Te Odeio Por Te Amar

Capítulo 11 - "Droga de cãibra!" - O encontro


*Paulina narrando*

Cheguei em casa e vi que papai não estava por lá, então decidi ir até o seu quarto, bati na porta e ninguém me respondeu e ao entreabri-la vi que ele estava dormindo. É melhor assim, preferia deixá-lo descansar um pouco até o jantar e eu aproveitaria que ainda não era tão tarde e iria correr no parque e quando voltasse, teria um momento com o papai.

Fui até o meu quarto e troquei de roupa, estava me sentindo cansada apesar de querer tanto ir lá no parque mas mesmo assim eu insisti, não demoraria, só não queria perder o meu habito, agora a fábrica tomaria muito mais o meu tempo e eu teria de aproveitar o pouco tempo que eu teria livre para colocar em dia os meus exercícios, coloquei uma legging preta que delineava detalhadamente as minhas pernas torneadas e um top da mesma cor, deixando a mostra a minha barriga, que modéstia a parte mas é bem sarada, calcei os meus tênis e desci até a cozinha em busca de algum energético que pudesse me dar um pouco mais de ânimo para enfrentar o percurso que eu estava decidida a fazer. Correria em volta do parque, como de costume, mas pretendia fazer uns 16km, achava que dava pra fazer. Não tinha energético em casa mas tomei um suco cítrico que Cacilda, nossa cozinheira preparou que me sustentaria até a hora do jantar.

– Não vai comer nada, Paulina? – Ela me perguntou preocupada ao me ver engolindo o suco de uma só vez. Essa era a primeira vez que nos vimos desde que eu cheguei.

– Não Cacilda, não dá tempo. Tenho que ir logo para não chegar muito tarde em casa, papai tá dormindo e vou aproveitar para ir rapidinho lá no parque, você sabe que eu não vivo sem as minhas corridas diárias. – Respondi brincalhona.

– Mas você precisa comer algo, Lina... Não pode ir correr assim sem se alimentar. – Insistiu ela indo em direção a geladeira e abrindo-a.

– Não se preocupe Cacilda, eu almocei lá na fábrica e não estou com fome, e este suco já me sustenta até a hora de voltar. Qualquer coisa eu como algo no parque. - Disse em tom tranqüilizador sorrindo para ela.

– Tudo bem, mas tome isso... Coma porque você não é de ferro, enquanto você chega eu vou preparando um jantar bem leve e delicioso pra você e seu pai. – Disse amavelmente estendendo uma pêra em minha direção.

– Oh mulher insistente! – Brinquei sorrindo enquanto pegava a fruta de sua mão . – Obrigada Cacilda, obrigada por sempre se preocupar tanto com o nosso bem-estar. Você e a Adelina sempre cuidam tão bem de nós... – Disse enquanto lhe dava um abraço apertado.

– E o fazemos com muito gosto, Lina... Agora vá e não volte muito tarde! – Disse enquanto beijava uma de minhas mãos após encerrarmos o abraço. Me despedi dela e fui em direção ao portão de casa enquanto comia a fruta, o parque não ficava muito longe e eu preferi ir andando até lá e lá mesmo eu faria os meus alongamentos, como de costume.

Não demorou muito para que eu chegasse ao parque, eu costumava ir sempre de manhã bem cedo, mas ir à noite também era muito agradável, não tinha sol e o tempo sempre era mais fresco, as árvores que tinham por todo o parque fazia com que o ar fosse mais gelado e isso me fazia muito bem. Parei numa pracinha que tinha lá e comecei a me alongar, fiquei ali por uns minutos e senti que estava sendo observada, mas acho que era apenas uma impressão mesmo, havia tanta gente ali aquele horário que seria até uma paranóia de minha parte achar que alguém estivesse me vigiando. Dei de ombros, liguei o meu Ipod no volume máximo e dei inicio a minha corrida.

O parque era gigante e eu já tinha dado umas quatro voltas em volta dele numa velocidade constante e pude mantê-la até que o cansaço me veio à tona sem eu menos esperar. Não imaginei que pudesse sentir assim tão de repente o meu corpo pesar e as minhas pernas pareciam pesar uns 200kg cada. Parei um pouco e respirei fundo, comprei uma água e bebi metade, derramando a outra metade por minha cabeça fazendo-a descer por meu rosto molhando meu pescoço e busto. Senti que estava tudo bem e voltei a correr. Tentei manter a mesma velocidade de antes, mas não conseguia e mesmo assim segui a minha rota um pouco mais devagar, costumava dar umas oito voltas pelo menos, e mesmo estando cansada, naquele dia eu tinha uma meta de pelo menos seis voltas, então me recompus e foquei no meu objetivo, tinha que terminar o que eu havia começado. Segui o meu caminho e o cansaço não me abandonava de jeito nenhum, foi estranho porque eu era muito acostumada a fazer vários kilômetros e esse dia eu acho que não fiz nem 10 km. Não podia desistir, não quando já estava tão próximo de acabar e logo eu voltaria para casa e poderia descansar, mantive o meu foco e dessa vez era a minha mente que controlava o meu corpo até que não sei de onde veio e senti uma forte cãibra na perna direita e a minha visão escureceu por completo levando embora a minha consciência...

# Carlos Daniel Narrando #

Depois daquele longo e entediante dia, ir correr no parque novamente foi uma ótima decisão, há tempos não fazia isso e sempre me fez muito bem. Passar horas em minha academia particular não era nem de perto a mesma coisa de estar em contato com a natureza, sentir a brisa gelada da noite tocar a minha pele, sentir o ar frio entrar em meus pulmões me revigorando...

O parque como sempre estava cheio, muitas pessoas de idades distintas corriam, algumas em grupos ou em duplas e outras solitárias como eu corriam sozinhas. Quando cheguei a uma pracinha onde tinha costume de parar para me alongar não pude deixar de notar uma mulher, nunca a tinha visto ali e ela era realmente linda, não pude deixar de ficar observando-a de longe enquanto se alongava. Ela realmente roubou meu fôlego e quando a vi olhar em volta a procura de algo voltei a me alongar, mas sempre mantendo minha atenção voltada em sua direção.

Quando a vi iniciar sua corrida me apressei para não perdê-la de vista, não era meu costume ficar perseguindo mulheres em roupas coladas como ela usava, não sou nenhum tarado, mas essa mulher me fascinava e simplesmente não conseguia deixá-la ir.

Corri a uma distancia segura, ela estava ouvindo música e mal notou minha presença ali. Depois de algumas voltas a notei bem cansada e senti que seu ritmo estava diminuindo, então ela parou para comprar uma água, me perdi enquanto a olhava tomando aquela água e senti inveja daquela garrafinha que tinha aqueles lábios tocando-a. Senti sede olhando-a, mas despistei quando a vi olhar em minha direção, estava a uma boa distância e as sombras da noite me protegiam e assim que vi que era seguro voltei a olhá-la, simplesmente não conseguia seguir meu caminho, não sei o que estava acontecendo comigo.

Senti o mundo ao meu redor parar quando a vi derramar o resto da água em sua cabeça molhando seu rosto, segui com o olhar a trajetória daquelas pequenas gotículas de água descendo por seu pescoço e se perdendo no vale de seus seios e só então me dei conta de que estava de boca aberta e estava encarando-a descaradamente, me recompus, mas aquela imagem ficou gravada em minha mente e meu corpo respondeu na mesma hora.

Mal tive tempo de me recuperar e já tive que retornar a corrida, ela parecia bem cansada enquanto voltava a correr, já estava em seu limite, mas não desistiria de seu objetivo, parecia uma mulher de garra, bom, se não fosse assim não poderia ter aquele corpo. Dei uma boa olhada em suas pernas torneadas, senti minha mão coçar em vontade de tocá-la. Deus onde eu estava com a cabeça? Tinha me transformado em um perseguidor de mulheres? Pensava com amargura.

Apenas uma fração de segundos que me distraí em meus pensamentos desejosos e a vi diminuir ainda mais o velocidade quando a ouvi gemer de dor e então corri até ela com rapidez antes que seu corpo alcançasse o chão.

– Moça! - A chamei enquanto tentava não deixá-la cair e a ergui em meus braços sem dificuldades sem saber o que fazer com ela, as pessoas passavam por nós nos olhando, mas não paravam.

O mundo não era tão bom quanto essas pessoas querem aparentar. Viram uma mulher desmaiada e não deram importância, nesses momentos é que me sentia feliz comigo mesmo por afastar tudo e todos de mim.

A levei até um banco ali perto e a coloquei ali deitada, ela era ainda mais linda de perto e mesmo estando desmaiada em minha frente não resisti à tentação de medi-la dos pés a cabeça.

– Moça! - Voltei a chamá-la enquanto dava leves tapinhas em seu rosto. – Ai, meu Deus... Acorde! - Disse já preocupado, estava a ponto de pegá-la em meus braços e levá-la até um hospital.

Enquanto esperava que ela desse algum sinal de melhora não pude deixar de sorrir ao me recordar da sensação de tê-la em meus braços, tão próxima de mim. Afastei esses pensamentos enquanto voltava a minha tarefa de tentar acordá-la.

– Moça! - Chamei novamente enquanto afastava seus cabelos molhado do rosto e mesmo que me forçasse a não olhar, meus olhos se voltaram para seus seios, o movimento de sobe e desce de sua respiração, as pequenas gotas de suor que escorriam por seu pescoço, senti uma pontada de desejo me dominar.

Senti meu sangue gelar quando levantei a cabeça e ela estava me olhando.

– Você está bem? - Perguntei disfarçando.

Era óbvio que ela tinha notado que eu estava olhando o que não devia, mas parecia ter se esquecido como falar porque ela apenas me olhava, a confusão estava estampada em seu rosto.

– E-estou! - Ela disse enquanto se afastava um pouco ainda desnorteada.

– Você desmaiou! - Disse a ela calmamente observando-a.

Não pude deixar de notar que seus olhos eram verdes azeitona, lindos, e tinha um brilho especial ali, afastei esses pensamentos me sentindo frustrado, desde quando tinha o costume de ficar admirado com os olhos de uma mulher? Ela tinha atributos muito melhores para serem admirados...

– Quer alguma coisa? - Perguntei colocando minha mão em sua coxa e ela afastou minha mão rapidamente me olhando de forma irritada, pelo menos parecia ter se recuperado do susto. – Uma água? - Sugeri olhando-a.

– N-não! - Ela disse. – Tenho que ir para casa! - Ela disse finalmente, sua voz era rouca, marcante e não sei se era meu desejo pensado por mim, mas sua voz era sensual e pude imaginá-la gemendo em meus braços enquanto a tinha em minha cama. Mais uma vez me recriminei por pensar assim isso já estava fora de controle.

E então a observei tentar se levantar e me levantei rapidamente envolvendo-a pela cintura, a cãibra na perna ainda não tinha passado...

– Me solte! - Ela disse de forma ríspida, fitei-a com a testa franzida sem entender o motivo para me tratar daquela forma.

* Paulina Narrando *

Ouvi uma voz grave me chamando ao longe, não conseguia entender bem, ele não chamava o meu nome mas eu sabia que estava se referindo a mim. Parecia que alguém me segurava, não me dei conta de imediato do que estava acontecendo, apenas senti uma mão grande e firme em minha cintura e outra em meu rosto que parecia arder onde ele tocava. Minha mente era uma eterna confusão e eu vi que estava deitada em um banco do parque quando abri os meus olhos e tinha alguém me segurando, era um homem. Ele estava muito próximo a mim, podia sentir o seu cheiro maravilhoso impregnando as minhas narinas me dando aos poucos os sentidos, ele me olhava intensamente como se estivesse me analisando, não consegui raciocinar de imediato, não tive reação alguma no momento mas logo que meus sentidos voltaram a tomar conta de minha mente por completo, pude me dar conta do quão próximos estávamos e me senti incômoda no exato momento, ele estava olhando para onde não devia e parecia que a sua respiração estava descontrolada, descarado se aproveitando de mim num momento em que eu era completamente vulnerável. Ele disfarçou e perguntou se estava tudo bem comigo quanto notou que eu o flagrei me olhando e com um sobressalto me afastei dele tentando jogar pra bem longe a confusão que tomava conta dos meus sentidos, não conseguia pensar com clareza de jeito nenhum, o que estava acontecendo comigo?

Ele parecia preocupado, pelo menos aparentou estar. Respondi com um fio de voz que estava tudo bem e ele me disse que eu desmaiei. “Deus, como pude desmaiar assim logo no parque sozinha e com apenas desconhecidos ao meu redor, se não fosse por esse cara desconhecido, o que aconteceria? Alguém me ajudaria?” Me perguntei mentalmente olhando-o enquanto ele me lançava o seu olhar. Fiquei admirada com o que estava em minha frente e estava sem camisa e sua pele brilhava pelo suor que escorria por seu peito constratado pela luz da noite, aquilo não era um homem, não podia ser, tinha que ser um deus grego que veio diretamente da mitologia grega para me salvar ou seria o deus do parque mesmo? Ele era moreno cor de jambo, tinha os cabelos lisos castanhos escuros que estavam meio bagunçados provavelmente devido aos exercícios fazia, uma boca fina tão bem desenhada que não pude deixar de imaginar aqueles lindos lábios roçando nos meus, tinha os olhos castanhos e dava pra ver que a sua pupila escura estava dilatada, ele me olhava tão intensamente que as palavras não podem descrever o que eu via no interior daquele olhar profundo que naquele momento era só meu e eu estava perdida ali naquela floresta escura sem saber para que lado era a saída. Eu estava completamente perdida ali, perdida na imensidão dos pensamentos que ele já me despertava.

Eu realmente não faço idéia do quanto tempo nos olhamos profundamente quando saí bruscamente daquela profunda confusão por ver que ele havia colocado a sua mão em minha coxa, safado, como eu pude me deixar levar pela beleza de um homem? Parecia enfeitiçada. Me irritei rapidamente e não foi com ele, foi comigo mesma, era automática essa minha irritação e não tinha um botão de ligar, simplesmente vinha sem me avisar e pronto!

Ele me perguntou mais uma vez se estava tudo bem e se eu queria alguma coisa, mas me neguei, estava me sentindo muito nervosa, inquieta e precisava sair dali o quanto antes. E quando tentei me levantar senti que aquela maldita cãibra não havia passado, muito pelo contrario, ainda estava mais intensa. Ele percebeu e foi muito mais rápido que eu, apoiando as suas duas mãos em minha cintura impedindo que eu caísse de novo, fazendo-me sentir uma coisa curiosa, era como meu estomago fosse o habitat de milhares de mariposas que levantaram vôo todas de uma só vez. Sem pensar dei-lhe um grito pedindo que me soltasse pelo gesto dele fazendo-o assustar-se prontamente.

– Calma! Só estou querendo te ajudar. – Ele respondeu rapidamente me deixando um tanto sem graça.

– Pode me ajudar sem me tocar, afinal de contas, já me ajudou o bastante. – Retruquei irritada. – Obrigada e preciso ir. – Disse tentando dar um passo a frente, impossível, ele me impediu colocando-se a minha frente fazendo os nossos corpos chocarem-se, senti seus músculos bem definidos quando coloquei minhas mãos entre nós dois para aumentar o espaço pequeno que nos separava e não pude deixar de admirar o seu tronco escultural, ele era tão forte e tão bem dividido que eu parecia tocar uma parede de tijolos bem construída.

– Posso te levar em casa, você não tem condições de andar assim. – Ele disse me olhando intensamente logo desviando o olhar em direção a minha perna dolorida.

– Não precisa, eu posso ir assim, não moro tão longe daqui. – Respondi totalmente nervosa.

– Não posso deixar uma mulher como você andar sozinha com dor no meio da noite. E se acontecer algo com você? – Perguntou ainda em minha frente, me impedindo de mover-me.

– Mas é claro que eu posso e você não vai me impedir. – Disse cerrando os dentes olhando-o impaciente. Ele estava disposto a me enfrentar?

– Ok, é isso que você quer? Então pode ir! – Disse irritado saindo de minha frente me dando espaço para seguir. – O olhei confusa, não sei se queria ir sozinha. Mas fiz o que tinha que fazer, me forcei a caminhar desviando os meus olhos dos dele e dei um passo.

– Aiii! – Gemi de dor quando aquela sensação desconfortante me veio à tona novamente. Droga! Porque justo aquela hora essa droga de cãibra me perseguiu tanto?

– O que foi, você está bem? – Ele correu para me segurar novamente, senti em sua expressão um leve sorriso vitorioso que era quase que imperceptível mas não sou boba, era isso o que ele queria.

– Está doendo muito! – Gemi segurando a minha perna. Não quis dizer isso mas era a verdade e foi o que saiu de minha boca naquele momento.

– Vê? O que você ganha com tanto orgulho quando se trata de negar uma ajuda? – Ele disse rindo com um sorriso cafajeste nos lábios e eu não sei o porque, mas aquilo me deixava intrigada. – Me espera só fazer uma ligação que logo estará em casa. – Disse enquanto me conduzia de volta até o banco, fazendo-me sentar novamente me deixando ainda mais inquieta chamando o meu olhar em direção ao lugar que estava o seu celular, dentro de seu short.

Ele se afastou um pouco, discou um número e falou com alguém, logo desligando o celular e voltando em minha direção, me olhando de uma maneira estranha. Não demorou muito e um homem bem vestido se aproximou de nós, parecia um motorista.