Eu gostaria muito de dizer o que senti em relação a tudo o que aconteceu àquela noite, mas nem mesmo eu sei. Basicamente meu corpo voltara a falhar, e eu fui levada às pressas pelos meus pais ao hospital. Não vi muita coisa, fiquei tonta e desmaiei.
A coisa mais estranha que me aconteceu foi quando eu acordei e me levantei. Estranhamente eu me levantei sem meu corpo, passei as mãos pelos meus braços e elas passaram direto. “Eu devo estar morta” pensei. Olhei para o aparelho que mostrava meus batimentos cardíacos, eu ainda estava viva. Minha mãe entrou no quarto, sentou ao meu lado e apertou minha mão. Ela chorou silenciosamente, me olhando com um olhar terrivelmente profundo e triste.
- Mãe eu estou bem! - gritei para ela, mas ela não ouviu.
Saí do quarto, Richard e Violet estavam conversando na sala de espera, minha amiga com os olhos inchados. Meu pai conversava com um médico, muito abatido. Eu comecei a me desesperar, gritava com eles mas ninguém me olhava ou respondia. Estava usando um vestido branco, meus cabelos longos e ruivos. Voltei para o quarto e vi meu frágil corpo magro e cinzento deitado na cama. Meus olhos fechado aparentavam que eu estava num sono profundo.
- Você ainda pode voltar. - disse o garoto ruivo do sonho, surgindo ao meu lado de repente e me assustando.
- Voltar? - perguntei.
- Você está quase morrendo, - ele me encarou - mas ainda pode voltar e tentar um pouco mais. Ou pode escolher partir.
- Eu posso escolher morrer? - perguntei assustada.
- Ou ficar mais um pouco.
- Eu não sei se vale à pena continuar. - olhei para baixo.
- A vida pode ser mais do que isso Evelyn. É impossível escolher como será a sua morte, mas você ainda pode escolher como viver. Isso ainda cabe a você. Se escolher partir agora, deixará com que coisas importantes na sua vida deixem de existir. Está preparada para dizer adeus?- O garotinho me perguntou sério.
- Não, não estou pronta para dizer adeus e acho que nunca vou estar. - falei apreensiva.
Ele desapareceu. Continuei olhando para mim mesma, e tentando decidir. Eu não gostaria de partir, mas não sabia se conseguiria partir. A maior prova de coragem que alguém pode ter é tomar a decisão de continuar viva apesar de todos os problemas. Voltei até meu corpo e deitei em cima dele.
Acordei com Richard segurando minha mão e com os olhos um pouco molhados.
- Richard? - perguntei.
- Graças a Deus Evelyn! Como se sente? - Ele perguntou eufórico.
- Me sinto estranha, para ser sincera.
- Eu vou chamar um médico e sua mãe também, espera.
Ele se levantou e saiu do quarto. Olhei minhas mãos cinzas e magras, eu tinha a aparência de um morto. Minha mãe e Dra. Emma apareceram no quarto.
- Evelyn! Como e que você está filha? - minha mãe perguntou me abraçando levemente.
- Eu não sei mãe, acho que bem. - respondi observando a aflição de minha mãe.
- Evelyn quero que você descanse bastante, as últimas horas que você passou foram muito difíceis. - disse a Dra. Emma nervosa.
- Okay - respondi com um falso sorriso.
Elas saíram do quarto, me deixando só. Olhei para o lado e pensei ter visto o garotinho ruivo sorrindo para mim. Talvez viver ainda fosse uma boa escolha.