Tales of Star Wars

Two Jedi walk into a bar... AU (Anakin x Obi-Wan / Anakin x Padmé / Obi-Wan x Satine)


O lugar era escuro e pequeno, além de pouco movimentado, muito diferentemente do 79’s. Não que tivesse ido ao bar dos clones muitas vezes, mas a diferença era gritante. Mesmo assim, justamente o ambiente mais silencioso parecia ser aconchegante. Era justamente por isso que aquele era um de seus bares preferidos em Coruscant. Qui-Gon havia lhe apresentado, ele havia apresentado a Anakin e Anakin havia apresentado a Ahsoka. Beber naquele lugar era quase como um ritual, uma herança passada entre as gerações naquela família disfuncional e problemática que haviam criado dentro da Ordem Jedi.

Como se o tivesse conjurado em pensamento, Anakin estava ali, sentado no banco em que havia ocupado a primeira vez em que fora levado até aquele bar, quando era apenas um Padawan. Distraído, seu dedo deslizava pelo balcão de madeira velha, molhado pela água condensada na lateral do copo à sua frente, que continha uma bebida verde brilhante que mais parecia resíduo de material radioativo. O olhar do cavaleiro Jedi estava perdido em algum lugar entre o balcão e o fim da galáxia. Sem pensar duas vezes, Obi-Wan se sentou no banco ao lado de seu antigo Padawan, apoiando os braços sobre o balcão.

— Imaginei que estivesse aqui – ele disse. – Não te encontrei em lugar nenhum e você não responde os meus chamados.

— Você veio até aqui por que está preocupado com o meu sumiço ou veio beber também? – questionou Anakin, sem olhar para seu antigo mestre.

— Beber – Obi-Wan respondeu imediatamente, como se a resposta fosse óbvia e outra opção, absurda.

— Satine?

Obi-Wan confirmou com um “Uhum” quando o barman se aproximou e, em seguida, pediu sua bebida, pedindo que servisse dois copos.

— Padmé?

­— Sim... – Anakin confirmou.

Imediatamente, o barman depositou dois pequenos copos de vidro sobre o balcão, um em frente de cada Jedi, preenchendo-os com um líquido preto. Os dois seguraram seus copos e brindaram.

­— Saúde – disseram ao mesmo tempo antes de virarem todo o conteúdo para as suas gargantas em apenas um gole.

Os copos vazios foram depositados sobre a mesa.

— Então, o que você fez? – perguntou Anakin.

— Por que está assumindo que eu fiz alguma coisa? – perguntou Obi-Wan, indignado.

— Obi-Wan, você é novo nesse negócio de relacionamento, então, deixa eu te ensinar uma coisa – começou Anakin. – Você é o homem da relação. Mesmo quando você está certo, você está errado.

— Mas, eu...

— Não tem “mas” – Anakin o interrompeu. – Apenas aceite. Agora, me diga... O que você fez?

Obi-Wan engoliu em seco, havia repassado em sua mente todos os momentos que havia levado àquela briga e a briga em si, mas não havia uma única forma na galáxia de contar aquela história sem assumir seu erro. Talvez, Anakin estivesse realmente certo...

— Eu... bem... eu esqueci de entrar em contato com a Satine por dois dias seguidos enquanto eu estava em Kessel e... bem... ela surtou, achou que eu estivesse morto ou ferido...

— Obi-Wan, você não fez isso... – Anakin parecia indignado.

Pela forma como falava, aquele era um erro amador.

— Eu estava cansado, Anakin – ele tentou se justificar. Havia sinceridade em seus olhos e ele, claramente, não sabia onde havia errado. – Eu passei umas dez horas dentro de um tanque bacta e, quando eu sai, eu só queria descansar. Eu amo a Satine, mas toda vez que eu converso com ela, ela quer falar por horas e isso é arriscado... Tem muitos clones no cruzador, algum deles poderia ouvir em algum momento e... e eu tinha algumas coisas pra resolver também... muitas coisas pra resolver, na verdade...

Havia um sorriso irônico no rosto de Anakin, que continuava a deslizar o dedo pelo balcão. Ele parecia se divertir com a situação, e isso deixou Obi-Wan levemente irritado.

— E quando eu voltei pra Coruscant, a Satine surtou! – disse Obi-Wan. – Ela chorava e me batia. Dizia que estava morta de preocupação, que estava desesperada e não sabia a quem pedir ajuda. Eu entendo que ela deve estar super cheia de hormônios agora e que deve estar com as emoções à flor da pele, mas eu disse que ela precisava se controlar e...

Os olhos de Anakin se arregalaram e, pela primeira vez, ele olhou para Obi-Wan. Nesse momento, Obi-Wan viu que o seu antigo Padawan não estava nada bem: a pele estava pálida e os olhos estavam fundos. O perfeito retrato da exaustão.

— Você disse o quê?

Novamente, Obi-Wan engoliu em seco.

— Que ela precisava se controlar... – a voz do mestre Jedi saiu quase como um sussurro.

Anakin levou as mãos ao rosto e suspirou.

— E o que ela fez? – Anakin perguntou, já imaginando qual seria a resposta.

— Ela me expulsou de casa – disse Obi-Wan. – Aos berros. Disse pra eu ficar longe dela e que eu seu tentasse fazer qualquer joguinho mental com ela, ela ia me estrangular enquanto eu dormia.

Anakin riu.

— Nunca... – ele começou. – Eu repito.... nunca... diga a uma mulher que ela precisa se controlar. Por mais alterada que ela esteja. Por mais que ela esteja completamente descontrolada. Por mais que ela esteja destruindo o mundo. Nunca diga uma coisa dessas. Você vai despertar demônios que não vai conseguir controlar depois.

—Bem, o conselho veio um pouco tarde demais, mas obrigado mesmo assim – respondeu Obi-Wan. – Vou lembrar, da próxima vez.

Um novo sinal para o barman, e mais uma dose da bebida escura foi depositada sobre o balcão. Mais uma vez, os dois Jedi brindaram e viraram a bebida em um gole.

— E você? – Obi-Wan perguntou. – O que você fez pra Padmé?

— Nada – foi a resposta.

Anakin parecia muito seguro disso.

— Nada? Eu te encontro bebendo sozinho em um bar e você diz que não fez nada.

— Exatamente – Anakin não ia dar o braço a torcer tão facilmente.

Mas algo incomodava Obi-Wan... Algo lhe dizia que a história era um pouco mais complexa do que parecia. Um estalo ocorreu em sua cabeça e ele já imaginava por que Anakin estava lá. O problema não era com Padmé. O problema era com...

— Anakin... – Obi-Wan parecia preocupado. – O que você fez com o Luke com a Léia?

— Não foi culpa minha! – Anakin se voltou para seu antigo mestre, agressivo e aos gritos, colocando-se completamente na defensiva. – Eu não consigo dormir desde que Padmé precisou ir pra Naboo. Eu passo a noite toda trocando fraldas e esquentando mamadeiras. Quando um para de chorar, o outro começa. Isso quando os dois não choram ao mesmo tempo. Cinco dias, Obi-Wan. Eu não durmo fazem cinco dias! Eu só precisava de um cochilo...

Mas isso não tranquilizou Obi-Wan em absolutamente nada.

— Anakin, como estão os gêmeos? – ele estava realmente preocupado.

— Estão bem – ele respondeu, após um gole da bebida verde à sua frente. – Graças a Sabé. Quando eu acordei, ela já havia chegado no apartamento, já tinha trocado os dois e já estava dando mamadeira pra eles. Mas ela ficou furiosa. Pior do que quando a Padmé fica furiosa comigo. Gritou comigo, disse que os bebês deviam estar chorando a horas, que passaram todo esse tempo sujos e com fome. Mas eu juro pelo que você quiser, Obi-Wan, eu não acordei. Eu estava dormindo na poltrona no quarto dele e eu não acordei mesmo com o choro. Eu estava exausto...

Anakin mergulhou o rosto nas mãos, novamente, e Obi-Wan o ouviu murmurar algo como “Eu quero morrer...”

Obi-Wan sentiu pena dele. As olheiras de seu antigo Padawan eram a prova de que ele falava a verdade. Sabia que os gêmeos davam trabalho, mas não imaginava que beirava à exaustão.

— E como a Padmé descobriu?

— A Sabé contou pra ela, óbvio – Anakin disse rispidamente. – A Padmé ficou furiosa. Se não fosse um holograma, eu tenho certeza que ela tinha voado no meu pescoço me matado. Está vindo de Naboo agora e disse que a gente vai ter a pior briga da nossa vida quando ela chegar. E que eu posso arrumar as coisas pra dormir no sofá pelo resto da semana.

— Bem, pelo menos ainda temos os nossos velhos quartos no Templo – disse Obi-Wan.

Anakin bebeu mais um gole da bebida verde.

— Não acho que vai ser necessário – ele disse. – Sempre depois das nossas piores brigas, eu e a Padmé terminamos na cama e fica tudo certo. Se bem que, dessa vez, talvez isso não aconteça... – essa última frase, Anakin disse aos sussurros, quase que para si mesmo.

— Vocês dois deviam ir a um terapeuta – sugeriu Obi-Wan. – Como você mesmo disse, eu sou novo nisso, mas sexo de reconciliação não me soa como uma coisa muito saudável. Pessoalmente, até parece um pouco de desespero e de carência.

Anakin olhou para ele indignado.

— E quem diabos você pensa que é para me julgar, senhor-esqueci-de-avisar-minha-namorada-grávida-que-ainda-estava-vivo?

— É, eu não tenho muita moral mesmo pra te julgar...

Um novo sinal para o barman, mais dois copos sobre o balcão.

Brinde. Vira. Copo vazio no balcão.

— Anakin, posso te fazer uma pergunta?

— Claro, mestre.

— Quem está cuidando dos gêmeos agora?

Silêncio.

Anakin olhou espantado para Obi-Wan, congelado por um instante. Houve um silêncio sepulcral entre os dois, no qual era possível apenas ouvir o ronco de um trashodano adormecido em uma mesa do outro lado do bar. No segundo seguinte, Anakin cambaleava velozmente para fora do bar, esbarrando nas mesas à sua frente.

Pelo visto, Obi-Wan teria que pagar toda a conta.