Usualmente a fazenda funcionava como um reloginho. Desde o momento em que o sol surgia no horizonte até pouco depois dele sumir, uma lista de atividades era cumprida a risca por todos, de funcionários da fazenda aos participantes da competição. No entanto, há mais ou menos dois dias a rotina que a morena conhecia ha quase dois meses havia sumido. As gravações haviam sido suspensas e as provas interrompidas.

Por isso que após tomar o seu desjejum Regina e Ruby caminharam em direção ao estabulo para poderem pegar cavalos emprestados para passearem pela propriedade. Acontece que a estreia nacional do programa seria naquela noite, e todos os esforços e concentração da produção estavam voltadas para esse evento.

Como forma de comemorar, a produção havia aviso que uma van os buscaria a noite para leva-los a um barzinho que tinha em um vilarejo que fica alguns quilômetros de distancia da fazenda. Lá eles se encontrariam com os jurados e o resto da produção para assistir ao vivo a estreia. A perspectiva de encontrar com Robin fora do ambiente da fazenda, era algo que estava fazendo as famosas borboletas baterem asas no estomago da morena, ela estava ansiosa e aparentemente não conseguia disfarçar muito bem esse sentimento, uma vez que Ruby facilmente notou.

“Você esta mais ansiosa do que em dia de prova.” Ruby comentou.

“Não estou não, é impressão sua.” A morena disse tentando disfarçar.

“Regina, você é um livro aberto em relação suas emoções, basta um observador atento se concentrar nesse lindo rosto e ele será capaz de dizer o que você esta sentindo.”

“Eu não sou tão fácil de ler assim.” A morena disse com a cara emburrada igual a uma criança que havia sido contrariada por um dos pais.

“É sim! Você morde os lábios quando quer sorrir, mas não pode, quando não gosta de algo sua sobrancelha esquerda se ergue levemente e quando você esta nervosa ou ansiosa você não para de mexer nos pingentes da sua pulseira.”

Notando que naquele momento o pingente de cupcake estava entre os dedos a morena soltou um suspiro que deixava claro que Ruby estava certa sobre ela. Ruby soltou uma risada e Regina mostrou a língua numa atitude que logo em seguida ela avaliou como infantil e se arrependeu.

“Você não esta nervosa? Nem um pouco?”

“Por que ficaria?”

“Sei lá, porque hoje é a estreia nacional do programa, e porque vai ter um monte de gente vendo a gente. E por que vão ter aqueles que vão ser amados e vão ter aqueles que vão ser odiados pelo publico. Você já imaginou e se eu ou você formos as pessoas odiadas, aquelas que o publico taxa como ‘vilão’ do programa e tudo mais?”

“Hey, respira fundo garota. Isso é só um jogo Nina, se as pessoas te taxarem como a vilã, beleza, segue em frente. Um dia isso vai chegar ao fim, e nós vamos ser muito provavelmente esquecidas pelo publico e outras pessoas vão surgir para se tornarem as vilãs.”

“Você parece a Mary falando. É como se nada pudesse abalar a confiança de vocês.”

“Eu não sei que é Mary, mas acredite as coisas abalam sim minha confiança. Porém algumas coisas fogem ao nosso controle e a melhor maneira de lidar com elas então é encarando-as positivamente.”

“Mary é minha melhor amiga – a morena disse rindo – e isso que você acabou de dizer é algo que poderia totalmente ter saído da boca dela.”

“Bom ela me parece uma pessoa inteligente.” Ruby disse rindo.

As duas cavalgaram por boa parte da manha, aproveitando que o sol apenas estava quente o suficiente para trazer uma sensação agradável em contraposição ao vento frio daquele inicio de dia. Quando voltaram para os estábulos um pouco depois do meio dia, Daniel esperava as duas segurando uma flor para da uma, ele havia colhido no caminho até o encontro delas, após abraçarem e agradecerem ao amigo, as duas se juntaram a ele para poderem ir almoçar.

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O horizonte estava tingido por cores que brincavam entre o alaranjado e o rosa, o dia começava a chegar ao fim, e a morena agradeceu que o clima não havia esfriado, assim poderia usar a roupa que havia escolhido mais cedo. Caminhando com o braço abarrotado de coisas que ela acreditou serem necessárias para se arrumar, ela foi para o quarto de Ruby, não queria se arrumar na companhia de Marian, e como Ruby estava sozinha, elas havia decidido que seriam melhor se arrumarem lá.

“Uau! Daniel vai ter um tempo duro hoje.” Ruby disse quando Regina saiu do banheiro já vestida e a morena mostrou o dedo politicamente incorreto para a colega, ela havia muito bem percebido a dupla intenção na palavra duro.

“Cala a boca” A morena disse rindo.

Regina havia escolhido um dos seus shorts favoritos para vestir naquela noite, ele era marrom e tinha franjas na barra que diminuíam proporcionalmente de tamanho dando um efeito que lembrava quase uma saia, blusa era cinza com uma estampa não muito grande na frente, nos pés a morena colocou sua botina marrom favorita, que não por um acaso era a mesma que ela havia usado no dia da audição para o programa.

“Tudo bem, linda sente aqui e me deixe trabalhar minha magica.” Ruby disse apontando para a uma das camas de solteiro e revirando os olhos a morena seguiu até o lugar indicado.

Ruby trabalhou em Regina por mais ou menos uns quarenta minutos, quando se deu por satisfeita ela liberou a amiga e caminhou até o banheiro para terminar de se arrumar. Regina caminhou até o espelho que tinha na porta do guarda roupa e soltou uma exclamação de surpresa. Os longos cabelos desciam em ondas suaves por suas costas e ombros, no rosto Ruby havia investido em uma maquiagem mais carregada nos olhos, com um preto esfumaçado que dava destaque total as orbes marrons da morena. Regina duvidou que em qualquer outro momento de sua vida, os seus olhos castanhos que muitas vezes ela havia considerado comuns demais pudessem ter sido considerados tão fortes e bonitos para ela como naquela noite.

Para em frente ao espelho por pelo menos cinco minutos Regina ainda encarava o reflexo tentando se achar na imagem daquela mulher extremamente linda e confiante. Regina não tinha problema de autoestima e nem nada parecido, mas a mulher que a fitava de volta naquele espelho tinha um algo a mais que a morena desejou ter no dia a dia.

“Pronta?” Ruby perguntou parada na porta do espelho vestindo um vestido de um vermelho escuro, quase um bordo, que grudava e ressaltava todos os lugares certos. E ali Regina soube que todos os homens naquela noite teriam um tempo duro por causa da amiga.

“Prontissíma.”

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A primeira vista o local onde a confraternização aconteceria poderia ser confundido com um pub vintage. As paredes eram de tijolinhos alaranjados e era possível ver o cimento seco entre eles, em alguns lugares mais finos e em outros mais grossos num sinal de descuidado quase que proposital, o chão era de cimento queimado, e todos o restante do ambiente era composto por moveis que variavam entre a madeira escura e o mdf preto. As luzes em alguns pontos eram claras e em outros puxavam mais para o tom amarelado para da uma áurea diferente para o ambiente. Pouco tempo depois, no entanto, a morena descobriu que o estabelecimento era na verdade velho, estava ali desde a fundação do vilarejo, por isso não tinha nada de vintage.

Por ser pequeno o ambiente quando todos chegaram a morena teve a sensação dele esta lotado. As mesinhas que eram em sua maioria pequenas, foram juntas de forma que todos pudessem sentar juntos para assistir a transmissão do programa. Foi só quando todos se sentaram que Regina percebeu que Robin não estava lá.

“Aconteceu algo com o Robin?” Regina perguntou em um tom baixo a Paula que estava ao seu lado.

“Não que eu saiba, ele deve só esta atrasado.” Paula disse sorrindo. “Como você esta?”

“Bem, eu acho.” A morena respondeu com um meio sorriso.

“Você acha?” Paula perguntou rindo.

“É, eu não sei, é estranho falar que eu estou bem, estando do jeito que estou, mas também não posso falar que estou mal porque isso seria mentira, então...”

Antes que pudesse responder Paula ouviu seu nome ser chamado a mesa, e portanto, precisou destinar sua atenção a outras pessoas, no entanto, antes de atender o chamado ela deu um aceno de cabeça dizendo silenciosamente que entendia Regina e que estava tudo bem ela se sentir daquela forma.

Faltava menos que cinco minutos para estreia do programa e Regina ainda não havia visto Robin chegar e isso estava começando deixa-la ainda mais ansiosa. Varias foram as vezes que ela teve que deter a si mesma de pegar o celular e mandar uma mensagem para ele perguntando o que havia acontecido. Afinal ele estava em Nova York a dois dias, e a ultima vez que se falaram por mensagem ele havia se despedido anunciando que pegaria a estrada para chegar a tempo a confraternização.

As luzes foram apagadas de repente, e o volume da televisão aumentou consideravelmente. Era isso! O programa estava oficialmente no ar. Perdida em pensamentos a morena só percebeu que Robin havia chegado quando Paula se colocou de pé para cumprimenta-lo. Quando ele se virou na direção dela, ela podia jurar que o coração havia falhado algumas batidas.

“Você esta linda” Ele sussurrou no ouvido dela de forma rápida e seguiu em frente cumprimentando os demais participantes e o pessoal da produção que estava na mesa.

Como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros, a morena relaxou ao perceber que estava tudo bem com Robin. Logo ela voltou a atenção para o programa que passava na televisão e se misturou em meio as conversas que rodavam na mesa.

Após cumprimentar a todos Robin segurando uma garrafa de cerveja caminhou na direção de Regina, e ficou em pé entre ela e Paula, encostado na parede ao fundo. Vez ou outra durante o episodio ele se inclinava sob a mesa para fazer algum comentário com Paula, a um observador comum isso passaria como algo normal, mas toda vez que se inclinava, as mãos de Robin davam um jeito de encostar na morena, hora acariciando as mãos dela, hora passeando pelas costas dela. Cada vez que Robin tocava seu corpo, Regina sentia algo como uma corrente elétrica percorrer lhe o corpo, os cabelinhos do braço se arrepiavam, e ela precisava conter um suspiro. A situação em que se encontravam era tão delicada e perigosa, que acrescentavam uma camada a mais de excitação e desejo aos toques.

A noite correu tranquilamente, após o encerramento do programa as pessoas se dispersaram pelo ambiente, pequenos grupinhos de afinidade começaram a se formar e as pessoas conversavam, bebiam e comemoravam. As horas avançavam displicentemente, mas ninguém parecia se preocupar com isso.

“Banheiro feminino, 5 min.” A frase brilhou na tela do celular de Regina assustando-a.

Talvez afetada pelo álcool que havia ingerido naquela noite – mesmo o teor alcoólico das bebidas que havia pedido tendo sido baixo – a morena não pensou muito nas consequências que aquele encontro marcado na surdina poderia ter. Após uma rápida inspeção no ambiente a sua volta, e a percepção de que ninguém sentiria a falta dela, ela caminhou em direção ao banheiro feminino.

Quando passou pela porta do banheiro, ela sentiu fortes e conhecidas mãos lhe segurarem pela cintura e a empurrarem em direção à parede. Os lábios de Robin logo tomaram o seu, num desejo tão avassalador que era como se dali saísse o que ele precisava para continuar respirando, par continuar vivendo. Regina rodeou os braços ao redor dos ombros dele, puxando-o mais para ela em um gesto quase desesperado. Vez ou outra ela deixava as mãos passearem pelos cabelos dele, dando leves puxadinhas, e recebia como recompensa gemidos de satisfação da parte dele. As mãos de Robin desceram lentamente da cintura da morena em direção ao bunda dela, e chegando lá ele impulsionou o corpo dela para cima, entendendo o recado, ela cruzou as pernas na cintura dele, e ele caminhou com ela em direção a pia do banheiro.

Com os corpos grudados, beijos e caricias sendo trocados pelos dois sem qualquer pudor, não demorou muito para que eles estivessem entregues a um nível de excitação altíssimo. Toda a tensão das promessas feitas silenciosamente ao longo da noite haviam finalmente transbordado. Inconscientemente ele começaram a esfregassem um no outro, buscando atrito e alivio para o desejo que só cresci.

“Não!” Robin disse abruptamente, se afastando de Regina. O peito subia e descia descontroladamente, enquanto os pulmões buscavam por ar e a respiração tentava voltar ao ritmo normal.

“O que...?” Regina perguntou e percebeu que estava no mesmo descontrole que o loiro.

“Nós temos que parar.”

“Mas eu quero você.”

“Eu também Nina, Deus sabe o quanto eu te quero e o quanto esta sendo duro dizer não agora. Mas nós não podemos fazer isso assim e não aqui, correndo o risco de qualquer um entrar e nos pegar. Eu quero que seja um momento intimo, e calmo, em que eu possa venerar cada pedacinho do seu corpo.”

“Eu odeio você.” Ela disse com um sorriso no rosto, e o desejo ardia em seu olhar e ele riu entendendo as entrelinhas da frase dela.

“Eu sei -ele disse rindo- eu vou sair na sua frente para ninguém suspeitar, afinal eu fui o primeiro a sumir, depois você vem. Ah! O seu cabelo, ele ta meio bagunçado, parece que você foi beijada sem sentindo por um cara sabe fazer isso muito bem.” Ele disse fazendo piada enquanto passava pela porta do banheiro.

Revirando os olhos a morena riu, ela caminhou até o espelho para conferir o cabelo e os ajeitou da melhor forma que pode. Ela notou que as bochechas estavam coradas, então abriu a torneira e molhando as mãos com a água gelada passou-as pelo rosto numa tentativa de acalmar o corpo. Quando sentiu que estava pronta ela caminhou de volta para o bar, tentando fortemente esconder o sorriso apaixonado.

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Já passavam de três da manhã quando os participantes e parte da produção retornou a fazenda. Na caminhada da casa principal até o chalé a morena sentiu um calafrio perore-lhe o corpo, afinal a temperatura havia caído alguns graus, e ela fechou os olhos por alguns segundos desejando sua cama e sua coberta.

Ao chegar ao quarto que dividia com Marian, seguida pela mesma, a morena caminhou até o banheiro para tirar a maquiagem, de jeito nenhum ela tomaria banho naquele frio, preferia acordar cedo nas primeiras horas da manhã e tomar um relaxante banho do que encarar esse destino cruel naquela hora da madrugada

Marian caminhou até o banheiro atrás de Regina e parou no batente da porta, fitando a morena através do reflexo do espelho. Algo no olhar de Marian fez Regina temer o que viria a seguir.

“Vocês disfarçam bem.” Marian disse rompendo o silencio.

“Oi?” Regina disse fitando-a ainda pelo espelho.

“Eu sempre soube que havia alguma coisa estranha com você. Então eu te observei de perto desde o inicio, a principio eu pensei que pudesse ser apenas implicância da minha parte, mas então a casa começou a ficar vazia e eu pude te observar com mais atenção ainda. Então eu soube que não era só implicância minha. Você e Robin, foram bem discretos no inicio, foi difícil perceber que era ele, eu pensei que fosse Daniel para falar a verdade. No entanto, vocês se tornaram descuidados, e depois que você apareceu com isso – Marian disse se aproximando e segurando o pingente da xicara da pulseira de Regina- bom, ai eu tive certeza. Hoje a noite, no banheiro feminino foi só a cereja do bolo.”

“Marian, nós não ... quer dizer, o que?.. Robin e eu não.” A morena disse tropeçando nas palavras, o coração batia furiosamente em seu peito e visão começava a se tornar turva.

“Ah qual é Regina, eu vi vocês dois, chega de teatro.”

O silencio preencheu o ambiente, a mente de Regina trabalhava a todo vapor na tentativa de encontrar uma saída. De repente era como se todo o álcool que ela havia ingerido durante a noite tivesse se esvaído do corpo dela, ela estava completamente alerta.

“Você não tem nenhuma prova.” Regina disse e se arrependeu logo em seguida, afinal aquilo havia sido uma declaração escancara de que Marian estava certa, e ela sabia que isso só iria impulsionar Marian ainda mais a continuar.

“Eu não preciso de prova. Eu não vou fazer nada.” Ela disse com um sorriso que fez o corpo de Regina tremer.

“O que você quer Marian?”

“Você sabe o que você precisa fazer Regina.”

Dizendo isso Marian se afastou, voltando para o quarto como se nada tivesse acontecido. Em uma atitude impulsiva Regina bateu a porta do banheiro ao fecha-la e silenciosamente deixou que as lagrimas acumuladas nos olhos rolassem livremente pelo seu rosto.

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