Tale of a Lost Memory

Capítulo 1 - Premonição e Amnésia


Tudo estava confuso. O mago das trevas e o rapaz de cabelos azuis duelavam ferozmente no salão escuro do castelo inimigo. A espada nas mãos deste rebatia as magias incandescentes que eram lançadas rapidamente pelo feiticeiro. De repente, o mago negro transportou-se para o teto, arremessando uma esfera de energia púrpura contra o rapaz. Neste momento tentei em vão acertá-lo com minha magia do trovão, mas o mago foi mais rápido e desapareceu, surgindo novamente no nível do chão, acertando o guerreiro com um soco energizado por sua magia.

Enquanto o rapaz se reerguia apoiando em sua espada, o feiticeiro gerava uma grande esfera de magia, liberando uma gargalhada sádica de satisfação pelo próximo ataque. Num movimento rápido, combati a grande esfera com um golpe da minha magia do elemento trovão, fazendo com que o feiticeiro inimigo me fitasse com ódio e decepção no olhar. Neste momento, o inimigo recuou e o rapaz, já recomposto, se dirigiu a mim:

– Esta é a nossa batalha final! Você é uma de nós, Robin, e nenhum “destino” pode mudar este fato. Agora, vamos matar este bastardo e acabar com tudo isso de uma vez!

As palavras de Chrom me revigoraram e sorri de volta em confirmação. Decidimos por nos aproximar cuidadosamente do inimigo, que encontrava-se no centro do grande saguão mal iluminado por archotes. Segui logo atrás de Chrom, que guiava o caminho pelo salão escuro. Das trevas uma voz carregada de maldade foi ouvida: “Tolos! Ainda resistem? Hahahaha”.

Seguimos na direção da voz e avistamos o vulto de Validar e, como que se usássemos telepatia, atacamos o mago inimigo de forma sincronizada.

– Seus idiotas! Esta guerra é inútil, vocês não podem reescrever um destino que já foi traçado! – Validar retrucava em seu tom vazio enquanto desviava de nossos ataques.

A lâmina sagrada nas mãos de Chrom acertou Validar, que caiu sobre os joelhos. Eu não sabia porque hesitava tanto em atacar aquele homem que visivelmente nos agredia para matar. Respirando fundo e vendo com aflição Chrom lutar por nossos companheiros e pelo nosso futuro, encontrei forças para atacar e acertei o inimigo no momento em que este se levantava. Validar finalmente caiu diante de nós, emanando uma energia negra, como se estivesse se desintegrando.

Chrom se virou com um sorriso de alívio em seus lábios, finalmente havia terminado! Um rugido alto ecoou e uma esfera de energia negra avançava na direção do azulado: Validar ainda encontrara forças para atacar uma última vez. Essa era a minha hora de retribuir todo o bem que Chrom fizera ao me aceitar como uma aliada, como uma companheira e eu só sentia culpa por trazer este destino de destruição aos nossos amigos e familiares. Afastei Chrom do caminho da grande esfera de energia, este ainda não havia entendido o que ocorria ali. Fechei os olhos e recebi o golpe em seu lugar, aceitando meu destino. Enquanto eu caía sem forças, Chrom veio ao meu encontro, apoiando minha cabeça com seus braços. Sorria nervosamente, tentando disfarçar sua preocupação:

– Robin! Você tá bem? Este é o fim. – Chrom indagou enquanto me abraçava e me fazia olhar para frente. Vi que finalmente Validar havia sido derrotado, seu corpo havia sumido – Você salvou o dia novamente, Robin, descanse agora! – Finalizou. Seu sorriso fazia com que eu me sentisse um pouco melhor. O pensamento de que o futuro daqueles que eu amava estava salvo me fez esquecer toda a dor que sentia.

De repente minha visão se tornou embaçada, como se meu cérebro entrasse em pane e tudo ao meu redor foi tingido de vermelho. Diante da minha expressão de dor Chrom, que olhava em meus olhos com um olhar preocupado, se aproximou de mim.

Tudo aconteceu muito rápido. O semblante de Chrom passou de preocupação para dor e surpresa em segundos. Um feixe de magia elétrica atravessava seu corpo, fazendo-o cambalear e respirar com dificuldade. Olhei minha mão, que ainda estava iluminada pela magia recém conjurada, me despertando do transe momentâneo. Voltei à razão e compreendi: Validar havia me controlado através do golpe que me acertou. Chrom transpirava muito e disse com dificuldade:

– N-não foi culpa sua. Me prometa que vai escapar desse lugar, ok? – Seu olhar gentil enquanto desfalecia me encheu de remorso – P-por favor, vá!

Ele fechou os olhos azuis e caiu morto aos meus pés. Não houve lugar para meu desespero: uma gargalhada maléfica ecoou em minha mente, que novamente foi tomada por um espírito maligno muito mais forte que toda a culpa que eu sentia naquele momento.

~X~

Estava imersa em escuridão. O silêncio total foi interrompido por uma voz feminina cheia de energia:

– Chrooom! Nós temos que fazer alguma coisa! – A voz também trazia um tom de preocupação.

– O que você sugere que façamos? - Respondeu uma voz masculina extremamente familiar.

–E-eu não sei!

Abri lentamente os olhos, contemplando o céu azul. A luz do sol ofuscava um pouco a minha visão, mas logo foquei duas pessoas que me observavam com surpresa por eu ter despertado. Era um rapaz de cabelos azuis e olhos intensos na mesma coloração, aparentava ter por volta dos vinte anos. Havia também uma garota de cabelos loiros e olhos também azuis, de aspecto mais jovem. Ambos estavam vestidos com roupas muito bonitas.

– Existem lugares mais adequados para uma soneca do que o chão, sabia? – Disse o homem de cabelos azuis em tom de brincadeira enquanto que a loira ao seu lado sorria gentilmente. – Me dê sua mão – o azulado estendeu as mãos para mim.

Aceitei a ajuda e me levantei, ficando a poucos centímetros do rapaz, que me fitava intensamente. Retirei meu capuz, revelando meus cabelos alvos enquanto retribuía o olhar do jovem com curiosidade. Era como se aquele desconhecido fizesse parte da minha vida há muito tempo.

– Você está bem? – Ele me indagou, me despertando do meu transe. Notei que havia uma marca estranha na minha mão direita, “se eu fiz esta tatuagem em algum momento da minha vida, com certeza tenho um mal gosto tremendo”, pensei. Bem, isso não era relevante no momento.

– S-sim, obrigada, Chrom! – Respondi de forma atrapalhada, estava envergonhada por ficar encarando o garoto daquele jeito. Nem percebi que havia o chamado pelo nome. Mas como isso era possível? Eu nunca o havia visto.

– Ahh, então você me conhece? – Ele me olhou intrigado com minha resposta.

– Não, na verdade. É estranho...Seu nome...Simplesmente me veio à mente. – Respondi. Minha cabeça ainda rodava e finalmente percebi que estávamos em uma ampla clareira repleta de relva verde e com algumas árvores esparsas.

–Hmm...Que curioso – Chrom parecia conformado com minha resposta por hora. – Me diga, qual seu nome? O que te traz aqui?

–Meu nome é...Hmm? - Droga! Eu definitivamente não me lembrava do meu nome.

Chrom olhava com curiosidade. Percebi que atrás dele estavam a moça loira que havia visto antes e também um outro rapaz, de olhos e cabelos castanhos, de porte alto e com uma armadura. Devia ser um cavaleiro e parecia mais velho que os outros dois.

– Você não se lembra do seu próprio nome? – Chrom estava atônito com a minha resposta. Percebi um certo desconforto no cavaleiro logo atrás do rapaz.

– Eu não sei ao certo. Desculpe-me, mas onde eu estou exatamente? – Indaguei. Não fazia ideia de onde estava e qual era meu nome. Temi que aquele cavalheiro me tomasse por uma farsante com más intenções.

A garota que até então só nos observava resolveu se manifestar:

– Eu já ouvi falar sobre isso! Chama-se amnésia! – A moça loira fez menção de iniciar uma explicação quando foi interrompida pelo cavaleiro atrás da mesma, que me olhava com desprezo.

– Isso chama-se um monte de merda de pégaso! Você realmente espera que acreditemos que você lembra do nome de milord enquanto não se lembra do seu próprio nome? – O cavalheiro apertava a espada em sua bainha e caminhava em minha direção de forma intimidadora.

– Mas é verdade! – Retruquei assustada, dando alguns passos para trás.

– Mas e se for verdade, Frederick? Nós não podemos simplesmente a abandonar aqui, sozinha e confusa! Que tipo de Shepherds nós seríamos se fizéssemos isso? – Chrom respondeu ao cavalheiro, mas este mostrou-se inflexível.

– Eu só prezo por sua segurança, milord. Pode ser um lobo em pele de cordeiro! – Frederick respondeu resoluto, parecia bastante devoto. Aliás, por que ele o chamava de “milord”?

– Certo então, nós vamos levá-la para a cidade e resolvemos isso lá – Finalizou Chrom, mas o interrompi com medo de ser presa ou algo do gênero.

– Espera um momento!

Diante de minha exaltação, Chrom colocou as mãos em meus ombros e me olhou profundamente nos olhos. Minha alma acalmou-se no mesmo instante:

– Fique tranquila. Eu prometo que vou ouvir o que você tem para dizer na cidade. Agora, venha conosco. É perigoso para uma donzela como você ficar aqui neste campo aberto.

Caminhei seguindo Chrom e a garota loira. Frederick seguia atrás de mim, sentia seu olhar impetuoso às minhas costas. Ele definitivamente não confiava em mim. Diante deste desconforto, tomei a coragem de perguntar:

– O que vocês farão comigo? Serei sua prisioneira?

– Você estará livre para ir embora assim que nos certificarmos de que você não é inimiga de Ylisse. – Chrom respondeu em um tom gentil que me convenceu de que ele realmente possuía um bom coração.

– Este é o lugar em que estamos então? Ylisse? – Perguntei como que afirmando para registrar tal informação.

– Você nunca ouviu falar sobre o reino? Você é uma baita de uma atriz bancando a estúpida! Essa sua testa franzida é bem convincente...- Frederick me respondia grosseiramente quando Chrom o interrompeu.

– Frederick, por favor. – Chrom olhava como que achando graça da preocupação do cavalheiro e pôs-se a me explicar - Esta região é conhecida como reino de Ylisse. Nossa governante, Emmeryn, é chamada Exalt de Ylisse. Aliás, não nos apresentamos apropriadamente. Meu nome é Chrom, mas você parece já saber disso – Ele riu e eu corei com este fato, que coisa! – A donzela delicada aqui é minha irmã mais nova, Lissa.

– Eu NÃO sou delicada, oras! – Lissa protestou de forma energética à colocação de Chrom. “Esta garota é muito engraçada”, pensei sorrindo. – Ignore meu irmão, por favor, ele é meio grosso às vezes. Mas você é muito sortuda pelos Shepherds* terem encontrado você. Os bandidos que têm rondado por aqui teriam lhe acordado de maneira um pouco mais rude – A garota disse parecendo levemente eufórica, como se quisesse ser minha amiga.

– Peraí, vocês pastoreiam ovelhas? Usando armaduras e espadas? – Apontei para as espadas que estavam nas bainhas de Chrom e Frederick incrédula. Notei que Lissa carregava consigo uma espécie de báculo, que logo reconheci como o instrumento de cura de um clérigo.

– É um trabalho perigoso. Pergunte ao Frederick, o Cauteloso, aqui – Chrom respondeu, bem humorado, dando tapinhas nas costas de Frederick.

– Este é um título que carrego com orgulho. Desejo profundamente acreditar em você, estranha, mas meu ofício me diz o contrário. – Respondeu o cavalheiro com propriedade. Eu realmente entendia a desconfiança dele.

– Eu entendo, Frederick, no seu lugar faria o mesmo. Meu nome é Robin...Eu acabei de me lembrar! Pelo menos um mistério está solucionado. – Respondi, minha cabeça rodava a cada nova lembrança que vinha à tona.

– Robin? É um nome estrangeiro? Bem, podemos discutir isso depois, nós estamos quase chegando à cidade e ...- Chrom foi interrompido por um grito de Lissa, que caminhava mais à frente:

– CHROM! A cidade! – Lissa gritava, estava desesperada. E não era para menos: a pequena cidade constituída por casinhas de pedra e madeira estava em chamas.

Ao sinal de Chrom, os três correram em disparada rumo à cidade. “Eles me esqueceram”, notei. Não sabia se devia segui-los ou não. Após alguns segundos de indecisão, optei por ir. “Vou mostrar a eles que sou digna de confiança!”, pensei enquanto corria em direção ao caos. Eu não sabia o porquê de estar fazendo isso, mas sentia no meu interior que aquelas pessoas me ajudariam a descobrir quem eu era e o que estava fazendo neste reino.