Houve um duradouro momento de silêncio. Tudo que se escutava eram suas respirações. O rosado sabia bem o porquê do Kazekage daquele inconfundível silêncio… era pelo tratamento de quase toda sua vida, mesmo após assumir aquele cargo, por ter a Besta de Cauda em seu interior e constantemente ser tratado como uma ameaça. O rosado sabia que aquele silêncio deveria ser encerrado o quanto antes.

— Tenho me comunicado com a Besta de Cauda há algum tempo e na minha estada no País dos Vales ela me disse a respeito dos vermes da areia e de como atrapalhavam aqueles que só queriam cruzar o deserto. Meus motivos são simples… Shukaku-sama é um amigo que pediu ajuda e pessoas estavam se machucando, então não poderia fechar meus olhos para o que vinha acontecendo. — Rin disse.

— Como? Quando? — Gaara perguntou.

— Na minha primeira viagem no deserto acabei conhecendo Hyuga Doro, na época Kawaita Doro. Ela estava encarregada de uma missão para a eliminação dos escorpiões, mas quando nos encontramos já estava bem machucada e cercada por alguns, por isso duvido que resistiria por muito tempo. Eu resolvi ajudá-la, assim fomos derrotando os escorpiões que encontrávamos até que chegamos no ninho deles, então acabamos com a fonte do problema. Então Shukaku-sama apareceu, conversou comigo e parece que conseguimos nos entender, afinal me deu um pouco do chakra em agradecimento. É com esse chakra que tenho como me comunicar com ele. Desde então, vem me ajudando quando necessário, assim como estou sempre disposto a ajudá-lo. — Rin respondeu e olhou de relance para a noiva e aproveitou para coçar a bochecha antes de suspirar. — Quando estiver em coma… ele passou aqueles dez dias me contando histórias que antecedem as Bestas de Cauda, o que é "shinobi" e até mesmo sobre o Ninshu. —

— Ninjutsu. — Misa disse. Ela parecia estar corrigindo o noivo, porém claramente havia uma ligeira curiosidade em seus olhos azuis.

— Não. Estou falando sobre a religião criada pelo Hagoromo Otsutsuki, o Rikudou Sennin. Ninshu é a religião precursora pacífica do ninjutsu moderno. Os ensinamentos foram feitos para dar às pessoas uma melhor compreensão de si mesmos, assim como dos outros, e levar o mundo a uma era de paz. — Rin contou com uma ligeira animação, mas então retornou sua atenção para o Kazekage e engoliu em seco antes de dar continuidade. — Desculpe, mas acho que me desviei um pouco da conversa. —

— Está tudo bem. — Gaara disse e aproveitou para cruzar os braços e manter as mãos em seus cotovelos, então deu continuidade. — Porque anteriormente recusou esse encontro? —

— Eu não sabia bem o que pensar naquela época. Minha cabeça ainda não estava no lugar e não havia um objetivo 100% concreto, então imagino que me sentiria um pouco estúpido em conversar com alguém com um cargo tão respeitável sendo que na época era só mais um. — Rin respondeu e levou a mão para sua bochecha e a coçou. Era visível como estava envergonhado.

— E porque o aceitou dessa vez? — Gaara perguntou.

— Porque sou alguém que está em cada vez mais destaque, não sou apenas mais um na multidão, Gaara-sama. — O rosado respondeu e sorriu pelo canto dos lábios. Seu comentário não parecia carregado de deboche, nem qualquer outro indício de maldade. Seu sorriso era bondoso. E o mesmo não demorou em continuar. — Acho que ganhei reconhecimento o suficiente para me sentar próximo de um "Kage" que não é da minha aldeia e conversarmos pacificamente. —

— Soube que salvou a vida do Daimyo do País dos Vales a algum tempo. Naruto me contou que você viajou para o País dos Vales. — Gaara disse e manteve seus olhos azuis bem concentrados no rapaz, mas não demorou em continuar quando percebeu uma ligeira curiosidade vinda do rosado. — Somos amigos há muito tempo. —

— Ah. — Rin disse.

— Eu esperava que soubesse disso, querido. — Misa sussurrou com as sobrancelhas erguidas e prestando atenção nas duas pessoas.

— Devem ter mencionado. Muita coisa tem acontecido e posso ter me esquecido. — Rin disse e não parecia ressentido por um provável esquecimento. Ele retornou sua atenção para o ruivo antes de continuar. — Estive sim no País dos Vales. E ele me recompensou por salvar a vida dele, além de anunciar que a pequena nação apoiaria minha organização de maneira vitalícia. —

— Você chegou ao tópico principal desta conversa. — Gaara disse. E não demorou em dar continuidade. — Quantas nações apoiam essa sua organização? —

— O País dos Vales por enquanto é a primeira nação a apoiar, mas de aldeias já tenho a confirmação de Konohagakure. — Rin respondeu e semicerrou suas sobrancelhas. E não demorou para que entendesse o rumo que aquela conversa seguiria, mas assim mesmo preferiu aguardar.

— E como funciona? Como sua organização recebe os membros e como é feito o treinamento? Qualquer um pode se alistar para sua organização? — Gaara perguntou.

— Uma pergunta de cada vez, Godaime Kazekage. — O rosado disse e levou a mão para frente dos olhos, assim coçando-os ao mesmo tempo que suspirava e dava continuidade. — A Rokujūshi é um esquadrão focado em Iryō Ninjutsu com três regras impostas, então quando os membros estão preparados é obrigação que saiam por um tempo indeterminado com a intenção de curar as pessoas sem pedir nada em troca. Quando você faz uma boa ação, as pessoas ficam gratas e você se sente bem. E porque é bom, você faz ainda mais boas ações. É essa sensação que quero causar nos membros da minha organização. Os membros podem se especializar em qualquer área que quiserem, mas é obrigação que conheçam a anatomia humana e animal, o Shōsen Jutsu que é básico e doenças… todo tipo de doença… esse é o treinamento a longo prazo. O de curto prazo para saber se a pessoa tem capacidade para o Iryō Ninjutsu é uma aula de um dia com demonstrações. E sim… qualquer um pode se alistar na Rokujūshi. — Rin respondeu.

— Você disse sobre especialização em áreas. Qual seria a sua área? — Gaara perguntou.

— Que pergunta boa. — Rin sussurrou. E não demorou em dar continuidade quando fechou sua mão em punho e deixou em evidência uma boa quantidade de Chakra, então deu continuidade. — A mesma que Sakura-sama ou Tsunade-hime, Gaara-sama. Minha área é equilibrada… posso ser tanto um suporte quanto um atacante… posso curar ou machucar. —

— Já tive o prazer de lutar lado a lado com a Godaime Hokage. É uma mulher incrível de uma força bruta fenomenal. — Gaara disse e levou a mão direita ao queixo enquanto se lembrava da assistência que recebeu no confronto com o perigosíssimo Uchiha Madara, assim como a mesma sendo responsável por salvar sua vida.

— Ainda não me encontrei com ela. — Rin disse e levou a mão para a nuca e a coçou, mas não deixou de escapar um risinho antes de dar continuidade. — Mas já ouvi o bastante dela para imaginar que é uma mulher verdadeiramente incrível. —

— E Sakura também é uma ninja médica incrível. — Gaara disse.

— Com certeza. Minha mestra é uma pessoa incrível e a admiro por ter me aceito como pupilo. A admiro por sentir um tipo de preocupação comigo desde muito antes de descobrir que sou filho dela. — Rin disse com um olhar bem suave e um sorriso igualmente sincero.

— E quanto a conflitos? De qual lado a Rokujūshi ficaria? — Gaara perguntou. Ele parecia ter suavizado bem sua expressão conforme o rapaz falava o que sentia sobre aquela rosada, mas não era sobre tais sentimentos que ele queria saber.

— De nenhum. — Rin respondeu e aos poucos foi assumindo uma expressão mais séria, então deu continuidade. — A Rokujūshi não é um trunfo médico das pequenas ou grandes nações. Ela serve como um símbolo para aqueles que vivem em vilarejos e não tem condições de buscarem auxílio médico em aldeias mais populosas, para viajantes que estão machucados e sentem a desesperança, então não quero manchar algo belo com o sangue conflituoso. —

Gaara optou pelo silêncio. Ele prestava muita atenção no rapaz que expressava-se com seriedade, assim parecendo que nenhuma palavra lhe era mentirosa.

— Já partilhei de alguns momentos com seus pais, sabia disso? Quando éramos Genin e estávamos participando do Exame Chunin. — Gaara disse.

— Shukaku-sama me contou. Foi por causa de Orochimaru-sama, que naquela época estava disfarçado de Kazekage, que o Sandaime Hokage morreu. Sei quais eram suas intenções com meus pais… — Rin disse e não deixou de soltar um risinho quando se lembrou daquela história que particularmente achou empolgante, então não demorou em continuar. — …e agradeço que tudo tenha se resolvido entre Suna e Konoha. —

— Seu pai já tentou me matar. Ele invadiu uma reunião dos Kage das cinco grandes nações no País do Ferro e tentou matar a todos nós. E imagino que isso não tenha sido contado. — Gaara disse.

— Não. Essa é a primeira vez que escuto isso… — Rin disse com uma das sobrancelhas levantadas, então não demorou em dar continuidade. — …mas tenho certeza que meu pai já recebeu o perdão por seus crimes, senão ele não estaria andando por aí, não é verdade? —

— O que você acha disso? — Gaara perguntou.

— Rin não é desse tipo. — Misa disse, desta maneira ganhando a mútua atenção e sentindo as bochechas se esquentarem, por isso continuou. — Desculpe… —

— Não. Por favor, continue. — Gaara disse com um sorriso gentil e gesticulando com sua mão direita de forma a parecer que a loira deveria mesmo continuar, mas assim mesmo acrescentou. — Quero saber o que outras pessoas acham dele. E como você é muito próxima dele… o que pode me contar sobre Uchiha Rakun, líder da Rokujūshi? —

— Cuidado com o que vai falar. — Rin sussurrou. Ele sabia bem a opinião popular que os mais próximos tinham a seu respeito.

— Ele é um preguiçoso incorrigível, gosta de dormir pelo maior tempo possível e tenta ao máximo fugir dos problemas, assim encontrando uma solução plausível para essa fuga: cochilos. Ele esconde muitas informações das pessoas próximas dele, geralmente contando a respeito delas de última hora. — Misa disse e cruzou os braços abaixo dos seios enquanto prestava atenção no Kazekage, sequer se importando com a reação do noivo que parecia bem incomodado, mesmo com o Kazekage soltando um risinho, mas a Yamanaka deu continuidade. — Mas… ele só aceita essa preguiça quando sente-se relaxado, confortável em determinado lugar. Rin é a pessoa mais interessante que já conheci… pois eu poderia dizer tudo o que sei a respeito dele e faltariam muitas outras, mas o que você precisa saber é que ele sabe quando uma coisa está sendo feita de maneira errada… ele é gentil com qualquer um e gosta de crianças… às vezes é um pouco lerdo, mas só acontece quando está confortável. Rin é companheiro e fará o que estiver ao alcance para ajudar e ainda dará seu máximo. Já evidenciei inúmeras vezes sua excelente percepção. De como é amado por todos aqueles que o conhecem a longo prazo, por isso a de se entender que é admirável. Eu poderia mesmo passar o dia falando sobre meu noivo, Kazekage. —

— Isso já é o bastante. — Gaara disse e voltou sua atenção para o rosado que parecia muito envergonhado por aquela descrição. — Você ajudou meus conselheiros. —

— Si-Sim… — O rosado disse e acenou sua cabeça em confirmação a aquela pergunta, assim dando continuidade. — …Saryu-san me considera como seu aprendiz, por isso me ofereceu essa arriscada cirurgia e contou sobre as opções, mas mostrei para ela que havia uma terceira opção. —

— Pode não parecer, mas isso serviu para aproximar mais nossas aldeias. — Gaara disse e estendeu sua mão esquerda para o rosado com a palma aberta e um generoso sorriso, assim continuando. — A Rokujūshi terá aliança com Sunagakure, receberão também uma quantia mensal, mas dependerá de você a forma de gastá-lo. —

— Muito obrigado, mas somente a aliança já era necessária, Godaime Kazekage. — O rosado disse, mas mesmo assim apertou a mão do ruivo em confirmação daquele acordo.

— Vou conversar com os outros Kages, contar a seu respeito e dessa organização, quem sabe abrir um pouco o caminho. É uma boa atitude que você está fazendo e eles merecem saber disso, Uchiha Rakun. — O ruivo disse. E não demorou em continuar quando percebeu um detalhe curioso. — Vocês têm um símbolo? —

"Um símbolo? Há… pensei em tantas coisas, mas acabei me esquecendo do principal que é o símbolo… o que servirá para diferenciar membros de pessoas comuns…" pensou e estava para balançar a cabeça em negação a pergunta, mas acabou se lembrando de algo. O losango púrpuro que ocupava o meio da testa de sua mestra. Ele levou o polegar para os lábios e o mordeu, desta forma causando um sangramento nele e não demorou a usar o sangue para fazer um desenho na mesa que ocupava a xícara do Kazekage que se surpreendeu com o gesto do rosado, mas acabou retornando sua atenção para o que era criado. Havia um losango — que representava o Byakugō no Yin, ou seja, o Iryō Ninjutsu — envolta de um círculo — que representaria o ciclo de bondade mencionada antes — com um triângulo em cima desse círculo e um triângulo invertido em baixo.

— Simples, mas representativo. — Gaara disse.

— Com certeza. — Rin disse e nem mesmo olhou para o polegar que começava a se curar daquela mordida, ele deu continuidade assim que fechou a mão em punho e olhou de relance para a noiva que tinha colocado a mão direita em seu ombro. — Ano que vem os membros serão reconhecidos com isso. —

— Muito bem. — Gaara disse e não levou muito tempo para se levantar e prestar atenção nos dois que lhe encaravam com curiosidade. — Vou até… —

O Kazekage não concluiu seu comentário, não porque houve interrupção, mas porque os dois desapareceram sem qualquer tipo de explicação aparente inicialmente. O rosado ficou um breve momento sem entender o que havia acontecido, assim como a própria noiva que olhava para os lados e levantou as sobrancelhas ao reconhecer a incomum paisagem… a vegetação era incrivelmente alta e com numerosas montanhas ao horizonte. O rosado continuou em silêncio, mas não demorou para que começasse a soar desesperadamente, afinal era a primeira vez que aquilo acontecia com ele.

— Olá, Misa-chan. — Era uma voz particularmente nostálgica. A voz era do próprio Fukasaku, o sábio dos sapos, que estava atrás da garota e usando um manto particularmente velho. Ele sorria com generosidade mesmo sabendo que outra pessoa foi invocada com a garota.

— Onde nós estamos? — Rin sussurrou aquela pergunta para a noiva. Ele engoliu em seco enquanto prestava atenção no sábio dos sapos e em outros anfíbios que estavam em árvores enormes e prestavam atenção nos recém chegados. — Isso foi o Hiraishin no Jutsu? Quando me marcaram? —

— Estamos no Monte Myoboku, querido. E não é o Hiraishin no Jutsu, mas o Reverse Kuchiyose no Jutsu que só deveria me invocar pelo contrato que tenho com os sapos, mas ao que parece… o contato físico o trouxe comigo. — Misa explicou.

— Muito bem dito, Misa-chan. — Fukasaku disse e não demorou em saltar para o ombro da garota e pôr sua mão direita na cabeça dela e fazer uma carícia. — Você cresceu um pouco. Tem se alimentado bem? Shima ficará contente em saber que está aqui… o que acha de ficar para a refeição? —

— Obrigada. — Misa respondeu. E não demorou a se lembrar do desgosto por cada refeição daquele lugar, mas assim mesmo desconsiderá-lo, rejeitá-lo, seria injustiça, por isso sorriu e deu continuidade. — Claro que ficaremos para uma refeição. —

— Isso será ótimo. Shima ficará mesmo contente com mais pessoas! — Fukasaku disse e acabou gargalhando animadamente.

O sapo sábio não demorou a sair do ombro da garota e caminhar à frente deles numa específica direção. O casal caminhava um pouco atrás deles. O rosado prestava atenção em inúmeros sapos de diferentes cores que pareciam entretidos com leitura ou treinamento, até mesmo levantou as sobrancelhas ao se surpreender com um sapo de coloração avermelhada sem brilho, mas ao redor dos olhos, nos lábios e no peito tendo marcas vermelhas mais brilhantes, ao longo do olho esquerdo uma cicatriz e um cachimbo em sua boca, além da única roupa ser um colete azul e que pouco se importava com o aparecimento de humanos naquele lugar. O rosado retornou sua atenção para frente quando recebeu um beliscão de noiva.

— Ele disse alguma coisa? — Rin perguntou.

— Não. Só… tome cuidado com o que dirá, entendeu? As refeições por aqui não são visualmente agradáveis, querido. — Misa disse.

— Visualmente agradáveis? O que está querendo dizer com isso? — O rosado perguntou e levantou uma das sobrancelhas.

— Você verá. Só peço que tenha a mente aberta e evite reações exageradas. — Misa sussurrou, mas acabou retornando sua atenção para o sapo sábio quando se interessou por algo. — Fuka-sama, me invocou aqui por qual motivo? —

O sapo parou de pular, então moveu sua cabeça para o lado esquerdo, assim prestando atenção na garota que também já havia parado de caminhar junto do rosado que era só um intruso naquele território, mas assim mesmo parecia que era bem recebido.

— Ōgama Sennin teve uma profecia com você. — Fukasaku contou.