Capítulo 3

Pov’s Violetta

Sabe aquela manhã que você acorda e sente que tudo vai dar certo, que as coisas finalmente estão ao seu favor, que seus pais vão te compreender, e pelo menos uma vez você vai viver um dia completamente feliz? Bom, eu ainda não cheguei nesse dia, e pelo visto estou longe de chegar.

–Por favor. –Minha mãe implorava pela décima vez naquela manhã, ainda eram oito horas, imagina quantos “Por favor” eu ainda vou ouvir hoje.

–Não!

–Por favor. –Pediu novamente, décima primeira vez, só para constar.

–Não! Mãe, não irei me inscrever naquele concurso ridículo. –Eu disse.

–Não é tão ridículo, a ganhadora será a futura rainha de Illéa, riqueza e poder. –Ela disse, ao menos minha mãe estava mantendo a calma, o que era raro.

–Vocês não tem dó do coitado do príncipe? A maioria das garotas está lá exatamente por isso “A coroa” e não pelo coração dele. –Eu disse enquanto acaba de enxugar uma louça. A grana estava meio curta para pagar uma servente (Casta 6).

–Se se importa tanto com o garoto por que não se inscreve? –Ela indagou. Tudo era desculpa para eu me inscrever.

–Porque não quero, sequer o conheço. –Eu disse e logo abri um sorrisinho cínico, eu não estava muito paciente ultimamente, justamente por esse tal concurso, parece que todas as garotas do país estão voltadas para a Seleção. Minha mãe suspirou pesadamente, provavelmente lamentando a minha escolha.

–Vamos fazer o seguinte, se você ao menos se inscrever, todos os ganhos que você tiver durante um mês será seu e somente seu, poderá guardar ou fazer o que bem entender. –Minha mãe disse, assumo que era tentador, tudo que eu ganhasse seria meu, mas, também era egoísmo, a minha família precisava de minha ajuda e por mais que eu quisesse guardar um dinheirinho, eu não poderia fazer, família vem antes de tudo.

–Não posso. –Sussurrei o suficiente para minha mãe ouvir. –Seria egoísmo...

–Não, não se preocupe. Se você se inscrever poderá ficar um mês com seus ganhos, e não fará falta aqui em casa. –Minha mãe disse, óbvio que era mentira, mas eu sabia que ela não desistiria e iria teimar até eu aceitar.

–Posso pensar? –Pedi e ela assentiu sorrindo, acho que ela esperava uma rejeição minha.

Acabei de fazer minhas tarefas rapidamente, o que era bom, pois talvez pudesse voltar a dormir, estava exausta, havia trabalhado na festa de uma garota da casta 4, toquei a noite inteira em pé, meus pés estavam me matando.

A porta de minha casa se abriu, não era minha mãe, meu pai havia saído cedo, e meus irmãos ainda estavam dormindo. Logo a pessoa apareceu, e infelizmente, eu o reconheci prontamente.

–Tomás. –Eu disse, meu tom de voz saiu abrandado demais.

–Violetta. –Ele disse ao mesmo tom.

–O que faz aqui? –Perguntei desconfortável com a situação

–Sua mãe, ela me contratou para fazer algumas coisas aqui na sua casa, e eu estava precisando do serviço. –Ele explicou. Tomás era magro, tinha cabelos pretos e olhos castanhos escuros, era bem branquinho, da casta 6, meu ex-namorado.

Terminamos há pouco tempo, quer dizer, ele terminou comigo. Ele não é uma má pessoa, pelo contrário, mas pela maneira que terminamos eu apenas consigo sentir ódio dele no momento. Tomás não aceitava o fato de eu ser de uma casta acima, nos amávamos, bom, pelo menos eu acho. Um dia conversamos sobre casamento, dois dias depois ele terminou, se eu casasse com ele teria que virar uma 6, e ele não admitia isso, mas ele foi tão sensível que machucou mais do que deveria.

–Não quero que fique esse clima estranho entre nós, tive meus motivos. –Ele explicou, eu apenas soltei um riso, de maneira irônica.

–Não são motivos, é apenas seu orgulho falando mais alto que você. –Eu respondi e ele abaixou a cabeça. O assunto parou aí, e ele foi fazer o que tinha que fazer, afinal estava sendo pago. Ninguém sabia de nossa relação, acho que minha mãe surtaria se soubesse.

A maioria dos jovens se casava cedo, pois havia uma lei em Illéa que proibia sexo antes do casamento, e era difícil as pessoas conseguirem se segurar por muito tempo. A maioria se apaixonava cedo, e logo se casava, alguns se amavam eternamente, outros viviam um casamento infeliz. Infelizmente as coisas por aqui são assim.

[...]

–Nome? –Perguntou um homem baixinho, com uniformes reais, ele parecia meio irritado por estar ali, provavelmente casta 2, quer dizer, com certeza casta dois.

–Violetta. –Eu respondi. Ele me olhou de cima a baixo e fez uma expressão tipo “mais ou menos”, eu ignorei aquilo.

–Sorria Violetta. –Ele disse, e logo senti o flash sendo disparado da câmera.

A questão era: Eu havia aceitado me inscrever na Seleção. As chances que eu fosse à escolhida entre 35 garotas de toda a Illéa eram impossíveis. E minha mãe ainda me deixou ficar com toda a “grana do mês” que eu ganhasse com meu próprio mérito como violinista.

Percebi que tinha dado um sorriso sincero e talvez até bonito durante a foto, pois estava distraída pensando em como gostava de fazer o que faço, quero dizer, gosto de ser artista, não me importo em ser casta 5, pois se fosse de uma casta superior eu não poderia exercer essa profissão, e tocar, tocar é o que me deixa feliz.

–Seu formulário de inscrição, por favor. –Pediu o homenzinho robusto, eu apenas entreguei. Ao sair me deparei com a fila de garotas que também iriam se inscrever. Com certeza eu não seria escolhida, e estava comemorando em segredo por isso.

–Como foi? –Minha mãe perguntou extremamente animada. –Ai você está tão linda. –Ela disse me fitando com orgulho, ela fez com que eu me arrumasse de uma maneira “nada Violetta” por causa da foto. A foto, tá aí outro motivo para eu odiar essa disputa de ego e poder, tínhamos que preencher um formulário com várias coisas, para que conseguissem nos conhecer por meio das palavras, mas chegando lá, eles tiravam a foto. Obviamente o duelo de aparências estava presente.

–Fui bem. Só tive que tirar uma foto. –Expliquei sem ânimo nenhum. Nisso passou um nado de peruas esnobes que me olharam como se eu fosse um nada, aquilo já estava começando a me irritar.

–Tomara que você seja escolhida. –Minha mãe disse no caminha de casa, que não era tão longe. Eu não queria ser escolhida, e sabia que não seria, mas ver minha mãe alimentando falsas esperanças me entristecia.

–Tomara. –Disse forçando um meio sorriso nada convincente.

–E o príncipe é bonitão. –Ela disse rindo eu apenas assenti. Eu não sabia como era exatamente o príncipe Leon, eu só o vi poucas vezes através da TV, e não se deve acreditar em tudo que se vê na televisão, acreditem, não se deve.

Chegamos em casa, Maxi estava deitado no sofá com uma bola de futebol em mãos, Federico como sempre em seu ateliê/garagem alimentando seu ego, e papai trabalhando.

Fui descansar, já estava tarde, teríamos que esperar três semanas para saber o resultado, e eu não estava muito ansiosa para isso, eu tinha certeza que todas as garotas a serem escolhidas seriam da casta 4 para cima, o que era uma pena, não por mim, e sim pelas outras garotas.

–Estou com fome. –Disse Maxi.

–Que novidade. –Respondi ironicamente e comecei a rir. –Boa noite.

–Boa noite Vilu. –Ele respondeu, Maxi me chamava de Vilu, era um apelido que ele havia me dado quando éramos pequenos, simplesmente pelo fato dele não conseguir pronunciar “Violetta”.

Três semanas depois...

A família, incluindo Federico, estava toda reunida na sala, essas três semanas foram corridas, o país estava parando lentamente por conta desse concurso, eu pouco ligava.

Trabalhei duro durante essas três semanas, devo ter tocado em mais ou menos 25 festas, mais de uma festa por dia, eu só queria dormir, mas minha obrigou todo mundo a assistir o Jornal Oficial, que era onde eles transmitiriam as “Sortudas” que disputariam A Seleção. Fede estava emburrado no canto da sala, como se só quisesse sair de lá, era impressionante como ele havia mudado.

–Boa noite cidadãos de Illéa. -Disse Gregório, nem tínhamos visto o programa começar, só ouvimos uma sequência de “Shiuuu!” e todos ficamos quietos. –Hoje a noite é longa, principalmente para o nosso querido príncipe Leon. –A câmera focou em Leon, ele estava evidentemente nervoso, a aparência aparentava ser a de sempre, com aquele cabelo que tinha tanto gel que era possível ver o brilho pela TV.

–Como está príncipe? –Gregório perguntou.

–Bem, um pouco nervoso e ansioso. –Leon respondeu, tá bom, se eu não me engano aquela foi a primeira vez que eu ouvi a voz dele.

–Ele não é uma graça? –Perguntou Gregório. –Palmas para o príncipe. –Em seguida só ouvimos uma sequência de aplausos que eu ainda não entendi de onde tinha saiu. –Hoje, como todos sabem, vamos anunciar as 35 sortudas que irão disputar o coração do nosso querido príncipe Leon, por isso as notícias dos acontecimentos semanais ficarão para o final.

–Que saco. –Disse Federico ao ouvir Gregório. Ouve algum diálogo desnecessário de Gregório, simplesmente para enrolar mesmo, durante esse tempo eu apenas lutei por espaço no sofá, aonde estava Maxi, eu e meu pai.

–.....A Rainha. –Ao ouvir isso eu fiquei quieta, eu a admirava. –Quero agradecer a todas que mandaram seu formulário, meu filho está se tornando um homem, e não é muito fácil para mim ter que aceitar, afinal ele sempre será meu Leon. –Um uníssono de “ooowt” pode ser ouvido, a câmera focou em Leon que estava meio corado. –Quero dizer que vamos receber com muito carinho todas as selecionadas, somente quero desejar boa sorte a todas, e pedir para ninguém ficar triste caso não seja a escolhida.

–Obrigado vossa majestade, está magnífica hoje. –Disse Gregório. –Bom, agora chega de enrolação, a partir de agora, iremos saber quem são as 35 selecionadas! –Por fim concluiu. Eles colocaram o rosto de Leon em uma metade da tela, assim poderíamos ver sua reação quando olhasse a foto e o nome das selecionadas.

–A primeira sortuda é.....Lara! –Gregório anunciou. Acho que a conhecia, eu me lembro de tê-la visto em alguma revista ou algo assim. Leon apenas sorriu.

–A Segunda é...Gery! –Gregório disse, e uma morena de cabelos bem curtos apareceu na tela, Leon também sorriu.

–A terceira....Ludmila! –Uma garota loira. Leon sorriu e passou a mão no cabelo, tentando ajeitá-lo, se é que isso era possível.

–A quarta é Elisa! –Ele anunciou, eu estranhei, eu também já tinha visto essa garota em algum lugar. Leon olhou para o lado, como se também estranhasse, depois de um tempo ele apenas voltou seu olhar para o telão e claro...sorriu.

–A quinta.....Violetta! –Gregório anunciou, eu olhei no telão para ver se era a minha foto e....socorro, sou eu.

–O QUE?