Tré Cool's POV

Marquei mais um dia no calendário que guardava no carro. Agora faltavam somente dois. Dois dias para eu ver meu pai.

Ele tinha viajado para uma cerimônia até a Alemanha, e ia voltar depois de amanha. Meu pai é um veterano aposentado da guerra do Vietnã, e geralmente é convidado para esses tipos de cerimonias, como entrega de medalhas e tal. Ele era piloto de helicóptero. Mal podia esperar que voltasse. Não que eu tenha medo de ficar longe dele, é só que sei lá, nós somos muito próximos, e eu não suportaria se algo acontecesse com ele.

Só havia um problema: eu não havia falado sobre o fato de eu ter convidado um completo estranho que apareceu à porta da minha casa para ser meu novo colega de quarto.. Mas tudo bem, Al é legal. E meu pai geralmente é tranquilo com essas coisas. Espero.

Ok, acho que seria melhor eu avisa-lo.

Estava escrevendo uma carta a ele quando um maluco bateu com as duas mãos no vidro, me fazendo a derruba-la. O maluco (lê-se Al Sobrante) abriu a porta animado, começando a falar tudo embolado, atropelando frases.

Eu sei que isso é bem estranho, mas geralmente, eu relaciono Al a um cachorro. Quando o conheci, ele parecia um filhote machucado. Após oferecer as aulas de bateria, imaginei que estaria abanando o rabo. Mas neste momento em que ele entrou no carro, já teria feito xixi de emoção. Ok, eu acho que estou viajando um pouco.

- Tré! Tré! Tré! Eu consegui! Eu consegui! - ele começou a falar, animado.

- Não sei porque está tão surpreso. Eu disse que você ia conseguir, isso não é nenhuma novidade. - eu respondi enquanto abria um sorriso.

- O Billie e o Mike me chamaram para ir em um bar, você quer vir junto?

- Ahn, não, obrigado. - respondi. -Tenho que arrumar a casa. Sabe, pra quando meu pai chegar.

- Ah vai, seu pai só chega em dois dias. Por que você não quer ir?

- Ahn, eu não sei, talvez porque seja 10:00 da manhã? - perguntei apontando para o relógio e erguendo uma sobrancelha.

- Deixa de ser fraco! Você vai ir com a gente, nem que eu tenha que te arrastar até lá. Vem, eu quero te apresentar a minha nova banda. - ele disse, abrindo um sorriso.

Dito e feito. Al basicamente me arrastou até o bar em que seus novos "colegas de banda", Billie e Mike esperavam.

Ele abriu a porta, revelando um bar totalmente vazio, exceto por dois caras sentados em uma mesa ao fundo.

Um dos rapazes acenou para nós, o que foi totalmente desnecessário, já que eram os únicos lá.

- Uh, você tem certeza de que está aberto? - perguntei para Al.

- Bom, eu não sei você, mas eu não vejo nenhuma placa de fechado por aqui. - ele respondeu dando de ombros. - Vem, vou te apresentar a eles. - e Al me empurrou novamente até os rapazes.

- Tré, estes são Billie e Mike. Billie e Mike, este é Tré.

- Ei, eu já te vi antes. - disse o com cabelo preto, que supus ser o Billie. - Você é o baterista do The Lookouts, não é? Al tinha falado quando estávamos no seu show.

- É isso ai. Eu sou o cara do tutu. - concordei rindo.

- O cara do tutu que deu uma surra naquele bêbado babaca. - Billie completou.

- Perai, você o que? - perguntou Mike, arregalando os olhos e rindo.

- Ah é, sabe, você não viu porque esta fazendo sabe-se lá o que com aquela garota enquanto eu me matava para chegar em casa. - disse Billie, amargurado.

- Cara, quantas vezes eu vou ter que pedir desculpas? E eu já te contei, a gente não fez nada! Só fomos para o restaurante.

Billie somente soltou um muxoxo. Mike revirou os olhos e se dirigiu a mim.

- Ele só tá revoltado porque tá bravo que eu saí com uma garota e o deixei sozinho com um bando de bêbados o abraçando.

- Como o código dos manos diz claramente, amigos antes de garotas. - Billie retrucou.

- Pare com isso, você que inventou esse "Código dos Manos". E qual é o problema de você ficar sozinho em um bar? Você é pequeno demais para se defender, é? - Mike caçoou, rindo.

- Hey! Piadas de tamanho não valem!
[n/a: O Billie é bem baixinho]

- Mas enfim, como vocês conheceram o Al? - eu perguntei, tentando desviar o assunto.

- A gente se encontrou no show da sua banda e começamos a conversar. - disse Billie. - Naquele dia seu cabelo não estava verde, estava?

- Ah, não, eu pintei ele hoje de manhã.

- Ficou legal.

- Pelo menos alguém gostou, sabe - disse, fazendo uma cara de falso sofrimento para Al, começando a rir logo em seguida.

A porta do bar havia sido aberta repentinamente, o que era estranho, porque era de manhã e lá estava totalmente vazio. Entrou uma garota. Ela era meio baixinha, tinha o cabelo curto e repicado, numa coloração de vermelho escuro.

- O que vocês estão fazendo aqui? - ela perguntou levantando uma sobrancelha.

- Ahn, estamos sentados conversando. - respondeu Billie.

- O bar está fechado. - ela disse com palavras frias.

- Não é o que a placa diz. - retrucou Billie novamente.

- Não importa o que a placa diz. Importa é o que eu digo, e vocês devem ir embora.

- E quem é você para me dizer o que fazer?

- Uma pessoa melhor e mais inteligente que você, com certeza. - Ouch. Essa deve ter doído.

Os dois continuaram a discutir. Era como assistir a uma partida de tênis. Eu, Mike e Al já íamos ficar com torcicolo de tanto virar a cabeça para tentar acompanhar os xingamentos que eles gritavam um ao outro.

Billie se levantou, o que não fez muito diferença. Ele realmente era muito baixinho.

- Será que dá para você e seus amigos de cabelo colorido saírem daqui?!

- Não precisa ficar irritada não, ruivinha.

- Vê algum problema em ruivas? - ela perguntou desafiadora.

- Só nas ruivas falsas.

A garota já ia desferir um tapa na cara de Billie quando uma porta atrás do balcão de bebidas foi aberta.

- Hey, hey, hey, o que está acontecendo aqui? - disse um homem mais velho, já com seus 40 anos. Ele possuía uma grande barriga e um denso bigode vermelho, embora careca.

- Papai! Esses caras não querem sair daqui! - ela reclamou, batendo o pé.

- Ora Rebecca, se acalme! Não podemos resolver isso civilizadamente?

- Não. - ela murmurou de braços cruzados.

- Becky, vá para o seu quarto.

- Não. Me chame. De Becky. - respondeu ela, gelando o bar inteiro com olhar frio que lançou.

Pelo visto ela havia herdado esses olhares gélidos do pai. Pois o que ele revidou foi igualmente frio.
Ela entrou pela porta da qual o homem havia saído e continuou por um corredor pisando duro.

- Me perdoem pela minha filha. - o homem disse. Ela esqueceu de virar a placa para fechado quando saiu hoje de manhã, e eu não escutei vocês entrarem.

- Não há problema, já estávamos de saída mesmo. - disse Mike, nos empurrando porta afora o mais rápido possível.

- Pfff. Becky - Billie murmurou ao sairmos do bar.