Algumas semanas se passaram e eu finalmente conseguia falar, como também mexer um pouco meus braços. Pedi para meus pais descansarem mais em casa e ficar menos tempo no hospital, já que não era um lugar muito bom para que Dylan ficasse. Meu irmão era um bebezinho muito agitado e alegre, quando ia me ver pedia para ficar sentado na ponta da cama para poder falar comigo. Me lembrei de quando conversamos na praia, antes mesmo dele nascer, de como eu havia me sentido feliz naquele momento, e eu nem sabia se tinha sido real.

Eu ainda não tinha falado com minha mãe sobre Richard, nunca dava para ficarmos a sós. Eu ainda tentava me acostumar com meu corpo de 18 anos que eu nem tinha visto se desenvolver, como também com o fato de que meu cabelo tinha crescido um pouco. Isso me deixava feliz. Às vezes eu passeava pelo hospital em minha cadeira de rodas, visitando outras pessoas com câncer. No quarto ao lado do meu ficava uma garota de catorze anos que também tinha câncer. Ela havia se tornado minha amiga e passávamos um bom tempo conversando, e estranhamente eu achava que ela conseguia ser mais infeliz que eu. Seu nome é Alexia, e parecia ser a única pessoa no mundo que me entendia.

Os dias se passavam e a única coisa que me permitia ter um contato com o mundo era assistir televisão, onde eu sabia o que estava acontecendo pelo jornal. Eu me sentia mais feliz com o passar do tempo, e pensar em Richard foi se tornando um passatempo dispensável, já que ele parecia ter sido mais um sonho do que parte da minha vida. Eu consegui dar o abraço tão desejado em meu pai, e ele parecia ter melhorado depois da notícia que eu tinha acordado do côma, pois antes ele estava muito mais magro e abatido.

A minha vida seguiu num bom ritmo, a cada dia eu fazia mais amizade com as enfermeiras e pacientes do Hospital. Violet me visitava regularmente também, e estava muito diferente de antes, tinha se tornado menos rebelde. A única coisa que eu não esperava foi a última visita que recebi.

–Evelyn um garoto veio te visitar hoje - disse a enfermeira aparecendo sorridente no quarto -, posso deixar ele entrar?

–Claro - respondi sorrindo em resposta.

Para minha surpresa, era Harry. Ele estava mais velho, com uma barba muito atraente, usando uma jaqueta de couro e trazendo flores na mão.

–Desculpe não ter vindo antes, mas não sabia como falar aos seus pais que sou um amigo seu que eles nunca conheceram - ele riu e eu também - eu não sei mais o que dizer.

–Não precisa dizer nada - sorri -, fico feliz que tenha vindo. Como está a vida? Tem 22 anos atualmente, não é?

–Isso - ele olhou para as flores e de repente se lembrou que tinha que me entregá-las, então me deu o buquê - terminei a faculdade de gastronomia, como eu queria.

–Muito obrigada pelas flores - as cheirei, possuíam um perfume maravilhoso -, e parabéns! Fico feliz que esteja seguindo seu sonho.

–Sim... - ele estava um tanto nervoso - e você e Richard, como estão?

–Não estamos - olhei para minhas mãos sem saber o que dizer - desde que eu acordei ele não veio me visitar, acho que ainda não sabe.

–Ah, me desculpe. Eu não sabia, mas tenho certeza que vocês em breve se verão.

–Espero, mas isso não importa. Ele tem o direito de seguir em frente, já que passei 3 anos e meio ausente da vida dele. Nunca exigi amor eterno. Foi bom enquanto estávamos juntos. Mas e você, namorando?

–Na realidade não, digamos que eu goste de uma garota há muito tempo e acabei pisando na bola com ela, então resolvi deixar minha vida amorosa de lado um pouco.

–Tenho certeza que você vai encontrar alguém que te fará muito feliz. Eu também espero encontrar.

Ele concordou, então ficamos em silêncio. Eu sabia que a garota da qual ele falava era eu, mas esperava que ele tivesse esquecido isso, mas pelo visto eu ainda preenchia sua mente. Harry disse que precisava ir e me prometeu que voltaria em breve, me dando um beijo na testa que me deixou corada, então foi embora.

Quando a noite chegou acabei pensando mais em Harry do que eu esperava. E se Richard tivesse me esquecido? E se Harry gostasse mais de mim que meu próprio namorado a ponto de continuar gostando de mim mesmo depois de saber que eu estava em côma? Eu não sabia no que pensar, nem no que sentir. E mesmo sabendo que eu continuava apaixonada por Richard, a visita de Harry tinha mexido estranhamente com meu coração.