao me entregar algumas folhas de papel. - E converse com suas amigas sobre más influências.

Como sempre, essa garota era mais uma que não oferecia risco algum à sociedade, estava ali apenas por andar com pessoas erradas na hora errada. Preenchi tudo, agradeci a “atenção” do delegado e saí em busca de como poderia pagar a fiança.

Fiquei na recepção esperando por ela, me aproximei assim que a vi sair e me apresentei.

— Olá! - Disse olhando-a seriamente. – Me chamo Carlos Daniel Bracho! - Completei.

— S-sophia! - Disse fungando enquanto secava as lágrimas que manchavam seu rosto. - Você é meu advogado?

— Não... Sou apenas alguém que viu tudo que aconteceu e resolveu ajudar.

— O-obrigada. - Respondeu ainda receosa.

— Quer que a leve para casa? - Perguntei enquanto a observava, há algum tempo não conversava com uma adolescente, mas acho que ainda sabia lidar com eles.

— Por que me ajudou e por que pagou minha fiança? - Ela perguntou me olhando curiosa enquanto ainda se mantinha parada em minha frente.

Céus, aquele olhar... De onde o conheço? Perguntava-me enquanto procurava a resposta para sua pergunta.

— Porque sabia que você não estava completamente envolvida com aquele grupo! - Disse rapidamente quando notei que fiquei encarando-a em silêncio por muito tempo. - Afinal, você não escolhe bem suas amizades.

— Obrigada de qualquer forma! - Agradeceu. – Vo-cê pode me emprestar seu celular? - Ela perguntou apreensiva. – Não sei aonde foi parar a minha bolsa! - Completou justificando-se.

O retirei do bolso e lhe entreguei enquanto continuava observando-a intrigado.

— Tenho que ligar para minha irmã antes que ela surte com o meu sumiço! - Disse olhando-me enquanto pegava o telefone de minha mão.

Observei-a enquanto falava com sua irmã, pude ver que estavam discutindo pelo seu tom que se alterou algumas vezes.

— Obrigada mais uma vez! - Disse me entregando o aparelho. – Ela está vindo me buscar! - Completou enquanto seguia até a porta da rua e eu a segui em silêncio.

— Você é muito nova para estar naquela pub a essa hora! - A adverti.

— Já sei, já sei... Sei que não devo andar com documentos falsos, sei que não devo andar com eles... Já sei... - Ela disse revirando os olhos diante do que disse e enxugou mais algumas lágrimas de seu rosto. – Ouvir sermões de um desconhecido é demais para mim, além de ser presa, é claro... - Me olhou inquieta. – Deixe isso com minha irmã, ela o fará muito bem e eu posso garantir isso!

Ia respondendo, quando recebi uma chamada de Rodrigo em meu celular, meneei a cabeça em negação, já não era mais necessário o seu retorno.

— Carlos Daniel, não vi suas chamadas. Aconteceu algo grave para me ligar a essa hora? - Perguntou com tom sonolento.

— Não preciso mais, Rodrigo! Pode voltar a dormir - Rebati seco.

Ele insistiu e lhe disse que explicaria depois, já que não era hábito meu ligar tão tarde assim depois do expediente. Sentia o olhar da menina sobre mim enquanto conversava com Rodrigo...

— Nossa! - Ela disse olhando-me com os olhos bem abertos. – Que grosseria! Não devia ser tão ríspido assim.

— Você não pode me dizer como devo tratar as pessoas! - Respondi ainda seco e quando a vi ficar sem graça com minha resposta me desculpei, não costumo me desculpar por uma coisa que digo, mas com essa menina foi diferente.

Ficamos um tempo em silêncio enquanto esperávamos a sua irmã chegar...

— Sabe de uma coisa que estou pensando? - Ela me perguntou quebrando o silêncio entre nós.

—O quê? - Perguntei sem desviar meu olhar das ruas.

— Você e minha irmã se parecem... Principalmente nesse tom autoritário... - Completou dando um sorriso.

— Acha isso divertido? – Perguntei olhando-a seriamente.

— Divertido não, mas curioso...

— Hum... - Resmunguei enquanto cruzava os braços sobre o peito em uma posição mais confortável.

— Você tem namorada? - Ela perguntou me observando com curiosidade. Já havia parado de chorar e seu rosto estava mais corado.

Eu, por outro lado, já começava a me sentir incomodado com suas perguntas...

— Não. - Disse com frieza no tom e a olhei perguntando-me o que ela queria com isso.

— Hum... E nem é casado, porque não vejo aliança! - Disse me observando novamente.

— Você é bem observadora, não é? - Perguntei em advertência a olhando de volta. - Por que o interesse?

— Por nada! - Disse sorrindo. – Apenas por curiosidade e... Ai meu Deus, a minha irmã já está aqui! - Exclamou perdendo o sorriso que estava há pouco em seu rosto.

Virei-me na direção que ela olhava e pude ver um Mercedes-Benz vermelho do ano estacionar e olhei novamente para a garota, que estava novamente com o rosto pálido. Pelo que pude notar, ela estava com muito medo da reação de sua irmã, o que não era para pouco depois do que lhe aconteceu.

— Por favor, por tudo que é mais sagrado não diga nada do que houve aqui a minha irmã, ela não pode saber o que realmente aconteceu! - Ela me pediu enquanto mantinha seu olhar no carro estacionado a alguns metros.

— Por que não diria? - Perguntei observando-a. – Você se meteu em uma grande confusão e poderia ter acontecido algo mais grave, não acha que sua irmã tem o direito de saber a verdade?

— Sim, mas ela não está pronta pra ouvir algo assim, eu não quero decepcioná-la e, eu juro por Deus que nunca mais farei nada assim! - Ela disse juntando as suas mãos, suplicante.

E de longe pude ouvir a porta do carro sendo aberta, mas não me importei e continuei observando Sophia que ainda me olhava nervosa em súplica.

— Eu prometo que vou contá-la, mas no momento certo. Você não entenderia, mas se minha família souber o que aconteceu...

— Assinei um termo de responsabilidade por você por algo errado que fez, paguei a sua fiança. Não posso deixar que você se safe dessa assim como se nada.

— Eu fico te devendo um favor! - Ela disse rapidamente e pelo seu olhar pude ver que a irmã dela já estava bem próxima.

— E que tipo de favor você poderia...- Dizia enquanto me virava dando de cara com a irmã dela.

—VOCÊ!!! - Dissemos em uníssono.

Mal podia crer em minha visão! A estranha do parque estava parada a minha frente mais linda do que nunca, seu semblante ainda mais sério. Não pude deixar de sorrir ao vê-la tão irritada.

— Vocês se conhecem? - Perguntou Sophia nos olhando completamente confusa.

— NÃO –SIM! - Dissemos juntos novamente.

Como ela poderia negar me conhecer? Perguntava-me divertido enquanto não conseguia desviar meu olhar dela. Agora sabia de onde eu conhecia a garota, seus gestos, seus olhares, o formato de seus rostos, tamanha era tal casualidade e ri diante dessa descoberta.

— Não parece muito feliz em me ver! - Disse enquanto dava um passo em sua direção diminuindo nossa distância e ela apenas se esquivou e ficou ao lado da irmã colocando-a entre nós.

— Nem um pouco! - Retrucou de forma ríspida. - O que eu disse sobre não falar com estranhos, Sophia?

Sophia lançava olhares confusos para mim e logo em seguida para a irmã e não sei o que descobriu, pois sorria de uma forma bem estranha...

Omg! - Ela expressou pondo as mãos na boca. – Não me diga que ele é o cara que você deu uma joelhada porque te beijou... – Disse travessa a sua irmã que a fuzilou com o olhar.

— Hum, então andou falando de mim para sua irmã? - Perguntei com um sorriso largo diante dessa descoberta.

— Sophia, vamos embora! - Ela ordenou segurando a irmã pela mão, conduzindo-a até o carro.

Fiquei apenas um momento parado no lugar e logo fui correndo em direção ao seu carro antes que ela desse partida e desaparecesse de minhas vistas.

— Lembra que me deve uma carona? - Perguntei sorrindo enquanto me abaixava para olhá-la da janela do carro.

— Não... Eu não lembro! - Disse querendo me matar com o olhar.

— Vai me deixar aqui sozinho e a pé? - Estava com meu carro, mas não perderia a oportunidade de passar mais um tempo ao lado dela e, quem sabe, repetir o beijo de outro dia.

— Vem Carlos Daniel, entre aqui! - Disse Sophia pulando para o banco de trás.

Sorri vencedor à linda moça do parque e dei a volta no carro sentando-me ao seu lado, apenas esperando que desse a partida.

Ela não disse uma palavra e nem dirigiu o olhar para mim, a garota ficou em silêncio também, apenas nos olhava com expectativas, seu humor já havia mudado, não estava mais chorosa como antes...

— E então? Como se chama? - Perguntei quebrando o silêncio entre nós.

— Não te interessa! - Rebateu seca.

— O nome dela é Paulina! - Disse Sophia do banco de trás.

— Sophia você fica na sua que depois será sua vez de se explicar! - Disse observando-a pelo retrovisor.

— Paulina... Lindo nome! - Completei sorrindo. – Sou Carlos Daniel! - Me apresentei mesmo achando que ela não se importaria em saber meu nome.

Ela não disse nada, apenas continuou a me ignorar, então me virei para o banco de trás...

— Você disse que me deve um favor... - Disse virando-me para a garota enquanto lançava um rápido olhar para Paulina, que continuava a dirigir em silêncio.

— Sim, então você... - Ela disse com um largo sorriso no rosto ao olhar para irmã, entendendo imediatamente o que eu quis insinuar.

— Isso mesmo! - Disse finalmente.

* Paulina narrando *

Decidi assistir a um filme enquanto esperava chegar a hora de Sophia me ligar para que eu fosse buscá-la. Estava já quase dormindo quando pulei do sofá com o susto ao ouvir o meu celular tocando. Peguei-o rapidamente, podia ser Sophia mas vi que era um numero estranho, algo poderia ter acontecido a ela, atendi o mais depressa que pude.

— Alô! – Disse franzindo o cenho esperando por uma resposta do outro lado da linha.

— Lina! – Respondeu Sophia com a voz embargada. Parecia chorar.

— Sophia, por que está me ligando de um número diferente? Onde você está? - Perguntei rapidamente apreensiva.

— E-eu estou aqui na de-dele-ga-cia... – Disse gaguejando, ela tinha se metido em encrenca, era óbvio.

— Como assim delegacia, Sophia? – Gritei exasperada com a sua resposta.

— Calma Paulina, está tudo bem... Quando estivermos juntas eu te explico, mas vem me buscar aqui. Estou na 18ª aqui no centro, perto do shopping.

— S-sei onde é. Me espera aí, e não fale com estranhos, fique em um lugar movimentado e...

— Eu sei, Lina! – Me interrompeu. – Eu estou bem, estou tranquila e estou com um amigo, não se preocupe...

— Tudo bem, chego aí em alguns minutos. – Disse enquanto corria para o meu carro e desligava o celular.

Não demorei muito para chegar à delegacia, não era muito longe. Avistei Sophia e estacionei ali perto, o lugar estava movimentado, apesar do horário, e ela realmente não estava sozinha, mas a princípio não conseguia ver quem a acompanhava até que, para a minha grande surpresa, era alguém que eu não esperava ver novamente tão cedo.

Eles estavam conversando quando eu me aproximei e quando nos reconhecemos, nós dois ficamos surpresos com esse reencontro e não pude deixar de demonstrar a irritação com as minhas atitudes, era o cara do parque.

Porque ele estava ali com Sophia? O que eles estariam fazendo ali? Ele não parecia estar no cinema e muito menos se vestia como um adolescente para estar no meio deles, mas eu pouco devia me importar com ele, eu só deveria saber de minha irmã, o que era impossível, pois ele tirou completamente o meu foco. Sorria me olhando, parecia se divertir com a minha reação, não sei o que se passava em sua mente maliciosa.

Ele vestia uma camisa social rosa com as mangas longas dobradas, tinha gravata afrouxada em seu pescoço, calça e sapatos pretos, não estava mesmo vestido para divertir-se, muito menos com cara de quem se envolvia em encrenca para parar numa delegacia assim... Oh meu Deus, ele podia ser o delegado, ou um policial, ou um advogado... Ai, dane-se! Eu não quero saber. Me sentia completamente irritada só de vê-lo em minha frente, ele me causava uns sentimentos que eu não conseguia evitar, inclusive essa irritação fora de comum, não consegui disfarçar a minha inquietação quando Sophia nos perguntou se nos conhecíamos e eu fui objetiva com a resposta, ele também fez o mesmo mas o que mais me irritava é que ele sempre tinha um ar de sedutor barato e um sorriso provocativo que... Ai, aquilo me irritava demais. Eu não podia deixar que tivéssemos um contato físico novamente, não mesmo, e me afastei deixando Sophia em nosso meio quando ele insinuou se aproximar mais. Sophia não entendeu de início o que estava acontecendo, só ficou confusa com a minha reação, mas não demorou muito tempo para que ela descobrisse de onde nos conhecíamos, o que fez com que ela dissesse na frente dele o que eu contei a ela sobre o beijo do desconhecido. Ai que raiva! Sophia não devia ter encontrado com esse cara, e logo ele, não acreditava que ele estava diante de mim de novo, ele estava me perseguindo, eu já não conseguia fazer quase nada com aquelas lembranças que estavam me atormentando e tudo me levava a ele, tudo me direcionava ao seu cheiro, ao seu toque, ao seu bei... Droga!

Não é possível que ele reapareceu pra me atormentar ainda mais. O ignorei e saí puxando Sophia em direção ao carro, já não podia mais ficar ali, era um tormento estar assim perto dele, ainda olhando para aquela cara cínica que ele tinha e vendo-o divertir-se tanto com a minha raiva, mas não adiantou, ele foi mais rápido do que eu e quando eu ia dando partida no carro ele aparece novamente me deixando completamente sem reação, eu não deixei transparecer mas meu corpo tremia, minha mente estava uma confusão só, eu não conseguia pensar direito, e quando escutei a sua voz me dizendo que eu o devia uma carona, meu coração atrasou uma batida. Pude sentir o olhar de Sophia em minha direção quando ela passou para os bancos de trás do carro tão rápido que quando eu me dei conta aquele estranho já estava sentado ao meu lado, ela parecia se divertir também com a minha reação, mas ela ia escutar quando chegássemos em casa, ah se ia!

Me dei por vencida, não adiantaria discutir, ele era teimoso e com Sophia ali, sei que não adiantaria falar nada. Respirei fundo e dei partida no carro, não estava mais aguentando a sua presença ali, ele me deixava nervosa, tentei fingir que ele não estava ali e segui dirigindo em um silencio que reinou dentro do carro quando finalmente ele o quebrou perguntando o meu nome e eu o ignorei novamente mas não adiantou, Sophia o disse. Ele repetiu o meu nome e fez a coisa que eu menos queria naquele momento, além da presença dele ali, ele disse seu nome. Droga! Eu não queria saber o seu nome... Fingi não me importar com o que ele estava me dizendo, mas dei de ombros, nem sequer o olhei, não tive coragem, estava morrendo de raiva daquela situação.

Ele me olhava o tempo todo quando conversou com Sophia sobre algo que eu não entendi, continuei ignorando a sua presença ali mas ele fazia questão de dar seu sinal de existência.

— Sophia, você precisa dar uns conselhos a sua irmã, precisa dizer a ela como deve se comportar com as pessoas. – Ele disse para Sophia sem tirar o olhar de mim, também sorria, estava fazendo chacota da minha cara.

— Ah Carlos Daniel, a Paulina é assim mesmo... Mas ela também é muito educada, meiga e generosa. – Respondeu revirando os olhos, olhando-o enquanto ria também.

— Hmm... – Ele resmungou me olhando malicioso, senti meu corpo todo vibrar com aquele olhar minucioso.

— Mas essa fera é mansinha Car...

— Onde você vai ficar mesmo? – Interrompi Sophia antes que ela continuasse e me tirasse ainda mais do sério.

— Vou ficar no parque. – Ele respondeu sorrindo.

Me senti aliviada por estarmos ali tão próximos do parque mas parecia que nunca chegaríamos, todos os semáforos ficavam vermelhos quando nos aproximávamos e eu já estava ficando impaciente, enquanto dirigia minha mente também retornava ao dia em que nos conhecemos e o seu cheiro continuava ali impregnando os meus sentidos, exalando dentro de meu carro.

— Paulina... Chegamos... – Ele disse olhando-me seriamente. – Você já passou do lugar onde eu ficaria. Ou quer me levar para a sua casa? – Insinuou ainda mais malicioso. Que audácia, será que nem a minha irmã ele respeitava também?

— Tchau! – Eu o respondi rapidamente olhando-o depressa após frear bruscamente o carro.

— Calma, não precisa fazer assim Lina! – Disse Sophia me olhando assustada, não respondi, só a olhei através do retrovisor, ela entenderia o meu olhar.

— Então eu vou indo... – Ele disse se aproximando de mim que me esquivei rapidamente demonstrando repreensão.

— Carlos Daniel, - Chamou-o Sophia enquanto ele abria a porta do carro. – muito obrigada por tudo e... Sabe onde moramos, aparece qualquer dia desses. – Vi que ela deu uma piscadela e eu não gostei daquilo, ela não deveria ter dito isso a ele, seja lá qual for o grau da amizade deles, não pretendia vê-lo novamente e sabia que agora que Sophia sabe de tudo, ela iria querer aprontar alguma coisa.

— Será um prazer revê-las! – Ele disse olhando-a e depois me olhou e sorriu com o canto da boca, gesto este que me deixava inquieta, que me desconcertava e que me fazia sentir raiva de mim mesma por me sentir assim diante dele. – Obrigado pela carona... Paulina! - Logo pegou na mão de Sophia e saiu do carro fazendo-me soltar a respiração me sentindo aliviada.

— Paulina, por Deus... Por que você o tratou desse modo? – Perguntou Sophia enquanto passava para o banco da frente. – Ele é maravilhoso, além de ser um gato, forte e...

— Não ouse continuar. – Interrompi olhando-a com um olhar de advertência assustando-a.

— Não vai me negar que ele não mexe com você... Eu te conheço, bonita! – Continuou arqueando a sobrancelha, olhando-me, dando de ombros com o que eu acabei de dizer.

— Não quero você andando com esse cara! – Disse furiosa. – Afinal, como você o encontrou? De onde o conhece? Como foi parar numa delegacia de policia Sophia? – A questionei atropelando as perguntas, estava super irritada.

— E-e-eu... Eu perd-di a minha bolsa com a minha identidade, celular e dinheiro e precisei dar uma que-ixa na delegacia. – Respondeu com um fio de voz desviando o seu olhar rapidamente de mim.

— Como assim perdeu a bolsa Sophia? Não tem cabimentos uma resposta dessa! – Perguntei olhando-a, chamando a sua atenção.

— É que depois do cine, eu e os meus amigos fomos... Fomos comer algo fora do shopping e...

— E você saiu de lá sem ao menos me comunicar para dizer o que faria... E você mentiu dizendo que ia para um lugar só quando não o fez. – Retruquei nervosa, ela estava mentindo pra mim e isso eu não toleraria.

— Não mana, eu... – Continuava com voz embargada, estava a ponto de chorar mas já estava ficando com raiva também. – eu ia te ligar mas quando ia fazer isso, não encontrei a minha bolsa e não tive como...

— Como assim não teve como me ligar, Sophia? - Disse chateada, já estávamos em frente a nossa casa. - Você podia ter pego o celular de alguma de suas amigas e me ligado. – Dizia enquanto esperava o portão se abrir.

— Mas Lina é que... N-Não deu tempo e...

Ela ia continuando quando Adelina se aproximou do carro que já estava parado no estacionamento de casa e veio nos cumprimentar.

— Meninas vocês demoraram, eu estava preocupada. – Disse Adelina enquanto saíamos do carro. Vi que Sophia respirou aliviada ao ver Adelina.

— Ah Adelina, é que houveram alguns imprevistos e acabamos demorando, mas já estamos aqui, não é Lina? – Perguntou me olhando sorrindo, como se nada tivesse acontecido. Assenti porque não queríamos preocupar a Adelina mas se ela pensava que nossa conversa teria acabado ali, ela estava muito enganada, ainda teria muito que me explicar.

Logo entramos e nos despedimos de Adelina quando Sophia subiu as escadas mais rápido do que eu, indo em direção ao seu quarto.

— É... Boa noite, Lina... – Disse apreensiva desviando o seu olhar, dando quase um pulo dentro de seu quarto mas fui mais rápida que ela.

— Espera Sophia! – Chamei a sua atenção em tom ríspido fazendo-a parar bruscamente virando-se pra mim.

— É.. Lina eu... – Disse forçando um sorriso.

— Como você conheceu aquele homem? – Perguntei olhando-a. Tive muito medo de sua resposta, não sei porquê, mas tive medo do que ela me responderia.

— Ah Lina, ele me ajudou... Te asseguro que foi só isso! Ele viu que eu estava desesperada por ter perdido tudo e se prontificou em me ajudar, me aconselhou e me ajudou a dar a queixa na delegacia, mas foi só isso... – Respondeu séria se aproximando, não me olhava nos olhos e eu sabia que tinha mais coisa aí.

— Não foi atrás dele pelo que te falei? – Perguntei desconfiada.

— Claro que não, Lina... Eu nem sabia o seu nome, com as poucas características que você me deu não dava para encontrá-lo nem no Google. – Disse divertida, me deixando um tanto aliviada.

— Mas ele...

— Não Lina, fique tranquila que ele é todo seu... Apesar de ele ser um gato e charmoso e tantas outras coisas... – Disse suspirando. – Ele é muito velho pra mim e tá gamadão em você.

— O quê? – Disse desviando o meu olhar, virando-me. – Nem pensar! Esse homem é um...

— Ai Paulina, você também está louquinha por ele, nem adianta esconder. – Insinuou me cercando.

— Engano seu, Sophia! Não tem nada a ver... – Virei-me novamente indo em direção a porta. Já estava perdendo o foco da conversa e ela estava me desconcertando de novo. – E-eu vou dormir. Depois continuamos. Boa noite!

Me despedi de Sophia e saí praticamente correndo de seu quarto indo em direção ao meu, deixando-a sozinha.

Fechei a minha porta e não consegui dar mais um passo, encostei-me nela e fiquei pensando nessa conversa que acabara de ter com Sophia. Me impulsionei em ir ao banheiro, me despi e me enfiei debaixo do chuveiro, e sozinha senti minha mente toda desordenada voltando ao parque, ao homem, ao seu beijo, seu cheiro, seu charme e agora... agora eu tinha mais lembranças dele, ele sentado tão próximo a mim no carro, me provocando. Não acreditava que ele estava de novo no meu caminho senti um arrepio percorrer por todo o meu corpo, senti meu coração acelerar, senti minhas mãos tremerem com aqueles pensamentos e já podia senti-lo ali perto de mim, podia vê-lo ao meu lado de novo tomando banho comigo, me ensaboando, me beijando, me acariciando, podia sentir o seu cheiro delicioso exalando por todo o banheiro junto com o vapor da água quente, dominando os meus sentidos e o ambiente do meu quarto também, o nome dele que eu já sabia, estava louca pra pronunciá-lo... Estava realmente ficando louca. O que eu podia fazer? Já estava completamente fora de órbita quando me despertei de meus devaneios assustada com o toque insistente do meu celular. “Quem poderia estar me ligando uma hora daquelas?” Me perguntava. Desliguei o chuveiro, me enrolei a uma toalha e corri em busca de meu celular, finalmente o encontrei e consegui atender a ligação a tempo.

— Alô! – Perguntei curiosa, o numero era desconhecido e que desconhecido me ligaria aquela hora da madrugada?

— Oi, Paulina... – Disse uma voz “estranha” do outro lado da linha fazendo o meu corpo estremecer, tirando as forças das minhas pernas, fazendo-me sentar na cama. Não é possível!