Só Eu Sei!

Capítulo 1 - Era Pra ter sido Você!


https://youtu.be/bTNLYeaL7No

"...O vazio se tornou material e cortava como uma lâmina...!”

Apesar de não ser mais virgem, eu havia escrito uma carta, de como gostaria que ele tivesse sido o meu primeiro, de como gostaria de tê-lo pra sempre ao meu lado. De como era apaixonada por ele!

Era uma carta simples, com poucas palavras, despretensiosas até. Coisas de uma garota apaixonada, que acreditava em príncipes encantados e no verdadeiro amor.

Não havia nada demais naquelas palavras, apenas a expressão dos meus sentimentos por ele.

Que eu sabia de sua partida para outra cidade, que sabia parte dos motivos da qual ele estava praticamente sendo obrigado a ir, que sentiria saudades, muitas saudades mesmo, que estava triste com tudo isso e o simples fato de nunca ter sentido o gosto do seu beijo e isso era uma das coisas que mais me pesavam, mas tão puro, forte, sincero e intenso era só isso o que eu sentia por ele! Apenas a definição do que eu acreditava ser o amor verdadeiro!

Eu já havia ficado com alguns garotos, mas não era nada sério, eram mais uns amassos no final da aula, coisas do tipo pagar prendas de brincadeiras que aconteciam dentro da sala de aula ou atrás da casa paroquial após as missas de domingo, com algum vizinho ou colega de colégio, geralmente da mesma idade, um ou dois anos mais velhos no máximo.

Eram coisas rápidas, flertes, do tipo vou ao banheiro ou tomar água, enquanto meus pais me esperavam no carro, sem maiores envolvimentos ou consequências, apenas coisas da idade, curiosidades das descobertas, que a gente acaba vivendo em uma adolescência normal, apesar de que eu, não me sentia muito normal, era sempre um vazio por dentro, vazio da qual não sabia o porquê, me sentia às vezes um coelho no mar, mas era esse o garoto que eu queria, era esse garoto que eu sentia que preenchia esse vazio, mesmo tendo me precipitado e não o esperando! Eram anos noventa, eram os tabus medievais sendo rompidos, mas ainda muito cobrados, o que me fazia de certa forma me arrepender de não o ter esperado.

Eu imaginava, me perdia em devaneios, sonhava em ter uma vida com ele, uma rotina normal de todos os casais, aquela rotina convencional, de manhã ele saindo pra trabalhar, depois do café, depois de um banho juntos, fazer amor ao acordar, bem quietinhos para não acordar as crianças se houvesse e ficar em casa, sendo a esposa devotada, sendo até mesmo dona de casa, sendo a mãe zelosa, quando voltasse do trabalho, esposa cheirosa e crianças limpas, jantar sobre a mesa, a casa impecável e amor de sobremesa, não me preocupava com luxo ou empregados, ou os dois trabalhando, fazendo planos, viagens pelo mundo, conhecer Nova York, Londres, o Canadá, Seattle, Itália, talvez França, conhecer a cidades dos apaixonados, dos historiadores, a cidade do meu pai e dos amantes literários, construindo sonhos juntos, jantar a dois, depois de algumas taças de vinho, talvez da Toscana para relaxar do dia estressante, dormir abraçados, dormir de conchinha, cuidar um do outro, fazer amor na hora que tivesse vontade, mas que fosse com ele.

Eram esses meus pensamentos, meus sonhos, sobre realização, sobre amor e sobre a felicidade. A minha ilusão e romantização de um belo felizes para sempre!

Mas tudo isso havia mudado, depois daquela tarde em que a mãe e a irmã dele, me enfiaram goela abaixo, o porquê não poderíamos ficar juntos.

Mas eu o amava e precisava de alguma forma dizer isso, mesmo que as palavras não fossem ditas, mas elas foram escritas.

A noite de uma quinta-feira começou a cair, quando pedi ao motorista da família e segurança pessoal de papai, o Jonathan Patel Cassidy, o Johnny, para darmos uma volta de carro.

Velho amigo de confiança da família, mesma idade e altura de papai, pele clara, olhos azuis e cabelos curtos começando a ficar grisalhos, bonitão, um legítimo inglês, pelo menos na postura impecável, apesar de que sempre negava, brincava falando que era brasileiro desde pequenininho.

Estava trocando para uma patente mais alta nas forças armadas americana, quando por causa de uma emboscada em uma missão, quase perdeu a perna, livrando meu pai e ele da morte. Papai o resgatou e começaram uma parceria de amizade e lealdade que perdurou através dos anos.

Não eram sócios legalmente e nem precisava, mas papai deixava muitas coisas pra que ele resolvesse sem nenhuma dúvida e com toda confiança e uma remuneração à altura!

Eu estava aprendendo a dirigir e esta foi a desculpa perfeita para que meu pai não se importasse e nem viesse conosco, ou fizesse questionamentos, ainda mais e especialmente desta vez, não o queria por perto! Ele não seria muito bem-vindo, não era o momento mais oportuno pra ele estar ao meu lado, nesta triste missão de despedida. Além do mais ele era muito ocupado com o trabalho e isso seria uma coisa banal para ele, mesmo ficando empolgado na minha primeira tentativa de tirar o carro da garagem, mas o trabalho e a nossa confortável vida, a manutenção desse conforto vinham em primeiro. Eu não o incomodaria com isso!

Mamãe como sempre achava uma bobagem aprender a dirigir já que tínhamos motorista e não vinha conosco! “Melhor ainda!”

Johnny era um amigo meu também e sabia de algumas das minhas travessuras, eu sempre podia de certa forma contar com ele e desta vez nós estávamos indo à casa de Tony! “Sim! Aquele garoto que mexia com minhas estruturas! Que havia se tornado quase uma obsessão!”

Conheci o Antony Starling, o meu Tony, pessoalmente quando eu tinha uns 14 anos, logo após ele ter voltado para o Brasil.

A família dele era conhecida da minha há mais tempo, o que envolvia mais negócios do que uma amizade propriamente dita.

Seus pais o haviam mandado para o Canadá na adolescência para estudar. “Ostentações de sua mãe! A Dona Carla! Dizendo que o método de ensino do Brasil não era ideal para a formação necessária de seu filho!”

Com a crise financeira dos Starlings, mesmo Tony já trabalhando por lá, formado em arquitetura e mesmo enviando a ajuda, nada era suficiente para sua mãe.

Ele teve que voltar, não tinha mais a necessidade de mantê-lo fora do país, mesmo com a ajuda financeira de meu pai e quando voltou com seus 24 anos de pura beleza, charme e sedução, mesmo que sem querer, às vezes até contido. Ele provocava suspiros e reações por onde passava e comigo não foi diferente! “Ele era bonito! Mesmo eu tendo os olhos apenas do coração pra ele, ele era realmente muito bonito!” Com seus 1.80m, olhos verdes, cabelos castanhos claros quase loiros e curtos, pele clara rosada pelo sol, ainda se adaptando ao clima quente do Brasil, lábios pequenos e bem desenhados, mas de um sorriso largo e muito eficaz! “Não tinha como não se derreter quando ele abria aquele sorriso, especialmente pra mim!”

Eu tinha acabado de entrar na adolescência, quase uma menina ainda, com meus 15 anos, sonhadora, imatura, insegura, ingênua, um pouco mimada pelo pai, romântica, que sonhava com um príncipe e nada tirava da minha cabeça que era ele!

Depois que descobri o quanto era apaixonada por ele, foi aí que as coisas começaram a se complicar.

Eu ficava boba e falava pelos cotovelos quando ficava perto dele, não conseguia nem raciocinar direito, ficava nervosa, tremia até, falava gesticulando, mal conseguia olhar pra ele, pelo menos quando ele estava me olhando, mas era uma coisa tão pura que sentia, uma coisa tão verdadeira e inexplicável, que nunca mais senti aquilo de novo por mais ninguém!

Tínhamos uma enorme afinidade, uma cumplicidade, uma ligação inexplicável, só de pensar nele o coração batia mais forte, até me faltava o ar, a cabeça pesava, então era só olhar pra traz ou ir até o portão, que lá estava ele, se aproximando com sua caminhonete Chevrolet C-10 branca personalizada. Gosto adquirido pelo tempo morado no Canadá, a paixão por carros antigos e transformá-los em raridades. “E coloca raridade nisso!”

Nem que fosse pra me levar só por alguns quarteirões até em casa, ele fazia questão de me dar carona, quando eu voltava caminhando da escola ou às vezes, me buscava também! “Sempre gostei de caminhar! Era uma forma de tentar sair sorrateiramente debaixo das asas dos meus pais!”

Meus pais não se importaram com este gosto, por mais que queriam todo um conforto e segurança, me criaram com certas limitações, ensinando a dar valor às pequenas coisas e a gastos desnecessários. “Papai assim fazia e sempre me ensinava!”

Voltar das aulas caminhando era o que eu mais gostava e como acabava o encontrando pelo caminho em dias específicos, mais precisamente nas segundas, quartas e sextas-feiras, tudo passou a ficar ainda mais prazeroso pra mim.

Conversávamos muito, era engraçado como ele ainda se atrapalhava com a mistura dos idiomas, gaguejava às vezes, mas sem perder o charme, ríamos, ouvíamos músicas, olhos nos olhos, quando conseguia fixar meus olhos nos dele, era a hora em que sentia voando dentro do estômago as famosas borboletas, mudança de respiração, sentia minhas bochechas corarem, era o momento em que eu desviava o olhar primeiro. Ele nunca se atreveu a avançar o sinal e nem eu e assim fui me encantando, me envolvendo e me apaixonando de verdade por ele!

A cada vez em que nos encontrávamos, maior a certeza de que era ele! “A gente sente essas coisas, mesmo quando dói, mesmo que aconteçam coisas das quais a gente jamais fique com a pessoa, mas a gente sente, a gente sabe quem é o verdadeiro amor!”

Aquele sentimento que mesmo ao passar dos anos, quando é lembrado nos traz nostalgia e muitas vezes certa tristeza!

Ficávamos às vezes conversando por um bom tempo em frente ao meu portão até alguém aparecer, o tempo ao seu lado parava. Mas o mundo lá fora parecia voar em alta velocidade e isso sempre me fazia levar broncas por atrasos! Mas somente eu sabia o quanto era feliz com aqueles momentos e foram esses momentos que dei valor, que passei a dar importância e levar para a vida! “Não existe fórmula perfeita de felicidade ou esperar por ela, esperar que aconteça em um futuro longe ou próximo, ou que seja projetada e esperada em uma única pessoa, a felicidade nos acontece muitas vezes com apenas um largo sorriso e um te vejo amanhã menina!”

Quando me buscava na porta do colégio, parávamos na praça, para um sorvete ou um lanche, ficávamos ansiosos para nos ver quando combinávamos no dia anterior.

Ele me falava dos seus sonhos, de alguns medos, dos planos e um deles era de ter uma família, “Era nesses momentos em que ele me olhava no fundo dos olhos e sorria com ternura!”. Queria seguir ou tentar consertar os negócios do pai que sempre andavam prestes a ruínas, já que tinha suas economias, pensava que poderia mudar o rumo disso se os pais o deixassem assumir a frente dos negócios. Ele tinha uma visão promissora de negócios, mas a mãe o superprotegia e sempre cortava as suas asas, como se ele ainda fosse uma criança.

Muitas vezes somente ele falava e eu ficava ali o escutando e o admirando, não me atrevia a interrompê-lo.

Então eu estava ali, depois de ter parado o carro em frente ao portão e segurando o volante ainda com o motor ligado, olhando pra rua arborizada, quase deserta, com algumas pessoas circulando, algumas chegando em casa provavelmente do trabalho e eu ali, e eu estava com medo.

Respirava fundo, tentava ter forças para concluir aquela missão e ela não seria nada fácil pra mim. Johnny percebeu que havia algo de errado:

—Ei Lu! Já chegamos, não? O que foi? O que aflige essa sua cabecinha ruiva garota? Não me diga que a pequena Lu está com medo logo agora do bonitão? Se for pra ser uma despedida mais cedo ou mais tarde você vai ter que decidir o que fazer. Que tal começar por desligar o carro ou dar a partida novamente?

Uma última respirada bem funda, desliguei o carro, olhei pra ele, quase que pedindo por socorro, por desespero, de sim, você está com a razão, principalmente de não saber mais o que queria fazer e se iria realmente fazer o que estava obstinada, ele não entenderia o que era estar ali para mim e se me impedisse não iria perdoá-lo. Eram turbilhões de sentimentos e pensamentos ao mesmo tempo! “Até antes de sair de casa parecia tudo tão fácil! Tive a ilusão que era só chegar lá entregar a carta e dizer Adeus, até logo, até um dia, dar as costas e ir embora! Mas o que eu estava sentindo ou tentando entender naquele momento passava longe, muito longe de ser fácil!”

Buscando forças disse a Johnny que não iria demorar muito e sai do carro.

Nem sei se havia colocado o cinto de segurança antes de sair de casa, ou se havia estacionado certo, engrenado bem, mas ele estava lá como sempre, cuidava de mim, com todo seu jeito obediente ao meu pai, mas zeloso em me mimar também.

Ali parada em frente ao portão de grades da casa dele, nervosa, ansiosa, triste, com medo, queria sair correndo, mas era teimosa e iria pagar pra ver!

Me ajeitei um pouco, colocando uma mecha de cabelo que havia caído no rosto atrás da orelha, cheguei a conferir o hálito, que estava fresco e sem cheiro de cigarros, graças a um chiclete de menta, nem sei quantas vezes conferi se a carta ainda estava no bolso da calça jeans desbotada com alguns rasgos na altura das coxas!

Era moda e eu gostava dela, me deixava sensual, não que era o momento para sensualizar nada, nem passou pela minha cabeça tentar seduzi-lo, ainda mais devido a tantas circunstâncias e verdades a serem ignoradas naquele momento.

Me sentia bem com ela e na hora que saí de casa, não foi proposital, foi apenas a primeira peça que vi pela frente, junto com uma blusa verde de alcinhas.

Muitas vezes ele brincava, ficava cutucando e puxando alguns fiapos, dependendo da nossa proximidade, mas sem nenhum assédio, dizendo que iria me dar uma nova, dizia ser ciumento e sabia que meu pai era mais ainda, que não acreditava que o Big Boss, me deixava sair por aí, molambenta ou tentando seduzir bons rapazes de família. “Sempre em tons de brincadeiras, mas que me fazia acreditar mais. Acreditar que era ele!”

Toquei a campainha de uma "modesta" casa na qual meu pai com dinheiro de inúmeros empréstimos havia ajudado a família dele a se reerguer, depois que o pai havia decretado falência, por dívidas de jogos e futilidades de sua mãe. Mas ela ainda tentava manter as aparências não só de riquezas, mas também de um casamento fracassado. “Só ela acreditava que ninguém percebia isso!”

Uma senhora cheia de postura e arrogância, mas ainda e infelizmente a mãe dele!

“Fora assim que meus pais me ensinavam, a respeitar os mais velhos, mesmo que não merecessem o meu respeito!”

Quando ele apareceu pela vidraça da porta, pude ver que estava enrolado em uma toalha, acho que tinha acabado de sair do banho. “Meu Deus! Ele era lindo de qualquer jeito e de todos os ângulos! Será que vou conseguir falar tudo o que tenho pra falar? Será que vou conseguir me despedir sem chorar? Será que a hipnose por ele iria passar a tempo? Será que vou parecer uma fraca e uma boba na frente dele se eu não conseguir? E se eu chorar? Meus Deus!”

Me senti confusa, tão menina e ao mesmo tempo tão mulher, tão independente, tão sensual, tão determinada e decidida, mas ao mesmo tempo sentia tudo ao contrário! Sentimentos, medos e dúvidas que viravam redemoinhos na mente.

Respirei fundo e fiquei olhando pra ele ali parado na porta tentando identificar quem o estava esperando. “Não me importava de ser recebida por ele daquele jeito!”

Meus desejos estavam ficando à flor da pele, com tal visão! Não era o momento pra nada disso! “Luíza se concentre, respire garota!” Minha razão sempre me colocando nos eixos!

Quando me identifiquei, ele pediu para esperar um minuto e logo depois apareceu novamente, com o corpo ainda úmido pelo banho, ou gotas de suor se formando pelo intenso calor que estava fazendo. Dava pra ver o brilho se formando em seu corpo pela luz fraca das luminárias do jardim, enquanto caminhava feito um tigre em minha direção, parecia uma eternidade, sem camisa e com uma calça jeans apertada, que definia muito bem aquela visão do inferno, ou do paraíso, talvez a mistura dos dois em um só ser, mas que o deixava ainda mais perfeito, mesmo com todos os defeitos por ser apenas um ser humano e mortal, não via, não conseguia enxergar nenhum. “Será que ele é mesmo humano? Era meu anjo salvador, o meu príncipe encantado dos contos e histórias românticas, ou um demônio devorador de pecadoras de família nobre, me fazendo ter pensamentos mais quentes naquela noite em um momento inoportuno, um momento decisivo, triste e doloroso! Como disse: “Manter a razão perto dele era difícil!”

Finalmente chegou até o portão e o abriu, pude ver que seus olhos brilharam de alegria, logo se transformando em algo sem vida, quase foscos. “Será que de dúvidas, incertezas e desapontamentos assim como os meus? Será mesmo que foi uma boa ideia ter vindo?”

Nos cumprimentamos timidamente com seu casual beijo solo e demorado em minha bochecha direita e eu apenas me deixando ser beijada, me inclinando pra mais perto, com minha mão parada em sem ombro fazendo levemente meu carinho de sempre que às vezes subia até perto de sua nuca. Me convidou pra entrar, sem muitas formalidades:

— Oi Lu! Que bom ver você! Venha, podemos conversar melhor lá dentro, tenho coisas pra dizer!

— Oi Tony! Muito bom te ver também! Se não for incomodo, é coisa rápida! Também tenho tanto a dizer!

— Não se preocupe, estou sozinho agora, ninguém iria nos incomodar, meus pais e minha irmã foram jantar fora e devem demorar, podemos falar sobre o que você quiser, como sempre! Venha, entre! Que bom que veio, antes de...!

Antes que ele pudesse terminar a frase o interrompi, levantando o dedo indicador:

— Só um minuto!

Me virei para onde o carro estava estacionado e reafirmei pra Johnny me esperar por um tempo que não iria demorar.

Ele estava encostado relaxado do lado de fora do carro, havia aberto o paletó e desabotoado os primeiros botões da camisa pelo calor e estava fumando com uma cara engraçada, provavelmente me observando a cada movimento, parecia ler o que eu estava sentindo. “Me senti uma garotinha tola!”

— Sem problemas, Lu, não se preocupe, só tenho que ir comprar mais cigarros e por que será? “Cai minha cara de vergonha desse jeito Johnny, falar assim na frente dele, ainda mais que ele não gosta que eu fume!

Meu olhar pra ele era de pânico, se tiver de ir, que vá logo, mas não me mata de vergonha cara, por favor!”

Meu rosto queimava e provavelmente bem vermelho, sem saber o motivo certo agora, mas Tony percebeu a indireta e não comentou nada! “Ainda bem!”

Ainda com um sorriso contido se entortando pelo canto da boca, cumprimentou Tony com um rápido aceno de mão e já que eu havia fumado o seu penúltimo cigarro, ele realmente precisava ir!

Vício da qual, não me orgulho em falar que aprendi com meu pai, devido a inúmeras visitas de seus clientes, ele gostava mais de charutos e eu achava charmoso e pomposo fumar e a nicotina já me fazia o efeito que nós fumantes pensamos que ela faz, relaxar, dependendo das situações e essa situação da qual me deparava não era diferente, acabei fumando os cigarros do Johnny. Ele me repreendia às vezes, achando que o nosso Big Boss o iria culpá-lo por isso, ainda mais por eu ser tão nova, ou mamãe iria reclamar do cheiro de cigarros deixado dentro do carro. Eu sempre falava pra ele que se ele não contasse, eu também não contaria.

Fui me virando e acompanhando Tony, que me guiava com a mão em minha cintura. “Seu toque naquele momento era o que eu precisava, precisava de mais, mas também era o mais que não poderia ter!” Percebi que ele não havia tirado a mão de mim após o cumprimento!

Sem entender o motivo da minha inesperada visita, me levou até a sala e por alguma razão que não entendia, não sabia ao certo mais por onde começar o assunto, mas eu nunca iria expor nenhum daqueles segredos que me jogaram no colo feito uma bomba relógio e me deixaram lá, sozinha e esperando explodir! “Eu já não estava me reconhecendo do lado dele!”

O cheiro dele estava me deixando desconcentrada, minha respiração pesava e lá estavam elas, as malditas borboletas!

Mas sim, eu sabia o motivo, não conseguia pensar direito quando o via, me atrapalhava com as palavras e ainda mais com ele daquele jeito tipo assim: “Uau...!!!”

Mas eu sabia bem o porquê estava ali! “Por favor, não abra esse sorriso pra mim! Ou eu vou esquecer até quem sou se você o fizer! Por favor, razão, serenidade e sanidade, não me deixem agora!”

Com esforço, mas com o nó se formando na garganta, fui organizando os pensamentos e as palavras, tentando manter a calma, tentando ser forte, respirei fundo e então comecei a falar que estava ali porque sabia que ele estava indo embora para outra cidade e que não gostaria que ele fosse sem nos despedirmos.

Eu sentia que ele não iria voltar, uma sensação forte de que nunca mais o veria. E isso era mais uma das coisas que mais doíam também! Eu não o queria longe, mesmo não ficando juntos! Mesmo não podendo ficar juntos!

Percebi uma tristeza, certa inquietação, uma angústia em seus olhos, aqueles olhos frios de agora chegavam a me assustar a me doer a alma. “Ele estava diferente! Não era mais o meu Tony!”

Ele abaixava a cabeça, desviava e escondia o olhar de mim. Aqueles mesmos olhos que sempre me viam com ternura, agora eram olhos de dor. “Não era mais o meu bonitão!”

— Não era bem exatamente isso que precisava falar com você Lu, mas sim, também é isso. Não sabia mais como iria te encontrar pra me despedir. Fiquei com medo de ir até você e mal tive tempo de organizar as minhas coisas. Aconteceu tudo de uma forma muito rápida. Perdi o controle do tempo e de vez da minha vida!

— É Tony, eu soube, não precisa se explicar, soube através de sua mãe, mas quer saber? Não sei se quero saber de verdade, acho que já sei o suficiente e sei que dói, não sei se quero saber realmente o que levou a todos esses motivos e nem dos envolvidos, está sendo difícil pra mim! O que ela me disse fora o suficiente, para entender que você precisa ir e apenas sei que você vai! Por isso estou aqui, tomei coragem e vim te ver, também tive medo, nem que seja pela última vez, mas, estou aqui Tony!

Palavras que não tenho ideia de onde saíram bem e firmes, mas me doía ouvir o som da minha voz falando sobre a despedida. Mas a vontade era de gritar pra ele: “Ei! Acorda! Estou aqui, esse é o momento, me pegue em seus braços e me leve pro seu quarto agora, porra! Me beije, me mande embora, diga que me ama, me ponha pra fora daqui rindo como um covarde, mas faça o que tiver que fazer, me toque! – Respire Luíza, não seja idiota, ele nunca iria te tocar! Não desse jeito! Pense e aja com calma menina!”

Estar ali pra dizer adeus não era uma coisa agradável de ouvir, ainda mais quando você não sabe se tem a mesma importância ou significa alguma coisa pra aquela pessoa que está parada ali na sua frente com um olhar frio e distante, apenas te olhando e essa mesma pessoa está partindo e significa tudo pra você!

Ele tentou se explicar algumas vezes, mas não deixei, o interrompia, mudava de assunto. Eu queria ser forte e aproveitar aqueles últimos momentos sem pensar na dor e na despedida. “Mudança de estratégia para apenas aproveitar o momento!”

Acabamos mudando de assunto, tivemos uma conversa rápida de assuntos banais, coisas sobre minhas boas notas no colégio, sobre a manutenção da caminhonete. Percebi que tínhamos finalmente fugido do assunto.

O silêncio entre as palavras e a troca de olhares era o que gritavam por nós dois e com as lágrimas represada nos olhos, peguei sem medos desta vez na sua mão, fiquei por alguns segundos olhando cada detalhe, como se meu inconsciente estivesse gravando, estivesse fotografando cada milésimo de segundo com ele, pra guardar pra sempre na minha memória.

Virei sua mão que estava começando a suar talvez pelo calor, talvez pelo momento e dei-lhe um beijo demorado na palma e depois a fechei, olhando em seus olhos que também estavam cheios de lágrimas me observando com tanta ternura tudo o que eu estava fazendo, havia um brilho diferente desta vez e não entendia mais o porquê!

Ele abriu e fechou a mão após observá-la por um tempo, um tempo lento, como se o meu beijo tivesse desenhado com tinta permanente ali, levando-a pra perto do peito, me olhando com intensidade, tentei decifrar esses detalhes, eu pensava que todos aqueles sentimentos eram só meus.

Pensei que ele me daria um fora, que me acharia a mais tola das garotas, mas não, ele demonstrou que havia algo por mim, pelo menos era o que eu estava me apegando naquele momento!

Peguei a sua mão novamente dei um passo à frente, me aproximando mais, inspirando novamente com força o ar que era todo tomado pelo cheiro dele e disse:

— Guarda pra mim, quando puder devolver, eu vou estar esperando, estarei aqui pra você! Obrigada por ser assim, por ter sido assim... Tão... Tão... Você!

Levantando os ombros e soltando todo o ar do peito em significado de que não sei mais o que dizer!

— Mas por quê? Como assim obrigado Luíza?

Ouvir o meu nome saindo de sua boca, daquela boca que eu tanto desejava, era como uma oração que acalentava meu coração e ao mesmo tempo uma música pesada de heavy metal, que me inquietava, me deixava agitada, era onde eu perdia todo o meu controle e a dona razão ia embora!

Continuei sufocando as lágrimas, me mantendo firme, engolindo o choro, sendo forte, era o que eu gritava por dentro:

— Você poderia ter feito o quisesse comigo, ter se aproveitado de toda a situação, eu lhe daria o céu, lhe daria tudo, lhe daria o mundo, lhe daria o meu mundo se você me pedisse. Me entregaria de corpo e alma a você! Mesmo que você não seja mais o primeiro, sei que talvez você não me aceitasse por isso, por não ter te esperado, como eu queria isso e como me arrependo de não ter esperado! Porque assim você já é parte do meu mundo e agora você está indo e nem sei se um dia voltará. Mesmo sabendo que eu o amo tanto, e, agora você sabe, você não... “Respire!” Me sinto a mais boba das garotas aqui na sua frente agora, mas o que sinto por você me faz agir assim! Você me faz, você me... Deixa sem chão... Você... “As palavras começaram a fugir! – Vamos Luíza você consegue porra! Você começou com suas declarações de uma tola apaixonada, agora pelo amor de Deus termine sem ser mais ridícula do que já está sendo! – Obrigada razão por ainda estar aqui comigo!”

— Mas não! Você não foi um filho da puta! Você não foi um moleque! Não foi um babaca comigo! Me respeitou! Talvez por achar que eu ainda fosse virgem! Não sei! Você foi um príncipe comigo! “Pronto! Falei!”

Não tinha a mínima ideia do que aconteceria depois de ter falado tudo isso pra ele! As palavras sendo as certas ou não para o momento foram ditas e agora era esperar pacientemente pelo sopro ou o soco! Então aconteceu o sopro!

Desde que entrei, havia música tocando pela casa, deixando o ambiente mais leve, vinha de um cômodo da casa, que acredito ser do quarto dele. Quarto que não tive a feliz oportunidade de conhecer, mas coincidência ou não era uma das músicas que ouvíamos sempre, quando me dava carona: “Donato e Estefano – Estoy Enamorado”.

Naquele momento não me lembrava de mais nada, nada fazia a menor importância, a não ser aquele momento, a intensidade de cada detalhe daquela despedida não nos permitia mais nada!

Sem dizer uma palavra, me pegou pelas mãos, sem tirar os olhos dos meus, com seu dedo indicador me silenciou, seu toque era lento e delicado, desenhando com a ponta do dedo os meus lábios e depois acariciando com as costas da mão minha bochecha, que ardiam e sentia toda a ternura transmitida daquele toque. Cheguei a ficar nas pontas dos pés, fechei meus olhos na espera do beijo, mesmo sabendo o quão proibido estávamos sendo, o quanto meus lábios queimavam, precisando do afago dos lábios dele, precisando sentir aquele beijo, saber finalmente qual era o doce, qual o sabor dos seus lábios, mas o beijo não veio.

Ele me juntou ao seu corpo em um abraço firme e ficamos assim, apenas abraçados no começo, apenas abraçados e em silêncio, puxou levemente minha cabeça para junto dele à afagando, emaranhando seus dedos nos meus cabelos, senti seu queixo se apoiando e depois um beijo firme e demorado no topo, quase que automáticos levados pela melodia, mas tão próximos, fomos dançando lentamente, ele me conduzia com ternura e leveza.

Queria ter perguntado tanto, tantas coisas mais eu tinha pra dizer, mas por tantas coisas e segredos me calei, queria olhar em seus olhos novamente e a única coisa que consegui foi me aconchegar em seu peito da forma que ele havia me colocado lá, fechando meus braços em volta do seu corpo e sentir a música, seus braços em volta de mim e os meus em volta dele, o calor do seu corpo se misturando ao meu, mesmo sendo por tão pouco tempo, me senti protegida, era ali que eu morreria se um dia ele me pedisse, era ali que queria ficar para sempre, era paz, era desejo e era a paixão, talvez o efeito que a música estava nos causando naquele momento, parecia que eu flutuava em seus braços, parecia que o mundo lá fora havia parado só pra nós dois, era o nosso primeiro contato mais íntimo desde que eu o conhecera, nunca tínhamos ficado assim tão próximos, a ponto de um sentir o coração e a respiração um do outro, era sempre olhos nos olhos, chegando muito próximos, parávamos antes ou éramos interrompidos por alguém ou alguma coisa acontecia.

Houve apenas uma vez que após um moleque da escola quase me derrubar, ele praticamente me agarrou, perguntando se eu estava bem e sem perceber ficamos de mãos dadas por um tempo e tinha sido somente isso, tirando os casuais cumprimentos que estavam ficando cada vez mais demorados, mas ainda assim não passava de um simples cumprimento!

Quando a música parou, nós não paramos e em seguida começou a tocar outra música, que falava de pássaros que continuavam a cantar e para sempre eu iria te amar: "Eva Cassidy – Song Bird”.

Continuamos ali parados no nosso tempo, sem dizer uma única palavra, eu podia sentir seu coração bater forte junto com o meu, tudo era mágico naquele momento. Talvez o único, o mais lindo e o mais perfeito de toda minha vida, só não era mais perfeito por se tratar de uma despedida! De um triste e obrigado Adeus!

Não tinha ideia no que ele estava pensando, mas ele também estava sentindo alguma coisa! “Ou era apenas eu querendo acreditar nisso!”

Eu não queria que acabasse, não queria que ele fosse embora, queria ir com ele, eu não queria ir embora. “Fodam-se todos os segredos de família, fodam-se os meus pais, os nossos pais! Era ele e eu não queria perdê-lo!"

Por algum motivo senti que ele também não queria, porque mesmo a música tendo acabado não me soltou, senti me apertando mais junto dele, parecia que precisava de mim! Mas acabou e com os olhos transbordando, tive dificuldade em sair dos seus braços, antes de conseguir desfazer o casulo, ainda lhe dei meu mais apertado abraço, me jogando em seu pescoço, ele o recebeu com carinho de sempre, quase me levantando do chão, retribuindo com a mesma intensidade, senti um arrepio quando ele enterrou o nariz em meus cabelos, inspirando fundo descendo pelo meu pescoço e parando ali!

“Cabelos perfumados e soltos!” Foi o que ele medisse uma vez, que achava os meus cabelos lindos! Chegou me fazer prometer uma vez que nunca iria cortá-los!

Depois que consegui me soltar do ninho que seus braços fizeram em volta de mim e onde eu queria ficar pra sempre, retirei a carta que ficou amassada do bolso, coloquei em suas mãos, deslizei minha mão em seu rosto parando com ternura na barba por fazer em silêncio.

Pensei em me atrever e roubar-lhe um beijo, porque a nossa proximidade até me permitia isso, mas eu não poderia, seria uma atitude que poderia desmanchar toda aquela pintura que se havia desenhado naquele momento e me faltou a coragem e a dona razão do meu lado todo o tempo!

Então sem olhar para trás, depois que nos soltamos me virei e passei pela porta indo embora. Me arrastando e a cada passo que dava em direção à rua, meus pés pesavam uma tonelada. “Fique firme Lu, talvez ele faça como nos filmes, talvez ele corra atrás de você, te segure pelo braço, lhe peça pra ficar mais um pouco, talvez lhe declare todo seu amor e lhe dê o mais cinematográfico beijo!”

Ali era a realidade, a dolorosa e fatídica realidade, isso não iria acontecer, isso nunca poderia acontecer!

Mesmo assim, antes de entrar no carro, onde Johnny estava me esperando falando ao telefone e pela mudança de postura provavelmente com meu pai, o nosso Big Boss, ainda assim me atrevi a olhar pra trás, ele estava no mesmo lugar, mas me olhava.

Uma frase de Leonardo Da Vinci me veio à cabeça, como cobrança, como arrependimento de não ter feito, de não ter sido nada, me acompanhava: “Quem muito pensa, muito erra!” “Missão cumprida! Eu vim, deu tudo certo, não é? Não me joguei no chão em posição fetal, chupando o dedo e mendigando atenção, nem mesmo estuprei o bonitão! Fui mais forte do que imaginei! Mas o que foi aquilo lá dentro? Piedade por minha atuação? Não sabemos!”

Cabeça baixa, lágrimas paradas aos olhos e mais um cigarro no caminho de volta. Não queria ouvir música, mas Johnny insistiu, dizendo que eu estava quieta demais, deixou o volume mais baixo e lá estava tocando: “Pearl Jam – Black”. “Obrigada Johnny, não está ajudando!”

Fiquei olhando pra fora do carro, jogada no banco, vendo as luzes dos postes passarem rápidas.

E eu ainda estava extasiada por todo aquele momento, ainda sentia o cheiro dele impregnado em mim, cada toque que ousou fazer, seu beijo e sua barba no meu pescoço queimavam. “Eu queria mais, eu queria tudo!”

Não disse uma palavra sequer, não falei nada com Johnny do que acontecera e do que não poderia acontecer lá dentro. Eu já começara a sentir o peso em meu coração, pra falar a verdade ele nem saiu enquanto estive lá dentro, mesmo que parei de sentir no instante em que me aninhei naquele abraço.

Não quis levar o carro de volta e eu sabia que aquela noite iria ser longa demais, isso eu tinha certeza! Como esquecer o amor da minha vida? Como esquecer aquele momento? Todos os momentos? Aquele cheiro? Aquela paixão? Como esquecer algo tão sério? Tão forte? Tão importante? Tão gostoso? Tão bom? Tão doloroso? Tão proibido?

E ele estava partindo para outra cidade, para um lugar que talvez nunca mais o veria novamente.

Não poderia ir atrás dele e aparecer lá simplesmente de mala e cuia na porta, pedindo por abrigo! Era uma certeza, que sentia junto com toda a dor da despedida!

Em casa naquela noite, cheguei sem chão, sem rumo, de coração partido, não fazia outra coisa a não ser chorar em silêncio, choro contido, trancada no quarto, jogada na cama entre as almofadas e travesseiros. Me sentia desolada, impotente, a dor chegava a ser física.

Tudo que eu havia escutado, tudo o que eu sabia, tudo que havia sentido, todo aquele medo de falar e parecer boba pra ele, todo aquele dia, mesmo os momentos mais mágicos se transformaram em lágrimas e pelo visto não iriam parar tão cedo!

Mas estava tudo certo, não me desmanchei na frente dele, fui forte e determinada, fui com o objetivo de dizer tudo a ele, de entregar a carta que nem sei se vai ler e me despedi conforme meus planos. “Minha razão tentava me consolar em vão!”

De manhã, mantinha a pose em frente aos meus pais até na hora de ir pra aula. Eles não iriam perceber! A não ser que eu abrisse minha boca, estava ficando rouca!

Quase não tinha muito tempo para conversas no café da manhã, ou simples olhos nos olhos, ultimamente eram assuntos entre os dois, o trabalho excessivo, prazos, o conforto e as compras em demasia!

Para evitar qualquer contratempo e uma falha de cálculo da minha parte, de uma situação tão comum e rotineira, passei a me maquiar, mesmo que discretamente, para não chamar mais a atenção, eram disfarces para olheiras e o rosto inchado.

Algumas vezes fingia estar dormindo até mais tarde com a desculpa de estar atrasada e sair correndo sem maiores explicações.

Pra mim era difícil conservar serenidade, aquela cara de que estava tudo bem! Aquela apatia que não tinha a menor vontade de ter, mas mesmo assim era obrigada! “Ninguém precisava saber de nada e nem iria adiantar!”

Porque quando alguma coisa me lembrava ele e era praticamente tudo, voltava pro meu quarto, pro meu casulo e ouvia alto nos fones de ouvido e repetidamente nossas músicas. Músicas das quais ele nunca saberia que eu ouvia pensando nele, que fantasiava, sonhava como seria nós dois juntos, minhas músicas favoritas, músicas que tinham a ver comigo e com ele, o até voltar das aulas, não tinha mais graça, eu voltava olhando pra trás, na esperança que aquela caminhonete branca dobrasse a esquina, parando bem do meu lado e que meu príncipe sem armaduras me salvasse, mas a ausência daquelas sensações que sentia antes de vê-lo, me fazia acreditar que não o veria mais, estava vazio por dentro! “Me salvar do que?” Eu tinha tudo o que quisesse; coisas que a maioria das adolescentes da minha idade desejavam, só que eu achava fúteis! Eu estava me desencantando com as histórias de finais felizes e juntos para sempre. Realmente não tinha do que me salvar!”

E por falar em músicas, eu era movida a música e muitas delas simplesmente marcavam pra caramba! Sempre tive uma ligação especial, muitas delas acreditava que tinham sido feitas pra mim, me acalmavam ou diziam exatamente o que eu sentia, era mágico o arrepio na pele, às vezes um nó na garganta, olhos marejavam dependendo da canção, era inexplicável, mas eu sentia a música. Sempre fora pra mim quase que a essência da alma. Eu acreditava na música, no poder dela, como algumas pessoas ainda acreditavam em contos de fadas.

Talvez tenha herdado de papai, que assim como eu, era um fã de boa música. Desde criança ouvíamos juntos pela casa, ele me ensinava a dançar, eu ainda batia na altura da sua cintura pisando sobre seus pés me conduzia pela casa, cantando e me embalando e na medida em que fui crescendo, isso foi acontecendo cada vez menos até não acontecer mais!

Era incrível como os melhores e os piores momentos da minha vida sempre tiveram uma trilha sonora, uma música ao fundo, fazendo com que sentisse com mais intensidade o efeito dos acontecimentos e era na música que me aliviava, que me encontrava, que colocava de certa forma pra fora. Talvez a minha fascinação pela música fosse coisa de adolescente “carente, mimada, iludida, apaixonada, esperançosa, decepcionada, rebelde, revoltada”, mas durou e penso que vai durar até o final! Mas o vazio era grande que somente a música não iria ser suficiente por muito tempo!

Eu queria algo mais forte, precisava conversar com alguém pra ver se aliviava, a única pessoa em que confiava era a Gaby, mas ela estava viajando e então a solução era me enterrar em livros, ficar assistindo TV até tarde e é claro que nas músicas.

Dias longos, dias arrastados, dias entediantes, ainda mais por ter entrado de férias do colégio, não viajamos desta vez, papai estava atolado de trabalho e seus prazos. “Sair com mamãe? Nem pensar, não ajudaria muito, às vezes poderia e seria até pior!"

Às vezes ficava pensando, me questionando, e se eu não estivesse ali naquele momento pra me despedir dele? Não me perdoaria e talvez tivesse sido melhor não ter ido e eu sei que iria doer mais ainda como agora.

Às vezes pedia a Johnny para dar uma volta de carro comigo, pelo menos para conseguir respirar e distrair um pouco. “Como se fumar aliviasse o que eu sentia ou futuramente não fosse prejudicar minha respiração! Que ironia!”

Ele me fazia rir, tentava me alegrar, tinha um senso de humor estranho, fazia piadas, às vezes sem esboçar um sorriso, somente levantava uma sobrancelha, que o deixava cômico, mas dessa vez não estava funcionando, eu estava triste demais para qualquer coisa!

Um dia quando saímos para que eu pudesse dirigir um pouco, ele virou-se pra mim e perguntou:

— Qual o motivo de tanta tristeza Lu? Você está diferente! É sobre aquela quinta-feira à noite que fomos lá, na casa do bonitão?

— É sim, Johnny, mas ainda não estou pronta pra conversar com ninguém sobre isso!

— Seja o que for menina Lu, vai passar! Quem sabe um dia isso tudo se ajeita e ele volte pra cá? Só não deixe de contar comigo, nem tudo o nosso Big Boss ficará sabendo. Se for algo grave, preciso saber se posso ajudar e que providências terei que tomar. Não me diga que ele faltou com o respeito com você? Se for isso Lu, eu teria que tomar uma atitude mais séria e seu pai teria que saber. Nós o castraríamos! Ninguém pode te machucar assim e sair ileso!

— Não, está tudo bem! Fique tranquilo, ele não fez nada! Não se preocupe, talvez seja por todo esse respeito que eu esteja assim! O Papa não precisa saber de nada. Ele não iria entender coisas de uma menina boba e apaixonada!

— Pare com isso, você não tem nada de boba, mas tenha calma que as coisas se ajeitam! Pode contar comigo!

— Eu sei, obrigada por isso, mas acredite, estou bem e realmente espero que tudo isso possa se ajustar um dia!

Por mais que ele e papai fizessem certo esforço para que nós dois um dia namorássemos, mesmo mamãe sempre o repreendendo achando minha idade desnecessária pra namorar e que meu foco agora é somente os estudos! Era o certo a se fazer é tentar amenizar de alguma forma aquela dor! Não queria mais falar sobre isso e então ele nunca mais me perguntou sobre o assunto, mas ficava sempre de olho e cuidando do jeito dele.

Por mais que eu o considerava amigo, tinha medo às vezes, da lealdade dele com meu pai e acabar contando sobre as minhas travessuras.

Ele também me disse que minha mãe já o havia interrogado, claro que longe de papai, para saber aonde tínhamos ido aquele dia e se isso tinha alguma coisa com minha mudança de comportamento. “Ela percebeu alguma coisa! Como? Ela sempre está em outro mundo! Era melhor tomar mais cuidado!”

Porque eu era sempre risonha, animada, às vezes dançava e ficava cantarolando pela casa, principalmente em dias específicos, aqueles dias em específicos, em que me encontrava com um certo dono de um sorriso que me animava e me encantava por vários dias. E o porquê agora eu estava sempre pelos cantos ou no meu quarto, como uma adolescente problemática, calada, tristonha, se ele sabia de alguma coisa?

Ele não havia dito nada, só que um carro havia me fechado e eu tinha me assustado! “Boa saída Johnny!”

Mamãe era uma senhora bem apresentável, de olhos verdes como os meus, os cabelos louros bem curtos, baixa e uma pose de crítica e superioridade sobre todos, a senhora Letícia M. Baggio.

Algumas vezes ela até perguntava se eu estava bem, mas sem se interessar realmente, tentava fingir seu papel de mãe, talvez até se importasse um pouco, mas com toda certeza, não era esse o caso. Cheguei a comentar sobre essa distância com Tony e o quanto isso me fazia sofrer, ele tentou apaziguar dizendo que era apenas impressão minha, que não existia uma mãe tão fria assim! Mas o pior que ela era assim mesmo!

Ela sempre ficava distante ou na defensiva, não dava carinho, era mais preocupada em compras ou com as amigas arrogantes e insuportáveis que ela recebia em casa pra uma social de meras aparências. “Um maldito chá da tarde!”

Não nos dávamos bem, brigávamos e eu tinha a impressão que até tinha ciúmes de papai comigo, a diferença de tratamento era gritante, apesar da falta de paciência que eu percebia entre eles às vezes, nunca os vi brigando, às vezes uma repreensão de papai quando ela passava dos limites por alguma futilidade, sua língua afiada, um cartão de crédito estourado e quando ela e eu brigávamos, papai muitas vezes interferia, eu via e sentia a tristeza em seus olhos, tínhamos uma ligação que ia além de pai e filha, algo quase espiritual, era forte e por mais que ele não falava, era quase palpável os seus sentimentos em relação às brigas.

Ele sabia que eu não estava bem, mas eu o evitava ao máximo que podia, construí muros e abismos entre nós, distanciava e tirava dele o direito de saber que eu estava sofrendo, que talvez pra ele seria mera tolice de uma menina.

A criação de papai era outra e coisas do coração não eram relevantes, pelo menos eu achava isso!

Não era difícil, ele estava trabalhando mais do que nunca nos últimos tempos e quando havia brechas nos meus muros, eu interpretava bem.

Eu era discreta e reservada e tentava sempre manter e voltar a ser a menina que enchia os olhos de papai e a casa de alegria, mesmo que por dentro estava vazio e sem motivos para se alegrar!

Longos dias depois de sua partida, o tédio estava me fazendo companhia, mas meu coração batia forte e apertado ao mesmo tempo naquela tarde chuvosa, cabeça e respiração pesada, aquele sentimento, aquela sensação que eu conhecia muito bem, que ele estava por perto, mas como, por quê? “Não, não está Luíza, é apenas o tédio te pregando peças!” Eu tentava mentir pra mim mesma, mas aquela sensação era inconfundível!

Era dia de chá com as amigas de mamãe, eu detestava todas aquelas pompas e frescuras, do tipo:

— Luíza minha querida, junte-se a nós! Você já é uma mocinha, não pode ter traços assim tão rudes! Sua fase de menina já passou!

Simplesmente fugia o quanto podia delas, me enfiava no escritório de papai com as desculpas de querer aprender alguma coisa sobre os negócios.

Ele percebia e me deixava ficar, ensinava uma coisa ou outra, menos quando estava em reuniões, com clientes, ou assuntos importantes demais pra resolver.

— Bambina mia, a tu mama uma hora descobre sua fuga e você vai ter que se juntar as distintas senhoras esnobes desta hipócrita sociedade!

Ao dizer isso ele sempre ria e revirava os olhos!

— Não se preocupe papa, tenho um plano de fuga bem elaborado pra me manter afastada delas e o Senhor é o meu álibi, mais do que convincente!

Papai ria, se divertia comigo ali e continuava com o seu trabalho e suas intermináveis anotações nos seus cadernos e livros de capa preta!

Desde que eu não aparecesse com um visual gótico ou de calças rasgadas, ou melhor, nem aparecesse, para mamãe estava perfeito.

A chuva havia parado me permitindo sair de casa, fugir daquelas peruas, evitar qualquer contato com elas, mesmo com a aquela imensidão do nosso sofisticado e acolhedor sobrado, me sentia sufocada. Mamãe já dizia que preferia ser em outro lugar ou uma casa bem maior!

Escolhi meu quarto no andar de baixo, bem longe deles, não importava, mamãe não interferia e dizia que era bom que acabava sobrando mais mimos pra ela.

Claro que meus pais “pai”, não gostava muito que eu ficasse sozinha no andar de baixo, mas aquele era meu cantinho favorito, onde passava as noites estudando, lendo ou escrevendo. O outro quarto era de visitas, mas mais usado por Johnny ou Dona Marta, a nossa empregada, quando havia necessidade de dormirem no trabalho.

O espaçoso escritório de papai, contragosto de mamãe, ficava entre as salas de jantar e a cozinha, bem no meio da casa. Onde ficavam as suas coleções de livros e discos de vinil. Ele odiava pensar que estavam perdendo o glamour para os CDs, até já havia comprado alguns.

A casa era bem decorada, com quadros de vários artistas, algumas esculturas e flores, mamãe sempre tentava deixar a casa mais alegre.

Era uma casa em cores claras com móveis escuros. Ela sempre dizia que as flores espantavam o tom fúnebre que papai gostava, mas naquela tarde a fúnebre era eu.

Precisava, queria caminhar um pouco, respirar aquele ar fresco pós-chuva, sentir o cheiro de asfalto e mato molhado, onde morávamos era arborizado, que dava uma paisagem ainda mais campestre, que hoje em dia me traz nostalgia. Papai dizia que ali lembrava um pedacinho de Veneto, sua terra natal.

Chegando ao portão, pronta pra sair e caminhar, tentar entender aquele sentimento. “Será que é saudade que estava provocando todas aquelas reações?”

Ainda vi a tempo de virar a rua, aquela caminhonete branca. “Ah a minha caminhonete branca favorita! Estava tendo alucinações?!”Eu sempre o sentia por perto e naquela tarde, não fora diferente!

Fiquei confusa me perguntando o que ele estaria fazendo ali, o porquê não me chamou? Fiquei me fazendo mil perguntas no meio da rua.

Havia mudado de planos, não iria mais sair, iria voltar pro meu quarto e ficar quieta lá dentro. Eu estava tendo alucinações e não era uma boa ideia sair!

Ao me aproximar do portão, percebi que havia algo na caixa de correio. Alguém havia deixado um envelope com meu nome escrito, sem remetente, abri o envelope ali mesmo, dentro além de uma carta escrita, havia um pingente de ouro em forma de crucifixo gravado "Sempre".

Não precisava ser gênio para deduzir, eu sabia que era dele! E por pura sorte ou não, eu a havia encontrado primeiro!

Coração disparou, as lágrimas rolaram instantaneamente, se misturando com a chuva que voltava a cair, como se até os céus estivessem tristes comigo e por tudo aquilo.

Entrei e fui direto pro quarto, me tranquei lá e não tive coragem de ler imediatamente, pensei em rasgá-la, deixar para ler depois, estava com raiva e nem sabia o porquê, estava triste, a ansiedade aumentou quando senti um cheiro familiar que vinha daquele pedaço de papel.

Comecei a andar de um lado pro outro, quase em agonia pela indecisão e incertezas. “Oh meu Deus! Era o cheiro dele! Quase imperceptível eu confesso, mas ainda assim, era o cheiro dele!”

Talvez aquele cheiro estivesse apenas na minha mente desde aquela noite em que estava aninhada nos braços dele, mas ainda assim, dele!

Comecei a tremer a não me aguentar nas próprias pernas de ansiedade, me sentei ali mesmo no chão atrás da porta, abri a carta de duas páginas e comecei a ler:

Minha inesquecível Lu!

Então, eu tive que partir e você ficar, mas eu não poderia deixar de responder a sua tão carinhosa carta.

Aquela carta minha menina, realmente mexeu muito comigo.

Não consegui dormir naquela noite, pensando nos nossos momentos, em todos eles, desde que tive o prazer de te conhecer e preocupado também como será de agora pra frente, ainda mais que não a verei tão cedo.

Está tudo meio turvo e complicado em minha vida agora, por motivos que talvez nunca possamos compreender e sua carta, foi um bálsamo e ao mesmo tempo uma tormenta para mim.

A minha partida, a nossa separação de certa forma forçada, por minha culpa, está mexendo comigo, não era o que eu queria, queria ficar por aqui, ficar perto de você, ainda mais agora, sabendo do que você realmente sente por mim, tive medo, tinha medo de ser apenas meus hormônios me fazendo pensar em outras coisas, preservei você, mas hoje tenho certeza do que sinto, há algum tempo que venho me contradizendo, me contendo, mas hoje a certeza de que seria você a minha escolha, mas a partida agora é infelizmente necessária.

Não sou o príncipe que você sonha, nunca nem estive perto disso, pelo contrário sou um plebeu que corre atrás de sonhos até utópicos às vezes.

Mas preciso muito te dizer que também sinto algo, esse algo é forte e verdadeiro da mesma forma que você diz sentir.

O quanto queria pedir a sua mão para o seu pai, mesmo com medo daquele italiano bravo, que admiro, sinto uma ligação e um respeito muito forte com ele. Mesmo achando que minha situação financeira nunca seria da aprovação dele.

Queria ser seu namorado, andarmos por aí de mãos dadas, cuidar de você, te vigiar dormindo sobre meu peito, tendo a sensação que eu lhe protegeria de tudo e de todos para sempre!

Queria estar em um altar mesmo da mais simples capela a sua espera e ver você toda rosada pela timidez, destacando suas sardas em cima do nariz, esse nariz que por mais que você seja de descendência italiana é pequeno e perfeito, em um vestido simples de princesa.

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Sei que não gosta de coisas pomposas, ver os seus longos e avermelhados cabelos soltos, que destacam os seus olhos, olhos que me queimam a pele, com flores brancas e delicadas entre eles, jogados de lado. – Por favor, não corte! Vindo em minha direção com seu pai te guiando, com aquela pose de militar que ele nunca perdeu, com o peito inflado de orgulho de ter a mais bela filha, sem ao menos respirar direito pela emoção.

Sim Luíza! Eu queria viver, eu queria me casar com você, esse seria um momento único pra mim. Te fazer minha de verdade e para sempre!

Não importo de não ser o primeiro, senti ciúmes quando falou sobre isso, que queria ter me esperado.

Eu queria sim, ter tido a honra de ter sido o seu primeiro, mas não mereço tal confiança!

Não sei se poderia lhe fazer feliz como merece, mas o que estivesse ao meu alcance, não mediria esforços por você! Mas... Não posso!

Talvez um dia você possa me compreender e talvez um dia, quem sabe, me perdoe.

Não consigo deixar de pensar em você, preciso realmente saber se tudo vai ficar bem com você.

Que bom seria se não houvesse despedidas, não houvesse "o até mais, o até breve ou o adeus".

Seria bem melhor se em nossas vidas pudéssemos optar e obedecer a nossos corações e ficar.

Mas não é assim. A realidade "Lu" é muito dura às vezes.

Não podemos mudar certas situações e nem o destino.

Sentirei a sua falta, mas espero que minha partida, seja para melhor, vai ser melhor pra nós dois, eu tenho que fazer isso, tenho que ser homem e assumir meus erros, erros que nem sei se cometi, pelo menos o que resta de um homem sem ter a mulher que ele ama do lado, só tenho que lutar, torcer e desejar que tudo dê certo, nesse caminho que tenho que começar a trilhar. Não tenho medo dos desafios, tenho medo de não conseguir esquecer você!

Não, não existe nenhum caminho, a não ser aquele que você pudesse ter vindo comigo.

É o certo a se fazer. É o que tenho que fazer, me afastar. Me desculpe!

Seja sempre assim, meiga, carinhosa e alegre do jeito que sempre foi, seja simples e puramente você.

Distribua a todos esses sorrisos constantes que sempre alegram o seu rosto e o ambiente onde chega de felicidade.

O seu sorriso, o mais meigo e belo que guardarei na lembrança, seus lábios vermelhos e finos, quando ficava tímida por algum motivo tinha o hábito de colocar a língua entre os dentes lhe fazendo parecer menina travessa. Carinha de menina sapeca! A minha menina sapeca! Uma doçura que me contagiava!

Posso te descrever de olhos fechados se você me pedisse, os seus olhos verdes, que muitas vezes me incendiaram por dentro de um jeito que você nem imagina, eu sentia seu corpo em brasa quando chegava perto de mim. Como me segurei inúmeras vezes de me atrever, tinha medo de não me controlar, de ceder aos meus desejos talvez loucos, talvez insanos, talvez proibidos por você. Mas desejo você!

Seus longos e perfumados cabelos, seu corpo, seios pequenos e quadris largos, seu jeito doce e sereno de menina brava ao mesmo tempo, menina e mulher no mesmo ser.

Sim minha Lu, eu te desejo, mesmo sem ao menos sentir o gosto do seu beijo também.

Noites em claro foram atravessadas somente tentando imaginar você em meus braços e como eu me sentiria completo com você! (Desejos)

Só o seu cheiro já não saciava mais os meus desejos, eu precisava sentir teus lábios loucamente! Mas fui um covarde!Guardei cada detalhe seu, como inúmeras fotografias em meu coração.

Acho que já fui muitas vezes motivos desses sorrisos, dessa alegria que me aquecia a alma, que me contagiava que me dava vontade de lutar e viver só pra te conquistar, mas se eu ficar poderia ser também o maior motivo pra você chorar, eu não quero isso, não posso ficar, seria impossível, fingir que nada sinto não me perdoaria se um dia pudesse de alguma forma lhe causar algum mal, mas acho que com minha partida isso é um pouco tarde demais pra se dizer.

Mas você é forte. Sempre foi. Talvez até mais forte do que você mesma possa imaginar, mais forte que eu.

“Seja forte, não como uma onda que tudo destrói, mas seja forte como uma rocha, que a tudo suporta!"

Vejo a força de uma leoa em seus olhos.

Não deixe que ninguém tire isso de você. Nem mesmo eu, Lu!

Ah minha "Lu"! Por onde você andar, por onde você for, lembre-se, de que deixou marcas em mim. Ou para sua própria felicidade me esqueça!

Falar tudo isso dói, sou orgulhoso demais, mas não vejo outra forma.

No começo achava que nunca me sentiria assim por alguém, que o que sinto por você fosse apenas histórias, que o amor havia se tornado um enorme clichê.

Mas você cresceu e se tornou única, se fez especial de um jeito que só você tem, me fez de alguma forma amar você, desejar você, querer você, sempre ao meu lado. Mais que apenas uma amiga!

Tive medo de me aproximar e te ferir, tive medo de me ferir também, por você ser quase uma menina ainda! Mas queria que fosse muito a minha menina!

Sempre fui verdadeiro ao seu lado, não conseguia deixar você longe por muito tempo de meus pensamentos, sentia algo por você que pensava em me fazer necessário na sua vida e ainda sinto com todo meu coração.

Queria sempre estar por perto para ser sua proteção, seu ombro amigo, seu porto seguro, para te ajudar a levantar quando a vida te derrubar.

Irônico falar sobre isso, porque queria estar por perto para te proteger e quando as coisas ficaram estranhas e coisas ruins aconteceram, sou o primeiro a te dar as costas, eu fui o primeiro a fugir.

Mas isso é um sentimento que eu prefiro e tenho que guardar, para não nos machucarmos ainda mais.

Eu estou indo embora, isso é uma coisa que não queria, mas realmente se fez necessário.

Não consigo mais me explicar pra você, a não ser lhe falar repetidamente a necessidade de sair da sua vida, mesmo que eu não queira, mesmo te amando. Sim minha menina, Eu Te Amo!

Não se culpe por isso, é um problema todo e puramente meu!

Talvez um dia eu possa lhe explicar meus verdadeiros motivos, mas pode ter certeza de que você estará sempre comigo, guardada aqui junto com meus sentimentos.

A vida, minha Lu, não é como a gente desenha, às vezes ela já se faz pintada em uma moldura e não temos como rasurar.

Sei que a partir de agora nossa companheira constante será a saudade.

Espero que um dia possamos acordar disso tudo e vermos que não passou de um sonho ruim, mas enquanto não acordamos.

Siga em frente, não espere por mim. Você não pode esperar por mim! Viva a sua vida, sem esperar nada de ninguém! Siga em frente!

Simplesmente viva, se deixe viver!

Tente, ou melhor, seja feliz minha Luíza. Seja feliz!

Que você possa encontrar alguém que eu não pude ser pra você.

Enquanto isso eu vou sobreviver!

Sem mais nada a dizer apenas: Eu te amo de verdade, do tipo de amor que levarei para sempre e sem mais nada a pedir apenas o seu perdão!

P.S.: Sei o quanto gostamos de músicas e essa minha Lu, guardo lembrando de você e tudo que sinto, as lembranças dos nossos momentos, muitos até breves, eu sei, mas é de você que lembro quando ouço! "She's Like The Wind"

Para sempre seu!

"A. S".

— Meu Deus! Eu acabara de ler tudo isso mesmo? Ele também gosta de mim! Me deseja e também sente a mesma frustração, então não era uma paixão mal correspondida.

Não era amor platônico! Mas ainda assim, proibido! O que sentíamos um pelo outro era real, mesmo sem um único beijo se quer. “Quantas palavras e sentimentos que achava que somente eu sentia!”

Não conseguia nem respirar, não podia acreditar no que tinha acabado de ler, se ele me amava por que não me levou com ele?

Enfrentaríamos juntos! Como ele foi covarde! “Não Luíza, ele não foi e você sabe muito bem o porquê! Sim, eu sei, meu Deus, aquela megera. Como ela pode?”

Megera era o mínimo que eu conseguia me lembrar de tantos outros palavrões que poderiam ter passado pela minha cabeça. “Não! Isso não poderia acontecer!”

Eu iria e ele sabe disso agora, um sentimento ruim passou pelo coração naquele momento, sem pensar nas consequências, cega pela mágoa, pela raiva, pela dor e frustração. Achei melhor acabar com aquela dor insuportável que só aumentava com a distância, com todos os segredos revelados a mim e com aquela maldita carta, aquela letra perfeita e aquele cheiro!

Como quis rasgá-la em pedaços, queimá-la e esquecer tudo. Seria perfeito! Mas mesmo assim a dor não passaria!

"O vazio se tornou material dentro de mim e cortava como uma lâmina de aço!"

Chorando a ponto de não conter os soluços, tentei me controlar e sai às escondidas do quarto, fui até a cristaleira de bebidas, peguei uma garrafa ainda fechada, acho que uma das mais fortes que havia, se bem me lembro, era de whisky de nome engraçado "bruichladdich", não era maltado, julgando eu que estava sendo guardada para uma ocasião especial, por ainda estar fechada e ter sido presente de amigos do exterior de papai dada há algum tempo, isso naquele momento não fazia a menor diferença.

Cheguei a fazer barulhos nas gavetas procurando o abridor, mas não precisava, a garrafa era de rosca, consegui abri-la com dificuldade. Olhei em direção da cozinha e para a porta do escritório que continuava fechada, pensei que se alguém me visse naquele momento, todos os meus planos iriam fracassar, tive medo de algumas das amigas de mamãe que às vezes ficavam andando pela casa invejando algum quadro, ou móvel novo, ou alguma reforma que havia feito, me visse, mas estavam muito à vontade por lá, rindo e fofocando como sempre! “E que fiquem por lá! Que se engasguem com tantas futilidades!”

Eu não entendia qual era a graça de ficar confabulando, enquanto os maridos, pelo menos as que tinham, estavam trabalhando miseravelmente para manter as contas e mimos pagos, ou se esbaldando em puteiros pela cidade! “Bem que mereciam!”

Eu não estava em condições alguma de fazer cara de boa moça pra ninguém, ainda mais com uma garrafa de whisky na mão!

Voltei da mesma sorrateira forma para o meu quarto, comecei a beber com uma quantidade exagerada de remédios de dormir que mamãe usava de vez em quando, acho que o frasco inteiro, achando que resolveria.

Eu os havia pegado há uns dois dias no quarto deles, para tentar dormir sem pensar em nada, como ela sempre tinha vários pela casa, nem chegou a dar falta deles, pelo menos eu acho! “Tive sorte, ninguém me notou! Como sempre!”

Um sono estranho foi me invadindo e mais umas boas doses pelo gargalo, chegando a escorrer pelos cantos da boca.

Consegui com muito esforço esconder a carta e o crucifixo no meio das minhas coisas.

Eu nem tinha ideia do que iria acontecer comigo daquele momento em diante quanto mais o que fazer com aqueles objetos!

Os guardei entre roupas onde ninguém iria encontrar, e mais uma dose, o quarto estava girando, tudo estava ficando em câmera lenta, havia uma música tocando na minha cabeça, estava tudo psicodélico, parecia até a batida de: “Money do Pink Floyd”.

Minha cabeça começou a acompanhar o ritmo. Não queria que ninguém mais soubesse meus motivos, caso se eu viesse a fracassar, muito menos que isso levasse papai a suspeitar que Tony teria alguma culpa nisso, ele jamais nos perdoaria e acabaria dando fim a vida e aos laços de negócios com família dele. Papai tinha poderes de sobra para isso, também tinha a Gaby, minha amiga de infância, que sabia o quanto eu era apaixonada por Tony e nem imaginava do que eu era capaz por ele, pra falar a verdade acho que nem eu mesma sabia, mas sei que ela não me perdoaria por cometer tal ato, ela já tinha motivo suficiente pra odiar apenas a palavra suicido, nem me passou pela cabeça o que mamãe poderia falar ou sentir, éramos tão diferentes e distantes uma da outra, me sentia até um peso pra ela às vezes!

Então era melhor fazer direito, pra não ter que ver nem ouvir o descontentamento e nem sermão de ninguém!

Pensei em até pegar a navalha de Johnny esquecida no banheiro do corredor, pra garantir, mas estava ficando estranha demais, cabeça ficando pesada, talvez não teria a mesma sorte, alguém poderia me surpreender desta vez, estava tendo várias sensações, como se estivesse mergulhando, estomago embrulhando, começando a doer, cheguei a cair no chão quando me aproximava da cama, ela parecia tão longe, fui ficando ali, quieta, fui me encolhendo ali mesmo no chão do meu quarto, estava cada vez mais difícil manter os olhos abertos, estava ficando ofegante, estomago cada vez mais pesado e embrulhado, sentindo-me mole, pensei que estava acabando e que aquele era o fim de tudo e então tudo foi ficando negro e dormente, fui me transportando para a escuridão, onde o silêncio reinava e a dor não era mais sentida!

Ainda restavam alguns pensamentos rondando a cabeça, não conseguia mais organizá-los, mas me lembro de algumas frases; “Desapontamento com a vida, mesmo com o universo pela frente, o peso de erros dos outros me pesando, me tirando o ar, me tiraram um mundo que queria ter em minhas mãos!”.

Eu simplesmente queria morrer ali mesmo, sozinha, por ser uma tola e fraca, uma menina encantada com um príncipe que não poderia ser meu, que não existia na vida real, a história de um final feliz não seria a minha, vivendo o “nosso felizes para sempre”, isso não me pertencia!

Que Deus então me perdoe por tal ato, mas eu não sei mais quem sou, eu não quero mais ser ninguém. Eu não tenho mais o meu alguém!

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.