Só Quero Cantar Com Você - CIP

Capítulo Único - Só Quero Cantar Com Você


Reggie amava tocar seu baixo a maior parte do tempo e em geral preferia deixar a parte de escrever as letras com Julie e Luke, mas havia algo guardado em seu coração que só poderia ser expressado através da magia envolvente e suave de uma música.

Depois de riscar algumas linhas e reorganizar outras, o garoto de cabelos pretos decidiu parar um instante para ver como soaria com voz e melodia, então estendeu as mãos e fechou os olhos, logo sentindo o peso do baixo que surgiu do nada. Fazia meses e ele ainda não havia se acostumado com o quanto aquilo era maneiro. Mas enfim... Não era o momento para pensar nisso, estava compondo e era hora de testar como a música estava ficando.

O baixista colocou o caderno na mesinha de madeira em frente a cadeira em que estava sentado e começou a tocar, não muito alto para não chamar atenção de nenhum corpóreo que pudesse estar por perto, em seguida juntou a voz à melodia.

“O meu melhor amigo tem um sorriso tão perfeito

Que quando é pra mim sempre me deixa sem jeito

Ele nem deve saber do efeito que tem

De como me deixa bobo e ao mesmo tempo tão bem

O meu melhor amigo faz as piores piadas

E não sabe parar quando começa com metáforas

Ele é tão animado e otimista

Tem um jeitinho lindo de ver a vida

O meu melhor amigo faz minhas pernas tremer

E as borboletas no meu estômago enlouquecer

Ele me faz sentir o que ninguém mais fez

Quando percebi já era, eu me apaixonei...”

— Uau. — a voz de Luke soou às suas costas e mesmo que seu coração não batesse mais Reggie podia jurar que o sentiu disparar. — Isso é muito bom. De quem é?

— Você me assustou, cara. — Reggie murmurou, fugindo do assunto.

— Desculpa, foi sem querer. — Luke respondeu com aquele típico sorrisinho fofo.

— De boa. Não tem problema.

— Mas então? De quem é a música que você tava tocando? — o assunto voltou à tona.

— A música? De ninguém. Q-quer dizer... Minha. E-ela é minha. — o baixista respondeu se perguntando em pensamento se um fantasma era capaz de corar e torcendo para que não.

— Cara, ela é irada. Porque não me mostrou? Eu podia te ajudar com ela. — o guitarrista disse, lhe dando um soquinho no ombro sem muita força.

— Você nunca quer trabalhar comigo pra escrever nada. — respondeu, olhando para o caderno por não conseguir continuar encarando o rosto lindo de Luke.

— Mentira. Eu só não quero escrever country. A gente não é cowboy, moramos em Los Angeles e nunca andamos de cavalo. — replicou rindo.

— É, mas já vimos isso em tantos filmes. Deve ser irado. — Reggie constatou ainda sem encará-lo. — Eu não preciso de ajuda com essa... Mesmo assim valeu por oferecer.

— Tá bom. Pode começar de novo? Eu tava curtindo a vibe.

— Na verdade não. Você não pode ouvir ainda. Eu tenho que terminar.

— Por quê? — Luke franziu o cenho e ficou observando o baixista bater nervosamente com o polegar no baixo. — Reggie?

O olhar verde e intenso se ergueu devagar até encontrar as íris azuis que já o encaravam em confusão. Era por isso que queria terminar a música antes de mostrar, não conseguia mentir ou esconder o que sentia daqueles olhinhos inocentes e gentis.

— Porque... Porque é sobre você. — o som vibrou em sua garganta e escapou por entre os lábios antes que tivesse ao menos tempo de pensar em impedir.

— Sobre mim? — sussurrou surpreso.

— Eu preciso ir! — Reggiu percebeu o que havia dito e agradeceu ao universo pelo poder de teletransporte que o permitiu sair dali imediatamente.

E Luke ficou tão chocado ao ter essa informação jogada sobre si como uma bomba que não teve qualquer reação por um bom tempo. Só quando a realidade repousou sobre sua mente e a capacidade de se mexer voltou, o fantasma pegou o caderno de cima da mesinha e deu uma boa olhada na letra, sorrindo todo bobo com a versão de si que enxergava no papel.

Ele sabia que Reggie não precisava de ajuda para terminar, mas... A caneta estava bem ali e seu peito também estava cheio de sentimentos que podiam preencher aquela música.

xXXXx

Reggie não sabia quanto tempo fazia que estava sentado sozinho na mesa mais discreta da pizzaria que costumava ir quando era criança. Para dizer com mais precisão ele sequer notou quando o movimento sessou graças ao horário e os funcionários arrumaram tudo, apagaram as luzes e trancaram as portas.

A primeira coisa que chamou sua atenção em horas foi a voz que fazia as borboletas de seu estômago entrar em frenesi até com aquele mero “Oi”.

— Caramba, você demorou pra me achar. — o baixista respondeu rindo de nervoso.

— Na verdade não. Você tá no primeiro lugar que eu supus que estaria, eu só demorei a vir. — o guitarrista comentou rindo também, mas de um jeito mais descontraído.

— Ah... Faz sentido. Acho que você precisava de um tempo pra processar o que eu disse antes de... Me ver. — Reggie murmurou, tentando não parar de encará-lo mesmo com vontade de olhar para qualquer coisa que não fosse ele.

— Não foi por isso que demorei. — Luke sorriu, dessa vez parecendo um pouco menos relaxado enquanto tirava um papel do bolso. — Eu precisava terminar isso.

— É a minha música? — perguntou com o cenho franzido enquanto tirava a música da mão do outro fantasma.

— Sim.

— Eu disse que não precisava de ajuda porque era sobre você.

— É, eu ouvi alto e claro. Por isso pareceu mais certo pra mim transformar em um dueto. — Luke respondeu sentindo-se corar (se é que isso era possível sem um coração que bate), logo completando. — E também corrigi um erro pequenininho. Espero que não se importe.

Reggie desdobrou o papel e aproximou do rosto para tentar ler com a pouca luz da lua que entrava pelas janelas, Luke percebeu a dificuldade e se teletransportou para ligar as luzes da pizzaria, logo voltando para poder ver a reação do baixista ao ler o que havia escrito.

Todas as palavras “melhor amigo” do papel foram riscadas e tinha setinhas desenhadas apontando para o novo termo usado para substituí-las: namorado.

As mãos de Reggie tremeram de leve e então seu olhar esverdeado subiu para encontrar as íris azuis que lhe encaravam com expectativa.

— Não brinca com o meu coração. — sussurrou, súbita e estranhamente ofegante.

— Nunca. Tudo que eu quero é cantar essa música com você pra sempre. E que cada vez que a gente cante seja mais real que a última. — Luke respondeu segurando as mãos de Reggie sem se importar de amassar o papel. — Você topa?

— Com certeza! — exclamou, se jogando em cima do que agora era seu namorado.

Luke aproveitou a deixa para selar o novo relacionamento com um beijo.

— Aí, você acha que o Alex vai dar uma surtadinha com a gente estando junto?

— Claro que não. O Alex é muito tranquilo, nunca surta com nada.

Dizer isso sério foi um desafio para Reggie, mas não foi necessário segurar a risada por mais que meio segundo, pois logo a gargalhada deliciosa de Luke preencheu a pizzaria e os dois ficaram um tempo rindo feito bobos até pararem aos poucos, se olhando apaixonados.

Então eles deram as mãos e voltaram para o estúdio, começando o sempre do qual Luke havia falado.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.