Tales of Star Wars

Ruínas (Leia x Mon Mothma)


O vento carregava folhas secas, que se arrastavam pela grande sala circular, ajudando a dissipar o cheiro de mofo e poeira existente naquelas ruínas. Da varanda mais alta da casa, ela observava o lago em Naboo. A águas clamas refletindo o céu como um espelho enquanto o sol se punha no horizonte. Um silêncio quebrado apenas pelo canto de pássaros. Um canto tão suave quanto a paz no coração da mulher. Apesar das últimas descobertas, havia paz. Uma paz que ela não sabia explicar de onde vinha, que ela achava incongruente com a quantidade de mortes que havia acontecido nos últimos dias. Mas, pela primeira vez em sua vida, ela sabia definitivamente quem era.

Leia respirou fundo e deslizou a mão sobre o guarda-corpo de pedra na varanda de Varikyno, imaginando quantas vezes sua própria mãe não fizera o mesmo, observando aquela mesma paisagem estonteante que ela tinha diante de seus olhos naquele momento. Imaginando quantos dias de sua breve vida Padmé Amidala não haveria passado naquele pequeno pedaço de paraíso, escondido na galáxia, em uma das partes mais remotas e inacessíveis de Naboo. Uma paisagem hipnotizante, quebrada apenas pelas várias naves da recém-formada Nova República, pousadas nos mal cuidados jardins, indicando que, em algum lugar daquela casa secular em ruínas, os principais espiões da antiga Aliança Rebelde trabalhavam em busca de pistas para, enfim, trazer toda a verdade à tona.

— É lindo, não é?

Leia não se virou para ver quem era. A passos lentos, Mon Mothma se aproximava dela. Em poucos instantes, a senadora refugiada de Chandrila estava ao seu lado, também apoiada sobre o guarda-corpo de pedra da varanda, observando o lago e o horizonte.

— Como ela era? – perguntou Leia. – A minha mãe?

A senadora engoliu em seco, pensando nas palavras certas para a resposta.

— Padmé foi a mulher mais corajosa que conheci na vida – Mon Mothma respondeu, sem olhar para Leia. – Ela lutava fielmente pelas coisas que ela acreditava e sabia ver a beleza e a bondade nos outros de uma forma que ninguém mais sabia. Ela lutava contra as injustiças que via, mas sem nunca perder as esperanças de a galáxia podia se tornar um lugar melhor. Ela era uma idealista, sim. Mas uma idealista que fazia as coisas acontecerem.

Sim... Talvez, aquela fosse a melhor forma de descrever Padmé.

— Eu ouvi falar muito sobre ela – disse Leia. – Meu pai sempre me contava histórias de como ele, você e a minha mãe sempre estavam juntos no Senado, arrumando confusão com outros senadores – Mon Mothma riu. – Claro que ele nunca me contou que Padmé era minha mãe de verdade, mas eu sempre a admirei pela forma que meu pai falava dela.

— Ela era uma pessoa ímpar – Mon Mothma emendou. Havia melancolia em sua voz. – Nunca mais vai haver alguém como ela, pode ter certeza.

Após um rápido instante, Leia respirou fundo antes de dizer:

— Eu me pergunto porque ela morreu tão jovem.

— Nós vamos descobrir a verdade – disse Mon Mothma, finalmente, olhando para Leia e pousando a mão em seu ombro. – Agora que o Imperador está morto, nossos investigadores agora tem acesso a centenas de gravações de câmeras de segurança do Império. Pode demorar ainda um pouco, mas teremos respostas.

Houve um rápido instante de silêncio antes que a senadora o rompesse.

— Inclusive, era sobre uma dessas gravações que eu queria conversar com você – ela disse, pousando um projetor sobre o guarda-corpo de pedra. – Nossos investigadores estão no andar de baixo, analisando filmagens de câmeras daqui, em busca de alguma pista ou resposta. E eles encontraram isso. Achei que, talvez, você gostaria de ver.

Mon Mohtma apertou um botão lateral no holoprojetor e se afastou, deixando Leia sozinha na varanda com a imagem que se projetava.

Diante da mulher, ela via a imagem da varanda térrea de Varikyno, diretamente sobre as águas do lago.

Ali, havia dois hologramas. Um homem e uma mulher. Ele, vestia a tradicional túnica dos Jedi e ela, um vestido branco de renda enfeitado com milhões de pérolas e um véu igualmente decorado. Nada nem ninguém na galáxia precisava lhe dizer que aquela era Padmé Amidala. Sua mãe.

E os dois estavam tão felizes...

Leia assistiu os dois se olharem por alguns instantes antes de se beijarem ao pôr do sol de Varikyno, muito semelhante ao que ela observava poucos instantes antes. E, sabendo quem era o homem, Leia não conseguiu sentir raiva dele, pois viu o quanto ele verdadeiramente amava a mulher à sua frente. Viu o quanto ele estava verdadeiramente feliz em se casar com ela.

— Eu queria saber o que aconteceu – ela disse melancolicamente, sem tirar os olhos da gravação de seus pais. – Como essa cena linda se transformou no caos que vivemos nos últimos anos. O que aconteceu entre eles.

— Nós vamos encontrar respostas – disse Mon Mothma com firmeza, reaproximando-se dela. – Eu prometo isso a você, Leia. Apenas peço que me dê tempo, mas eu vou dar as respostas que você quer. Eu te dou a minha palavra.

Com os olhos lacrimejando, Leia sorriu para a senadora, que segurou a mão dela. Lado a lado, as duas voltaram o olhar para frente, observando o sol terminar de se pôr em Varikyno.