A noite avançou, tornou-se dia, porém o céu estava nublado naquela manhã, além disso a temperatura tinha baixado um pouco, contudo não era nada significativo. E a Yamanaka foi a primeira a despertar — como era de se imaginar — e sentou-se na cama enquanto o cobertor escondia os seios e usou a mão direita para esfregar seus olhos. Ela não dava a mínima para o cabelo bagunçado. E assim que terminou de esfregá-los, prestou atenção no rosado que dormia pesadamente ao seu lado. O braço de Rin estava esticado para o lado do corpo com a palma aberta e seu cabelo consideravelmente bagunçado, assim como as bochechas estavam ruborizadas e uma expressão um pouco abobada, o que acabou dando a ela uma vontade de gargalhar, mas não o fez por ter um excelente auto-controle. A Yamanaka sabia que precisava de um banho, por isso saiu em silêncio da cama e seguiu para o único guarda-roupa e olhou para as peças e pegou uma camisa preta com o símbolo do clã Uchiha nas costas e uma bermuda verde musgo, além de pegar algumas roupas íntimas que deixava no guarda-roupa para os casos de quando passava o noite naquela casa, então olhou para o rosado que continuava dormindo profundamente e sorriu pelo canto dos lábios, e não se demorou em seguir ao banheiro que era anexado com o quarto.

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O rosado encontrava-se naquele lugar costumeiramente escuro que o chão era uma grande poça d'água, além do céu ser noturno e possuir algumas estrelas. Ele estava sentado e de pernas cruzadas, de costas para a criatura marrom-areia de corpo maciço e uma boca irregular, côncava e sem língua, com a esclera dos olhos sendo preta, com íris amarela e com cada uma das pupilas tomando a forma de uma estrela preta de quatro pontas com quatro pontos pretos, ou seja, na presença da Encarnação da Areia — Shukaku — e lentamente moveu sua cabeça para o lado e inclinou para trás, assim seu cabelo escorria um pouco e o mesmo pode visualizar a conhecida Besta de Cauda e sorriu pelo canto dos lábios.

— É sempre bom vê-lo, Shukaku-sama. — O rosado disse e manteve seus olhos verdes como esmeraldas bem concentrados nos olhos amarelos da Besta de Cauda.

— Digo o mesmo, garoto — Shukaku disse e semicerrou seus olhos amarelados e um sorriso tomou forma em sua boca côncava, então deu continuidade. — Você estará no deserto em poucos dias. Estou certo? —

— É sobre isso que está querendo conversar comigo? — Rin perguntou e levantou suas sobrancelhas, então balançou a cabeça em confirmação da pergunta feita pela Besta de Cauda. — No máximo em dois dias. —

— Isso é ótimo. — Shukaku disse.

— O que está acontecendo? — Rin perguntou e levou a mão para a nuca e usou a ponta dos dedos para coçá-la e acabou suspirando. — Os escorpiões estão causando algum tipo de problema? —

— Eles? Não, não… — Shukaku disse e deitou-se e pôs o cotovelo esquerdo naquele chão incomum e usou a palma para apoiar a cabeça. — Agora são vermes da areia. Os escorpiões-marrons eram os predadores naturais dos vermes da areia, então havia um certo tipo de controle no deserto, mas acabou sendo quebrado com a ausência dos escorpiões, assim fazendo a população dessas criaturas crescer. Mais viajantes são atacados quando tentam se aventurar cruzando o deserto. Em casos normais, eles submergem na areia e atacam os viajantes, muitos são preguiçosos e usam os nutrientes da areia para ficarem alimentados e imóveis por dias e, quando sentem que alguém está se aproximando, cavam um pouco acima dessas pessoas, assim fazendo algo semelhante a areia movediça e a presa é puxada para dentro dela com uma boa quantidade de areia. —

— Vermes da areia? — Rin perguntou enquanto sua expressão se tornava duvidosa, então pôs a mão no queixo e levou o indicador para o lábio inferior antes de acrescentar. — Vou estar acompanhado, além disso a Misa-chan é do tipo sensorial, então não haverá problema com as armadilhas que essas coisas fazem. Eu aceito seu pedido, Shukaku-sama. —

— Há outro problema. A rainha deve ser eliminada para que não haja a repopulação dos vermes, por isso a encontrará numa caverna com inúmeros túneis. — Shukaku disse e abriu um sorriso. Ele parecia estar se divertindo com a entrega daquele serviço para o rosado. — Estou contando com você. Até lá, garoto. —

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O rosado abriu seus olhos. Ele não estava mais naquele lugar que passava o tempo conversando com Shukaku, encontrava-se em seu quarto e mantinha seus olhos verdes bem atentos no teto branco e engolindo em seco enquanto fechava sua mão no lençol e lentamente suspirou. "Os escorpiões eram do tamanho de cavalos, talvez um pouco maiores, mas os problemas deles eram as pinças e o veneno, por isso eram predadores tão bons no deserto. Imagino que esses vermes não sejam tão grandes quanto os escorpiões…" pensou e levou a mão para frente do rosto e fechou seus olhos por um momento enquanto sua mão se movia para trás da cabeça e movendo seus olhos para outro canto do quarto e levantou as sobrancelhas ao reparar em Yamanaka Misa saindo do banheiro com o cabelo molhado e vestindo algumas de suas roupas e os pés descalços.

— Você acordou cedo. — Misa sussurrou enquanto levantava as sobrancelhas, visivelmente surpresa pelo amado ter acordado cedo, mas ao mesmo tempo contente por aquilo ter acontecido.

— Não fui o único. — Rin disse e sorriu pelo canto dos lábios, logo aproveitou para se sentar na cama de pernas cruzadas e levantou o braço ao mesmo tempo que gemia como se quisesse deixar a preguiça de lado. — Ah, acordei! —

— Já era sem tempo. — Misa disse e sorriu pelo canto esquerdo dos lábios, então deu continuidade quando percebeu a concentração dele em si. — O que foi? —

— Não me dará um beijo ou um abraço de bom dia? — Rin perguntou e suas bochechas esquentaram um pouco enquanto aguardava pela resposta e parecia um pouco esperançoso.

— Não. — Misa respondeu e balançou a cabeça de um lado a outro, então usou a mão direita para fazer um movimento como se quisesse que o rosado visse as roupas que a mesma vestia e até mesmo o cabelo molhado. — Tomei banho agora mesmo. Acha que vou abraçá-lo e ficar com o seu fedor? — A Yamanaka perguntou com um tom divertido, mas também como se quisesse fazer uma provocação.

— Não é opcional. — Rin disse.

— Hã? — Misa perguntou.

E não demorou para a loira compreender o comentário do rosado, afinal ele descobrira o corpo e já tinha saído da cama e seus olhos verdes pareciam conter muita malícia e até mesmo divertimento, enquanto que passava a língua por seu lábio superior e mexia os dedos da mão como se estivesse tocando nas teclas de algum objeto. A Yamanaka deu um passo para trás depois de engolir em seco, mas já era tarde demais, afinal o rosado disparou ao seu encontro e passou o braço em torno de sua cintura e a pressionou contra seu corpo e beijou-lhe o pescoço como fizera por muitas vezes na noite anterior. A Yamanaka gargalhava com toda afetuosidade do Uchiha e nem mesmo tentava afastar seu rosto do pescoço, nem relutou quando a mão dele alcançou seu pulso esquerdo e ele a puxou de volta para o banheiro.

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O rosado saiu cheio de vitalidade do quarto quase uma hora depois de acordar. Costumeiramente o mesmo usava uma camisa cinza com uma jaqueta rosa por cima e uma bermuda escura, além das sandálias com abertura para os dedos e um aquecedor preto e desgastado no pulso — um item que esqueceu de levar para o País dos Vales e sentiu saudade em usar — e mantinha o cabelo comprido preso num rabo de cavalo. O rosado pôs a mão na cintura e respirou profundamente, assim sentindo e adorando o aroma de refeição no andar inferior. Ele olhou para trás e sorriu ao reparar em Misa terminando de se arrumar ao pentear distraidamente o cabelo, por isso se aproximou da porta de madeira e escorou-se nela enquanto o sorriso era sustentado mesmo quando a Yamanaka lhe olhou com dúvida enquanto as bochechas dela estavam ligeiramente coradas. Sua noiva sem dúvida era encantadora em todos os momentos. A Yamanaka escolherá usar uma camiseta preta de mangas longas — que iam até abaixo dos cotovelos — e uma calça azul junto de um par de sandálias com abertura para os dedos, além de um anel com uma safira ocupando o anelar esquerdo.

— Você está linda. Não importa o quanto penteie seu cabelo… continuará a kunoichi mais linda desse mundo. — Rin disse e gentilmente encostou sua cabeça na porta e manteve um olhar suave para a noiva.

A Yamanaka soltou um risinho cheio de divertimento, sem dúvida apreciava elogios vindos dele, achava muito bom que mesmo depois de tantos meses juntos o amor, até mesmo a amizade entre eles, não diminuía, na realidade parecia que aumentava. Ela terminou de pentear o cabelo e seguiu em direção a porta enquanto era vigiado por ele e pôs a mão direita no queixo dele e sorriu enquanto a esquerda ficava na cintura. Os dois mantiveram contato visual por alguns segundos.

— Você está babando. — Misa brincou e moveu sua mão direita para cima de forma a fechar a boca do rosado, então passou por ele. — Fará mais alguma coisa? Ou tomaremos café e daremos início a viagem para Sunagakure? —

— Vou comprar alguns mantos para nós. — Rin respondeu assim que fechou a porta do quarto e acompanhou a noiva ao lado dela e pôs a mão no bolso. — Assim ficaremos protegidos enquanto cruzamos o deserto, além disso teremos que nos abastecer de água. —

— Você não tem uma marcação em Sunagakure? — Misa perguntou e não pareceu surpresa por causa da preparação dele para aquela viagem, afinal de contas o mesmo já tinha passado por aquilo algum tempo antes.

— O Hiraishin no Jutsu aprendi depois da viagem para Sunagakure, mas será uma passagem relativamente rápida pelo País do Vento. — Rin respondeu enquanto chegavam aos degraus que os levariam ao andar inferior e gesticulou para que ela fosse na frente. — Só faremos uma parada rápida em Yattsuhoshi para ver como as coisas estão indo, mas será por poucas horas, então seguiremos em frente. —

A Yamanaka aceitou o bom gesto do noivo, por isso começou a descida para o andar inferior e sentiu o agradável e apetitoso aroma da refeição na cozinha… o que acabou despertando seu estômago, por isso fazendo um peculiar barulho que chamou a atenção do rosado logo atrás dela que gargalhou animadamente.

— O batalhão tá solto! — Rin disse com bastante animação. Ele com certeza não pensou bem nas palavras, nem mesmo nas consequências.

A Yamanaka parou de caminhar no exato antepenúltimo degrau. E lentamente, muito lentamente, moveu sua cabeça para o lado esquerdo e assim demonstrou uma expressão realmente diabólica, além de uma aura assassina, caótica, enquanto as veias ficam visíveis e pulsam nos seus punhos fechados com força e na testa. Seus olhos azuis — furiosos como uma tempestade marítima — se concentraram nos olhos verdes a poucos degraus dela.

— O que você disse? — Misa perguntou.

— Ah, merda… — Rin disse.

Shiawase terminava de pôr a garrafa de café na mesa quando deu um pulo depois de escutar um grito masculino duradouro muito perto da cozinha. Ela ficou em dúvida se investigaria o que tinha acontecido, ou se ficaria ali e aguardava pelo pior, e aceitou a segunda ideia que passou por sua mente. E não levou muito tempo para que Yamanaka Misa passasse pelo portal da cozinha com um certo rosado no chão e sendo puxado por seu cabelo, sem contar que um pouco de sangue escorria do canto esquerdo de seus lábios e seu rosto estava cheio de hematomas.

— O que aconteceu? — Shiawase perguntou.

— Seu filho é um idiota. — Misa disse com as bochechas ruborizadas.

— Soco-... socorro, ma-... mamãe… — Rin disse com esforço e direcionando o braço para a mãe como se tentasse realmente alcançá-la em seus últimos suspiros.

— E qual a novidade nele ser um idiota? — Shiawase perguntou.

Rin ficou em silêncio. E pôde ouvir a risada esganiçada de Shukaku em sua mente, além de um "ela tem razão" vindo da Besta de Cauda. O rosado sentiu as bochechas se esquentarem, mas optou pela melhor decisão que era não discutir com duas das três mulheres mais perigosas de sua vida. A Yamanaka o soltou, assim o mesmo pode se levantar e assim cada um seguiu para um lugar na mesa. Shiawase ocupou a ponta direita, Misa ocupou o lado direito e Rin ficou ao lado dela.

— Como está, mamãe? — Rin perguntou enquanto colocava um pouco de café em sua xícara.

— Estou bem. E surpresa pela sua viagem não ter demorado como as últimas. — Shiawase disse e sorriu pelo canto dos lábios enquanto colocava creme de framboesa num pão torrado. — Como foi por lá? —

A Yamanaka ficou em silêncio enquanto colocava um pouco de bacon e ovos mexidos em seu prato e encheu um copo com suco de uva.

— Porque surpresa? Arruinei alguma coisa com meu retorno antecipado? — Rin perguntou e forçou um sorriso mesmo quando sentiu a Yamanaka pisando em seu pé por baixo da mesa.

— Não sei do que está falando. — Shiawase disse e olhou para Yamanaka que depressa levou o copo para os lábios e evitou encarar a mais velha. Shiawase deu continuidade. — Surpresa porque suas viagens duram semanas, dessa vez o tempo foi bem curto. —

— Eu gostaria de saber o que aconteceria se meu retorno fosse em semanas como mesmo diz… — Rin murmurou e bebeu um pouco de café e não sentiu-se incomodado novamente quando a noiva pisou em seu pé.

— Se tem alguma coisa para falar, Katsuryoku Rin, então fale… — Shiawase disse e mirou seus olhos sérios no rapaz e evitou olhar para a Yamanaka.

— Para falar a verdade, eu tenho… — Rin disse e mordeu os lábios quando sentiu o pisão bem forte em seu pé, por isso fechou a mão em punho e rangeu os dentes.

— Estou esperando. — Shiawase disse e semicerrou seus olhos que se concentram única e exclusivamente no rosado, além disso pôs os cotovelos na mesa e entrelaçou as mãos.

"O papai morreu a pouco tempo e você já está saindo com outros homens. Por quantos anos estiveram juntos? Bastaram meses para esquecê-lo?" pensou o rosado que continuou rangendo os dentes e mantendo seus olhos sérios e bem concentrados na mãe adotiva. "Você já o esqueceu?" pensou novamente e fechou a mão com mais força e lentamente baixou a cabeça enquanto sua respiração ficava mais pesada. "Você está saindo com outra pessoa porque quer me esquecer também? Eu te lembro do homem que morreu, não lembro? Você quer uma família nova, quer começar do zero, não quer?" pensou e lembrou-se um pouco da conversa, na realidade uma discussão, que tiveram e que ela mencionou que ele não era seu filho. "Ele não ia querer isso… ele não gostaria de ser esquecido… ele morrerá se for esquecido…" pensou e soltou um baixo gemido.

— Rin? — Shiawase chamou com um tom cheio de seriedade, mas ao mesmo tempo com dúvida, como se quisesse saber se o rosado estava bem.

— Querido? — Misa chamou também, porém parecendo preocupada.

— Eu… — Rin sussurrou e abriu sua mão e a passou pelo cabelo, desta maneira jogando algumas mechas para trás.

"Prometi que tomaria conta dela. E estou tomando, não estou? Ela está triste, por isso estou querendo levá-la para Yattsuhoshi, lá poderá construir novas… ela está triste?" pensou e reparou melhor em sua mãe, desta vez sem ser atingido por raiva ou ciúme, mas com cautela. Ela não possuía olheiras, nem mesmo uma expressão entristecida, parecia a mãe de sempre, por isso suspirou.

— …te amo. — Rin disse e sentiu as bochechas se esquentarem. Ele estava agindo como um idiota enciumado. E deu continuidade depois de beber um pouco da xícara. — Pensei que não me amaria se eu voltasse em semanas. —

— Ah, Rin… — Shiawase disse e sorriu pelo canto dos lábios com nítida afeição pelo filho, por isso deu continuidade quando o viu beber um pouco mais de café. — Você é um péssimo mentiroso. —

O rosado engasgou. E por um momento sentiu que estava de volta ao salão de jantar da residência particular do Daimyo dos Vales, porém com um jogo inteiramente novo. Ele saiu de seu assento e pôs a mão na mesa enquanto continuava olhando para a mãe.

— Eu não estou mentindo quando digo que te amo! Diga para ela, Misa! — Rin disse e olhou para a noiva, mas se adiantou e retornou a atenção para a mãe. — Eu te amo! —

— Isso é verdade. Ele te ama mesmo. — Misa disse.

— Eu sei. — Shiawase disse e sorriu pelo canto dos lábios. E não demorou para continuar quando percebeu uma expressão cheia de curiosidade no rosado. — Você não é o único inteligente da família. Desde que você acordou do coma tenho me encontrado vez ou outra com Shojiki… e não me olhe com essa cara de desgosto, menino… — A mulher disse e sorriu pelo canto dos lábios quando viu o desgosto tomar a expressão do rosado, por isso continuou. — E você não sabia disso porque estava de viagem, mas ela estava por aqui. —

— Eu? — Misa perguntou surpresa.

— Ela? — Rin perguntou surpreso.

— E imaginei que quando retornasse… a primeira pessoa a ver seria ela… e cedo ou tarde acabaria perguntando a meu respeito, por isso tenho a avisado sobre meus encontros. — Shiawase disse e sorriu com um pouco de malícia.

— Você me colocou nisso? — Misa perguntou e levantou as sobrancelhas, visivelmente surpresa por ter participado de algo que nem sabia.

— Coloquei. — Shiawase disse e manteve o sorriso malicioso, mas suavizando um pouco sua voz quando retornou a atenção ao rosado que estava surpreso. — Sei que prometeu para ele que cuidaria de mim, mas… —

— Vai dizer que sabe se cuidar? — Rin perguntou e levantou uma das sobrancelhas, além de um pouco de diversão rondar seus olhos esverdeados.

— Mas você não fez nada. O que mais faz é sair e se aventurar por um tempo indeterminado, então acabo ficando sozinha, desamparada. — Shiawase disse e um pouco de diversão rondou seus olhos, mas depois de um risinho ela deu continuidade. — Brincadeira, mas o que disse é verdade… eu sei me cuidar… eu só precisava de um tempo para assimilar o que tinha acontecido e botar minha cabeça em ordem. —

— E está em ordem? — Rin perguntou ao mesmo tempo que colocava um pouco mais de café em sua xícara.

— Está me perguntando isso por causa da discussão que tivemos? — Shiawase perguntou e baixou um pouco sua cabeça e prestou atenção em suas mãos, então retornou a olhar para o rosado. — Você é meu filho e sempre será parte dessa família, eu… — Ela não concluiu seu comentário.

— Você estava num estágio do luto. Eu compreendo totalmente. E não era disso que eu estava falando. — Rin disse e levou a xícara para os lábios e tomou um gole generoso da bebida escura e forte antes de dar continuidade. — Você já está se encontrando com outra pessoa, então superou a morte do papai? —

— Rin, eu… — Shiawase pôs as mãos com cuidado na mesa e manteve toda sua concentração no rosado que aguardava por uma resposta. — …nunca vou esquecer seu pai. Estivemos juntos por mais tempo que você tem de vida, compartilhamos momentos únicos de alegrias e tristezas. Seu pai tem um canto único em meu coração, saiba que ainda não consigo dormir no meio daquela cama, afinal cada um de nós ocupava um dos lados. —

— O que sente por Shojiki? É o que sentia por papai ou… — Rin perguntou, mas acabou não concluindo seu comentário, afinal olhou para a Yamanaka no momento que ela pisou em seu pé como um aviso. — Que foi? Não tô perguntando nada de errado. —

— Ciumento. — Misa sussurrou enquanto colocava o bacon e os ovos dentro de um pão.

— Shojiki é um amigo. E você não o conhece bem ainda, Rin. Ele também perdeu alguém importante e ocupou sua mente no desenvolvimento do vilarejo que vocês estão indo viver suas vidas. — Shiawase disse e sorriu pelo canto dos lábios por causa da forma que a Yamanaka tratava de corrigir, censurar, o rosado, por isso deu continuidade. — Vocês são fofos quando estão juntos. —

— Eu sei. — Rin disse e pôs o cotovelo na mesa e levou o punho para a bochecha e olhou para a Yamanaka que olhava com muito interesse para algumas panquecas, então continuou com um tom provocativo. — Tô percebendo que a dispensa da casa nova terá que ficar sempre cheia. —

— A culpa é toda sua. — Misa disse enquanto pegava algumas panquecas e colocava nelas o creme de framboesa e até mesmo um pouco de mel.

O rosado ficou em silêncio. Ele olhou para a Yamanaka garfando uma panqueca que estava com mel e o creme de framboesa e levando para a boca e mastigando enquanto as bochechas ficam coradas. "Eca…" ele acabou pensando com um óbvio desgosto, afinal de contas não gostava de doces e com certeza aquela panqueca estava ridiculamente doce.

— E quanto aquele cachorro? — Shiawase perguntou e ignorou a Yamanaka com as bochechas infladas por causa da panqueca que mal cabia em sua boca.

— Sírius? O que tem ele? — Rin perguntou e mirou seus olhos na mãe enquanto bebia mais um pouco de café, então continuou quando se lembrou de algo na noite anterior. — Ele… mordeu alguém? —

— Você mandou que ele mordesse? — Shiawase perguntou e levantou uma das sobrancelhas com um sorriso cheio de divertimento, mas deu continuidade quando o rapaz soltou um risinho cheio de culpa. — Adivinha a minha surpresa quando vi um cachorro no jardim? Ele só levantou a cabeça e me encarou por um tempo e voltou a dormir. Nem mesmo pareceu interessado em mim. —

— Ele é assim mesmo. Pode-se dizer que é minha versão no mundo animal. — Rin disse e soltou um risinho cheio de divertimento e bebeu mais um gole de café. — Ele pode parecer manso, mas sei que na hora certa fará alguma coisa, por isso está comigo. —

— Ele já fez alguma coisa? — Shiawase perguntou.

— Já. Ele mordeu a garganta de alguém que me ameaçou lá no País dos Vales. — Rin respondeu e pegou um pedaço de pão e o levou para a boca enquanto prestava atenção na Yamanaka ao seu lado.

Misa mantinha seus olhos azuis concentrados no noivo. Suas bochechas estavam cheias — e isso era prova mais do que suficiente que havia muita coisa em sua boca — e ainda ruborizadas. O rosado começou a tremer todo e acabou não resistindo, assim começando a gargalhar por causa da situação em que a Yamanaka se encontrava.

— A viagem de vocês. Quando pretendem voltar? — Shiawase perguntou e sorriu pelo canto dos lábios quando a Yamanaka acertava o ombro do rosado com soquinhos.

— No próximo ano. Quero passar o Natal e também o Ano Novo com os amigos que fiz nesse ano. — Rin disse e levou a mão para o cabelo e o coçou antes de retornar a olhar para a Yamanaka e deu continuidade. — Ela estará sempre aqui por causa da academia. Usarei o Hiraishin no Jutsu para trazê-la e levá-la para Sunagakure ou Amegakure, então não me importo de trazê-la para passar o Natal e Ano Novo com a família. O que foi? — Rin perguntou com um pouco de curiosidade quando a Yamanaka pôs a mão direita na vertical e a esquerda na horizontal por cima da direita.

Misa terminou de mastigar e engolir, então pegou o copo preenchido com suco de uva e tomou um generoso gole, não demorou para suspirar em alívio e depositar o copo na mesa.

— Vou passar ao seu lado o Natal e Ano Novo. Quero que seja a última, mas também a primeira pessoa que verei no Ano Novo. — Misa disse e não escondeu a gentileza em seus belos olhos azuis.

— Ah… — Rin sentiu as bochechas se esquentarem e as palavras lhe escaparem da mente.

Ele manteve sua atenção na Yamanaka. Como aqueles olhos azuis cheios de gentileza pareciam convictos, decididos. E ele acabou engolindo em seco e não sabendo mesmo o que dizer para a noiva que continuava lhe encarando. "Pense em alguma coisa. Diga qualquer coisa…" pensou e sentiu um pouco de irritação no momento que uma gargalhada bem familiar ecoou em sua mente, aparentemente a Besta de Cauda estava a divertir-se com a situação. "Você sem dúvida está desocupado. Que tal parar de prestar atenção na minha vida, Shukaku-sama?" pensou, mas aquilo só serviu para a gargalhada ficar ainda mais alta, por isso que ele acabou saindo de seu assento e suspirando.

— Certo. Ahn… estou indo comprar os mantos para nossa viagem e alguns litros de água. — Rin disse enquanto sentia as orelhas ficarem quentes também. Ele não acreditava que mesmo depois de todo aquele tempo ainda ficava envergonhado com situações como aquelas.

— Que horas nos encontramos? Ainda vou arrumar as nossas coisas para essa viagem. — Misa disse enquanto usava um papel para limpar a sujeira que estava em volta de seus lábios.

— Daqui uma hora. — Rin disse.

— Imagino que não o vejo mais? — Shiawase perguntou enquanto girava o copo de suco de uva em sua mão direita e prestava atenção no garoto.

— É por aí… — Rin disse e levou a mão para o bolso da bermuda e suspirou novamente enquanto mais calor chegava em suas bochechas e orelhas, por isso murmurou enquanto fazia beicinho. — …eu não gosto que esteja saindo com Shojiki, mas não serei contra se está fazendo tão bem. —

— Eu não sabia que você tinha um lado ciumento. — Shiawase disse um pouco impressionada, mas também parecendo que estava o provocando.

— Descobri isso ontem. — Misa disse com um nítido divertimento.

— Ah… caladas. — Rin disse, mas obviamente não era um comentário tão sério, afinal havia também divertimento em sua voz.

O rosado seguiu em direção a saída da cozinha. Ele nem mesmo olhou para Misa que voltava a pôr mel e creme de framboesa em algumas panquecas. Ele só ouviu um "até daqui a pouco, querido" de forma atrapalhada da Yamanaka, por isso suspirou e soltou um risinho quando chegou à porta e a abriu vagarosamente e saiu de casa, assim olhando para o lado esquerdo e reparando em Sírius que ainda estava deitado, porém com o olho direito aberto e prestando atenção em quem entrava ou saía de casa. O rosado sabia que podia confiar no cachorro.

— Quer ficar ou me acompanhar? — Rin perguntou, mas moveu a cabeça para o lado e soltou outro risinho quando o cão moveu o rosto para o lado esquerdo e fechou o olho. — Quer ficar e cochilar, né? Eu te entendo. Certo, até daqui a pouco. —

O rosado acenou para o cachorro e aproveitou para deixar o jardim de casa, então pôs a mão novamente no bolso e apressou consideravelmente seus passos, desta maneira tornando sua simples caminhada numa corrida e gargalhando animadamente, afinal nada poderia estragar o rumo de sua vida. Ele aproveitou que estava correndo para saltar, assim alcançando o telhado de uma casa e dando continuidade aos saltos para os próximos telhados.

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O rosado aterrissou numa área comercial de Konohagakure. Ele manteve-se ajoelhado no chão por alguns segundos e ignorou alguns olhares de curiosos. Ele se levantou e olhou em volta de um jeito que o fazia procurar por alguma coisa, reconhecer as várias fachadas de comércios e tentou se lembrar com exatidão qual loja de roupa tinha entrado a algum tempo. E não demorou para esboçar um largo sorriso ao reconhecer aquela em que foi levado em certa ocasião por Misa e onde recebeu os aquecedores que viviam em seus pulsos, por isso apressou seus passos para dentro dela. E como da primeira vez… era muito bonita a loja e tinha um agradável aroma e incontáveis peças de roupa que estavam na moda, assim como várias peças íntimas — masculinas e femininas — que chamaram a atenção do rosado, mas só porque ele acabou imaginando a Yamanaka exibindo-se algumas coisas bem sensuais, no entanto desviou sua cabeça para o lado oposto enquanto as bochechas estavam coradas.

— Foco, Rin. — O rosado sussurrou enquanto fazia beicinho.

— Olá, bem-vindo. — Um atendente disse quase num tom musical assim que se aproximou dele e esfregou as mãos com um sorriso satisfatório. — O que está procurando? —

— Estou atrás de dois mantos. E quero com um tecido que seja fresco, se possível. — Rin disse e sorriu amigavelmente pelo canto dos lábios ao mesmo tempo que piscou inocentemente para o atendente. Seus olhos verdes pareciam brilhar por toda aquela inocência, sem contar que seu cabelo róseo esvoaçou com sutileza.

"Será que o charme dos Uchiha funciona para barganha?" pensou enquanto mantinha toda aquela expressão no atendente que lhe encarou por um breve momento de cima a baixo e levou a mão para o queixo e encostou o indicador com suavidade no lábio inferior.

— Mantos de um tecido fresco? — O atendente perguntou.

— Isso mesmo. Não acho que o sol do País do Vento fará bem para a minha pele, então preciso estar protegido. — O rosado disse e levou a mão para o cabelo e o alisou para trás ao mesmo tempo que soltava um risinho bobo e ligeiramente encantador. — A solidão já me fará um certo mal. Não tendo ninguém para conversar, ou me distrair… —

— Ah, coitadinho. — O atendente disse num tom meloso e levou a mão direita para o peito e usou a esquerda para cobrir a mão direita.

— O que você está fazendo? — Uma voz masculina serena. E não muito distante deles. Era de um homem de cabelo comprido com uma franja lhe cobrindo o olho esquerdo, além de usar vestes desgastadas. Era Sasuke que entrou na loja depois de ver o rosado adentrando. E parecia chocado pela encenação.

— Ah… — Rin disse e começou a suar frio e sua expressão tornou-se a mais idiota possível enquanto suas bochechas se esquentavam.

— Você conhece esse solitário rapaz? — O atendente perguntou mantendo o tom meloso ao dirigir sua atenção para o Uchiha mais velho.

— Solitário? — Sasuke perguntou e levantou uma das sobrancelhas ao mesmo tempo que deixava a mão na cintura.

— Ah… — Rin disse enquanto suava mais e mais, sem contar no calor que se espalhava para suas orelhas. Ele com certeza odiava contar mentiras por causa daquele tipo de coisa que poderia acontecer. Ele olhou para o atendente antes de continuar com um sussurrou. — Os mantos, por favor? —

— Ah, sim! Só um momento. — O atendente disse e aproveitou para se afastar enquanto saltitava alegremente.

Sasuke se aproximou de Rin. E o rosado baixou sua cabeça um pouco e olhou para outra direção enquanto suava mais e mais e mordia o lábio inferior, sem contar nos olhos verdes terrivelmente marejados.

— O que você estava… — Sasuke não concluiu seu comentário. Ele ainda parecia confuso e chocado com tudo o que estava acontecendo.

— …usando o charme dos Uchiha para ter um pouco de vantagem, ou seja, me tornando um monstro. — Rin sussurrou e fechou sua mão em punho ao mesmo tempo que soluçou.

— Isso fará parte dos meus pesadelos. — Sasuke sussurrou.

— Dos meus também. — Rin sussurrou.

— Achei, queridinho! — O atendente retornou todo alegre e pomposo e segurando em sua mão direita dois mantos acinzentados que claramente pareciam e eram novos, então deu continuidade. — Mantos de algodão, sem dúvida serão úteis para você. —

— Quanto? — Rin perguntou. Ele estava disposto a pedir desculpas assim que recebesse a quantia dos mantos.

— Para você? De graça. Saber que estará sozinho numa aventura por aquele malvado deserto me dói o coração, por isso estou dando esses mantos, sem contar que não gostaria que sua pele fosse machucada por aquele sol desgraçado. — O atendente disse com toda inocência e alegria possível.

O rosado ficou em silêncio. Ele com certeza tornou-se um tipo de monstro único ao usar seu charme de família para um serviço como aquele. O mesmo pegou os mantos e balançou a cabeça em agradecimento. "Eu nunca mais volto aqui…" pensou enquanto olhava para o atendente que acenava para ele enquanto o mesmo saia em companhia do outro Uchiha. Rin segurava uma sacola com o nome da loja e dentro havia os recém adquiridos mantos.

— Desde quando você é solitário? — Sasuke perguntou em tom cheio de deboche e provocação.

— Alguém me mate… — Rin sussurrou e desviou seu rosto para outra direção, claramente arrependido dos últimos momentos. Suas bochechas e orelhas voltam a ruborizar e seus olhos novamente marejam.

— Enfim… que bom que o encontrei. — Sasuke disse e sorriu pelo canto dos lábios antes de dar continuidade. — Quero levá-lo para um lugar. —

— Para onde? — Rin perguntou enquanto todo seu ser se normalizava. E curiosidade rondava seus olhos verdes.

Mas o Uchiha mais velho não respondeu e não demorou a saltar para um telhado próximo. O rosado ficou em silêncio e apenas observou, mas acabou suspirando e imaginando o que aconteceria se resolvesse ir atrás da água e esquecer do pedido de seu pai biológico, mas a curiosidade falou um pouco mais alto, por isso acabou desaparecendo da rua e aparecendo num piscar de olhos atrás do Uchiha — tendo-o marcado muito tempo atrás — e acompanhando-o.

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Sasuke levou Rin para um lago que frequentou com seu pai — Fugaku — a muito tempo atrás. Logo atrás daquele lago tinha-se um gramado consideravelmente alto que mais parecia com um morrinho, sem contar num píer de madeira no lago da mesma forma que o moreno ainda se recordava. O Uchiha mais velho parou no fim daquele píer e moveu sua cabeça para o lado direito, assim prestando atenção no rosado que continuava segurando uma sacola e a curiosidade era mantida em seus olhos verdes.

— Porque me trouxe até aqui? — Rin perguntou.

— Perdi a oportunidade de fazer isso com você. — Sasuke disse e sua voz soava com um pouco de amargura, mas a seriedade era mantida, e não demorou para que o mesmo continuasse. — Use o Katon: Gōkakyū no Jutsu. —

— Porque? — Rin perguntou.

— No clã Uchiha… o uso dessa técnica é como um rito de passagem para a maioridade. Aprendi um pouco depois de entrar na academia. — Sasuke disse e lembrou-se da primeira vez que usou a técnica e sorriu pelo canto dos lábios.

"Não é tão impressionante, afinal o clã Uchiha é mais especializado em Katon, mas é de se admirar que recém ingressado na academia já tenha feito uso de um Ninjutsu tão forte…" pensou enquanto olhava para o Uchiha que optava pelo silêncio após sua declaração, por isso que o rosado suspirou e soltou a sacola e levou a mão para o cabelo enquanto se aproximava da ponta do píer e olhava para o moreno que continuava ao seu lado. Os dois cruzam seus sérios olhares por alguns segundos, mas acabou que Rin desviou primeiro e respirou profundamente ao mesmo tempo que formava os selos — Cobra, Carneiro, Macaco, Javali, Cavalo e Tigre — e não demorou para expelir fogo de sua boca, porém o fogo expelido tomou a clássica forma de uma esfera de fogo maciça. A esfera era enorme e realmente impressionante. O rosado interrompeu a técnica e olhou para Sasuke.

— Como esperado do meu filho. — Sasuke disse e sorriu pelo canto dos lábios. Era um sorriso verdadeiro de alegria pouquíssimo visto no Uchiha.

O rosado ficou em silêncio. Ele apreciou aquele sorriso do mais velho e sentiu as bochechas queimarem pouco a pouco, mas também sentiu uma espécie de felicidade, sem contar no coração que acelerou. O rosado desenvolveu um breve sorriso ao mesmo tempo que seus olhos marejaram. Ele não sabia o porquê, mas sentia-se contente com aquilo. Sasuke desfez o sorriso e começou a caminhar para longe do píer e não demorou para ser acompanhado pelo rosado que segurava novamente na sacola.

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E no prazo estimado, Rin chegou no portão de Konohagakure, mas sendo o último a chegar e sorrindo quando observou Misa escorada e de braços cruzados e com sua mochila no chão, sem contar que estava na companhia de Sírius que latia animadamente quando o rosado se fez presente. O rosado algumas sacolas de água e lanches derivados e outra sacola com os mantos.

— Tudo certo? — Misa perguntou.

— Tudo. — Rin respondeu.

O rosado pegou sua mochila e a pôs nas costas depois de guardar dentro dela tudo o que tinha comprado, exceto pelos mantos que não demoraram a serem equipados por ambos. A Yamanaka ocupou o lado direito do Uchiha e não levou tanto tempo para que suas mãos fossem entrelaçadas e os ombros encostados, e não demorou para que a caminhada fosse iniciada.