Tales of Star Wars

Névoa (Obi-Wan x Satine / Qui-Gon x Satine)


"Do you always carry a deactivator?"

"Just because I'm a pacifist doesn't mean I won't defend myself!"

"Now you sound like a Jedi."

(Obi-Wan & Satine, Voyage of Temptation)

O único som que se ouvia era o das águas turbulentas daquele caudaloso rio em Corelia. Águas que corriam a uma velocidade imensa, transformando a calma da madrugada em uma sinfonia fluída e assustadora, não sendo possível ouvir quase nenhum som ao redor.

Mestre Qui-Gon devia estar naquela posição há quase uma hora. Sentado com suas pernas cruzadas uma sobre a outra, com Obi-Wan deitado em seu colo e mantendo as duas mãos nas laterais da cabeça de seu Padawan, sem tocá-lo. No primeiros minutos daquela estranha meditação, o rapaz estava agitado: apesar de desacordado, ele urrava de dor toda vez que Satine tocava a sua panturrilha, tentando fazer um curativo, como Qui-Gon havia lhe ordenado furiosamente (sempre tão sereno, calmo e controlado, Satine jamais achou que o veria instável daquela forma). Mas, naquele momento, tantos minutos depois, Obi-Wan parecia apenas estar dormindo, se não fosse a grande mancha de sangue no tecido de suas vestes, ao redor do curativo que Satine havia confeccionado.

Desde que aquilo havia começado, Qui-Gon não emitira uma única palavra e Satine, lembrando-se de como ele estava enraivecido, não se atreveu a falar absolutamente nada. “Isso é culpa sua!”, Qui-Gon havia dito, apontando para Satine enquanto se posicionava no chão para ajudar seu Padawan. “Se ele morrer, é bom que saiba que você teve participação nisso!” Desde esse momento, Satine sentia seu peito esmagado pelo remorso. Talvez Qui-Gon tivesse sido excessivamente duro com ela, mas não estava errado: ela teve a oportunidade de evitar tudo aquilo e... não fez nada. E exatamente por isso, Satine sabia que não seria capaz de suportar o arrependimento se o pior viesse a acontecer.

Perdida em meio aos seus pensamentos mais catastróficos, ela foi pega de surpresa Qui-Gon se levantou (já muito mais calmo). Mas não foi isso que chamou sua atenção, mas o aspecto de Obi-Wan: terrivelmente pálido como somente os mortos ficam. Então, Qui-Gon não havia obtido êxito em seja lá o que estivesse fazendo. Havia falhado.

— Ele está morto? – ela perguntou, sentindo um nó em sua garganta.

— Não – Qui-Gon respondeu imediatamente enquanto, pela primeira vez desde que a nave deles havia caído, olhava para os próprios ferimentos no braço. – Ainda não. Eu induzi ele a um estado quase vegetativo. Isso vai reduzir a frequência cardíaca dele e diminuir a velocidade de circulação do veneno. Se tudo der certo, amanhã os rins dele já vão ter eliminado o veneno e ele só vai acordar um pouco atordoado.

Aliviada (mas não calma), Satine se adiantou até Obi-Wan e tocou sua pele. Gelado. Tão gelado quanto sua pele estava pálida. Em todos os aspectos, parecia um cadáver.

— Me desculpe ter gritado com você, Lady Kryze.

Satinese virou para encarar Qui-Gon, surpresa com as suas palavras.

— O quê?

— Eu não devia ter gritado você – ele repetiu. – Mas você deve reconhecer que suas atitudes levaram a isso – Qui-Gon apontou Obi-Wan. – Eu entendo o seu posicionamento pacifista. Na verdade, até admiro. Mas eu espero que, depois de tudo isso, você entenda que, quando trabalhamos em grupo, nossas escolhas refletem não só em nós, mas nos nossos companheiros também. Inclusive as nossas escolhas irresponsáveis.

Satine se levantou, ofendida.

Sabia que sua conduta não tinha sido a mais adequada e que colocara em risco a vida de um membro da equipe. Mas não ia admitir ser chamada de irresponsável. Sua postura pacificista era uma postura muito bem pensada, não uma atitude que ela tivera no calor do momento. Era um dogma. Um estilo de vida pelo qual ela desafiou toda Mandalore, indo contra uma cultura que havia devastado seu planeta natal. Era uma bandeira pela qual ela lutava.

— Mestre Qui-Gon, eu preciso protestar – ela começou.

— Você deve refletir – ele a interrompeu, falando de forma séria e incisiva, mas, apesar de tudo, calma.

— Você fala de irresponsabilidade como se soubesse o que é viver em Mandalore – ela continuou, ignorando o que ele havia acabado de dizer. – Se você tivesse o seu lar destruído pela beligerância do seu próprio povo, você entenderia a minha posição.

Qui-Gon se calou. Não por concordar, mas por estar velho e cansado demais para discutir ideais com jovens com pouquíssima experiência de vida. Suas feições tortas e sua sobrancelha arqueada deixavam isso evidentemente claro, o que apena irritou Satine.

— E, até onde eu sei, são vocês que estão me protegendo, e não o contrário – ela concluiu.

— Diga isso a ele quando ele acordar – Qui-Gon apontou Obi-Wan novamente. – Diga a ele que a senhorita duquesa de Mandolare não se importa com quantos soldados e seguranças morram ao seu redor desde que ela se mantenha viva e bem no seu palácio de cristal. Diga.

Terrivelmente ofendida, Satine se calou.

— E ainda tem coragem de se dizer pacifista – o mestre Jedi continuou. – Menosprezando a vida das pessoas mais próximas a você.

Incapaz de argumentar, a jovem se manteve quieta enquanto Qui-Gon se afastava dos dois. Ele, no entanto, parou e se virou para ela.

— Um dia, você vai governar Mandalore – ele disse. – E, nesse dia, você vai precisar tomar decisões difíceis. As mais difíceis da sua vida. E você nunca vai conseguir tomar essas decisões com esse tipo de atitude. Como duquesa, você terá a vida de todo o planeta nas suas mãos. Desprezá-las, mesmo em nome de um ideal justo, é o pior erro que um governante pode cometer. Impérios já caíram por muito menos.

Satine engoliu em seco, furiosa e ofendida, mas humilde o suficiente para reconhecer que ele tinha razão.

— Além disso, o Conselho Jedi não nos deu a missão de proteger você – continuou Qui-Gon. – Ele nos deu a missão de assegurar uma transição de poder que garanta paz e melhores condições de vida para os mandalorianos. Por enquanto, eu vejo isso em você. Não me faça mudar de idéia, Lady Kryze. Agora, eu vou voltar até os destroços da nossa nave para ver se algo ainda ficou inteiro depois da queda. Espero voltar antes do amanhecer.

Sem dizer mais nada, Qui-Gon deu as costas novamente para Satine, deixando ela e Obi-Wan à beira daquele rio.

As chamas da nave em que estava poucos instantes antes davam ao céu noturno de Corelia um tom alaranjado, apesar da intensa névoa. Correndo o mais rapidamente que podia sobre a grama (estava em uma floresta, uma planície, uma clareira? A névoa tornava impossível distinguir o ambiente), Satine Kryze mancava, sentindo dores em fisgadas em sua perna esquerda a cada passo, um resultado do violento impacto que havia sofrido quando a nave tocou o solo.

“Corra!” – ela se lembrava de ouvir o mestre Qui-Gon gritando, conforme os caçadores de recompensa se aproximavam. – “Corra! Nós vamos te encontrar!”

Ela mal tivera tempo de ver quem ou quantos eram seus perseguidores. Que dois deles vestiam armaduras mandalorianas, isso era uma certeza. Um tradoshano, um geonosiano e um rodiano. E pelo menos mais dois humanos. Mas, com certeza, havia outros que ela ainda não tinha visto. E, pessoalmente, nem queria ver. Apenas queria sair com vida e em segurança daquele lugar.

Satine só parou de correr quando não mais conseguia ouvir sinal algum de luta, apenas o som de um rio próximo e passos ao redor dela, perdidos na névoa. Passos que se distanciavam, passos que se aproximavam. Ela não sabia dizer exatamente de qual direção vinham.

Por fim, uma silhueta se formou em meio à névoa.

— Mestre Qui-Gon? – ela chamou. – Obi-Wan?

Mas não houve resposta.

Uma segunda silhueta se formou ao lado da primeira. E uma terceira. Uma quarta. Uma quinta! Satine percebeu tarde demais que estava cercada. À sua frente, um homem vestindo uma armadura mandaloriana e, em suas mãos, um sabre de luz.

— Dou minha palavra que será rápido e o mais indolor possível, duquesa.

O mandaloriano disse a última palavra com ironia, acionando o sabre de luz logo em seguida, revelando uma lâmina verde. O que teria acontecido ao mestre Qui-Gon?

Assustada, Satine recuou. O mandaloriano deu um passo em sua direção.

Do cinto, ela retirou a pistola que Gui-Gon havia lhe dado três dias antes. Apontou para seu oponente. Mas ele riu. Sabia que ela não usaria a arma.

— Me desculpe, duquesa, mas você não me convence – ele disse.

Por fim, o mandalorino brandiu o sabre. A lâmina descreu um arco no ar, quase atingindo Satine. A jovem tropeçou para trás. Caída ao chão, ela tinha seu caçador na mira da arma, mas não tinha coragem de atirar. Por uma segunda vez, o mandaloriano brandiu o sabre de luz, pronto para matá-la.

Em meio à névoa, um clarão azul avançou em direção ao grupo. Os caçadores de recompensa recuaram no momento em que Obi-Wan se colocou entre Satine e seu algoz, empurrando-o com a Força e, assim, afastando-o de Satine.

— Atirem pra matar! – Satine ouviu alguém gritar.

Disparos vermelhos vieram em direção aos dois. O sabre de luz de Obi-Wan parecia dançar ao redor dele e de Satine, bloqueando e desviando os tiros. Em algum momento, Satine ouviu um dos caçadores soltar um grito de dor. O geonosiano avançou, voando em direção a Obi-Wan e atirando contra ele. Quando pousou em frente ao Jedi, a reação desse foi imediata: o plasma azulado do sabre destruiu a arma antes de, por fim, perfurar o peito do grande inseto.

O queixo de Satine caiu. Assassinato não era o método Jedi e aquilo a deixou perplexa.

Mas, havia um recém-chegado: desarmado e com um longo corte no braço, mestre Qui-Gon havia chegado. Em uma mão, havia uma pistola, a qual ela mirava e atirava contra os perseguidores da duquesa. A outra mão, o mestre Jedi utilizava para atingir seus oponentes com a Força, desarmando-os ou derrubando-os. Mesmo sem seu sabre de luz, Qui-Gon era uma arma letal.

Praticamente todos os caçadores de recompensa estavam ao chão, mortos ou gravemente feridos. Apenas o mandaloriano com o sabre de luz estava em pé, separado de Satine pelos dois Jedi. Apesar da máscara, seus gestos gritavam que ele estava com medo: ele segurava o sabre de luz com insegurança e suas pernas estavam agitadas enquanto ele, lentamente, recuava. Mas esse momento foi rápido: quando passos metálicos se tornaram audíveis, ele riu. O auxílio havia chegado.

Saindo da névoa, um droide-assassino surgiu. Por alguns instantes, ele observou a situação e, então, apontou seus blasters para frente, mirando os Jedi e a duquesa.

— Se proteja! – Obi-Wan gritou para Satine.

A duquesa se jogou ao chão, colocando-se atrás do corpo do geonosiano morto e o usando como escudo. O mandaloriano avançou contra Obi-Wan, os dois iniciando um violento duelo com os sabres de luz. O droide-assassino, por outro lado, avançou contra Qui-Gon, ambos mirando tiros um no outro enquanto o mestre Jedi recuava em zigue-zague, buscando por algo que pudesse usar como barricada.

O mandaloriano era muito ágil e sabia manejar o sabre de luz quase tão bem quanto Obi-Wan. Mas o peso da armadura era uma vantagem para o jovem Jedi que, claramente, tinha o domínio da situação: em poucos segundos de combate, Obi-Wan atingiu o jetpack nas costas de seu adversário. O artefato explodiu, jogando o caçador de recompensas par frente, mas não a ponto de feri-lo gravemente: em instante, ele estava em pé novamente, o sabre de luz em uma mão, uma pistola na outra, mirando o Jedi.

Não, terminariam aquela luta da forma como começaram.

Obi-Wan agitou o braço para o lado e a pistola do mandaloriano voou de sua mão, caindo sobre a grama. Novamente, eles se atacaram. Sabres de luz se chocavam no ar e, com o tempo, a inexperiência do caçador de recompensas fez com que ele demonstrasse, pela segunda vez, medo: seus gestos era mecânicos demais, incapaz de lutar com naturalidade.

Não durou muito. Foi um duelo rápido.

Ao bloquear o sabre de luz acima de sua cabeça, Obi-Wan girou sobre seus calcanhares, posicionando-se ao lado de seu adversário e transpassando seu peito com a lâmina de seu próprio sabre. Enquanto o mandaloriano caia, o jovem jedi tomou dele o sabre de seu mestre.

— Mestre! – ele gritou, quando jogou a arma pelo ar em direção a Qui-Gon.

O mestre Jedi abandonou a pistola em sua mão e pulou, agarrando seu sabre de luz em plena queda enquanto seu corpo descrevia um arco gracioso no ar. Qui-Gon pousou sobre a grama como um gato, quase sem fazer barulho algum, no momento em que a lâmina verde de seu sabre cortou o ar em movimentos rápidos. No instante seguinte, o droide-assassino caiu ao chão, dividido em três pedaços incandescentes.

E, então, houve silêncio. Por um instante, Satine respirou aliviada. Estava bem, estava em segurança e nenhum dos Jedi estava morto.

Mas essa calmaria durou pouco.

Reunindo os últimos suspiros de vida, o mandaloriano, caído ao chão, ergueu o seu braço, apontando o bracelete em seu punho para as costas de Obi-Wan, diretamente para o seu coração. A reação imediata de Satine foi apontar a própria pistola para o caçador de recompensas. Mas o seu dedo não se moveu no gatilho.

Por um lado, tudo o que ela sempre defendera poderia ruir com apenas um simples movimento. Mas não era nem isso que tanto a incomodava: com a cabeça do mandaloriano na mira de sua arma, disparar significaria matar um ser vivo. E ela nunca havia feito isso. Sua mão tremeu, ela hesitou. E não atirou.

— Obi-Wan, cuidado! – gritou Qui-Gon ao perceber a hesitação de Satine.

O mestre Jedi agitou o braço para baixo, mas já era tarde demais.

A Força desviou o braço do mandaloriano para baixo e, no momento em que o pequeno arpão foi disparado do bracelete, ele não perfurou o coração do Padawan. Atravessou sua panturrilha, espirrando sangue sobre a grama. O grito de dor, apesar de alto, não fora o suficiente para abafar o som do pescoço do mandaloriano se partindo, logo após Qui-Gon fechar as mãos e torcer o punho, à distância.

Qui-Gon e Satine correram até ele, abaixando-se ao seu lado. O mestre Jedi, imediatamente, rasgou o pedaço inferior da calça de seu Padawan para poder observar o ferimento. Sobre a pele, além do sangue, havia algumas marcas de um viscoso líquido roxo.

— Mas o que...

— É veneno – anunciou Satine, os olhos arregalados e a pele pálida de medo. – Alguns mandalorianos costumam passar veneno nas lâminas de suas armas brancas.

Mas não era preciso que Satine tivesse dito aquilo para que percebessem que algo estava errado. Em poucos instantes, os olhos de Obi-Wan reviraram nas órbitas e ele começou a tremer. Todo o seu corpo se contorcia e a saliva espumava em sua boca.

— Me ajude a tirar ele daqui! – aquela fora a primeira vez que Satine vira Qui-Gon, o sempre tão calmo e sereno mestre Jedi, gritar. – Rápido! – ele agarrou as pernas de Obi-Wan e Satine, paralelamente, agarrou os braços para que pudessem carrega-lo. – Me ajude a levar ele até o rio!

Não era um caminho longo. Apenas alguns metros à frente, às águas se tornaram visíveis. Ao lado de uma grande pedra, os dois pousaram o corpo de Obi-Wan.

— Ele vai morrer? – Satine perguntou, sua voz falhando.

— Isso é culpa sua! – Qui-Gon apontou para Satine, sentando-se ao chão e posicionando a cabeça de seu Padawan em seu colo. – Se ele morrer, saiba que você teve participação nisso! Você teve a oportunidade de agir e não agiu! Agora, faça um curativo nessa perna!

Satine não ousou questionar.

Ainda estava escuro, mas Satine sabia que, em breve, amanheceria. Durante o tempo que ficara ali, após a névoa ter baixado um pouco, ela conseguiu reunir alguns gravetos e montar uma fogueira. Não fora a noite mais agradável de sua vida, mas o calor do fogo lhe trouxe um pouco de conforto. Mas o verdadeiro conforto veio paulatinamente com o avançar da noite: aos poucos, a pele de Obi-Wan recuperava cor e calor e ela sabia que ele estava melhorando.

Satine tinha completa consciência de que Qui-Gon havia sido excessivamente duro com ela. Mas, ao mesmo tempo, sabia que ele estava certo. Ela podia ter evitado essa situação. Ela tinha poder para isso. Pacifismo era um ideal que ela queria lutar com a sua vida para defender, mas deixar de se defender (ou defender outras pessoas) era apenas idiotice. Irresponsabilidade, como o mestre Jedi havia dito.

E ela sabia que se sentiria terrivelmente culpada se o pior acontecesse. Por isso, ver que ele estava bem e respirando era um alívio muito grande.

Quando uma fina linha luminosa surgiu no horizonte, a névoa já havia praticamente se dissipado. O sol nascia vagarosamente e, com a luz, Satine podia ver o estrago do combate: quase cem metros à frente, os corpos dos caçadores de recompensas estavam caídos. A cena era horrível de ser vista, mas Satine sabia que era graças àquilo que ela teria mais um dia pela frente.

— Mestre...?

A voz de Obi-Wan ecoou fraca e Satine, imediatamente, virou-se para olhá-lo.

Atordoado, como Qui-Gon havia dito. Os movimentos de seus braços eram irregulares e sem controle e seu olhar estava perdido no céu, como se não conseguisse fixar as pupilas.

— Ei! – ela disse, segurando os braços dele com carinho e pousando em sua barriga. – Fique calmo. Mestre Qui-Gon já deve estar vindo. Está tudo bem. Vai ficar tudo bem.

Obi-Wan olhou para ela, levantando o pescoço para se aproximar. Pela forma como contraia os músculos do rosto, ele, com certeza, só via um borrão, sem conseguir identificar quem falava com ele.

— Quem é... você? – ele disse, soltando o pescoço e deitando novamente na grama, incapaz de sustentar o peso da própria cabeça.

— Sou eu – ela respondeu. – Satine. Você está seguro.

— Satine...?

Realmente, ele estava atordoado demais. Sua cabeça pendeu ligeiramente para o lado e ele fechou os olhos. Mas estava agitado, braços e pernas fazendo curtos movimentos e a cabeça girando de um lado para o outro. Mas, apesar de Obi-Wan não fazer idéia de quem ela era naquele momento, Satine achava que nunca mais poderia se sentir tão aliviada na vida.

O remorso que sentiria se a situação fosse outra era indescritível. Mas um pensamento se formou em sua cabeça, deixando-a apreensiva.

Sua reação imediata foi recuar. Satine permaneceu imóvel por alguns instantes, incapaz de acreditar que pensara naquilo.

Não... Não era dessa forma que ela enxergava Obi-Wan... Ou era?

Mas o pensamento de que sentiria saudade dele caso morresse ainda ecoava em sua mente.

“Como você sentiria de qualquer amigo”, ela disse para si mesma, tentando se convencer.

Mas ela sabia que não.

Obi-Wan não era apenas um amigo. Naquele tempo que estavam fugindo juntos, um havia feito pelo outro coisas que apenas muito bons amigos fariam. Afinal, quantas vezes ele salvara a vida dela? Sim, Obi-Wan era apenas um bom amigo.

Mas Satine sabia que também não era assim que ela o via.

Como poderia chama-lo de bom amigo se mal o conhecia? Com a convivência, conversa muito com ele. Afinal, Qui-Gon era mais calado e, fora os dois, ela não tinha muitas opções para conversar, não é? E, dessas conversas, acabara conhecendo um pouco dele. Mas não o suficiente para que ele fosse um bom amigo.

Havia algo de diferente nele. Era gentil e, ao mesmo tempo, era destemido. Era cuidadoso e, ao mesmo tempo, um excelente lutador. Havia algo que a fazia se sentir confortável e segura. Havia algo nele que a fazia se sentir calma e protegida. Mesmo naquele momento, quando os papéis haviam se invertido.

Mesmo em meio a todo aquele caos.

Não...! Definitivamente, não...

Ou sim?

Quando se deu por si, Satine estava a poucos centímetros dele. Seu coração acelerado, sua pele tão fria quanto a dele horas antes...

Os lábios da mandaloriana tocaram os do jovem Jedi por um rápido instante, apenas sutilmente.

Então, ela se afastou, descrente do que havia feito. Os lábios dele tatuados nos dela, uma sensação que não se dissipava.

— Estou interrompendo?

Satine se virou violentamente em um susto.

Qui-Gon estava a poucos metros deles, um sorriso irônico em seu rosto. Observando os dois.

Maldita névoa que se dissipou.