Johanna batia seu anel com uma enorme pedra azul no metal da barra do elevador enquanto eu lhe contava o resto da história. Aliás, segurar tudo até a hora do almoço tinha sido um trabalho a mais, já que não importava se a empresa poderia ruir nos meses seguintes por causas e brigas entre eu e o futuro vice-presidente, minha amiga só queria saber do loiro que eu tinha “pegado” do Taiti.

― De tudo isso, tem uma coisa que eu não concordo com você, Katniss.

― Que seria... ― A incentivei a continuar.

― Você devia ter transado com ele na cachoeira. ― Rolei olhos.

― Não vou mais explicar isso pra você, Jo.

― Também não admito que você não tem uma foto ou vídeo com esse misterioso surfista! Qual é, Kat, preciso de fotos pra criar a imagem mental.

― Não vejo porque é necessário você criar imagens mentais minhas e de outra pessoa. Foram dias bons, Jo, você e Mad tinham razão, eu precisava disso. Mas passou, foi um amor de verão como muitos outros, ficou nas areias do Taiti.

― Sou sua melhor amiga... ― ela começou.

― Sei...

― Então confessa uma coisa pra mim e eu não conto pra ninguém, juro de mindinho. Você se arrependeu, não foi?

― De ter ficado com ele? Não ― respondi sem hesitar.

― De não ter pego algum contato, pelo menos o sobrenome. Você se apaixonou, achou que quando voltasse para casa passaria, mas desde que colocou os saltos aqui só pensa no cara e queria ter tido a coragem de entrar com tudo nessa. ― Essa é a desvantagem de ter essas amigas há muito tempo. Ela conseguia ler meus pensamentos e interpretá-los melhor do que eu mesma. Torci meu rosto numa careta ao mesmo tempo que o elevador apitou anunciando a chegada em nosso andar. ― Tudo bem, não precisa falar, sua cara já me mostrou tudo.

― Desde que cheguei ontem, já liguei para o hotel, aeroporto e até para umas companhias de taxi e turismo do Taiti. Mas o cara evaporou.

Como minha amiga bem disse, eu estava arrependida de não ter lutado mais por isso quando tive oportunidade. E quando todas minhas tentativas de encontrá-lo falharam, comecei a desejar com todas as forças que ele ainda não tivesse desistido de mim, apesar de ter quase certeza que uma criatura como Peeta não se apegaria a ninguém.

― Tem certeza que você não tomou muitos daqueles seus remedinhos para dormir e alucinou sobre essa pessoa perfeita?

― Eu não sou louca, Johanna!

― É bom não ser mesmo, chefinha. ― Madge tinha uma expressão e um sorriso estranho no rosto. Ela levantou-se assim que entramos em sua sala, que ficava logo antes da minha. ― Aconteceu uma coisa.

― O que o Snow aprontou dessa vez? ― perguntei tensa sendo seguida pelas duas para a sala da presidência.

― Kat, desiste disso e pronto. Podemos fazer essas negociações em outra época, a empresa vai bem sem isso.

― Dei minha palavra, Jo. ― Me joguei em minha cadeira.

― Na verdade, Snow está fora.

― O quê? ― Eu e Jo questionamos em uníssono com a notícia, que quase me fez cuspir o café que minha secretária tinha acabado de colocar em minha mesa.

― Bom, houve uma reviravolta. Um novo competidor entrou na disputa e como sempre, o bastardo não perde nada na vida. ― Franzi o cenho pelo modo como ela falou.

― Não quero ser a puritana da sala, mas isso lá é jeito de falar do seu provável novo chefe, Madge Undersse? ― Jo pareceu estranhar a fala de Mad tanto quanto eu. A loirinha deu um sorriso de lado, claramente se divertindo com algo que não sabíamos.

― Por que eu tenho a nítida impressão que tem algo que você não está nos contando?

― Senhorita Everdeen, senhorita Mason, vocês podem por favor me acompanhar até a sala de reuniões, por favor?

― Ele tá aqui? ― Quando ela confirmou com a cabeça, saltamos de nossas cadeiras, corroídas de curiosidade, e rumamos atrás de Madge.

A sala de reuniões era enorme, uma mesa gigantesca, cadeiras iguais revestidas de azul marinho e uma estante com livros, eram a única mobília do local.

― Por que vocês pararam? ― Reclamei quando as duas interromperam minha passagem ficando paradas na porta.

Quando passei entre as duas, vi o homem que estava próximo à janela, limpando a lente dos óculos de grau na barra do seu alinhadíssimo terno. Seus cabelos estavam bem arrumados com gel, e quando nossos olhares se encontraram, seu sorriso de ampliou. Mal se passou um dia e eu já sentia tanta falta do maldito sorriso.

― Só pode ser brincadeira. ― Corri em sua direção, jogando meus braços em torno de seu pescoço e o beijando com vontade. Ao contrário do que eu achei que ele fosse fazer, Peeta me encontrou e eu não poderia estar mais feliz.

― Você recebe assim todos na sua empresa, senhorita Everdeen? ― O loiro cochichou com os lábios ainda bem próximos aos meus, fazendo cócegas em meu rosto com o leve toque.

Abri meus olhos lentamente ainda demorando a acreditar que era ele mesmo que estava na minha frente. Para falar a verdade, fora o seu cheiro de maresia e seus toques já tão comuns para mim, não parecia ele mesmo. Não com o terno, não com a postura, não com os óculos.

― Você parece tão...

― Mais lindo? ― Peeta arriscou com um sorriso de falsa arrogância no rosto.

― Bem menos, hein, Peeta? ― Foi Madge que se manifestou, foi então que lembrei que elas deviam estar tão confusas quanto eu com aquilo tudo.

― Não seja estraga prazeres, priminha. Ei, Jo. ― Johanna acenou de volta como se já o conhecesse, e me virei para elas deitando um pouco minha cabeça para o lado entendendo menos ainda o que diabos estava acontecendo ali.

― Preciso de explicações. ― Exigi.

― Ela não é adorável quando “exige explicações”. ― Peeta, o indiscreto, pousou uma mão em minha cintura e se inclinou beijando meu rosto. Mas quem sou eu para julgar indiscrições depois do beijaço de agora a pouco?

― Kat, eu ia te apresentar a pessoa que ganhou a disputa para a compra dos 40% da empresa, e que será seu sócio assim que você assinar esses papeis.

― E eu ia te apresentar o primo da Madinha que ia tirar teu atraso, mas pelo jeito você se adiantou, Katniss, e em grande estilo!

― Ok, tempo. ― Massageei as têmporas com os dedos. ― Vocês duas podem nos dar licença dois minutos?

― Talvez mais de dois minutos. ― Dei um cotovelada nas costelas de Peeta para ele aprender a parar de fazer piadinhas fora de hora. As duas trocaram um olhar malicioso antes de se retirarem. Me virei para ele ainda com os braços cruzados.

― Você me disse que era pobre!

― Não, eu não disse.

― Você me disse que trabalhava na banquinha de aluguel de pranchas.

― Também não disse isso, Noni, você apenas supôs e eu não desmenti. Na verdade, nem entendi bem como você começou a achar isso. ― Eu deveria estar com raiva dele, mas apenas a utilização do bendito apelido me fez rir involuntariamente.

― Eu senti tanto a sua falta. ― O abracei fechando meus olhos e apenas sentindo o carinho de seus braços ao meu redor.

― E o que falar de mim, que depois que saí do seu quarto naquela manhã e fui surfar um pouco, entendi que não tinha sido só um amor de verão. Quando voltei no hotel e você já tinha ido, eu fiquei louco, Kat. Eu tinha que te encontrar de novo! ― Sorri encarando seus lábios. Fiquei exultante em saber que a procura desesperada tinha sido mútua, mas no momento, eu só queria beijá-lo um pouco mais. ― Agora você imagina minha surpresa ao descobrir que a minha Noni era Katniss Everdeen, uma mega empresária com quem eu já tinha uma reunião marcada e com quem minha prima vivia tentando armar um encontro.

― Espera... Tínhamos algo marcado? ― perguntei desconfiada e ele assentiu. ― Como é seu sobrenome? ― Peeta deu um passo para trás fazendo uma reverência.

― Peeta Mellark, seu futuro sócio e marido, ao seu dispor.

― Mellark? Você é O Mellark?

― Se eu soubesse que meu sobrenome te impressionaria mais que meu corpo, teria partido logo desse ponto. ― Minha boca ainda estava aberta e ele apenas ria.

― Você é incrível, estava tentando agendar essa reunião faz tempo, mas sua agenda é pior que a minha! Você é um prodígio, tudo que toca vira ouro, eu não acredito... Você não pode... ― gaguejei. ― Você não pode ser o mesmo irresponsável tatuado do Taiti!

― Eu te falei, ma chère, tudo que vou fazer, dou meu máximo. Não sou bom em perder. ― Ele tentou me abraçar, mas eu ainda nadava de um lado para o outro da sala.

― Caralho, eu não acredito que Madge é sua prima e não conseguiu trazer você pra cá antes. Puta que pariu, você comprou as ações!

― Kat... Kat... ― Quando Peeta segurou minhas mãos e me trouxe para perto dele novamente, rindo com delicadeza, foi que percebi que tinha ligado sem querer o que Johanna chamava de modo-Kat-empresária-neurótica-descontrolada. Suspirei me acalmando. ― Então isso é um sim para sermos sócios? ― O loiro colocou uma mecha do meu cabelo semipreso para trás da orelha.

― Isso é um sim para sermos parceiros. Bem-vindo de volta à minha vida, Peeta.

Soltei um gritinho de satisfação quando ele me ergueu pela cintura e me beijou. Eu tinha encontrado o homem perfeito para mim e mesmo sabendo que ele tinha defeitos escondidos em algum lugar, estava disposta a conhecer cada um deles, assim como ele me aceitava e me ajudava a relaxar. Eu sentia que juntos nos tornaríamos grandes, e melhor do que isso, juntos nos faríamos melhores.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.