Era ainda de madrugada. O céu noturno mantinha-se iluminado por uma quantidade absurda de estrelas, além da própria lua, mas isso não significava que o mesmo não acontecia com Konohagakure pois inúmeros postes funcionavam nas ruas, além disso o clima esfriou um pouco… era muito provável que em breve teria-se notícias do inverno, afinal não faltava muito para a chegada de Dezembro e a mudança da estação. De qualquer forma… Misa lentamente ganhava consciência e aos poucos abria seus olhos, assim reparando no teto do cômodo escurecido e movendo sua cabeça para o lado esquerdo e vendo que a porta deslizante do quarto estava aberta pela metade, assim podia enxergar o corredor iluminado. A Yamanaka tentou se sentar na cama, mas acabou sentindo uma pontada de dor em sua barriga e imediatamente levou a mão esquerda para a região e mordeu seus lábios, desta forma se impedindo de qualquer reclamação.

— Não seria bom tentar movimentos bruscos, Misa. — Era uma voz feminina bem conhecida da Yamanaka.

Misa olhou para o lado direito do quarto, observando Shiawase que terminava de pôr uma coberta em Rin que estava adormecido numa poltrona. O rosado estava de boca aberta e um pouco de baba escorria pelo canto esquerdo dos lábios dele, mas dava-se para ver o quão relaxado o mesmo se encontrava, muito diferente da última vez que o viu. E depois a Yamanaka olhou para a Katsuryoku que terminava de ajeitar o cobertor no corpo do garoto.

— Não há ferimentos a serem abertos, pois Sakura tratou pessoalmente de você, por isso terá no máximo uma cicatriz para contar história, mas assim mesmo não é recomendado. — Shiawase disse e olhou para o rosado adormecido por um longo tempo, então sorriu pelo canto dos lábios antes de dar continuidade. — Ele não saiu do seu lado desde que chegou. —

A Yamanaka ficou em silêncio. Ela não sabia identificar o olhar da médica, mas certo que pareciam carregar um peso acima do que a mulher suportava. Misa desviou sua atenção, assim voltando a enxergar o adormecido noivo que esfregava o lado esquerdo do rosto na poltrona. A Yamanaka sentiu vontade de gargalhar, mas sabia que aquilo acarretaria em dor e provavelmente faria o rosado acordar, por isso conseguiu se censurar e mordeu novamente seus lábios.

— Eu acredito mesmo que não tenha saído. Até parece que arranjou uma posição confortável nessa poltrona. — Misa sussurrou e passou a língua entre os lábios superiores e inferiores, ambos ligeiramente ressecados. Ela sentia que sua garganta estava um pouco seca. — Pode me dar um pouco de água? —

— Sem problema. É culpa dos efeitos colaterais de alguns remédios. Tem sorte por não acordar enjoada. — Shiawase disse e apontou para o balde de lixo que estava no canto esquerdo da cama.

A Yamanaka olhou para o lado esquerdo e levantou uma das sobrancelhas. Se havia um balde por ali, então sem dúvida alguma enfermeira teria história para contar, quem sabe até mesmo a responsável pela limpeza dos quartos. Ela voltou seu olhar para o rosado que continuou dormindo e lembrou-se de como o mesmo ficou sério no reencontro, de como parecia ameaçador. E tudo isso porque a mesma se machucou no confronto com Death. A Yamanaka retornou sua atenção para a porta, assim encarando Shiawase retornando com um copo grande de água e levando para ela e estendendo a mão que carregava o copo d'água. Misa pegou o copo e levou para perto dos lábios, assim molhando-os e hidratando-se. Ela olhou para a médica que continuava ao seu lado esquerdo.

— Posso fazer uma pergunta? — Misa perguntou.

— Sim, pode sim. — Shiawase disse.

Ela certamente achava que a Yamanaka perguntaria sobre os parentes. E estava pronta para anunciar que a cirurgia de Kaisō — usando o Chikatsu Saisei no Jutsu — acabará a menos de duas horas e que o irmão foi selecionado para um tratamento psicológico, assim quem sabe quaisquer problemas resultados dos últimos acontecimentos não o afetariam futuramente.

— Vocês dois. O que aconteceu? — Misa perguntou aos sussurros e com um pouco de curiosidade.

— Ah, sobre isso. — Shiawase sussurrou com um pouco de desapontamento.

— Ele me disse que você estava o evitando, Shia-san. E obviamente não é o que presenciei a poucos instantes, pois está cuidando dele. Então? — Misa perguntou aos sussurros.

— Você ainda é muito criança para entender. — Shiawase sussurrou.

— Hm, não sou. — Misa disse aos sussurros e voltou a beber um pouco d'água sem desviar sua atenção da médica. — Se contar, quem sabe posso entender, Shia-san. Então, o que aconteceu? —

— Antes… é verdadeira a história sobre uma casa longe de Konohagakure? — A médica perguntou sussurrando e cruzou os braços abaixo dos seios.

— Sim. Num vilarejo chamado Yattsuhoshi, bem pacífico para todos nós. — Misa respondeu ainda aos sussurros e concentrou seus olhos azuis na médica, então continuou. — Então? —

— Estou passando por um momento bem difícil da minha vida. Por muitos anos não era apenas eu, mas de certa forma tinha um marido e um filho, então descobri que esse filho havia morrido recém nascido e não muito depois meu marido adoeceu e escolheu a morte. Ou seja, estou sozinha. — Shiawase respondeu enquanto sussurrava e levou a mão direita ao cabelo e o coçou enquanto suspirava, então continuou. — Chorei tudo o que podia dentro de casa, até pensei nas coisas mais absurdas possíveis, mas… não parecia certo. —

— Shia-san, você… — Misa sussurrou com espanto. E não teve a oportunidade de concluir seu comentário.

— Sim. Essas coisas ocuparam meus pensamentos todas as manhãs, mas sou mais inteligente do que esse poço de amargura. — Shiawase respondeu e levou a mão direita ao peito e a fechou em punho enquanto engolia em seco. — Por favor, não conte para ele. —

— Não vou contar. — Misa sussurrou.

— Eu acabei deixando outro tipo de sentimento me guiar. E aos poucos fui o deixando de lado. Não ligando tanto assim para suas ideias ou para as mudanças que prometia em respeito daquele esquadrão. Puxa vida, como estou orgulhosa dele ter salvo a vida do Daimyo do País dos Vales e do próprio querer uma reunião, além disso o Kazekage tem esse mesmo interesse. Que mãe não estaria orgulhosa de seu filho, Misa? — Shiawase sussurrou e levou a mão direita para os olhos e secou as lágrimas antes delas escorrerem completamente, então deu continuidade. — Eu simplesmente pus esses sentimentos bem fundo e outro sentimento continuou me guiando. E hoje descobri que estava com raiva. —

— Porque? Está com raiva dele?— Misa perguntou.

— Estou com raiva de mim. — Shiawase respondeu.

— Como assim? — Misa perguntou.

— Eu estagnei, mas ele continuou seguindo em frente após o… acontecido — Shiawase disse. E obviamente que era muito difícil para ela mencionar que o "acontecido" era a morte do marido. Ela deu continuidade. — Ao mesmo tempo que estou contente pelo que ele está fazendo, estou com raiva de mim por não ter feito nada além de chorar e ter pensamentos terríveis. E hoje, ou ontem no caso, não me aguentei ao vê-lo e insistindo numa conversa. E disse a ele coisas horríveis que nenhuma mãe poderia dizer. —

— O que? — Misa perguntou e novamente levou o copo d'água para os lábios e tomou outro gole.

— Está cheia de curiosidade hoje, não é mesmo? — Shiawase disse aos sussurros e levantou uma das sobrancelhas, porém forçou um fino sorriso em seus lábios. — Não importa mais o que disse para ele, não tenho como retroceder e me calar, mas posso tentar solucionar o que causei. Eu só peço para que você não diga uma única palavra sobre a nossa conversa. —

— Já disse que não vou contar. — Misa disse.

A Yamanaka continuou deitada. E quando o silêncio da conversa avançou foi que sentiu novamente o cansaço. Seu corpo ainda não estava muito bem, por isso imaginou que não demoraria muito para cochilar. E antes que percebesse o copo d'água não estava mais em suas mãos, e percebia o quão difícil era para manter seus olhos abertos. Ela só olhou para Shiawase que continuava com um sorriso fraco enquanto esperava pela mesma se entregar ao sono. E assim a Yamanaka cochilou.

[ ۝ ]

O rosado saiu do Hospital de Konohagakure por volta das nove e meia da manhã, obviamente descontente já que não teve oportunidade de contestar ou de esperar para que sua noiva acordasse. Ele tinha um rumo antes de retornar para sua casa — dos Katsuryoku, que estranhamente Shiawase disse que ele podia ir quando o encontrou no corredor — que era a casa do Hokage, pois o mesmo tinha um assunto a ser tratado com o garoto. Rin abriu sua boca e bocejou por longos quinze segundos e depois levou a mão esquerda ao cabelo bagunçado e o coçou. Ele levou as mãos aos bolsos da calça e formou um bico com seus lábios.

— Que saco… eu queria estar ao lado dela quando acordasse, mas isso não vai acontecer. — Rin murmurou com um óbvio descontentamento.

Ele iria continuar calado pelo resto da viagem até sua casa, porém se interessou por uma incomum conversa que estava acontecendo numa passarela acima dele, além disso reconheceu algumas das vozes, até por isso que saltou e alcançou a parede lateral esquerda de um prédio e imediatamente concentrou chakra nos pés para não cair, então pulou novamente e levantou os braços, desta maneira alcançando os apoios de braços da passarela e imediatamente girou e passou para o outro lado, mas sentou-se e cruzou os braços e observou a pequena reunião de Genin que estava acontecendo por ali. Ele reconhecia que quatro deles eram Denki Kaminarimon, Metal Lee, Cho-Cho e Iwabe Yuino, o restante não foi difícil reconhecer por causa dos símbolos de clã em suas roupas, eram Yamanaka Inojin e Nara Shikadai. Os garotos pareciam se divertir com o típico jogo de cartas, mas também conversavam sobre algo muito incomum.

— Falo sobre o Kawaki. — Inojin disse a respeito de uma pergunta de Denki, então deu continuidade quando a atenção de todos pairou sobre ele. — O Sétimo Hokage parece estar sempre de olho nele, mas devemos confiar nele tão facilmente? —

— Está falando que ele pode ser um espião inimigo? — Shikadai perguntou.

— Meu pai fica de olho em coisas suspeitas porque é trabalho dele, mas parece que ele confia nele em nível pessoal. Por outro lado, minha mãe fica me dizendo para eu não me aproximar. — Inojin disse.

— Ah, Rakun! — Cho-Cho disse assim que reparou no rosado sentado e de braços cruzados, então continuou. — Veio me ver? —

— Ahaha… pode-se dizer que sim. — Rin respondeu com apenas intenção de agradar a Akimichi, mas então continuou assim que mirou seus olhos esverdeados em Shikadai e Inojin, no entanto sabendo que os outros ouviriam. — Eu duvido que essa pessoa seja um espião, mas cuidado nunca é demais. Entendem o que estou dizendo? Por exemplo… peguem os pequenos detalhes das ações cotidianas dele ou informações que ele deixe escapar, mas para isso precisam estar perto dele. —

— Ser lindo não é um crime! Acho que é incrível ele ser tão legal e misterioso. Eu o conheci a algum tempo e achei ele bem legal. — Cho-Cho disse alegremente depois de levar algumas batatinhas para a boca.

— Rakun pode ter razão. — Shikadai disse.

— Parece que a relação dele com o Boruto está melhorando também. — Denki disse.

— Sei lá… não curto muito ele. — Iwabe disse.

— Não? E eu achando que pessoas legais costumavam se entender mais fácil, assim como são os idiotas. — Rin disse.

— Ah, Rin-san me acha legal? — Iwabe disse com um pouco de empolgação e tendo suas bochechas ruborizadas.

"Rin-san?" o rosado pensou e apenas respondeu com um sorriso semelhante ao que havia entregado para Cho-Cho. Iwabe que se virasse para entender aquele tipo de resposta.

— Foco… — Inojin disse assim que viu que Iwabe está distraído. — ...porque não gosta dele? —

— Ah, bom… — Iwabe voltou sua atenção para o Yamanaka. — ...eu vi ele a alguns dias com o Sétimo Hokage… ele não foi nada amigável. Ele me olhou como se fosse me morder. —

— É assim que você era no começo. — Denki disse.

O rosado se esforçou em não rir daquela resposta ou da reação dos outros — até mesmo de Iwabe — e só olhou para a rua abaixo da passarela, assim observando as pessoas passando com tranquilidade e aproveitando o dia. A atenção dele retornou para o sexteto. Rin aproveitou que eles estavam se divertindo para jogar o corpo para trás, desta maneira caindo da passarela, mas chegando em segurança no chão e levando as mãos aos bolsos da calça e continuou sua caminhada até a casa do Hokage.

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Alguns minutos depois… Misa acordou um pouco assustada e desta vez conseguiu sentar-se na cama. Ela pôs a mão direita fechada em punho no peito e a mão esquerda perto da boca. A expressão da garota era de choque e engoliu em seco, tudo isso por causa das suas habilidades sensoriais.

— Que Chakra sinistro é esse? — Misa sussurrou para ninguém em particular, além disso um pouco de suor frio começou a escorrer pelo seu rosto. Ela estava assustada com algo que sentia em algum lugar de Konoha.

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Rin estava em silêncio. Ele chegou à vizinhança da família Uzumaki e encontrava-se no telhado de uma casa vizinha, agachado e com seu Sharingan ativado e observando um confronto que estava acontecendo no jardim da casa Uzumaki. Ele enxergava Konohamaru enfrentando um desconhecido de cabelos longos e que vestia uma espécie de túnica, os dois usando meramente Taijutsu por um certo tempo até que de alguma forma algumas estacas negras perfuraram o corpo do Sarutobi. O mesmo já tinha acontecido com o Sétimo Hokage. O rosado ficou em silêncio e mordiscou seus lábios e fechou suas mãos em punhos. "Ele está encolhendo essas coisas" pensou o rosado que observou o desconhecido entrando na casa acolhedora e Naruto fazendo isso alguns momentos depois. E os dois saíram logo em seguida, contudo o Hokage mantendo aquela transformação que havia usado para testá-lo e o desconhecido tentando acertá-lo com estacas. A atenção de Rin se desviou por um segundo para um garoto de cabelos negros que saia da casa e tentava conversar com o desconhecido, mas aquilo pareceu só irrita-lo. "Ótimo, agora dá para atacá-lo… ele pode se distrair por causa das suas emoções… eu acho…" pensou o rosado que engoliu em seco e teve seu corpo tomado por eletricidade e seu cabelo se arrepiou um pouco — Raiton: Hageshi Senkō — e assim disparou de encontro ao trio no momento que algo saia da mão do desconhecido.

— Shannaro, Kuso Baka! — Rin gritou.

— Rin, não! — Naruto disse quando percebeu a chegada do garoto.

Porém, era tarde demais. Rin já estava ao lado do Uzumaki e terminava de dar um chute no garoto, desta forma jogando-o para dentro da casa. Rin, Naruto e Jigen desapareceram do gramado e até mesmo de Konoha, mas apareceram alguns segundos depois numa dimensão de céu roxo e com um terreno bem rochoso. Rin cairá ao lado de Naruto e os dois já haviam se levantado quando o desconhecido pôs as solas dos pés no chão com suavidade.

— Que inconveniente. — O desconhecido disse e mirou seus olhos com certa calma no garoto.

Rin engoliu em seco. O olhar do desconhecido podia ser calmo, mas de alguma maneira entendeu que acabaria morrendo se fizesse alguma besteira.

— Onde estamos? — Naruto perguntou.

— Em outra dimensão. Um mundo sem a Vila da Folha. Certo, isso é um adeus, Uzumaki Naruto. Vou deixar vocês aqui. — O desconhecido disse.

— O que? — Rin perguntou.

— Tomem cuidado, Sétimo Hokage… garoto inconveniente. — O desconhecido disse enquanto entrava num portal negro.

— Espere! — Naruto disse.

O rosado foi o primeiro a perceber. Eles não estavam exatamente sozinhos. Isso porque Sasuke logo se uniu a eles, porém chegou dando uma voadora no desconhecido que o afastou o suficiente.

— Você se descuidou, perdedor. — Sasuke disse de costas para o Uzumaki, mas movendo seu rosto e encarando o garoto que o acompanhava. — O que está fazendo por aqui? —

— Nem eu sei… — Rin sussurrou.

— Ninjutsu de Espaço-Tempo… Uchiha Sasuke. Você rastreou o Chakra do Hokage até aqui? Perfeito. Vou dar um fim aos dois aqui mesmo. E quanto ao garoto… que apodreça aqui. — O desconhecido disse. Ele não parecia se importar pelo garoto possuir o Sharingan assim como o moreno que acompanhava o Sétimo Hokage.

— Rakun, tome distância. — Sasuke ordenou.

— Ah, certo. — Rin disse e desviou sua atenção por um momento para o Uchiha mais velho, então continuou. — Ele tem uma habilidade, Sasuke-san. Ele está encolhendo matéria… — O rosado percebeu que a atenção do Sétimo Hokage estava nele e com uma expressão mista de surpresa e cautela. — ...ele está usando estacas que no início são pequenas e você nem percebe que foi atingido. Mas elas podem causar ferimentos mortais quando são revertidas ao tamanho original. —

— Esse é o meu garoto. — Sasuke murmurou com um pouco de orgulho do rosado.

— Impressionante. A habilidade visual do seu Sharingan certamente é grandiosa, mas o que é mais impressionante é sua calma e percepção, garoto das cerejeiras. — Jigen disse e estendeu o braço esquerdo à frente do corpo com a palma aberta antes de continuar. — Acho que sei quem devo matar primeiro. —

Rin ficou em silêncio. E não teve nem mesmo a chance de murmurar um "merda" ou coisa do tipo, apenas o tempo para se proteger e pôr os braços à frente do rosto. E então inúmeras estacas negras surgem e perfuram seu braço esquerdo e ele rangeu os dentes para evitar qualquer som. E não teve a chance de reagir quando o inimigo avançou até ele e somente moveu a perna direita e acertou seu estômago com um chute. Sangue escorreu da boca do garoto quando o mesmo sentiu a dor local. E com aquele único chute ele foi jogado para longe do terreno baixo que antes se encontrava com os outros.

— RAKUN! — Sasuke gritou.