Te Odeio Por Te Amar

Capítulo 01 - Prólogo


# Carlos Daniel narrando #

Hoje fazem exatos três anos que venho toda semana conversar com o Dr. John, meu analista. John é psicoterapeuta, um senhor já idoso, de cabelos brancos, usa óculos redondos e, por mais que eu não admita, também concordo que ele é o melhor do México.

— Então, senhor Bracho... - Dizia enquanto sentava-se em sua cadeira de couro marrom. – Fique à vontade! - Sugeriu apontando para o sofá à sua frente.

Deitei-me naquele sofá tão macio, poderia dormir ali, mas como sempre fiz nesses três anos, levei meu tempo observando o teto sem nenhum atrativo e o Dr. John esperou pacientemente que eu começasse a falar...

— Não consigo abandonar essa raiva! - Iniciei irritado comigo mesmo. – Quero fazer todos pagarem pelo que me fizeram, eu era um homem bom! Sempre fui um homem bom, mas agora percebo no que me transformei. - Continuei pensativo.

— Conte-me o que o levou a se transformar no homem que é agora.

— Pessoas! - Respondi sendo vago, como sempre. – A maldade delas. Isso me fez ser assim! - Disse novamente pensativo. - A dor me causou uma ferida que não sei se poderá ser curada.

— Quer falar sobre essas pessoas que lhe causaram tanta dor? - Perguntou enquanto me observava.

— Fabíola... - Disse quase em um sussurro ao lembrar-me dela com rancor.

— Quem é Fabíola?

— ...éramos noivos! - Completei o olhando e esperei por sua reação, essa era a primeira vez desde que comecei minhas sessões de análise que a mencionei. Estava cansado de guardar para mim tudo que sentia, precisava desabafar com alguém e já me sentia seguro com o Dr. John para dar esse passo.

— E o que exatamente aconteceu? - Perguntou ao cruzar as pernas e começou com suas anotações no papel em sua prancheta.

— Essa foi uma péssima ideia. - Disse ao sentar-me novamente. - Não deveria ter falado isso.

— Sabe que hoje fizemos um grande progresso aqui. Não precisa dizer o que não quer agora. Apenas quando se sentir pronto.

O olhei chateado comigo mesmo e esfreguei as mãos no rosto. Levantei-me e dei aquela sessão por encerrada. Era hora de voltar a minha realidade dura, a qual não conseguia me acostumar ainda e seguir com minha solidão para a minha casa.

Fui durante o caminho inteiro de casa pensando sobre essa última sessão. Eu realmente estava me abrindo com o Dr. John depois de anos, jamais quis tocar nesse assunto que me levava lembrar daquela mulher novamente porque era como uma cicatriz que estava sempre sendo aberta e começava a sangrar. Quando isso acontecia, todas as outras coisas ruins me vinham também a tona e parecia não ter mais remédio, sei que minha personalidade depende de mim, mas fui tão fraco que não suportei tudo que me fizeram e me transformei, mas não tenho culpa sozinho, se hoje sou esse infeliz, ela também é culpada.

Não queria reabrir aquelas feridas, mas sentia que necessitava falar com alguém, precisava desabafar, colocar pra fora tudo o que tem me afetado durante todos esses anos. Dentro de mim, tudo que eu mais queria era voltar a ser o homem que sempre fui, talvez melhor, mas por fora já não sabia se queria mais mudar, havia me acostumado a viver como agora, mas precisava libertar alguns fantasmas do passado que estavam presos dentro de mim e seguir e frente...

Meus pensamentos foram interrompidos quando adentrei os enormes portões da minha casa e fiquei ainda um instante olhando para a mansão em minha frente. Não entendo o motivo de ainda não tê-la vendido, era grande demais para quem vive sozinho, além do mais, não me trás boas recordações.

Quando adentrei, Matilde, minha governanta, me esperava no hall principal, ela não era uma simples empregada para mim, era mais como uma mãe, e a única que esteve ao meu lado quando mais precisei...

— Boa noite, senhor! - Recebeu-me sorridente quando me viu entrar.

— Boa noite, Matilde! Como está tudo por aqui? - Perguntei enquanto me aproximava e depositava um beijo em seu rosto.

— Está tudo em ordem! - Ela disse sorrindo enquanto me observava com sua feição preocupada. Sempre estava preocupada comigo. - O senhor vai jantar?

— Não Matilde, hoje estou sem apetite, vou apenas tomar um banho e me deitar. Amanhã tenho muitas reuniões com alguns acionistas que estão me dando muita dor de cabeça! - Disse pensativo.

— E você deve ir descansar também, já disse que não precisa ficar me esperando! - Adverti enquanto seguia até as escadas...

Matilde me desejou boa noite e eu subi para o meu quarto, no caminho passava por um corredor deserto, sombrio até, a casa era tão grande e requintada quanto vazia e silenciosa. Meu quarto, como todo o resto da casa era muito grande e estava do mesmo desde que tudo aconteceu.

Segui para o closet, abri uma das gavetas e deparei-me com uma foto antiga uma a qual achava que não tinha mais, pois tudo o que me remetia ao passado eu me desfiz. Uma raiva me dominou e a amassei em minha mão pelas recordações que me tomaram, a joguei novamente no fundo daquela gaveta e segui para um banho gelado.

Me sentia mal, sempre me sentia assim desde que tudo aconteceu. Adormeci depois de tomar alguns comprimidos que o Dr. John me receitou...