There's a new revolution, a loud evolution that I saw
Born of confusion and quiet collusion of which mostly I've known
A modern day woman with a weak constitution, 'cause I've got
Monsters still under my bed that I could never fight off

("Hope Is a Dangerous Thing for a Woman Like Me to Have – but I Have It" (Lana del Rey)

— Você vai ficar bem? – perguntou o homem.

Ashoka Tano o encarou com ternura. Após tantos anos e aventuras juntos, era impossível não o ver como um amigo próximo, um mentor e um conselheiro. Apesar de não estar mais usado a tradicional armadura branca, mas uma túnica suja que o misturaria em meio à população em Mos Espa dentro daquela nave, ainda era o mesmo companheiro de sempre.

— Eu sei me cuidar, Rex – ela garantiu.

Em silêncio, os dois se abraçaram, sem saber se aquele era de fato um adeus ou se algum dia se veriam de novo. Um abraço longo que apenas foi quebrado quando o som de um apito anunciou que a nave estava para partir.

— Que a Força esteja com você, comandante Tano – disse ele.

— Que a Força esteja com você também, Rex.

Dito isso, sem malas, Rex se afastou e subiu a rampa em direção a nave, juntando-se a mais dezenas de pessoas em direção a Malastare. Por segurança, Rex não contara a Ahsoka para onde pretendia ir após isso e ela não contara a ele para onde ela iria. Caso fossem capturados, nem mesmo a mais horrível das torturas faria com que um entregasse o outro.

Ahsoka teve um último vislumbre do amigo antes que a rampa fosse recolhida e a porta fechada. Em instantes, a nave estava no ar, voando, mas a jovem togruta se manteve imóvel até que o veículo desaparecesse no céu azul de Tatooine. Foram quase sete semanas que os dois haviam passado juntos, fugindo de soldados leais ao recém-nascido Império, mas, finalmente, era hora de se separarem. Era hora de cada um seguir a sua história.

A jovem inspirou fundo e, por fim, abandonou a plataforma com um caminhar lento e melancólico que a guiou até para fora da cidade, onde havia pousado a pequena nave que, horas antes, havia roubado e com a qual pretendia sair daquele planeta. Mas, iria para onde?

Ahsoka possui algumas alternativas em mente. Algumas mais tentadoras que outras. Algumas mais seguras do que outras. Mas essa era uma dúvida que a consumia. Em um primeiro momento, havia pensado em Mandalore. Após os últimos eventos, sabia que seria bem recebida por Lady Bo-Katan e que receberia auxílio até conseguir pensar em endereço definitivo. Mas a opção caiu por terra em questão de segundos: uma vez que Mandalore não participara da guerra, provavelmente seria um dos primeiros planetas a serem invadidos pelo Império em sua tentativa de dominar a galáxia.

Mas qualquer outra opção na Orla Exterior ainda era uma opção forte. A maioria dos planetas seria um esconderijo perfeito, já que quase todos eram subúrbios esquecidos pela antiga República e terras de saqueadores e caçadores de recompensa. Nas atuais circunstâncias, com os Jedi sendo caçados e mortos, viver na ilegalidade parecia o mais sensato.

Apesar de ir contra todos esses argumentos, Ahsoka havia considerado ir para Naboo. Mas a recente morte da senadora Amidala devia ter fragilizado a população e, com certeza, atraído os olhares do Império para o planeta que, com certeza, estaria bem interessado em garantir que o novo senador fosse um peão fácil de manipular. Não, definitivamente, Naboo não era uma opção.

Ahoka sentou-se no banco da nave e fechou a escotilha, levantando vôo sem saber para onde ia.

“Eu realmente vou precisar da Força comigo, Rex”, pensou.

Já no espaço, Ahsoka largou os controles e deixou-se observar o vazio da galáxia à sua frente.

Em dúvida quanto ao seu destino, Ahsoka desligou a nave e fechou os olhos, colocando-se a meditar enquanto a nave era deixada à deriva. Precisava de uma resposta e precisa que fosse urgente.

Ela esvaziou a sua mente. Anakin a treinara bem e, apesar de toda a instabilidade das últimas semanas, concentrar-se o suficiente para meditar era a tarefa mais simples a se fazer em qualquer situação. Mas ela não imaginava que apenas pensar em Anakin quebraria sua atenção antes mesmo de começar.

Será que ele estaria vivo? Provavelmente, não... Provavelmente, àquela altura, estava morto, como qualquer outro Jedi... Teria sofrido? Teria sido a sua morte dolorosa ou teriam os clones sob seu comando o executado de forma rápida e impiedosa? Por um instante, Ahsoka desejou que sim. Não suportaria a idéia de Anakin ter tido uma morte lenta e dolorosa... Ele era bom demais, genuíno demais... Não merecia uma morte assim.

E era justamente o que fazia dele um Jedi tão especial. Tão diferente de todos os outros...

Uma bola de amargor se formou na garganta de Ahsoka, seu coração disparou e as lágrimas escorreram de seus olhos como se fossem rios: uma reação que se tornara íntima dela nas últimas semanas, sempre que pensava em Anakin. Incontáveis flashes se passavam em sua cabeça. Momentos e memórias um dia compartilhados e que haviam... acabado. Para sempre. No fundo, Ahsoka queria se esquecer de tudo aquilo, por um fim a essas lembranças. Cada uma delas lhe causava ainda mais dor, mais sofrimento... Como era possível doer tanto assim? Como era possível que lembrança lhe causassem tanto sofrimento?

E tudo ficava ainda mais insuportável quando ela se lembrava das suas últimas interações com seu mestre. Desde que o templo fora bombardeado até seu último encontro com ele, naquele cruzador Jedi.

No começo, no calor da emoção, Ahsoka tivera raiva de Anakin. Ele a havia abandonado, não havia tentado lhe ajudar enquanto ela estava presa e, inclusive, fizera parte da perseguição que, mais tarde, resultou em sua captura e julgamento. Naquela época, Ahsoka não entendera a atitude. Achara que Anakin estava apenas agindo como qualquer outro Jedi. E mais (e pior): achava que ele não acreditava nela.

Foram sentimentos que ela nutriu por um tempo, mas ver todo o esforço de seu mestre em investigar o caso até descobrir Bariss Offe como a grande mentora da explosão havia sido o suficiente para provar o contrário para Ahsoka. Mas era tarde demais. A semente da raiva havia sido plantada no coração da jovem Padawan e, apesar de isso não ter influenciado a sua decisão em deixar a Ordem Jedi para sempre, havia mudado a sua visão sobre Anakin, mesmo que parcialmente. Os Jedi estavam contra ela, e Anakin era um Jedi. Era um pensamento extremista, mas dominou a mente de Ahsoka de forma que ela não pôde evitar.

Mas o que ela queria? Que ele abandonasse a Ordem junto com ela? Claro que não. Obviamente isso não aconteceria, por mais que Anakin estivesse tão decepcionado com a Ordem quanto ela. Talvez, até mais... Mas ter deixado o templo sozinha fez Ahsoka se sentir, mais uma vez, traída por ele. Sozinha. Abandonada. Novamente, sabia que era um sentimento injusto e claramente falso, mas não conseguia se impedir de sentir aquilo... Talvez por que estivesse machucada demais no momento. Talvez por outro motivo. Mas eram eventos recentes demais para que ela conseguisse pensar com clareza.

Pelo menos, era o que ela vinha dizendo para si mesma para justificar esses sentimentos, embora ela soubesse ser uma mentira: conforme os dias e os meses se passavam, esse pensamento foi diminuindo, mas nunca deixou de existir. Algo em toda aquela história havia mudado dentro dela, bem como sua visão de seu mestre. Anakin Skywalker ainda era o homem para quem ela dedicara tanto respeito e afeição, mas já não era mais a figura imaculada que ela tanto venerava. Havia mágoa. Havia dor. E, por mais que não fosse verdade e ela tivesse consciência disso, Ahsoka deixou-se conquistar por esses sentimentos.

Com o tempo, ela conseguiu controlar esses sentimentos, mas eles nunca foram embora. Estavam adormecidos em seu peito, esperando o momento certo para acordarem e perturbarem sua mente mais uma vez. E esse momento surgiu naquele dia, em que ela o reencontrou pelo holograma. Ahsoka tinha plena consciência de que estava sendo injusta com ele, mas, à sua frente, não conseguia ver o mesmo Anakin de sempre, mas um Anakin por quem era grata por ter a ajudado mas que, ao mesmo tempo, era o mesmo Anakin que a havia perseguido lado a lado com os clones. No rosto dele, era claro que a visão de Ahsoka era uma surpresa muito bem-vinda. Mas ela fez o possível e o impossível para não demonstrar emoção alguma. No fim das contas, Ahsoka, em nenhum momento, nem sequer lhe perguntara como ele estava.

E tudo apenas se intensificou quando, poucas horas depois, encontraram-se pessoalmente. Quando ela se aproximou, o primeiro gesto de Anakin foi se adiantar, de braços abertos. Era o abraço que ela esperara por tantos meses... Que teria feito tanta diferença na época de seu julgamento... Mas que ela não recebera. E, mais uma vez, ela fora dominada por sentimentos que sabia serem injustos, mas que não conseguia evitar: levantou a mão, interrompendo qualquer abraço que seu antigo mestre tivera a intenção de lhe dar. E, mais uma vez, ela o fizera sem expressar emoção alguma.

Ela retornou para Mandalore e Anakin foi salvar o chanceler.

E aquele abraço jamais aconteceu. E Anakin estava morto.

No fim... no mais absoluto dos fins... fora Ahsoka quem abandonara Anakin. Não o contrário.

Ahsoka daria absolutamente qualquer coisa no universo para voltar atrás. Ela o abraçaria e jamais o soltaria. Que Mandalore e o chanceler explodissem pelos ares! Mas não o deixaria. Não deixaria que ele voltasse para Coruscant, para a morte certa.

Mas o tempo de fazer escolhas havia passado. Ahsoka havia feito a sua e não havia mais como voltar atrás. A ela, restava apenas o seu arrependimento. A cicatriz gravada em seu coração por todas as oportunidades perdidas nas quais os dois poderiam ter colocado suas diferenças de lado, esclarecerem os erros do passado e se perdoarem.

Ela podia jamais ter a oportunidade de conversar com Anakin novamente. Mas tinha a possibilidade de honrar seu amigo. Se ele estava morto, ele merecia um enterro. Digno, tal qual o homem que ele sempre fora. Não merecia ter seu corpo jogado em uma vala comum nos confins mais esquecidos da galáxia. Era um novo momento de decisão. E Ahsoka a estava tomando. Iria para o local onde, provavelmente, encontraria o corpo de seu mestre. Se não encontrasse, com certeza teria alguma pista para a guiar em sua nova missão. Dessa vez, ela não o abandonaria.

Sabia dos riscos. Sabia que seria perigoso. Sabia que, se fosse pega, seria mais um número na contagem de mortos. Mas ela devia aquilo a Anakin. Decidida, Ahsoka limpou as lágrimas e ligou a nave, voltando-se em direção ao covil dos lobos. Ao lugar mais perigoso da galáxia para qualquer pessoa ligada aos Jedi naquele momento. Ela acionou o hiperdrive e, dessa vez, ela sabia que, não importando o que acontecesse, ela não se arrependeria de sua decisão.

A nave acelerou, e Ahsoka foi jogada no hiperespaço.

Em direção à Coruscant.