Billie Joe's POV



– Mike. Mike. Mike. - eu disse estalando meus dedos na frente de seus olhos. - Mike, você tá legal?!

– Ela… ela… - ele balbuciou com um olhar vazio.

– Ela o que, criatura? Fala logo!

– Ela aceitou Billie. ELA ACEITOU! - e com isso ele me abraçou e saiu saltitando por ai. Acho que o Mike deve ter algum probleminha.

– Parece que o Mike vai ter um encontro. - disse Jimmy entrando no quarto, quase sendo atropelado por um ser humano saltitante.

– ELA ACEITOU, ELA ACEITOU, ELA ACEITOU… - ainda podia-se ouvir Mike gritando pela casa.

TUM.

– O que foi isso? - meu irmão perguntou.

– Ah, não esquenta não. Ele deve ter batido a cabeça na parede.

– Será que ele está bem? - meu irmão perguntou, preocupado

– ELA ACEITOU, ELA ACEITOU…

– Isso responde a sua pergunta?

Jimmy sorriu e se sentou na cama, ao meu lado.

–E então… você está se sentindo legal? - ele perguntou.

– Estou… por que a pergunta?

– Não está, aborrecido, nada?

– Não… por que estaria?

– Nada. Só curiosidade. - Jimmy concluiu, balançando a cabeça de leve e abrindo um sorriso. - Hey, o que você acha de sairmos hoje? Como nos velhos tempos?

– Está bem. Para onde você quer ir?

– Eu passei por um bar hoje de manhã que nunca tinha ido antes. O que acha?

– Jimmy, eu sou menor de idade. Não posso beber, você sabe disso.

– Como se você fosse uma pessoa responsável e nunca tivesse bebido. - ele disse, rindo. - Eu te conheço, Billie. Vamos, faltam menos de 4 meses para você fazer 21. - eu já disse o quanto amo meu irmão?

– Ok, então. Já que você insiste. - disse, fingindo um falso esforço da minha parte.

– Então está combinado. Hoje a noite nós vamos.

– Certo.

Jimmy saiu do quarto, Mike entrando logo em seguida, com um galo de todo tamanho na testa.

– Ela… aceitou… - ele disse, arfando.

– Certo, a gente já entendeu, Mike.

Ele se jogou na cama.

Meu estômago começou a embrulhar. Uma ânsia de vômito surgiu pela minha garganta.

– Cara… eu não to me sentindo muito legal… - falei para Mike, minha boca começando a salivar.

– Billie… você está ficando verde… - ele disse, com um olhar interrogativo.

Mike olhou para a tigela de cereal e depois para mim, começando a rir logo em seguida.

– O que tem de tão engraçado? - perguntei, tentando segurar o enjôo ao máximo.

– Não acredito! Você comeu tudo! - ele disse a ponto de começar a rolar no chão.

– Mike, o que tem de tão engraçado?! - perguntei novamente.

– Você.., o cereal... - ele não conseguia nem completar uma frase direito, de tanto rir.

– MICHAEL RYAN PRITCHARD, ME DIGA O QUE TEM DE TÃO ENGRAÇADO!

– Essa tigela… ela está aí a semanas! Você provavelmente comeu cereal com fungos ou alguma coisa pior! - o panaca disse, rindo. - Isso é bom pra você aprender a parar de ser esganado! - parece que o Mike vai ganhar muito dinheiro da Fada do Dente essa noite, porque vai acabar sem nenhum dente.

– É MELHOR VOCÊ CORRER O MAIS RÁPIDO QUE PUDER, PORQUE EU VOU ARRANCAR SUA CABE… - não houve tempo de terminar a minha ameaça. Peguei o primeiro recipiente que encontrei e vomitei nele.

– Ei! Na minha mochila não! - ele reclamou.

– Não é mais tão engraçado agora, não? - e dei um sorriso vitorioso. Quero dizer, o mais vitorioso que consegui, o que não deve ter dado muito certo com minha boca suja de vômito.

Mike fez uma cara de incrédulo e foi correndo tentar salvar sua mochila.


*


– Billie! Você já está pronto? - Jimmy gritou do andar de baixo.

– Quase lá! - gritei em resposta. - Mike, tem certeza que não vai querer ir?

– Tenho. Era minha mochila preferida, cara! - disse ele fazendo uma careta e continuando a lavar a mochila vomitada no banheiro. - Se é assim que você reage a cereal e leite estragados, nem quero saber como é depois de beber.

– Há-há, engraçadinho. - retruquei e desci as escadas. Jimmy já tinha ligado o motor, então tive que correr para ele não perder a paciência e ir embora sem mim.

– Então, onde é que fica esse bar? - perguntei para Jimmy depois de já estarmos a uns 10 minutos no carro.

– É aquele ali - Jimmy apontou para um pequeno bar que eu conhecia muito bem.

– Ah não. - gemi.

– "Ah não" o que? - meu irmão perguntou.

– Esse bar… ele é… - balbuciei. - ah, quer saber? Foda-se.

Entramos no bar normalmente. A placa "aberto" estava novamente virada para frente.

– Já vai pedindo umas cervejas que eu vou no banheiro. - Jimmy disse a mim.

Ah, que beleza. Vou ter que ir pedir as cervejas. Vou ter que ir falar com a garçonete.

– Duas cervejas, por favor. - tentei desviar meu olhar daquele cabelo que parecia estar constantemente em chamas.

– Ok, duas cervejas para… - ela levantou seus olhos verdes para mim e abriu um sorriso irônico. - Ora, ora, ora. Veja só quem voltou.

– Então pelo visto você não conseguiu me esquecer.

– É meio difícil você passar despercebido com esse seu cabelo, queridinho.

– Por que você sabe né, cabelo vermelho também é super discreto. - retruquei.

– Touché.

– Enfim, como vai, Becky?

A garota me deu um sorriso frio, do tipo "vou te matar enquanto você dorme".

– Nunca. Me chame. De Becky. Entendeu?

– Ah, me perdoe. Becky. - a provoquei.

A garota bufou.

– O que é que você quer?

– Como eu disse mais cedo, duas cervejas.

– Identidade. - ela disse, seca.

Ok, por isso eu não esperava. O que ia fazer? Mostrar minha identidade e ser expulso do bar?

– Isso é mesmo necessário?

– São as normas do bar, Sr. Smurf.

– Acontece que eu não estou com a minha identidade no momento, Becky.

– Sem documento, sem álcool. São as normas.

– Ah, qual é!

– Você pode pedir um toddynho se quiser. - ela caçoou.

– Me vê uma Coca Zero. - revirei os olhos.

– Você é quem manda. Sr. Smurf.

- Por que "smurf"?

- Porque você é baixinho.

- Hey, eu não sou não!

- Claro, e eu sou a Fada do Dente. Sr. Smurf.

– Pare de me chamar de Sr. Smurf.

– Pare de me chamar de Becky.

Eu a analisei por alguns segundos.

– Trégua?

– Trégua. - ela concordou. - E como devo te chamar, então?

– Billie Joe. - respondi. - E seu nome é Rebecca, certo? - Ela concordou com a cabeça.

Fiquei um tempo bebericando a minha Coca Zero, enquanto ela me olhava com intensidade.

– Será que dá pra parar de me encarar?

– Me desculpe. - disse, corando violentamente. Ela parecia realmente constrangida. Isso de alguma forma fez eu me sentir mal.

– Não. Eu que peço desculpas. Tenho estado um tanto rabugento esses dias, e tenho descontado tudo nas pessoas a minha volta.

Ela me olhou com interesse. Isso era bem estranho. Garotas normais não estão interessadas na vida dos outras. Elas só estão interessadas em falar em si mesmas. E sapatos. Parece que Becky não era uma garota comum.

– Bem, minha vida é bem chata... fale sobre você.

– Eu? - ela perguntou, rindo. - Sua vida pode até ser chata, mas nada se compara à minha.

– Vamos fazer o seguinte. Eu faço uma pergunta e você responde. Depois o contrário. Pode ser?

– Então tá. - ela concordou. - Você começa.

– Ok... você é filha do dono do bar? - perguntei.

– Não.

– Mas você não o chamou de "pai"?

– Ele é meu padrasto... mas é um maior pai para mim do que o de sangue jamais foi. Minha vez. Você tem mesmo idade para beber? - ela perguntou.

– Bem... - me enrolei.

– Não se esqueça, honestidade.

– Para falar a verdade, não. Faço 21 em Fevereiro. E você, quantos anos tem?

– Vinte e um. Você é bem cara de pau em vir em um bar e pedir duas cervejas, hein. - ela disse, rindo.

– Eu faço o meu possível. - respondi, dando de ombros.

– Ta legal, fica aí na sua Coca Zero. - ela riu mais. - Você veio aqui sozinho?

– Não. Meu irmão provavelmente deve estar passando mal no banheiro. - mentira. Eu já tinha visto ele sair e se sentar em uma mesa no fundo do bar, toda hora rindo da minha cara e me mandando joinhas. - Você tem irmãos?

– Não. Bem, mais ou menos. Sou só eu e meu pai. Minha mãe, depois que se casou com ele, morreu junto com meu irmão no parto. Desde então eu ajudo ele com o bar. - acenei com a cabeça. Não era necessário falar nada como "meus pêsames". Esse tipo de coisa realmente irrita. Eu sei como é a sensação de perder alguém querido, e falar que você sente muito não vai trazer essa pessoa de volta. - Você mora com seu irmão?

– Bem... não exatamente. Ele tem um apartamento em Nova York, e as vezes vem nos visitar. Eu moro com um amigo. - não era necessário mencionar que eu e esse meu amigo morávamos com a minha mãe. - Desde quando você trabalha nesse bar?

– Eu ajudo meu pai a entregar as bebidas desde que eu tinha 16. - ela respondeu.

– E eu posso te fazer outra pergunta?

Rebecca acenou com a cabeça, o que eu interpretei como um sim.

– Se eu te beijar, você vai me bater?