Chapter 1.

Uma casa vazia e quieta, abrigada apenas pelo silêncio e a solidão. Os dois se faziam companhia enquanto uma jovem, que trajava um vestido branco, como seus cabelos, caminhava pelos corredores frios e vazios.

Natalya Williams era seu nome. Deveria ter entre 13 e 14 anos. Estava descalça e o chão branco de mármore fazia com que sentisse calafrios a cada passo que dava. Sua pele era muito pálida, mas isto dava um destaque imenso à seus grandes olhos azuis.

Tinha em mãos um coelho branco de pelúcia que vestia uma roupa de gala toda branca. Ao invés de vermelhos, os olhos do coelho eram castanhos – claros.

Caminhava sem fazer um sequer ruído e passava por portas e mais portas: todas fechadas e não se ouvia o barulho de pessoas conversando do lado de dentro. Estava completamente sozinha, ou pelo menos era o que parecia...

- Pss! – uma voz quebrou o silêncio.

Natalya virou-se na esperança de ver alguém, mas tudo que viu foi o mesmo corredor frio e vazio de antes. Virou-se para continuar andando.

- Psssssss!! – a voz soou novamente.

Agora a menina ignorou o barulho e continuou andando, até que viu a sombra de alguém atrás de si. Engoliu em seco e começou a virar-se bem lentamente. Fechou os olhos com medo de quem poderia ser, seu coração estava acelerado e ela apertava o coelho contra seu peito.

- Miau.

Abriu os olhos.

Não era nenhum monstro e sim um gato preto de olhos de uma cor arroxeada. Nada disse, apenas ficou encarando-o como se esperasse que dissesse alguma coisa.

Ao invés disso, o gato esfregou-se em sua perna e ronronava alto. Natalya resolveu sentar-se para acariciá-lo e ele gostou. O gato começou brincar com uma fita azul que a jovem tinha em sua coxa, mas logo se cansou e começou a limpar suas patas.

Natalya apenas observava-o enquanto se lambia. Não dizia uma única palavra. Depois de limpar-se, o felino sentou-se em suas patas traseiras e ficou olhando-a.

- Parece algum feitiço... Quer que eu quebre-o? – o gato perguntou.

Os olhos dela arregalaram-se e sua boca abriu imediatamente, porém ela não gritou, ou melhor, não conseguia.

- É um feitiço com certeza, e dos fortes. Mas não tem problema – ele continuou.

A voz do felino era profunda como a de um homem mais velho. Natalya não conseguia fazer nada além de olhá-lo; pasma e congelada no lugar.

- Relaxe. Apenas olhe dentro dos meus olhos.

A garota parecia confusa, mas o fez mesmo assim. Dentro dos olhos do gato, ela viu um pássaro negro envolto em chamas negras e este voou em sua direção. Não podia mover-se, então o pássaro atravessou-a em cheio.

- AHHHHHHHHHHHHHHH!!! ... – ela gritou, mas sua voz falhou.

Quando abriu os olhos estava novamente no corredor branco e o gato preto estava sentado à sua frente.

- Parece que sua voz voltou completamente. Lembra-se de como se fala? – o gato perguntou.

- S-Sim – ela disse com a voz ainda um pouco rouca.

- Ótimo. Poderia me dizer seu nome?

- É... N-Natalya. Natalya Williams.

- Muito bem, Natalya, pode me chamar de Shadown.

- Shadown?

- Isso. Agora temos que ir.

O gato levantou-se e começou a andar, mas Natalya parecia estar congelada e grudada no chão.

- Vamos! O que está esperando? – ele disse.

- Oh... – ela levantou-se rápida.

- Bom.

Os dois caminhavam lado a lado. Natalya se lembrava de muitas coisas enquanto andava: como se falava, escrevia, as operações de Matemática... Tudo.

Até hoje tinha caminhado por esses corredores como um fantasma: uma pessoa sem alma ou memória, existia porque existia, não sabia por que estava ali, só sabia que ali deveria ficar. De vez em quando se lembrava de algumas coisas, mas logo as esquecia novamente.

Seus devaneios pararam quando viu que Shadown tinha parado de frente para uma porta.

- Sabe o que tem aqui? – perguntou.

Natalya observou a porta, tentando pescar alguma lembrança ou informação ligada a ela; até que uma luz veio:

- É o meu... Meu quarto.

- Tem certeza?

Ela assentiu.

- Abra. A porta está destrancada – Shadown disse.

Natalya aproximou-se da maçaneta e girou-a. Uma luz forte cegou-a por um momento, fazendo-a fechar os olhos. Quando os abriu encheram-se de lágrimas.

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