Já era janeiro, meses haviam se passado desde que eu e Richard tínhamos nos beijado. Ele tinha ido me ver várias vezes depois do ocorrido, mas resolvemos deixar o que aconteceu quieto.
Era de tarde, o sol se pondo. Eu estava caminhando na rua, meus cabelos tinha crescido um pouco, já não tinha uma careca lisa. Estava voltando para casa, depois de uma longa caminhada que resolvi fazer para aproveitar o tempo que eu ainda tinha. Dra. Emma me disse que infelizmente eu viveria apenas mais alguns poucos anos, porque o câncer se espalhava lentamente. Eu não tinha mais esperanças, só estava esperando a hora. Eu só queria que os dias tivessem 48 horas.
Quando eu ia entrando em casa, Richard me chamou. Ele me puxou pelo braço.
– Precisamos conversar Evelyn - ele disse me soltando.
– Oi Richard, conversar sobre o que? - perguntei achando estranho.
– Sobre o que aconteceu com a gente.
– Isso já faz tempo - o encarei.
– Eu sei, mas você ainda não me respondeu.
– Responder o que? - me fiz de boba.
– Já que você quer complicar...
Ele me puxou para perto e me beijou. Seus lábios apertaram os meus com força, ele me me segurava pela cintura. Me afastei. Estava sem ar.
– Você tem que parar de me beijar inesperadamente. - resmunguei.
– Eu poderia, mas você não me responde. Então, poderia me dizer? - ele insistia.
– Eu não posso Richard. Você sabe que estou morrendo, vou durar só mais alguns anos. Não suporto a ideia de fazer alguém mais sofrer. Não quero que se prenda à mim. Quero que viva feliz, independente da minha ausência - algumas lágrimas desceram do meu rosto - me desculpa.
– Exatamente por isso, porque mesmo que só tenhamos agora, quero vivê-lo com você - ele pegou minha mão e a beijou - você é eterna para mim hoje, amanhã e depois. Te amarei até o dia em que eu poder sussurrar seu nome pela última vez.
Eu o abracei. Eu amava Richard. Morrer para mim nunca tinha sido tão difícil. Futuramente nunca mais poderia sentir seu abraço, ouvir suas palavras, apreciar seu sorriso. Eu seria a eterna lembrança de que nada é para sempre.
– Quero te levar a um lugar. - ele me disse me levando até seu carro.
– Tirou carteira? - perguntei.
– Sim, finalmente.
Entramos no carro em silêncio. Ele colocou uma música baixa e ligou o carro.
Já estava anoitecendo, ele prestava bastante atenção enquanto dirigia. Prestei atenção nas luzes da cidade através do vidro do carro e fiquei pensando que nessa vida, tudo que temos são apenas o que sobrou do passado e a prévia do que temos para o futuro.
A coisa que eu mais temia era que meu futuro mais próximo era a morte. Eu não tinha raiva de morrer, mas raiva de não ter vivido o suficiente, de ter planejado uma vida e não ter tido a chance de vivê-la. De ter sonhado em vão, acreditado em vão. De ter me lamentado tanto.
– Chegamos - disse Richard, dispersando meus pensamentos.
– Onde estamos? - perguntei.
– Lago Serpentine, meu lugar preferido em Londres. Você já veio aqui? - ele disse sorrindo.
– Quando era criança. Por causa da minha doença eu não saio muito. É lindo aqui.
– Quero passear de barco com você.- ele apontou para alguns barcos à remo na margem do lago - o que acha?
– Eu acho ótimo. Só vou avisar minha mãe - disse pegando o celular - Okay?
– Tudo bem.
Liguei para minha mãe com pressa e me afastei de Richard , estava nervosa por ter saído com ele sem sua permissão.
– Alô? - ela disse curiosa.
– Oi mãe, é Evelyn.
– Você está chegando? - ela perguntou rapidamente.
– Eu saí com Richard mãe - falei nervosa com sua reação - estou no lago Serpentine.
– Por que não me disse? - ela disse ríspida.
– Porque ele me chamou agora, mas não demoro, prometo - falei tensa.
– Quero você cedo em casa Evelyn. E juízo.
– Claro mãe. Vou voltar cedo sim e ter juízo - respondi sem graça.
Ela desligou o telefone sem dizer mais nada. Voltei até Richard um pouco sem graça. Ele me olhou e sorriu. Fomos andando até os barcos.
– Primeiro as damas - ele disse me ajudando a entrar no barco.
– Obrigada.
Ele entrou em seguida, bem mais rápido que eu. Remamos até ficarmos um pouco afastados da margem, e durante o processo conversamos sobre coisas que nem um dos dois estava interessado em falar.
– Então, voltando ao que interessa... - ele começou.
– Você quer saber se quero te namorar? - fui direta.
– Sim. Você quer?
– Eu não posso fazer isso com você.
– Você sabe que pode. Sabe que posso ficar ao seu lado até o fim.
– Talvez.
– Então você não tem certeza do que sinto por você? - ele se chateou.
– Não é isso - suspirei - Bom, é outra coisa. Você sabe o que.
– Você não quer que eu sofra. Mesmo que não namoremos, saiba que não vai passar o que sinto por você. Não vai mudar o fato que te amo e que me importo com você.
– Eu sei do que você sente. Eu também sinto o mesmo. Gostaria de poder mudar tudo o que está acontecendo comigo e me sentir livre de todo esse peso que eu lido diariamente. Ter apenas saúde.
– Evelyn, você precisa entender que precisa viver o agora...- interrompi Richard com um beijo, às vezes era chato ouvi suas palavras de motivação. Talvez fosse mais fácil morrer triste do que se frustrando com a tentativa fracassada de ser feliz.