Hoje o tratamento de quimioterapia começou. Todos aqueles remédios na veia me deixavam tonta e enjoada. O hospital estava mais tranquilo que de costume, ouvia-se poucas pessoas conversando. O silêncio era algo agradável. Gostava de ficar sozinha, apenas com meus pensamentos. Minha vida era tão frágil quanto a felicidade, tão instável quanto o amor. Sempre me perguntei se haveria algum propósito para mim aqui, mesmo com tão pouco tempo.
- Como se sente querida? - Doutora Emma disse sorrindo e anotando algo numa folha.
- Eu estou me sentindo enjoada - pisquei várias vezes - e um pouco tonta.
- É normal nos primeiros dias, Evelyn. Logo você se acostuma. - ela disse bem-humorada.
Ela saiu do quarto, me deixando só. Olhei para minhas mãos, estavam frias e pálidas. Peguei um pequeno espelho que achei ao lado da cama e olhei também meu rosto. Estava também pálido, com olheiras e aspecto doente, fora o fato de eu estar careca.
- Ora, se anime - falou minha mãe me olhando da porta.
- Estou horrorosa. - falei.
- É super normal ficar pálida Evelyn. Você está realizando um tratamento muito forte. Logo seu cabelo cresce de novo e você vai se sentir melhor. - ela me acariciou.
- Não sabia que o cabelo crescia depois de morto. - debochei.
- Minha filha! Não fale isso! Você não vai morrer jovem! - ela me repreendeu.
- Quantas pessoas com câncer você vê morrerem com 80 anos? Mãe você sabe que não vai me ter por tanto tempo! Não minta para si mesma! - gritei.
Ficamos em silêncio. Ela me olhava indignada com lágrimas nos olhos, depois saiu do quarto me deixando sozinha novamente. Talvez eu não estivesse certa por gritar com a minha mãe, mas estava cansada com a ilusão que ela tinha de que eu viveria muitos anos. Para mim eu não duraria mal 2 anos.
Richard apareceu na porta do quarto, ele tinha vindo me visitar. Tentei me ajeitar, mas com aquelas camisolas de hospital parecia ser impossível.
- Oi Evelyn - ele disse ao entrar.
- Oi Richard, como vai? - falei com um falso sorriso.
- Eu estou bem, e você, como se sente?
- Estou um pouco enjoada, mas bem.
- Que bom. Você volta ainda hoje para casa?
- Sim, vou vim ao hospital uma vez por semana para o tratamento de quimioterapia. O que eu queria mesmo era voltar a frequentar a escola.
- Você largou?
- Sim, eu sempre passava mal e não conseguia participar das aulas, então minha mãe resolveu me tirar da escola. Sinto muita falta de estudar.
- Quando estiver melhor, você volta a estudar. Com certeza sua mãe vai deixar. - ele abriu um sorriso.
Resolvi apenas sorrir também, já que eu tinha quase certeza de que minha vida escolar tinha acabado e que em breve toda a minha vida também. Conversamos sobre bobagens e ele teve que ir embora. Depois de uns 10 minutos a Dra. Emma entrou no quarto e disse que eu poderia ir para casa, o que me fez me sentir melhor.
A viagem no carro foi silenciosa. Minha mãe não disse uma palavra, provavelmente porque ainda estivesse chateada comigo. Em casa, fui até a geladeira e peguei uma das gororobas que a Doutora me mandara comer, pois estava com muita fome. O gosto era terrível, mas me esforcei. Levei um susto quando minha mãe apareceu na cozinha.
- Precisamos conversar Evelyn - disse minha mãe séria.
- Okay - falei me levantando e indo até ela.
Fomos até a sala e nos sentamos no sofá. Minha mãe procurava palavras para o que ia dizer, parecia ser sério. Me olhou um pouco aflita e então disse:
- Evelyn, eu estou grávida.