Tales of Star Wars

Um antigo inimigo (Rey x Ahsoka)


Voltar àquele lugar era estranho. Havia uma sensação de não pertencer mais àqueles bancos de areia. De que a pessoa que um dia vivera ali estava morta e, em seu lugar, uma nova havia surgido. O que, no fundo, não era bem uma mentira... Quando havia deixado Jakku, ela era apenas uma catadora de sucata que acreditava que a Força não era nada mais do que um conto de fadas. Agora, retornava como uma Jedi.

Por um lado, Rey se sentia mal em ver o seu velho AT-AT abandonado, sem sinais de que algo ou alguém o tivesse ocupado desde sua ausência. Todo o interior estava tomado pela areia e seus objetos havia desaparecido, saqueados por eremitas. Por outro lado, no entanto, apesar de todos os pesares que havia vivido naquele lugar, havia uma certa satisfação em vê-lo inabitado, como se ainda houvesse uma sensação de pertencimento. O que, no fim das contas, era o que ela achava que precisava.

Mas estava enganada. Acreditava que, voltando às suas origens, ela entenderia quais caminhos deveria seguir. Que a Força a guiaria em frente, pelo seu destino. Mas voltar à Jakku só lhe trouxe lembranças de um passado que ela queria esquecer. Não havia um sentimento de estar sendo guiada ou orientada. No fim de todos aqueles quilómetros de areia, havia apenas a dúvida.

— Está tudo bem, Rey? – ela ouviu uma voz a chamando do lado de fora do AT-AT.

— Sim, Finn – ela respondeu. – Já estou indo.

Por alguns instantes, a jovem permaneceu parada. Agora, capaz de sentir e manipular a Força ao seu redor, Rey conseguia sentir as marcas que a sua presença deixara naquela carcaça abandonada. Mas aquelas eram marcas de uma pessoa que ela não mais era. Uma pessoa que ela conhecia muito bem, mas que não mais reconhecia como si mesma. Enquanto catadora de sucatas, ela tinha um futuro. Um futuro monótono, repetitivo e sem perspectiva. Um futuro fadado ao esquecimento. Mas tinha um futuro. Como Jedi, Rey estava perdida. Se a Força havia escolhido ela para dar continuidade aos Jedi, havia um motivo. Mas ela não conseguia entende-lo e, muito menos, não conseguia imaginar por onde começar.

Após alguns instantes, o bipe de BB-8, atrás dela, trouxe-a de volta à realidade.

— Não, BB-8, não tem nada aqui – ela disse, frustrada, virando-se para ele. Havia pesar em seu rosto. – Isso tudo foi uma perda de tempo. Vamos embora.

Descrente de que conseguiria alguma coisa naquele lugar, ela se virou, dando às costas ao amplo vão do interior do AT-AT e direcionando-se para a saída. Nesse momento, Rey percebeu que não estava mais sozinha. Havia uma pessoa com ela ali, parada próxima à sáida. Um ser encapuzado, vestindo uma longa túnica e carregando um longo cajado branco. Seu capuz era marcado pela pontas de seus lekkus e a figura possui uma certa transparência, além de um brilho espectral hipnotizante.

Instintivamente, Rey levou a mão ao sabre de luz preso ao seu cinto. Ao ver que a figura parecia pacífica, Rey recuou suavemente. Além do brilho espectral, algo a mais emanava dela. Um misto de paz e infinitude quase indescritíveis. Uma sensação de tranquilidade que Rey não conhecia. Como se aquela pessoa fosse uma velha conhecida, mesmo jamais tendo a visto na vida. Ela se sentia confortável em sua presença sem nem mesmo saber quem ela era.

— Então, é você agora se diz uma Skywalker? – perguntou a figura com uma voz feminina.

Rey engoliu em seco.

— Não por sangue – ela respondeu com firmeza. – Mas por legado.

— E um legado de muita honra, devo admitir – disse a mulher. – Mestre Luke e General Leia devem estar orgulhosos de verem seu nome seguir adiante em você. Não consigo imaginar mais ninguém que merecesse esse legado.

— E você seria?

Nesse momento, a figura retirou seu capuz, revelando uma togruta idosa. Sabedoria emanava de cada uma de suas rugas. Imediatamente, Rey sabia de quem se tratava. Seu queixo caiu e ela ficou sem fala.

— Alguém que teve a oportunidade de levar o legado Skywalker para frente, mas preferiu deixá-lo para alguém mais honrado – disse a togruta.

— Você é Ahsoka Tano! – aquilo não era uma pergunta.

Com um discreto balançar de cabeça, Ahsoka confirmou. Rey parecia realmente inebriada com a idéia de encontrar a Jedi. Já ouvira falar dela... já havia lido sobre ele... mas vê-la pessoalmente era como uma prova quase irrefutável de que cada uma daqueles coisas eram verdadeiras. Feitos tão incríveis que ela não conseguia se imaginar fazendo algo parecido.

— Nem sequer pense nisso – disse Ahoka, como se lesse a mente de Rey. – Eu fiz muita coisa, sim. Mas o que você fez está além de que qualquer coisa que algum Jedi já tenha feito.

Modesta, Rey abaixou a cabeça em silêncio.

— Mas você não sabe o que fazer agora, não é? – continuou Ahsoka, olhando-a com condescendência. – Você destruiu o Imperador de uma vez por todas e, agora, todo o caminho à sua frente parece escuro e sem sentido. Não é isso?

Realmente, a mulher a sua frente era tudo o que ouvira falar e mais... Como ela poderia saber absolutamente tudo o que se passava em sua cabeça?

Ahsoka sorriu. Ela havia ouvido essa pergunta também.

— Você é boa, Rey, mas ainda tem algumas coisinhas que precisa aprender sobre a Força – disse Ahsoka. – Se você me deixar, eu gostaria de terminar de te guiar em seu caminho.

— E por onde eu devo começar, então?

Rey estava decidida. Ter Ahsoka como a sua nova mestra talvez fosse a melhor coisa no momento. Terminar o seu treinamento da melhor forma possível. A torguta podia não ser uma Jedi, de fato. Mas, se tudo o que falavam sobre ela era verdade, Ahsoka sabia mais sobre a Força do que qualquer Jedi.

Ahsoka estendeu o braço em direção a Rey. O sabre de luz da jovem se desprendeu de seu cinto e vôou em direção a mão da togruta, que o acionou imediatamente assim que o tocou, revelando uma lâmina de plasma amarelo.

— Amarelo – disse Ahsoka, observando a lâmina com encanto. – Uma Jedi sentinela. Nada mais justo e digno com a sua história, minha aprendiz. Eu posso nunca ter me tornado uma Jedi, propriamente dita, mas exerci a função de sentinela por toda a minha vida. Talvez, eu realmente possa te guiar.

— Para onde? – Rey tornou a perguntar.

Ahsoka se levantou. Ela desligou o sabre de luz e o jogou de volta para Ahsoka.

— Um antigo inimigo uma vez desapareceu – a togruta começou, olhando com firmeza para o rosto de sua nova aprendiz. – Provavelmente, nas regiões desconhecidas. Talvez, tenha chegado a hora de tirá-lo de seu esconderijo. E, talvez, de brinde, possamos achar um antigo amigo. O que acha?

Em resposta, Rey sorriu para ela. Sabia exatamente de quem Ahsoka estava falando.

— Eu acho que é minha função caçá-lo, então – ela aceitou, por fim.