Tales of Star Wars

Melhor amiga (Anakin x Padmé / Padmé x Obi-Wan)


— E o qual o seu grau de parentesco com o general Skywalker? – questionou o droide médico.

— Eu sou a melhor amiga dele – respondeu a senadora Padmé Amidala imediatamente.

O droide médico, então, fez uma anotação no datapad em suas mãos e pediu que a senadora o acompanhasse. Obedientemente, ela seguiu o droide pelos corredores do hospital militar de Coruscant, quase sem prestar atenção no caminho que seguia. No fim, ela não sabia se usara escadas ou o elevador para chegar ao terceiro andar. Fisicamente, ela estava presente naqueles corredores, mas sua mente estava no marido. Em algum lugar daquele hospital, Anakin Skywalker estava ferido.

Por fim, após muito caminharem, o droide médico abriu a porta de um quarto, permitindo que Padmé entrasse. Era amplo, com uma grande janela e uma confortável poltrona para acompanhantes. Mas o espaço onde deveria conter a cama estava vazio.

— Você pode esperar aqui – informou o droide. – Ele será trazido em breve.

— Você sabe alguma coisa sobre o que aconteceu? – ela perguntou, tentando esconder a sua aflição.

— Infelizmente, só posso comentar sobre o caso com a família – foi a resposta. – Se precisar de alguma coisa, pode chamar.

Padmé não teve tempo de agradecer. O droide já havia se virado e deixava o quarto, fechando a porta e deixando a mulher sozinha.

As pontas de seus dedos estavam congelando e formigando (e ela sabia que não tinha nada a ver com a temperatura proporcionada pelo ar ambiente). Suas pernas tremiam. Seu coração batia contra seu peito como se tentasse sair para fora do corpo. Ela caminhava de um lado para o outro. Mil pensamentos passavam pela sua cabeça ao mesmo tempo.

“Acalme-se, Padmé”, ela disse para si mesma.

Ela interrompeu todos os seus movimentos e, em pé, fechou os olhos antes de inspirar fundo. Expirar. Inspirar. Expirar. Inspirar. Expirar. Inspirar. Droga... Aquilo não adiantava de nada...

Crente de que não conseguiria se acalmar sozinha, Padmé resolveu se sentar na poltrona, mas estava tão nervosa que mal conseguiu perceber o quão confortável ela era. Logo que se acomodou, seu holocomunicador vibrou em seu bolso.

“Senadora, conseguiu localizar o mestre Skywalker?”, perguntou o holograma de Sabé, à sua frente.

— Consegui – ela informou. – Já estou no quarto em que ele vai ser internado, mas ele não está aqui ainda. Não me falaram quando vão trazê-lo.”

O medo devia ser evidente em sua voz, pois, no instante, seguinte, Sabé disse:

“Senadora, se acalme. Você mesma esteve na reunião que o mestre Obi-Wan e o mestre Fisto tiveram com o chanceler, não é? E, pelo que a senhora me disse, nenhum dos dois mencionou que algo mais grave tivesse acontecido ao mestre Skywalker.”

— Mas também não mencionaram como ele estava – rebateu a senadora, impaciente.

“Senadora, o assunto da reunião era o mestre Skywalker ou a liberação de Kestos Minor?”

Por um instante, Padmé se calou.

— Tem razão. Me desculpe, Sabé. Eu... eu estou tão nervosa.

“Eu posso imaginar, senadora. Mas tenho certeza de que logo tudo vai se esclarecer. Eu e Dormé vamos cuidar de todas as documentações relacionadas à construção da usina em Keren. Amanhã, depois da votação, quando a senhora estiver mais calma, podemos discutir os assuntos pendentes pessoalmente. Mas, por hoje, eu sugiro a senhora não voltar para o Senado. É óbvio que tudo isso abalou a senhora e você precisa de um descanso.”

— Obrigada, Sabé – Padmé respondeu, ligeiramente mais calma. – Eu não sei o que faria sem você.

E, novamente, Padmé voltou a ficar sozinha naquele quarto. Perdida em meio às suas preocupações, ela se encostou na poltrona e jogou a cabeça para trás.

O tempo passou. O sol foi se abaixando no horizonte e o céu de Coruscant foi tomado por uma coloração alaranjada até que, por fim, prédios e speeders começaram a cintilar em luzes. A noite havia caído e ela continuava sozinha.

Quando a porta do quarto finalmente foi aperto, uma médica Twi’lek foi a primeira a entrar, seguida por dois droides que carregavam uma maca, colocando-a sob o espaço vazio no quarto reservado para ela. Sob ela, estava Anakin. Estava inconsciente, coberto até o pescoço, com um grande curativo sobre a parte esquerda de seu rosto e preso à uma mácara que lhe fornecia oxigênio.

— Como ele está? – Padmé se adiantou até a médica.

— Vai fica bem – disse ela. – Não se preocupe. Vai precisar ficar uns dias aqui para avaliarmos a recuperação da lesão no rosto, mas vai se recuperar. Você é o que dele?

—Espo... – Padmé se interrompeu imediatamente, torcendo para que a médica não tivesse prestado atenção. – Sou a melhor amiga dele – ela voltou a usar a mesma mentira. Bem... No fundo, acabava sendo verdade, de qualquer jeito.

— Você não precisa se preocupar – disse ela. – Ele é forte. Respondeu melhor do que esperávamos depois que tiramos ele do tanque bacta. Agora, eu preciso ver outros pacientes. Qualquer coisa, pode chamar alguém da equipe apertando esse botão – a médica indicou um botão vermelho na lateral da maca e, então, saiu do quarto, seguida pelos droides.

— Obrigada – Padmé sussurrou, quando já estava sozinha no quarto.

Ela, então, virou-se para o marido.

Ele estava pálido. Pálido demais para parecer saudável. Para parecer que ia se recuperar. Com as lágrimas se formando nos olhos, Padmé segurou sua mão. Fria. Fria o suficiente para que a única forma de ela saber que ele ainda estava vivo era ver a máscara de oxigênio embaçando ciclicamente conforme ele respirava. Nesse momento, sua primeira lágrima escorreu.

Temendo o que encontraria, ela puxou ligeiramente as cobertas que estavam sobre o marido. Por toda a extensão do tórax e abdome, curativos, escoriações e hematomas cujas cores vibrantes se destacavam ao redor de sua pele pálida.

— O que fizeram com você, Ani?

Seu peito doía apenas em pensar o que poderia ter acontecido. Ela se abaixou e depositou um beijo na testa do marido antes de se sentar de volta à poltrona.

Nesse momento, Padmé percebeu que não estava mais sozinha. Havia alguém parado à porta. Ainda com o braço sendo suportado por uma tipóia, como ela o vira na reunião com o chanceler algumas horas antes, mas mais limpo e com vestes Jedi inteiras, sem aqueles rasgos e furos que denunciavam a gravidade do combate que havia ocorrido em Kestos Minor. Por um instante, Padmé engoliu em seco, questionando-se há quanto tempo ele estaria ali e o que teria visto.

Mas havia bondade em seu olhar. O mestre Jedi não precisava dizer uma única palavra para que Padmé entendesse que ele sentia a mesma dor que ela, o mesmo medo. Respaldada pelo carinho e pela amizade para com ele, a senadora se levantou e se jogou contra Obi-Wan Kenobi, abraçando-o (e lhe arrancando um discreto gemido de dor ao pressionar o braço ferido dele entre os corpos dos dois). Com o braço saudável, o Jedi envolveu a amiga, tentando confortá-la.

— O que aconteceu, Obi-Wan? – ela perguntou, finalmente se afastando para olhar nos olhos do Jedi.

— Dokan e Ventress – foi a resposta. – Eles aconteceram. Capturaram alguns dos nossos soldados e colocaram em prédio cheio de civis. Havia bombas e eles iriam explodir. Claramente uma armadilha para matar a mim, Anakin e mestre Fisto.

Chocada com a perversidade descrita por Obi-Wan, Padmé voltou a se sentar.

— Salvamos todos que pudemos, mas houve um momento que precisávamos sair – Obi-Wan continuou. – Mas Anakin se recusou. Disse que só ia sair quando o prédio estivesse vazio.

O Jedi não precisava terminar seu relato para que Padmé soubesse seu desfecho.

— O prédio desabou com Anakin dentro – ele concluiu. – No meio dos escombros, nós procuramos por um corpo, mas o Rex achou ele ainda com vida. No cruzador Jedi, vimos que a maioria dos ferimentos eram leves. Um osso trincado ou outro. Mas ele teve uma contusão séria na cabeça.

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Padmé.

Em silêncio, Obi-Wan se adiantou para seu amigo e antigo Padawan. Com o braço sadio, segurou a mão dele, recuando ligeiramente com o susto ao sentir sua pele fria. Quase como se estivesse morto. O que o tranquilizava eram apenas os sons que viam dos monitores, indicando que realmente estava vivo.

— Por causa dele, trinta pessoas a mais sobreviveram – continuou Obi-Wan. – Sabe, nós Jedi somos ensinados a usar a racionalidade e, racionalmente, a melhor opção era sair. Salvamos o máximo de vida que conseguíamos e, infelizmente, alguns iriam morrer. Mas Anakin poucas vezes agiu de forma racional no campo de batalha. Talvez por isso alguns membros do Conselho tenham uma opinião bem cautelosa sobre ele...

Obi-Wan não tirava os olhos de Anakin. Assim como Padmé, ele retirou um pequeno pedaço das cobertas para ver a extensão das feridas, recolocando-as logo em seguida.

— Ele sempre foi passional – Obi-Wan deu a volta na maca, sentando-se no braço da poltrona em que Padmé estava. – Sempre agiu com o coração e, talvez, essa seja a maior de todas as virtudes dele. Se não fosse isso, trinta pessoas a mais teriam morrido naquela explosão.

Nesse momento, o mestre Jedi inspirou fundo, prestes a dizer algo que tanto o incomodava. Não por ser uma verdade, mas por ser uma verdade que ia contra tudo o que fora ensinado durante toda a vida. Desde pequeno, ele aprendera que o caminho Jedi, tão rigorosamente rígido e sempre tão defendido pelo Conselho, era o único caminho a ser seguido. Qualquer desvio era uma falha que precisava ser corrigida. Mas, diante dos últimos eventos, era uma verdade para a qual Obi-Wan não podia mais fazer vista grossa.

— Foram os sentimentos de Anakin que nos trouxeram a vitória – disse ele. – Então, quem está certo no fim das contas? O Conselho ou o Anakin?

Padmé levantou o rosto boquiaberta, incapaz de acreditar que Obi-Wan dissera algo do tipo. Um simples questionamento que, em qualquer lugar da galáxia, levaria a uma revisão de condutas. Mas, para os Jedi, aquilo era uma heresia. E ela imaginava o quanto devia ser difícil para Obi-Wan sugerir algo como aquilo.

— Anakin sempre teve um bom coração – disse Padmé. – Percebi isso em Tatooine quando eu e Qui-Gon o conhecemos. Ele não tinha nada a ganhar, mas, mesmo assim, se ofereceu para nos ajudar. E ele não mudou depois que veio pra cá. Ele tem o maior coração que eu já na vida.

— Tem sim – concordou Obi-Wan, o olhar perdido no vasto horizonte da parede branca à sua frente

Os dois permaneceram em silêncio por alguns instantes, apenas contemplando o impacto que aquela situação tivera nos dois. Padmé presa à figura de melhor amiga de seu próprio marido após um acidente trágico que quase lhe custara a vida e Obi-Wan questionando a autoridade e a legitimidade do Conselho.

— Não quer ir para casa, Padmé? – ele perguntou. – Sei que vocês senadores tem uma votação importante amanhã bem cedo. Imagino que vá querer dormir um pouco antes.

— E deixar ele sozinho?

— Nunca! – Obi-Wan respondeu. – O Conselho concluiu que, depois dos nossos ferimentos, eu e mestre Fisto merecíamos uns dias de folga. Vou aproveitar essa folga e ficar aqui a noite toda com o Anakin. E não se preocupe. Se algo acontecer, de bom ou de ruim, você será a primeira a saber. Eu te prometo.

No fundo, Padmé não queria sair. Queria ficar lá até Anakin acordar. Mas Obi-Wan estava certo. Ela precisava tentar descansar e não podia passar Anakin na frente de seus deveres. Afinal, ainda era senadora.

— Obrigada, Obi-Wan – ela disse, levantando-se da poltrona e o abraçando. – Boa noite. Me avise se precisar de qualquer coisa. Tudo bem?

Obi-Wan fez que sim com a cabeça, sorrindo levemente para Padmé.

Quase que automaticamente, Padmé deixou o quarto, ainda anestesiada com tudo o que acontecera e sem imaginar que a presença dela ao lado de Anakin e a sua preocupação para com ele era apenas mais um dentre os milhares de fatos que fazia Obi-Wan Kenobi suspeitar que os dois tinham um caso secreto.