A claridade do inicio de uma nova manhã serpenteou através da cortina, mudando levemente a áurea que cobria o quarto. Apesar de discreta, a luminosidade acordou Regina, que ainda de olhos fechados permitiu o corpo despertasse tranquilamente. A morena esticou o corpo ao máximo, estalando no processo alguns ossos enquanto espreguiçava. A cama da fazenda era tão confortável e grande quanto a sua cama na casa do pai, e a percepção disso a fez sorrir. Regina era o tipo de pessoa que adorava ter uma cama grande na qual pudesse atravessar e se esticar sem medo de cair, ou acertar alguém.

Minutos depois o celular vibrou sob as cobertas, mais um dia começava e não havia mais como ela procrastinar. Abrindo os olhos a primeira coisa que ela notou quando se acostumou a claridade do ambiente, foi a nova adição em sua pulseira. As lembranças da noite passada invadiram a mente da morena e um grande sorriso se espalhou pelo rosto dela. Cuidadosamente ela tocou o pingente, num movimento silencioso para confirmar que ele era real, e ao constatar que sim, ele era real o sorriso aumento ainda mais, se é que isso era possível.

“Uau! Hoje você bateu seu recorde, foi definitivamente o dia em que você acordou mais tarde.” Jones disse assim que ela cruzou a porta da cozinha.

“Você esta me vigiando, ou algo assim?” Ela perguntou com uma risadinha enquanto enchia a xicara de café.

“Você só ganhou uma prova e já esta ai, toda cheia de si, achando que as pessoas estão te vigiando, puff.” O tom de implica era claro na voz dele e Regina não pode deixar de rir.

Como de costume após os cinco segundos de fama, Regina já não era mais o centro das atenções. Os poucos participantes restantes voltaram a conversar como estavam fazendo antes da entrada dela. Porém, Marian que estava sentada a frente de Regina parecia observava cada ação da morena, como se a estudasse como se quisesse de alguma forma descobrir algo, que ela ainda não sabia o que era.

“Que bonito.” Marian disse tocando o pingente que a morena havia ganhado na noite passada.

“Obrigada!” Regina disse em um tom comedido e lutou para que o rubor não se espalhasse pelo seu rosto.

“É novo não é?”

“Na verdade não, eu já o tenho a algum tempinho.” Regina disse optando pela mentira, afinal não sabia onde Marian queria chegar.

“Não lembro de tê-la visto usando-o antes, e você usa essa pulseira o tempo todo.”

“Eu o achei ontem à noite, estava perdido em meio as minhas coisas.”

“Um mês perdido me parece um longo tempo.”

“Você quer dizer algo Marian? Eu realmente não estou conseguindo te acompanhar.”

“Não é nada. É bonito o seu pingente, só isso.” E sem dizer mais nada Marian levantou da mesa e se retirou da cozinha. Regina acabou dispensando o resto do desjejum, uma vez que um nó havia se instalado em sua garganta. O medo de ser descoberta de repente a dominou, e ela decidiu que precisava dizer a Robin que eles precisariam ser ainda mais discretos.

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Durante a tarde alguns takes com os participantes comentando a prova da tarde anterior foram gravados. Por ter sido a vencedora daquela prova, as gravações de Regina demoraram um pouco mais do que usualmente ela estava acostumada, por isso quando a produção disse que ela estava finalmente liberada, ela não quis retornar para a casa principal.

A morena decidiu que queria aproveitar o restinho do sol que aos poucos se despedia no horizonte, mesmo que ele quase já não aquecesse mais nada, uma vez que o vento frio costumeiro da noite começava a rondar o ambiente. Caminhando distraída, pensando em como falar com Robin dos seus medos e de suas inseguranças naquela noite quando se encontrassem na cozinha, ela não se deu conta de que Paula se aproximava dela.

“Regina?” Paula tentou alertar a morena quando estava a alguns passos de distancia.

“Paula? Oi!” Regina disse se virando de frente para a confeiteira e a saudou logo em seguida com um rápido abraço. “Eu não vi você se aproximando.” Regina completou logo em seguida, como se estivesse se justificando.

“Você parecia distraída.” Paula comentou esperando que a morena lhe desse abertura para seguir a conversa.

“Apenas pensando.” Regina respondeu com um sorriso que não convencia nem mesmo a ela.

“Você está ocupada, indo a algum lugar ou algo assim?”

“Não, nós apenas acabamos de gravar, e eu resolvi dar uma volta. Espairecer um pouco.”

“Você se importa se eu caminhar com você? Eu queria conversar um pouco.”

“Não, claro que não. Como eu disse eu estou apenas caminhando atoa.”

“Ótimo! Vamos caminhar enquanto conversamos.”

“Aconteceu algo com que eu deva me preocupar?” Regina podia sentir a adrenalina começar a correr em suas veias, e o coração já batia em um ritmo errático.

“A primeira coisa que passou pela minha mente quando eu te vi a primeira vez, entrando naquele estúdio foi o quanto você era doce, você tinha um jeitinho meigo, a sua fala era suave, e você tinha algo muito seu que fazia qualquer um ficar encantado por você. Foi então que eu pensei ‘droga, ela não vai durar uma semana se ela for aprovada.’, e eu senti esse pensamento se reafirmar quando você ficou remoendo a culpa que você acreditava ter na eliminação do Jefferson.”

Regina ouvia tudo atentamente e sentia as bochechas esquentarem, sabia que estava corando envergonhada tanto pelos elogios de Paula quanto pelo fato de ser um livro aberto, e até mesmo a jurada ter percebido o quanto a eliminação de Jefferson a havia incomodado.

“Mas ai eu vi você defender Lizzie no dia da eliminação dela. E então, eu reparei no seu olhar, e eu vi garra e vi determinação em querer provar ao Robin que ele estava errado, e quando ele quis quebrar você Regina, eu vi força no seu olhar, um desejo de provar a ele que ele não conseguiria te quebrar. E ali eu soube que você tinha uma chance imensa de ganhar esse jogo, porque talento minha querida, eu não preciso dizer a você que você tem, tenho certeza que você sabe disso.”

“Eu não sei como responder a isso – a morena disse com uma risadinha- Obrigada?”

“Regina, eu não estou aqui tentando ser parcial, eu não quero que você pegue essas palavras como elogio e muito menos veja nela uma desculpa para se acomodar. O que eu quero dizer aqui é que você precisa escolher querida o que você deseja mais o premio, o reconhecimento que o programa pode lhe dar, ou a paixão.”

“Eu não estou entendendo o que você quer dizer” A morena podia jurar que o coração havia parado de bater no minuto que levou para Paula lhe responder.

“O que eu quero dizer Regina é que você e Robin não estão sendo tão cuidadosos como vocês pensam que estão. A forma como vocês gravitam ao em torno um do outro sempre que estão no mesmo ambiente, a forma como vocês se olham, a forma como vocês dizem muito sem que aja necessidade de palavras, faz com que qualquer observador mais atento saiba que algo esta acontecendo entre vocês dois.”

“Eu não... que dizer... nós...”

“Regina, eu não estou te julgando, alias, eu não estou julgando vocês dois, eu não estou dizendo que isso é certo ou errado. E muito menos quero saber o que esta realmente acontecendo. Eu só quero que você pense querida, eu gosto muito de você, mas você sabe como as coisas nesse mundo funcionam.”

Paula que segurava as mãos da morena na sua enquanto a encarava, podia sentir o sutil tremor que passava pelo corpo da morena, assim como podia ver as lagrimas que se acumulavam nos olhos dela prontas para caírem a qualquer momento. Em contra partida Regina via no olhar de Paula sinceridade e preocupação, e isso acalmou seu coração em certo ponto. A jurada realmente estava querendo o seu bem.

“Ei – Paula disse enxugando uma lagrima que escorreu pelo rosto da morena – eu vou voltar para casa e deixar você ter um momento a só, pense nisso com cuidado Regina, e quando tomar uma decisão saiba que vai encontrar em mim um abraço amigo. Eu não vou te julgar independente de qual seja sua escolha. Mas defina suas prioridades e escolha bem as lutas que você quer lutar, ok?”

“Obrigada” Regina disse com um tom rouco devido a garganta que aquela altura estava seca devido ao nervosismo.

A morena viu Paula se afastar e sumir no horizonte assim que ela entrou nas dependências da casa principal. Percebendo que estava finalmente sozinha, ela se permitiu chorar livremente. Quais lutas ela escolheria lutar dali em diante, ela não fazia a mínima ideia, e se permitindo ser humana, ela se entregou a um momento de completo desespero. O que ela sentia por Robin? Atração? Paixão? Amor? E esse sentimento valia a pena arriscar a chance de algo maravilhoso para seu futuro?

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Desde que retornara a casa Regina parecia ter se fechado em uma bolha a parte do mundo. Até mesmo Jones, ao perceber o quanto a morena estava calada optou por não implicar ou fazer brincadeirinha com elas. No entanto, Marian parecia não ter percebido o humor da morena, ou não liga para isso, uma vez que tentava a todo o momento iniciar uma conversa com ela.

“Paula! Que bom que você se juntou a nós.” Marian disse quando viu a jurada passar pela porta da cozinha.

“Uau! Que recepção calorosa.” A jurada disse num tom que deixava claro que ela havia percebido que por trás dessa recepção havia uma segunda intenção.

Paula pegou uma xicara de café, e sentou-se a mesa com os participantes, vez ou outra participando da conversa quando alguém lhe perguntava algo, ou quando ela se sentia confortável em se intrometer no assunto. O olhar vagava na direção de Regina esporadicamente, a fim de tentar perceber o que passava na mente da morena após a conversa que tiveram pela tarde.

“Eu estava pensando ...” Marian disse.

“Oh, você consegue fazer isso?” Jones disse em tom de deboche.

“Cala a boca seu babaca.” Marian disse contento o instinto de levantar o dedo politicamente incorreto para o companheiro. “Mas enfim, já que a Lilly foi a ultima eliminada, e nós agora estamos em um numero menor, não há motivos para Regina ficar na casa principal, isso deve ser meio solitário, então ela pode dividir o quarto comigo.”

“Pare de bancar a boa samaritana, não existe uma gota de preocupação em seu ser a respeito da Nina esta ou não se sentindo solitária, tudo o que você tem é inveja de ser ela a esta na casa principal e não você.” Ruby disse antes que qualquer pessoa tivesse a chance de responder.

“Ah e você não queria a oportunidade de ter acesso ao conforto da casa principal?”

“Eu não disse que não queria, mas também não fiz o papel de boa moça fingindo esta preocupada.”

“Marian esta certa, eu deveria ir para os chalés como qualquer outro participante.” Regina respondeu antes que Marian retrucasse Ruby.

“Regina...” Paula começou a dizer mais foi interrompida.

“Eu preciso comunicar a produção ou posso só mudar minhas coisas de lugar Paula?”

“Seria bom você conversar com alguém da produção antes.”

“Bom se vocês me dão licença eu vou ir procurar alguém, quanto mais rápido fizer isso melhor. Afinal daqui a pouco fica escuro e frio.” A morena disse com um sorriso que não chegava aos seus olhos.

O silencio que se instalou no ambiente assim que a morena o deixou, era extremamente desconfortável, e os outros participantes, logo deixaram o ambiente sem saber como agir.

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Em poucas horas Regina conseguiu juntar todas as suas coisas e com a ajuda de Daniel e Jones leva-las para o chalé que dividiria com Marian. Durante todo esse período, a morena apenas falou quando um dos dois colegas a questionou. Marian que estava deitada em sua cama de forma despreocupada observa atentamente os três sem ajudar em nada.

“Você tem certeza que vai ficar bem? Quero dizer ninguém vai te julgar se você quiser voltar para casa, você tem ficado lá desde o inicio.” Daniel disse quando finalmente eles haviam acabado de mover tudo.

“Eu vou julgar. Isso não é justo.” Marian disse se intrometendo na conversa.

“Cala a boca, você já fez estrago demais para um único dia.” Daniel a respondeu.

“Hey, ta tudo bem. Não é como se eu tivesse saído da competição ou algo assim, eu apenas mudei de quarto. Eu vou ficar bem.”

“Tudo bem, olha o meu chalé e o terceiro da esquerda para a direita, qualquer coisa que precisar você sabe onde me encontrar.”

“Eu sei, obrigada!” A morena disse se colocando na ponta dos pés depositando um beijo na bochecha do amigo, e logo em seguida ele foi embora.

“Bem vinda ao seu novo lar.” Marian disse com um sorriso satisfeito assim que Regina fechou a porta.

“Você não precisa fingir que gosta de mim Marian, não há mais ninguém por perto, apenas nós duas.”

“Eu não estou fingindo, eu realmente não gosto de você, apenas estava usando a boa educação que minha mãe me deu.”

“Ótimo, você não gosta de mim, eu não gosto de você, então vamos apenas respeitar um o espaço da outra e fim.”

“Ótimo.”

Após um banho quente, Regina se jogou debaixo das cobertas e logo caiu no sono. Era tarde da noite quando ela sentiu o celular vibrar em certa frequência debaixo do travesseiro. Meio atordoada ela pegou o celular com medo de checar o que era e descobrir que era algo com o seu pai. Quando ela viu o nome de Robin na tela ela sentiu uma onda de alivio correr em seu interior, só pra logo em seguida ficar tensa novamente.

“Hey babe, acabei de chegar de NY, onde você esta?” Ela leu a mensagem dele assim que destravou o celular.

“No meu quarto.” Ela respondeu simplesmente.

“Pensei que você ia me esperar na cozinha para um beijo de boa noite. Mas tudo bem, eu vou até você para pegar o que é meu. Hehehe”

“Não.”

“Regina?”

“Eu não estou no meu quarto. Eu agora estou dividindo quarto com Marian, estou em um dos chalés.”

“O que aconteceu?”

“Longa história, a gente conversa amanhã, pode ser?”

“Tudo bem. Senti sua falta.”

“Eu também.

“Boa noite babe.”

“Boa noite.”

Quando a troca de mensagem chegou ao fim, a morena não conseguiu se conter. Afundando o rosto no travesseiro ela permitiu toda a tensão acumulada durante o dia ser colocada para fora na forma de lagrimas.

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