Algumas correntes teóricas acreditam que o ser humano nasce como uma folha em branco, e que ao longo da vida as interações sociais, emocionais e outras vão acrescentando a essa página ensinamentos que ao fim da vida a preenche. Já outras correntes teóricas não acreditam que o ser humano nasça assim, sem qualquer característica própria, acreditam que temos algo dentro de nós que nos determina como ser único, e que ao longo da vida as interações sociais e emocionais vão apenas acrescentar naquilo que já somos.

O importante é que ambas correntes acreditam que existem coisas na vida que são interiorizadas no ser humano ainda na terna idade e que isso as acompanha durante toda a vida. Como por exemplo, quando você nasce no interior do país, e você aprende que precisa levantar-se cedo para alimentar os animais da fazendo onde mora.

Ela não sabia se podia se considerar uma pessoa matinal, mas era uma daquelas pessoas que não tinha problema em ficar de pé logo nos primeiros minutos do dia. Como qualquer outra pessoa, vez ou outra ela se permitia um cochilo daqueles do ‘só mais cinco minutinhos’, mas seu organismo nunca a deixava ir longe demais. Ela nunca havia perdido hora.

Por isso ao chegar à cozinha naquela manhã e encontrar todos os participantes já fazendo o desjejum, percebendo assim que era última a se juntar o grupo, ela se sentiu um pouco estranha.

“Acho que temos outra princesa no grupo, a Bela Adormecida talvez?” Jones disse assim que ela se juntou a mesa principal com um pedaço de croassant e um xicara de chá.

“Sim definitivamente duas princesas, Ariel e Bela Adormecidas.” Ruby disse entrando na brincadeira.

“Tecnicamente nós já temos uma Aurora aqui, se eu aceitar esse titulo eu vou ser tipo uma usurpadora.” Regina disse rindo. “Então vamos continuar apenas com nossa doce Ariel” ela continuo dando uma piscadinha em direção a morena que estava sentada na outra ponta da mesa.

“Bom ponto Nina. Aliás, você sabia que o irmão da Ariel se chama Tristan? ” Jones disse.

“O pai da Ariel não tem esse mesmo nome?”

“Não, o pai dela se chama Tritão, mas esse é meu ponto, os nomes são incrivelmente próximos. A mãe dela era uma total Disney Geek.” Ele disse com um sorriso no rosto.

“E parece que não só ela, afinal você demonstrou um vasto conhecimento sobre o mundo Disney também.” A morena disse gargalhando e recebeu em troca um careta de Jones.

Ainda sorrindo a morena percebeu de repente que a atenção do grupo já não estava mais nela, as pessoas voltaram a conversar entre si, ela aproveitou esse momento para comer sossegada. Minutos mais tarde as pessoas começaram a deixar a mesa, e a morena aproveitou a oportunidade para fazer um passeio matinal.

Com um xicara de café forte a morena saiu pela porta lateral da cozinha e caminhou ao redor da casa rumo aos fundos onde ficava o aras e o local onde Aurora treinava, desatenta ao mundo a sua volta ela só se deu conta de que não estava sozinha quando ouviu o ‘olá’ de Daniel.

“Olá” Ela respondeu com um sorriso comedido.

“Você esta indo ver Twilight?”

“Talvez? Eu não sei, eu só sai mesmo para um caminhada para poder espairecer.”

“Você quer ficar sozinha?”

“Não, eu gosto da sua companhia.” E como se ela quisesse confirmar tal afirmação ela deu a ele um sorriso super sincero.

“Você quer conversar sobre alguma coisa?”

O silencio que se fez presente entre eles fez com que Daniel acreditasse que ela não queria conversar, e ele estava pronto para acompanha-la em uma caminhada silenciosa quando de repente ela externou os pensamentos que a perturbava.

“Você acha que eu fui cruel ao indicar Jeff como líder do outro grupo? Que dizer eu totalmente sabia que ele tinha problemas com liderança, e eu simplesmente o joguei na fogueira.”

“Regina, pare e me ouça!” Dizendo isso o moreno parou na frente fazendo assim com que ela tivesse que se concentrar totalmente nele. “Quer você queira ou não nós estamos em um jogo, todos que estão aqui tem talento, sabem cozinhar, por isso vai chega um momento que mesmo você sendo incrível se você não começar a jogar você não vai durar aqui dentro. Você não pode deixar seu coração te guiar Nina, a não ser quando você estiver cozinhando, por que só nesse momento você deve deixar o coração dominar suas emoções.”

As palavras de Daniel eram duras, e talvez dependendo do ponto de vista pudessem até mesmo soar frias, mas pelo pouco que Regina o conhecia sabia que aquela era apenas uma forma estranha na qual ele tentava protege-la.

“Eu sei. Obrigada!” Ela disse abraçando-o e depois os dois voltaram a caminhar em silencio.

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O horário do almoço se aproximava lentamente enquanto Regina e Daniel passeavam pelo pasto. Aurora ainda não havia aparecido, mas a morena aguardava com certa ansiedade por esse momento, mesmo com pouco tempo na casa ela já havia se afeiçoado a Twilight e gostava de vê-lo sempre que possível. Para Regina era fácil se conectar aos animais, ainda mais naquele contexto de fazendo, de certa forma era como voltar às raízes.

“São quase meio-dia!” Daniel disse fitando o relógio no pulso.

“O tempo passou bem depressa, o pessoal da produção não deveria ter nos chamado para gravar? Quero dizer, o programa não deve ser gravado só durante o dia, tipo um padrão ou algo assim?”

“Sim, eles já deviam ter nos chamado e isso é bem estranho. Será que eles resolveram nos deixar de fora dessa rodada?” O loiro perguntou com um sorriso no rosto, que deixava claro o tom de brincadeira de sua pergunta.

“Ok, não vamos bancar o Kevin McCallister¹, não é como se a produção pudesse simplesmente esquecer dois participantes.” A morena disse rindo também.

“Tudo bem espertinha, nada de Twilight para você hoje, vem! Vamos voltar para descobrir o que aconteceu.”

Na casa principal havia duas pessoas da produção e um participante do programa, todas as outras pessoas haviam se dispersado quando descobriram que naquela tarde não haveria gravação. Giuseppe havia tido uma emergência familiar, e portanto, precisou voltar as pressas para cidade.

“Hoje não haverá nenhuma prova, mas podem ocorrer gravações, o pessoal da edição quer alguns takes seus comentando como vocês se sentiram durante a prova. Então fiquem por aqui.” Mel uma baixinha e encantadora garota da produção colocou Regina e Daniel a par do que estava acontecendo.

“Então querida Regina, como você sentiu ao preparar aqueles incríveis coockies de limão que foram capazes de amolecer até mesmo o coração do taciturno Robin Locksley?” Daniel se quer esperou Mel se afastar para em uma voz engraça e destoante da sua fazer a pergunta em tom jocoso.

“Você é ridículo sabia – a morena disse gargalhando- e a ultima coisa desse mundo que eu consegui fazer foi amolecer Robin, ele praticamente me culpou pelos fracassos que tivemos na prova em grupo.” Era perceptível nas feições de Regina o quanto esse julgamento do loiro havia a incomodado.

“Ele é um babaca, você foi incrível na primeira prova e não errou sozinha na segunda, problema é dele se ele não consegue enxergar um palmo se quer além da arrogância que ele tem.”

“Ele não é arrogante, ele é só ... ele?” A morena sentiu repentinamente um impulso estranho em defendê-lo.

“Se isso te ajuda a dormir a noite, continue mentindo para si mesma.”

“Daniel...” Regina de repente começou a se sentir desconfortável.

“Tudo bem, tudo bem! Não vou falar mais sobre o seu amor platônico culinário.” O loiro disse rindo, e Regina orou para que ele não percebesse o quanto aquela sentença havia mexido com ela, pois mesmo sem poder se ver, ela sentiu as bochechas esquentarem e sabia naquela altura que elas provavelmente estavam tingidas de carmim.

Como dito anteriormente por Mel, durante a tarde um assistente de produção veio ao encontro de Regina para leva-la ao estúdio improvisado onde os takes seriam gravados. As primeiras tomadas foram no mínimo estranhas, saber que havia uma câmera filmando única e exclusivamente a ela fazia as palmas da mão dela suarem, e ela simplesmente não conseguia parar de movimentar os braços e as mãos, era como se quisesse que as palavras que lhe faltavam fossem expressas através dos gestos.

Se isso ainda não fossem o bastante a morena ainda tinha dificuldades em assimilar muito bem a ideia de ‘falar sozinha’ para câmera sem achar isso bizarro ou engraçado. No entanto, Regina era perfeccionista, por isso logo após as primeiras tomadas terem sido consideradas infrutíferas ela se esforçou ao máximo para se concentrar e finalmente conseguiu responder as três perguntas que foram feitas a ela.

A primeira pergunta feita a ela foi como ela se sentiu ao ousar na receita do coockie, a segunda foi como ela havia se sentindo ao saber que Jeff havia disso eliminado, visto que ela o havia indicado como líder da outra equipe. A ultima pergunta era a respeito de quais candidatos ela achava forte, e quais ela achava que tinham grande chance de chegar a final, e ela não precisou pensar duas vezes para listar os nomes em que ela acreditava, e o dela não encabeçava essa lista.

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Já passava das dez e meia da noite quando Regina finalmente desligou o telefone, pelo fato das gravações ainda estarem no inicio e, portanto não terem ido a publico ainda, os telefonemas paras os familiares era liberado pela produção. Uma vez que o programa começasse a ser televisionado, as ligações continuariam podendo ser feitas, no entanto, haveria certo monitoramento por parte dos produtores.

A morena aproveitava enquanto tinha o livro acesso para falar com as pessoas que amava e que faziam falta em cada segundo do seu dia. Sua primeira ligação foi para o pai, afim de saber como andavam as coisas e como ele estava, logo em seguida ela ligou para Rebecca rapidamente e terminou com Mary numa conversa longa e extremamente confortável, era incrível como a amiga sempre a fazia se sentir ‘em casa’.

O silencio já havia recaído sobre o ambiente, e ela deliberou que as pessoas da casa principal provavelmente estavam dormindo, e então ela se questionou se os outros participantes, que ficavam no chalé ainda estavam acordados, e de repente ela sentiu vontade de estar lá. No fim das contas era meio solitário ser a única ali naquela casa enorme.

Sentindo-se incomodada, a morena resolveu ir até a cozinha preparar um copo de leite com mel, assim distrairia a mente de tais pensamentos e também se sentiria mais próxima de casa. Enquanto caminhava em direção a cozinha ela foi inundada pelas memorias da noite anterior, mas logo balançou a cabeça mandando para longe esses pensamentos, afinal não o havia visto durante todo dia, e ele provavelmente deveria ter voltado para cidade junto com Giuseppe.

Por mais que lutasse contra, sua mente traiçoeira construiu a expectativa de ao entrar na cozinha se deparar com ele, por isso quando se percebeu sozinha naquele ambiente ela sentiu a frustração a dominar.

Regina preparou o copo de leite, e se sentou no mesmo lugar da noite anterior, enquanto bebericava o liquido morno, ela permitiu a mente viajar em diferentes direções. E foi assim, distraída que Robin a viu quando entrou na cozinha.

“Olá” Ele disse em um tom calmo na intenção de não assustá-la.

“Robin!” A surpresa era palpável na voz da morena.

“ Outro copo com leite e mel, outro encontro tarde da noite. Nós estamos quase fazendo disso uma rotina. Insônia outra vez?”

“Saudade de casa.” Ela não precisou elaborar muito mais para que ele intendesse.

Em silencio, ele caminhou até a geladeira e buscou algo para comer.

“Você é muito ligada ao seu pai?” Ele perguntou enquanto preparava um sanduiche com os ingredientes que havia encontrado na geladeira.

“Ele é a única família que eu tenho, ele é como meu melhor amigo.” Ela disse encolhendo os ombros.

“Eu te entendo, talvez o que eu vá dizer agora possa soar estranho, mas eu me sinto da mesma forma em relação as minhas irmãs e minha mãe.”

“Como foi, crescer rodeado de mulheres?” Regina perguntou e sua voz de repente parecia tingida de curiosidade.

“Provavelmente uma das melhores coisas que me aconteceram. Elas me ensinaram tanto, a ser não só um bom cozinheiro, mas principalmente a ser uma boa pessoa e um homem que todos os homens deveriam ser, um homem que respeita a mulher como um ser igual.”

“Uau! Para onde eu posso mandar uma carta de agradecimento?” Regina tentou fazer piada para aliviar o clima, pois ela havia percebido as entrelinhas do que ele havia dito.

“Bom, você vai precisar de pelo menos três cartas, pois elas moram espalhadas pelo mundo.” Ele disse com um sorriso.

“Como são suas irmãs?”

“Morgana é a minha irmã mais velha, ela se casou com namorado do colégio, e eles tem duas lindas garotinhas, sua carta para ela precisa ser endereçada a Inglaterra, o marido dela é um critico literário em Oxford. A carta para Maitê minha irmã do meio precisa ser enviada França, apesar de que pode demorar um pouco para ela ter acesso a essa carta visto que ela é um espirito livre que vive viajando pelo mundo.”

“Sua mãe tinha um lance com a letra M e você foi excluído, ou algo assim?”

A gargalhada de Robin dominou o ambiente e isso fez com que Regina risse também, e de repente ela sentiu algo em seu interior aquecer. Era bom esta ali conversando com ele tão casualmente, parecia a um só tempo estranho, mas totalmente certo esta ali com ele.

“Sim, minha mãe queria que eu fosse o terceiro M da família, mas aparentemente ela não conseguiu encontrar nenhum nome masculino que começasse com essa consoante que a agradece suficiente.”

“Eu gosto de Robin, combina com você!” A morena disse num impulso e quando percebeu o que tinha dito sentiu-se corar.

“Regina também combina com você, é forte e marcante não permitindo assim ser esquecido, mas tem uma doçura capar de colocar qualquer um de joelhos.”

Ao dizer isso Robin percebeu que não só as bochechas de Regina ficaram vermelhas, mas também seu colo e seu pescoço. Numa tentativa de mascarar o constrangimento, ela abaixou a cabeça e alguns fios de cabelo caíram sobre sua face, sem conseguir se controlar, ele deixou as mãos caminharem até os fios de cabelo, os levando para trás da orelha. Antes de recolher a mão ele acariciou o rosto dela com os dedos, num gesto completamente doce e singelo.

Os olhares de ambos se encontraram e se prenderam. Não podiam determinar quanto tempo ficaram nesse estado de suspenção, apenas sabiam que haviam dito muito mais com aquele silencio do que haviam dito com palavras desde o momento em que foram apresentados.

Num átimo Robin se colocou de pé, e caminhou até a pia deixando o prato que havia utilizado sobre ela. Sem fita-la, ele se despediu e caminhou apressadamente para seu quarto, deixando para trás uma atordoada Regina que não havia dado conta de processar os últimos acontecimentos. Em um minuto estavam e no minuto seguinte tudo havia ido pelos ares.

O que ela não percebeu foi que atitude de Robin era na verdade uma tentativa desesperada de não fazer algo que poderia prejudicar a ambos. A atitude de Robin era uma tentativa desesperada de não beija-la loucamente como ele queria naquele momento.

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