Quatro dias depois. O céu já estava com um tom alaranjado e muitas crianças retornavam para suas casas acompanhadas por suas mães. O tempo estava agradável para uma caminhada por algumas das áreas de Konoha, mas não era essa a ideia de Rin que já estava na Vila da Folha a pouco mais de quinze minutos e levantando uma das sobrancelhas por perceber que sua casa estava trancada. Até mesmo as janelas — de todos os cômodos — foram fechadas, desta maneira impossibilitando a entrada e saída de qualquer um. Até mesmo a dele que não avisou que retornaria naquele dia. Ele levou a mão direita para o cabelo e o coçou com a ponta dos dedos, suspirou com um certo incômodo e olhou para duas direções bem específicas. Ele poderia seguir para o hospital e encontrar com sua mãe por lá e assim ter a chave de casa, ou poderia ir ao apartamento de Sakura — consequentemente sua mãe biológica — e encher seu estômago com qualquer coisa, afinal estava faminto. Ele suspirou e sentiu as bochechas se esquentarem por pensar na segunda família, mas não rejeitou a ideia. Ele olhou uma última vez para a porta de casa e depois para as janelas, certificando-se de que as luzes estavam apagadas, então desviou sua atenção e suspirou. "Poderia ir para casa de Misa, mas aí teria que lidar com Usugurai e Miura, e não tô com vontade para isso no momento" pensou o rosado que agitou seus ombros e deu início a sua caminhada para o apartamento.

E não deu outra. Em quinze minutos ele já estava de frente para a porta do apartamento, sua mão direita fechada em punho e ele se decidindo se bateria ou não na porta. E quanto mais pensava naquilo, mais sentia-se envergonhado por estar ali e não em qualquer outro lugar. O rosado mordeu seus lábios e sentiu uma imensa vontade de bater com sua cabeça inúmeras vezes em qualquer lugar. "Isso já está sendo irritante" pensou e engoliu em seco, então corajosamente bateu na porta e um arrepio se espalhou pelo corpo no momento que escutou Sakura gritando do interior um "Já estou a caminho", mas acabou decidindo por esperar e sorriu pelo canto dos lábios quando a porta foi aberta pela kunoichi das lesmas que não escondeu a surpresa ao revê-lo.

— Rakun!? — Sakura disse e levou a mão direita para frente da boca. Ela parecia contente em revê-lo. E continuou assim que deu espaço para ele entrar no apartamento. — Quando retornou? —

— A alguns minutos. — Rin respondeu e olhou para o corredor que levaria para dentro do apartamento, depois olhou para a kunoichi que esperava por ele entrar no domicílio. — Está ocupada? —

— Estou preparando o jantar. Sarada retornará a qualquer momento e Sasuke-kun está no sofá. Vamos, entre de uma vez. — Sakura disse e levou a mão direita para a cintura enquanto seus olhos esverdeados continuavam concentrados no garoto.

— Ah, tudo bem… — Rin murmurou e deu um passo adiante e por um momento sentiu alguma coisa diferente. Ele retirou suas sandálias escuras e deixou-as na entrada e depois olhou para Sakura que continuava olhando-o. — Eu cheguei. —

— Hehehe… — Sakura soltou um risinho e levou suas mãos para as bochechas do rosado, então continuou ao olhá-lo com a gentileza costumeira e sussurrou as próximas palavras. — ...seja bem vindo em casa, Rakun. —

Ele ficou em silêncio, mas sentiu quando suas bochechas esquentaram, até mesmo desviou seu olhar e por um momento achou o assoalho muito mais interessante do que da primeira vez que apareceu no apartamento. Ele usou sua mão direita para afastar as mãos de suas bochechas, então se virou e mordeu os lábios para esconder um sorriso e seguiu caminhando pelo corredor enquanto Sakura andava logo atrás dele, observando a postura do mesmo, mas também reparando em como o cabelo dele crescerá um pouco mais desde a última vez que se viram. O rosado caminhou por alguns segundos e só parou ao se deparar com a sala de estar do apartamento e com Sasuke sentado no sofá com um jornal em seu colo, o mesmo lhe lançou um calmo olhar e depois voltou sua atenção para o que estava lendo.

— Soube o que andou fazendo. Meus parabéns por ter ajudado o Daimyo do País dos Vales. — Sasuke comentou.

— Isso realmente virou notícia? — Rin perguntou e levou a mão direita ao estômago no momento que fez-se um barulho consideravelmente alto. — Desculpem, eu… —

— ...acabou de chegar de viagem. Não tem problema, Rakun. — Sakura comentou ao mesmo tempo que passava por ele e seguia para seu espaço com intenção de ir continuar o preparo do jantar. — Retire seu manto e deixe-o dobrado em algum lugar. —

— Ah, certo… — Rin murmurou, mas lembrou-se do que estava vestindo por baixo do manto, mas não sentiu-se tão incomodado, por isso que o tirou e o dobrou cuidadosamente.

Sasuke esboçou uma breve reação. Ele levantou uma das sobrancelhas. E até mesmo Sakura se concentrou no rosado que retirou o manto. Isso só estava acontecendo porque Rin usava uma camisa cinza com uma jaqueta vermelha de gola alta por cima, mas o curioso era o que havia na jaqueta. Lá encontrava-se o símbolo do clã Uchiha e bordado muito recentemente. Sasuke contemplou o símbolo de seu clã por alguns segundos, então desviou sua atenção para Sakura e sorriu discretamente para ela. Rin sentou-se ao lado do moreno e coçou uma das bochechas ligeiramente coradas.

— Soube que esteve com Orochimaru. — Sasuke murmurou. Sua voz soando mais como de alguém cauteloso e curioso. Seu olho ônix se concentrou no rosado ao lado.

— Ah, sim. Acho que Sarada comentaria em algum momento, né? — Rin disse e coçou uma das bochechas coradas e soltou um risinho como se achasse divertida a ideia da garota explanando sobre ele. — Sei que não gosta dele, Sasuke-san, mas tem coisas que precisava saber, por isso fui até ele. —

— E o que seriam? — Sakura perguntou.

— Hm… — Rin murmurou. E pelo silêncio e concentração do moreno ao seu lado, imaginou então que Sasuke tinha a mesma curiosidade. — ...as células de Senju Hashirama. É muito interessante estudar sobre elas, além disso começamos a desenvolver braços artificiais para algumas pessoas em Amegakure, sabe? Levará umas semanas para a conclusão, mas é tempo mais do que suficiente. E também me ajudou a melhorar algumas das habilidades do Sharingan confrontando um cara grande chamado Juugo. Ele é um cara gentil, mas quando assume uma transformação vira um sujeito muito perigoso. —

— Houve algum incidente com Orochimaru? — Sasuke perguntou e semicerrou seus olhos. Ele tentava enxergar alguma coisa no ombro do garoto, mas por conta da roupa não era possível, por isso resolveu perguntar.

— Já li sobre a Marca da Maldição, tanto na escola quanto em alguns livros no laboratório dele. Nós ficamos sabendo sobre Orochimaru na academia, Sasuke-san. E não tivemos nenhum incidente. — Rin disse.

— O que pretende fazer agora? — Sasuke perguntou e olhou para o jornal, mas para sua infelicidade não era aquele que tinha a notícia a respeito do Daimyo, por isso continuou. — O Kazekage e o Daimyo do País dos Vales buscando uma reunião com você. —

— Preciso de alguns dias para pensar, mas é certo que vou querer essa reunião. — Rin comentou e levantou uma das sobrancelhas ao ouvir a porta de entrada sendo aberta, então ouviu alguns passos e enfim olhou para Sarada que surpreendeu-se com ele. — E aí, Sarada-chan. —

— Rin-nii-san! — Sarada disse com ânimo.

— O jantar está pronto. — Sakura disse.

E todos foram para a mesa pequena e ocuparam os assentos. Sarada ficou ao lado de Sasuke, então Sakura ficou ao lado de Rin. O que havia para cada um eram tigelas de arroz, um peixe devidamente cheiroso e bem preparado, um molho que deveria ser usado para o peixe.

— E aí, ficou bom? Ficou? — Sakura perguntou.

Sarada comeu primeiro. E mastigou cuidadosamente. Rin sorriu pelo canto dos lábios pois era a primeira vez que viu a kunoichi das lesmas com aquele tipo de empolgação.

— Muito bom! Aprender a cozinhar mais pratos enquanto o papai não estava valeu a pena! — Sarada disse.

O rosado levou o punho direito fechado para a boca no momento que começou a rir daquele comentário, porém alterou para uma tosse assim que sentiu a atenção indesejada de Sakura em suas costas.

— Ei… — Sakura disse, mas então voltou sua atenção para Sasuke e Rin por último.

Os dois se olham, suspiram e levam os hashis com peixe e arroz para suas bocas, mastigam cuidadosamente sob o atento olhar da kunoichi das lesmas.

— Está delicioso, Sakura-sama. Você precisa me ensinar a cozinhar em algum momento. — Rin disse.

— Eles estão certos, está ótima a comida. — Sasuke comentou.

— Sério? Ah, pare! — Sakura disse sem conter sua empolgação, então continuou. — Comam mais, andem! —

— Poxa… pare de agir como se fossem recém casados… — Sarada disse com um pouco de divertimento, gostando um pouco de ver sua mãe em polvorosa.

O rosado sorriu pelo canto dos lábios, tendo de concordar com o comentário de Sarada, mas assim como Sasuke os dois continuavam comendo em silêncio. A atenção do rosado continuou em Sarada no momento que ela disse algo interessante.

— Tenho um favor a pedir. — Sarada disse.

— O que foi? — Sasuke perguntou.

— Treinamento de Chidori… quero mesmo que você me ensine! — Sarada disse.

— Verdade! Você já está com seu segundo tomoe, Sarada-chan. — Rin disse enquanto mastigava e apontava um hashi para a morena, então abaixou sua cabeça no momento que recebeu um soco leve da kunoichi das lesmas, então sussurrou. — Que foi? —

— Não fale de boca cheia, além disso é feio apontar, Rakun. Tenho certeza que se lembra de bons modos. — Sakura disse com um olhar sério, mas então voltou sua atenção para a garota. — Sarada, você… —

— Não posso ficar para trás. — Sarada disse.

O rosado olhou para Sasuke, mas este nem pareceu se interessar por seu olhar, em vez disso o moreno olhou para Sakura que acenou, assim confirmando alguma coisa que o rosado não soube exatamente o que era. "É pau mandado também?" o rosado pensou.

— Um rival que fará você melhorar… é isso, então? — Sasuke perguntou.

— Hã? — Sarada perguntou.

— Não, nada. Não preciso mencionar isso, mas o treinamento será mais intenso que da última vez! — Sasuke disse.

— É isso mesmo que eu quero! — Sarada disse empolgada.

Sakura sorriu com a empolgação da filha. Rin parou de comer e dessa vez reparou que Sasuke o encarava como se esperasse por alguma coisa. O garoto engoliu em seco e balançou a cabeça de um lado a outro.

— Eu já tenho um avançado conhecimento de Iryō Ninjutsu, técnicas de vários elementos e únicas que dependem do Sharingan e do Mangekyou Sharingan, acho que não há necessidade de inserir o Chidori em meu arsenal, Sasuke-san. — Rin disse. Apesar das palavras que usou, não parecia ter intenção de querer se gabar. E todos compreenderam.

— Vamos, nii-san! Me acompanhe nesse treinamento, por favor! — Sarada disse e levou as mãos para a mesa e aumentou um sorriso enquanto seu olhar era suplicante.

— Ah… — O rosado murmurou e coçou uma das bochechas, suspirou e sentiu-se deveras derrotado, por isso continuou. — ...me ensine o Chidori, Sasuke-san. —

"Eu virei um pau mandado da minha própria irmã" pensou, sentindo-se um pouco inconformado, piorando só quando Sakura gargalhou de sua situação, mas não parecia que era para ofendê-lo. Os quatro continuaram a refeição e até conversaram sobre o que fizeram naquele dia, mas Rin não tinha muito o que contar, por isso apenas se inteirou do que acontecia com a equipe de sua irmã. E o próprio rosado acabou dormindo naquele apartamento, mas obviamente que optou por fazer isso no sofá já que não haviam quartos suficientes.

[ ۝ ]

Miura estava distante de Konoha, mas não dava a mínima para o detalhe. Ele mantinha-se sentado a algumas horas num galho de árvore enquanto seus olhos amarelos — como ouro — prestavam atenção no urso-negro de três metros e sessenta e dois centímetros que terminava de deliciar-se com uma truta adulta. Aquele era o quarto e último dia que seguia o animal, por isso seria naquela noite que o mataria. Ele levou uma adaga para a boca e abocanhou o cabo, pôs adagas entre os os dedos — uma entre o dedo médio e indicador e outra entre o dedo anelar e o mindinho — de cada uma das mãos. Ele ainda contava com mais de uma dúzia de adagas dentro de sua jaqueta feita de pele de urso-negro. O Yamanaka saltou do galho da árvore e aterrissou agachado e com as pernas afastadas e os joelhos dobrados e ganhando a atenção do urso que lhe olhou com interesse. Miura levantou seu rosto muito devagar e sorriu o máximo que pôde ao animal.

E então ele atacou. Ele moveu os braços para deixá-los ao lado do corpo e eretos, depois moveu-os para trás e depois para frente, soltando as adagas e lançando-as de encontro ao urso. Uma delas acertou o olho direito do animal enquanto uma lhe cortou de leve a orelha direita, as outras duas passaram longe do urso-negro, mas Miura viu exatamente onde foram. Ele retirou a adaga que estava em sua boca e olhou para o animal grande que ia em sua direção. Era nítido como o urso ficou bravo depois de perder seu olho direito. E agora o esbravejante animal seguia de forma quadrúpede em sua direção com a bocarra aberta e urrando para ele.

O urso-negro tentou abocanha-lo. E Miura desviou movendo-se para o lado direito dele ao mesmo tempo que usava sua adaga para cortar-lhe parcialmente o rosto, mas não acertando o olho bom do animal. Ele cortou os lábios por quinze centímetros do urso-negro quando teve a oportunidade, certificando-se de fazer um corte que em diagonal. E depois usou seu pé direito para chutar o ombro do animal, usando-o como apoio para afastar-se e semicerrou seus olhos ao pousar a cinco metros do urso-negro que tinha agora um ferimento nos lábios por onde escorria sangue.

— Heh, você tá com um sorrisinho. Vou me certificar de fazer o mesmo do outro lado. — Miura disse e girou entre os dedos a adaga com manchas de sangue na lâmina.

Miura podia ter a desvantagem de altura — apenas um metro e cinquenta e dois centímetros — contudo era dotado de agilidade. Aperfeiçoou-se para depender apenas dela, por isso sua força de ataque era pouca, mas acertando nos lugares certos poderia criar uma boa vantagem. Ele só precisava que o urso-negro lhe atacasse enquanto estivesse em pé, por isso tentava irrita-lo. O Yamanaka olhou de relance para trás e semicerrou seus olhos e tentou adaptar-se à escuridão para enxergar entre as árvores e moitas, mas não enxergava nada que o prejudicasse, então retornou sua atenção ao urso e suspirou. E ele olhou para o animal avançando novamente e tentando abocanhá-lo, mas aquilo não funcionou da primeira, então quem dirá que funcionará da segunda. Miura não desviou pelo lado direito como antes, dessa vez optou pelo esquerdo e voltou a chutá-lo para tomar distância.

— VAMOS LÁ, COISA GORDA E FEIA! CAI DENTRO, PORRA! — Gritou.

O urso-negro ficou em pé. E acreditou que teria alguma vantagem com o humano se ficasse bípede. E assim avançou de encontro ao garoto muito menor do ele e moveu sua pata direita para atacá-lo, mas Miura aproveitou a oportunidade para cravar a lâmina de sua adaga na pata e segurou firme e rangeu os dentes enquanto era empurrado para trás pela força superiora do urso. O ataque do animal só não deu certo porque a lâmina serviu para protegê-lo enquanto rasgava mais da carne e ia mais fundo ainda, assim fazendo com que sangue escorresse pela lâmina. Miura alargou um sorriso, sentindo-se cada vez mais animado por confrontar algo muito maior do que ele.

O urso-negro tentou atacá-lo com a pata esquerda, mas o loiro simplesmente puxou sua adaga que estava na pata direita e fez um corte na esquerda que foi o suficiente para fazê-lo perder algumas de suas afiadas unhas. "Merda, errei" pensou o loiro que pretendia fazer com que o bicho perdesse alguns dedos no último ataque, mas sua mira não foi 100%.

O urso-negro abocanhou com sucesso, entretanto o que suas presas mortais acertaram foi a roupa do garoto, então levantou sua cabeça e suspendeu o rapaz, balançou a cabeça e finalmente abriu sua bocarra, desta forma jogando Miura para alguns metros de distância. E o rapaz deslizou pelo chão e olhou de relance para o riacho próximo, depois voltou sua atenção para o animal que corria quadrúpede em sua direção. Miura pensou que o urso fosse tentar abocanhá-lo, por isso já se preparou para desviar por um dos lados, mas o urso lhe atacou com a pata esquerda. O golpe foi forte e de surpresa. E por isso o Yamanaka foi jogado para o lado direito com um pouco de força e seu corpo chocou-se com o tronco de uma árvore e ele gemeu pela dor, mas imaginava que não deveria ficar parado, por isso só olhou para onde recebeu o ataque. Havia um corte em sua roupa e nesse corte era visível sua pele e as marcas das garras do urso-negro, até mesmo um pouco de sangue escorrendo, mas era pouco, além disso distendeu seu ombro, por isso o colocou no lugar depois de bater no tronco novamente.

E sua atenção retornou para o urso-negro. O Yamanaka se levantou e disparou de encontro ao animal que já preparava para atacá-lo com a pata direita, porém Miura pulou e passou por cima dele, caindo em suas costas e agarrando-se a ele com uma das mãos, mas depressa puxou uma adaga de dentro da jaqueta e começou a esfaqueá-lo algumas vezes. Por mais que soubesse que aquilo não funcionaria muito bem com o animal, o mesmo ainda se machucaria e perderia sangue, por isso era um pouco de vantagem. E ele alargou um sorriso quando o animal urrou de dor, mas surpreendeu-se quando o urso ficou bípede e caminhou para trás. Miura ficou surpreso demais com a inteligência do animal. Isso porque não muito atrás deles tinha uma árvore, assim o urso usou o tronco para fazer com que o loiro o soltasse, mas aquilo não aconteceu. Bom, não de primeira.

Miura puxou a adaga que ainda estava no olho do urso-negro. E fez com que a lâmina fosse mais fundo do que antes. E sorriu mais quando o urso demonstrou que estava sentindo muita dor. Ele rangeu os dentes depois da segunda tentativa do urso de tirá-lo de suas costas. E usou a adaga que antes estava no olho do animal para acertar o focinho, desta forma prejudicando seu olfato e fazendo com que sangue escorresse por lá. Ele esfaqueou o urso no focinho algumas vezes para ter certeza de que não teria mais o olfato. Ele sorriu com alívio quando o urso ficou quadrúpede.

— DESISTIU NÉ, SEU PORRA? DAQUI CÊ NÃO ME TIRA, PORRA! — Miura gritou.

O urso-negro correu. Ele se aproximou de uma árvore e jogou seu corpo para o lado, desta forma jogando seu peso em cima de Miura quando chocou-se com o tronco. E aquilo foi mais do que suficiente para machucar o garoto que gritou dolorosamente, mas aproveitou a posição do animal para acertar-lhe um dos ouvidos com uma das adagas, assim prejudicando um pouco sua audição. Miura se soltou do urso que aproveitou aquilo para abocanhar seu pé direito, suspendê-lo e jogá-lo de encontro a outra árvore. Por causa das presas do animal, Miura ganhou um ferimento em seu pé direito — acima do tornozelo — por onde escorria sangue agora. E além disso bateu sua cabeça no tronco de árvore, desta forma criando um machucado por onde mais sangue começou a escorrer. E o rapaz lentamente se colocou de pé enquanto sangue escorria por um canto de seu rosto e pingava no chão, mas ele só alargou um sorriso.

— Eu vou acabar com a sua raça. — Miura disse.

Ele novamente olhou de relance para trás, então voltou sua atenção para o urso-negro que havia ficado em seu lugar enquanto sangue manchava o pelo de suas costas e uma parte de suas pegadas eram feitas de sangue, além disso sangue continuava escorrendo de seu olho e dos lábios. Miura suspirou e avançou de encontro ao animal sem dar importância para a pouca dor que tinha em seu pé direito.

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Estava amanhecendo. E Miura agora encontrava-se sentado e ofegante ao lado do corpo mórbido do urso-negro. Havia um corte de seis centímetros no lado direito de seu rosto por onde escorria mais sangue, além disso a parte da frente de sua camisa estava bem rasgada e manchada de sangue, mas ele sabia que sobreviveria. Ele já havia cochilado, arriscando uma soneca de poucas horas, por isso surpreendeu-se quando acordou e estava nos primeiros raios solares. O urso morreu por conta de um corte profundo em sua garganta quando tentou abocanhá-lo, mas era visível também a falta de alguns dedos do corpulento animal. Ele pegou um pergaminho e o abriu um pouco, assim revelando que a finalidade do mesmo era para Fuinjutsu e dessa maneira selando o animal lá dentro. A viagem seria muito mais fácil sem ter de carregar o animal ou construir alguma coisa para empurrá-lo por incontáveis quilômetros. Ele suspirou com alívio e fechou novamente seus olhos para recuperar suas forças.

O Yamanaka voltou a acordar, mas não era nem mesmo de manhã, mas sim anoiteceu e o sangue secou. Ele pôs a mão direita em sua barriga e sentiu fome, mas sabia que aquele não era o momento de procurar por comida. Ele sabia que chegando em casa seria recepcionado por alguma coisa bem apetitosa, por isso levantou-se e caminhou em direção a aldeia.

Miura caminhou por alguns minutos. Ele parou de andar quando reparou numa cabana abandonada e levantou uma das sobrancelhas e engoliu em seco ao ser tomado pela curiosidade. Na viagem de ida não tinha reparado nela, mas agora estava desocupado, por isso poderia vê-la. E assim caminhou para perto da cabana e olhou de um lado a outro, assim buscando algum indício de que não estava sozinho, mas ele estava sozinho naquele momento. Ele adentrou a cabana e reparou no quão pequena era. Não havia cozinha e nem sala de estar, apenas uma cama velha e uma mesinha com um assento perto da janela. E um livro posto em cima dessa mesa de madeira. "O que é isso?" pensou o loiro que aproximou-se da mesa e abriu o livro na primeira página e levantou o máximo que pode de suas sobrancelhas.

"Diário de Kiken'na Yasei"

"É um pouco idiota, entende? Nasci e não me deram um nome, então porque tenho de pôr um nome inventado nessa porcaria? Não tenho nome. Pelo menos acho que não tenho, então estou me chamando desse nome ridículo. As pessoas dizem que diários são para expressar sentimentos e ideias, mas… eu só quero matar. É muito divertido ver os olhos perderem suas cores quando as pessoas morrem. Mais divertido que isso é…"

A folha estava rasgada, como se o próprio escritor resolvesse censurar suas palavras. E a mensagem parecia ser muito antiga, então o rapaz resolveu se sentar e avançou algumas boas páginas antes de alcançar o meio do caderno.

"Conheci pessoas hoje. E me deram um apelido e uma função que gostei bastante. Vão me chamar de Death a partir de agora."

Ele ficou em silêncio. Surpreso que aquele caderno pertencia ao assassino que escapará da última viagem ao Castelo Hozuki a poucos dias. Ele olhou em volta e semicerrou suas sobrancelhas. Parecia tudo abandonado, por isso não achava que o assassino usasse mais aquele lugar, por isso continuou folheando o caderno.