Tales of Star Wars

Antes da viagem (Padmé x Dormé)


— Jar Jar, você se importa se eu me retirar? – Padmé Amidala o chamou, sussurrando próximo a ela. – Preciso fazer uma coisa com uma certa urgência e acho que não retorno.

— Claro que não, milady – Jar Jar Binks respondeu. – Eu assumo daqui.

Feliz por ter tido essa oportunidade, Padmé lhe agradeceu e se levantou, retirando-se de seu pod e se lançando aos corredores do Senado. Mecanicamente, ela se dirigiu até a sua própria sala, onde, ao entrar, encontrou Dormé sentada em sua mesa, trabalhando em alguns papéis.

— A reunião já acabou? – questionou Dormé, ponde-se a organizar os papéis à sua frente. – Foi bem rápido, não foi?

— Ainda não acabou – disse Padmé, sentando-se de forma desleixada em seu sofá. – Mas por mais que o senador Organa seja meu amigo e eu o respeite muito, eu não ia aguentar mais um minuto lá na Câmara.

— O que aconteceu? – a dama de companhia quis saber.

— Não estou bem – disse Padmé. – Acho que comi algo que não me fez bem. Estou enjoada desde ontem a noite. Nada que esteja me incomodando, mas lá dentro eu estava vendo o mundo girar e precisei sair. Jar Jar ficou no meu lugar.

Já em pé, Dormé se aproximou.

— Quer que eu te traga um copo de água? – perguntou. – Posso chamar um médico, se quiser.

— Eu vou aceitar a água. Obrigada, Dormé – respondeu Padmé. – Mas não precisa chamar ninguém. Eu vou ficar bem.

Dormé fez uma ligeira reverência e saiu da sala. Uma vez sozinha, Padmé respirou fundo e se dirigiu até a sua mesa. Aparentemente, todos os documentos com os quais Dormé trabalhava estavam em ordem. Ela os agrupou e colocou-os em uma gaveta.

— Aqui está, milady – disse Dormé ao retornar, entregando-lhe um copo com água.

— Obrigada – ela disse e bebeu um gole longo. – Tem notícias da Sabé?

— Ela entrou em contato há duas horas, milady – Dormé respondeu. – Retornou para Theed agora de manhã e, aparentemente, as negociações foram um sucesso. Sabé prometeu os 30% de aumento que a senhora havia aprovado e os mineiros concordaram em interromper a greve desde que o primeiro pagamento seja feito ainda essa semana.

Mais um gole de água.

— Excelente – disse Padmé. – Agora, apenas preciso assinar o acordo, não é? Minha nave está pronta?

— Sim, senhora – a resposta foi imediata. – Inclusive, durante a semana eu consegui organizar a instalação do novo hyperdrive. Se for realmente o que o vendedor prometeu, nossa viagem até Naboo será bem mais curta.

— Eu duvido – Padmé estava pouco crente. – Lembra do último? Gastamos aquela fortuna e a diferença foi de apenas 20 minutos. Mas, enfim... Vamos testá-lo, não é? Obrigada por tudo, Dormé. Você fez um excelente trabalho. Se quiser ir almoçar, fique à vontade. Vamos para Naboo assim que retornar. Mas não precisa ter pressa. Temos todo tempo do mundo.

Novamente, Dormé fez uma pequena reverência.

— Obrigada, milady.

Bastou Dormé dar as costas e caminhar alguns passos em direção a saída da sala de Padmé quando foi impedida. Um som atrás dela chamou sua atenção, obrigando-a a se virar: Padmé se levantara às pressas de sua cadeira e, em uma tentativa frustrada de chegar ao banheiro, vomitou em um vaso e plantas próximo.

— Milady! – Dormé avançou até ela velozmente.

— Acho que vou aceitar o médico, Dormé – Padmé a informou.

***

Você está um pouco desidratada – disse o médico, um cereano muito alto, curvado ao lado de Padmé, que estava sentada no sofá de sua sala, após observar a mucosa dos olhos da senadora. – Tem certeza que essa foi a única vez que vomitou?

— Sim – disse Padmé.

— Bem, isso pode ser apenas uma indisposição – o médico continuou. – Uma infecção que talvez esteja no início. Vou te receitar alguns remédios para os sintomas e te pedir que se hidrate bastante. Tudo bem, senadora? Agora, o droide-médico vai colher o seu sangue apenas para checar se houve alguma repercussão mais grave.

Padmé concordou e um droide flutuou em direção a ela. Com uma técnica perfeita e quase indolor, o droido espetou o seu braço com uma agulha e Padmé pôde ver seu sangue fluindo da agulha para dentro do droide por uma seringa. Durante todo o tempo, Dormé permaneceu em pé ao lado do sofá, imóvel e com olhar perdido no horizonte, mas atenta a todo movimento na sala.

— Pronto – disse o cereano enquanto olhava a tela presente na lateral do droide. – Felizmente, não há nada mais grave. Mas encontramos a causa e, infelizmente a senhora ainda vai se sentir mal por um tempo, senadora.

— O quê? – ela quis saber. – Por quê?

— A senhora está grávida – disse o médico. – Parabéns.

Imediatamente, os olhos de Padmé e de Dormé se arregalaram.

A partir desse momento, Padmé perdeu a noção de tempo. Cumprindo seu papel, o cereano dava recomendações e instruções, mas ela só conseguia ver seus lábios se mexendo, sem que conseguisse processar uma única palavra do que ele dizia.

— A senhora tem alguma dúvida? – ele questionou, por fim.

— Eu...? Não... – ela respondeu desnorteada.

— Excelente – ele disse. – Se precisar de mais alguma coisa, basta me chamar.

— Obrigada... – Padmé sussurrou enquanto o médico saia, acompanhado de seu droide.

Uma vez que estavam sozinhas na sala, Dormé quebrou sua postura rígida e contornou o sofá, abaixando-se em frente a Padmé.

— Milady...

— Meu Deus! – Padmé se levantou, com a boca aberta e olhando para o chão.

­– Milady, quer que eu cancele a sua ida pra Naboo? – questionou Dormé. – Podemos assinar um decreto dando poderes emergenciais temporários para Sabé e ela mesma irá assinar o acordo com os mineiros, se preferir. E posso dar um jeito de entrar em contato com o Mestre Skywalker e...

— Não, Dormé – Padmé levantou a mão e, imediatamente, Dormé parou de falar. – Está tudo bem. Eu só... Eu só... Eu não acredito nisso.

Nesse momento, Padmé se virou para olhar Dormé.

— Eu vou ser mãe – ela disse, quase sussurrando, como se precisasse disso para, finalmente, entender o peso da notícia. – Isso é...

— Incrível – completou Dormé.

— ... desesperador – Padmé terminou.

E Padmé realmente pensava isso pois seu rosto estava pálido e ela sentia a ponta dos seus dedos formigarem. Era visível que estava nervosa.

— Dormé... – Padmé lacrimejava. – O que eu vou fazer?

A dama de companhia avançou, segurando as mãos da senadora. Mas antes que pudesse falar qualquer coisa para tentar acalmá-la, Padmé começou a falar.

— Vão descobrir sobre eu e o Anakin – disse, entre soluços. – Acabou. Ele vai ser expulso da Ordem, eu vou perder o mandato... Acabou, Dormé, acabou...

— Não – foi a resposta. – Não acabou!

Dormé usara um tom de voz firme, quase como se estivesse dando uma bronca em Padmé. O suficiente pra chamar a atenção da senadora que, por um segundo, pareceu se esquecer de todos os seus problemas e encarou incrédula para a dama de companhia.

— Vão demorar três ou quatro meses até a sua barriga começar a aparecer – disse Dormé. – Até lá, podemos pensar em muitas alternativas. E, mesmo quando você não conseguir mais esconder a gravidez, você não precisa dar justificativas para ninguém sobre quem é o pai. Ninguém controla a sua vida pessoal, nem mesmo a rainha Apailana ou o chanceler Palpatine. Todos nós vamos ter mais do que tempo suficiente para pensar em como proceder durante a sua gravidez e quando o bebê nascer.

Ainda ansiosa, Padmé apenas fez que sim com a cabeça.

Vendo que suas palavras haviam surtido um efeito sobre ela (mesmo que mínimo), Dormé a conduziu até a sua cadeira e lhe entregou o copo de água que lhe trouxera, que ainda estava lá, parcialmente cheio. Padmé bebeu um longo gole antes de coloca-lo de volta à mesa.

— Onde está o mestre Skywalker? – perguntou Dormé.

— Yerbana – Padmé respondeu. – Foi enviado para lá há alguns dias.

— Você não quer mesmo que eu entre em contato com ele?

— Não, obrigada – ela respondeu. – Eu quero estar com ele quando ele souber. Quero contar pessoalmente.

As duas mulheres, então, permaneceram em silêncio por alguns instantes.

Um bebê. Aquela notícia era impactante demais e, de uma forma ou de outra, o futuro dela e de Anakin iria mudar drasticamente. Os dois precisariam fazer o possível e o impossível para que tudo desse certo e, mesmo assim, a possibilidade de serem descobertos em algum momento se elevava a níveis absurdos.

— Como acha que ele vai reagir à notícia?

— Me baseando na forma como ele reagiu quando eu entre aqui na sala e peguei vocês dois se beijando no sofá, ele vai suar frio e tremer igual uma criança pega fazendo traquinagem – respondeu Dormé.

Padmé riu.

— Eu juro que eu achei que tinha trancado a porta naquele dia – ela confessou. – Acho que eu nunca vi o Anakin com tanto medo quanto ele estava de você naquele dia.

Dormé sorriu.

— Vai dar tudo certo, milady – ela disse, segurando a mão de Padmé com firmeza. – Tem tanta gente que te ama e que vai ajudar se a senhora precisar. E eu vou estar ao seu lado a qualquer momento.

— Obrigada, Dormé – ela disse. – Eu sempre soube que podia contar com você pra tudo.

As duas mulheres se olharam com ternura. Há muito não era mais uma relação de empregadora e empregada. Elas eram amigas.

— Posso te pedir uma coisa?

— Qualquer coisa – Dormé respondeu imediatamente.

— Cancele minha ida pra Naboo – disse Padmé. – Eu vou dar os poderes de emergência pra Sabé. E depois vou pra casa. Quero ficar um pouco sozinha, pra absorver o impacto da notícia.

— Vou providenciar agora mesmo – disse Dormé.

Após uma reverência, a dama de saiu da sala para cumprir com seu trabalho, deixando Padmé sozinha.

A senadora girou em sua cadeira e, através da janela, seu olhar se perdeu no horizonte de Coruscant e isso, lentamente, fez com que ela se acalmasse. Ela e Anakin sempre deram um jeito pra tudo. Sempre encontravam uma solução, por mais difícil que fosse. Não seria diferente dessa vez.

Quando foi retirada de seus pensamentos, com Dormé retornando à sala, Padmé percebeu que tinha a mão sobre o ventre.