Acordei no hospital, eu tinha tido uma recaída. "Não acredito", pensei. Minha mãe estava cochilando numa poltrona a meu lado. Uma médica correu até a mim quando me viu acordada. Ela colocou a mão sobre minha cabeça, me olhando aflita.
- Como se sente querida? - ela me perguntava analisando uma prancheta.
- Eu não sei, acho que fraca. O que houve? - perguntei.
Ela olhou para baixo, como se não quisesse dizer o que eu tinha perguntado. Suspirou um pouco, então minha mãe acordou.
- Ah, olá doutora. Como ela está?
A médica ficou ainda mais tensa. Ficou branca de tão pálida.
- Bom... - ela respirou fundo - o câncer não está só apenas no seu intestino, ele está começando a se espalhar, Evelyn.
- Eu não vou durar muito não é doutora? Vou morrer rápido não é? - perguntei.
- Não diga isso Evelyn! Vamos fazer o possível por você. Ninguém vai deixá- la partir sem lutar!
- Então eu realmente vou partir. Para o que serve essa vida, se não temos tempo para que ela seja bem vivida? - falei baixo.
Algumas lágrimas desceram de meus olhos. Não adiantava chorar, nada mudaria. O que eu mais temia estava muito próximo de acontecer: eu viraria apenas mais uma lembrança a ser esquecida.
Inesperadamente, Violet entrou em meu quarto. Ela estava horrível, a maquiagem escura que ela usava parecia estar toda borrada de tanto chorar. Seus cabelos estavam emaranhados, e parecia pálida, mesmo sendo bem morena.
- Violet? O que faz aqui? Você está bem? - falei.
- Evelyn você teve uma recaída! E se preocupa se eu estou bem? Meu Deus você tem que me falar o que houve e não eu! - ela disse aflita.
- E-Eu... - eu não sabia o que dizer - eu estou morrendo. Só isso.
Violet me olhou perplexa. Parecia estar em choque. Todos se calaram. Meus cabelos, que já estavam curtos, pareciam cair ainda mais.
- Eu vou voltar para casa? - perguntei.
- Eu vou deixar você ir só quando estiver melhor. Violet poderia esperar lá fora? Eu preciso falar com Evelyn e a mãe dela. - disse a doutora.
Violet assentiu e saiu da sala. A médica ficou calada por uns instantes e então disse:
- Evelyn o câncer está passando para seu pulmão. Vamos ter que começar com uma quimioterapia mais forte. Vamos fazer de tudo querida. E com o tratamento seu cabelo vai cair ainda mais. Sugiro que já cortemos um pouco, o que acha?
- Eu não tenho mais o que fazer doutora.
Minha mãe que tinha se mantido calada me abraçou. A possibilidade de nunca mais poder vê- lá era insuportável. Eu nunca mais a abraçaria, a diria o quanto ela é especial.
Mais tarde, quando eu estava me sentindo melhor, fomos cortar meus cabelos. Eles eram bem ruivinhos, e me sentia feliz por ser ruiva. Mas agora eu seria careca, depois cada dia mais pálida, magra e então morta. Não passaria de um corpo gelado e sem vida.