Sussurros De Uma Suicida.

Capítulo 31- " Duvidas" - Decisão l.


Acordei no sábado, toda suada e continuei deitada na cama, eu estava meio cansada, exausta. Percebi que logo teria que voltar para a escola e isso seria muito mais que difícil, já que ainda não tinha aceitado a morte de meu irmão. E só de pensar no meu irmão, eu comecei a chorar, ás lagrimas desciam lentamente, enquanto eu lembrava do rosto do meu irmão, quanta saudade eu tinha dele, parecia que eu tinha um buraco dentro de mim, um vazio, e parecia que nada poderia preencher. Sentia uma agonia no peito, uma falta de ar, até impossível de descreve-la, só sei que doía e não era pouco. Me levantei, limpando as lágrimas e fui tomar um banho, e mesmo estando meio frio, eu pingava de suor, entrei no box, a água morna escorria pelo meu corpo fechei os olhos para aproveitar a sensação e com isso imagens do meu recente pesadelo voltaram á minha mente.

Eu ouvi vários tiros, comecei a andar pela avenida e via um monte de pessoas em volta de algo, todo mundo gritando e havia um calor insuportável, um homem de chapéu e sobretudo, me encarando, com um olhar estranho, perto das outras pessoas. Eu sentia uma forte dor de cabeça, meu corpo estranho. Comecei a ver todo mundo correndo. Decidi chegar mais perto e vi um corpo jogado no chão, com um saco preto por cima, e aquele mesmo homem de chapéu e sobretudo ajoelhado ao lado do corpo, quando meu olhar se pegou para baixo, vi o tênis, o mesmo tênis do meu irmão.

Depois disso eu acordei, toda suada e o segundo sonho que eu tenho igual nessa semana, sempre acordo toda suada, com a respiração ofegante. Sai do banho, me troquei e deitei na cama, coloquei o fone e uma música aleatória para tocar. Porque? Porque logo meu irmão? Porque tiraram ele de mim? Porque ele teve que ir? O que fazer com o vazio dentro de mim? Será que um dia eu ainda irei vê-lo? Onde será que ele esta? Será que esta bem? Eram tantas e tantas perguntas na minha cabeça, toda aquela bagunça, eu estava perdida nos meus pensamentos. Decidi sair na tarde daquele sábado, apesar de ainda estar com medo do mundo, eu montei o meu sorriso, vesti a minha máscara e a cada esquina que eu passava, pelo menos duas pessoas me perguntavam "Você esta bem?" e eu sorrindo dizia que estava bem, que estava feliz, quando na realidade, eu passava as noites chorando, quando não aguentava mais o peso que me puxava para trás. Foi difícil ainda mais saber que todos aqueles que me perguntaram só eram curiosos, que nenhum deles se importavam comigo. E naquele dia, eu aprendi, que é só colocar um sorriso no rosto e dizer que esta tudo bem, para todos acharem que você está realmente bem. É fácil. Fui até a praça, tomei um sorvete e fiquei olhando para o céu, ele estava bonito, iluminado, estava frio, mas havia o quente do sol, que era perfeito com tudo. E sabe, se eu falar que não tentei me reerguer, que eu tentei sorrir, eu estaria mentindo, eu tentei e muito, mas de uma vez, forcei sorrisos, ensaiei sorrisos, sorri quando queria chorar, fingi sentir algo que não sentia, fingi ser feliz. E sabe o pior de tudo não foi fingir, o pior foi ver que todos acreditaram, minha mãe, minha cunhada, até todos aqueles que me viram na rua, todos pensaram que eu estava bem, que eu tinha me recuperado, sendo que na realidade, eu passava todos as noites chorando baixinho no banheiro, na maioria das vezes drogada, me cortando. Que era só eu passar uma maquiagem barata, e sorrir atoa e todos acreditavam. Isso é o mais doloroso, saber que ninguém se importa, que ninguém ti nota. E que você tem que continuar a viver isso, continuar a pedir socorro em cada sorriso, em cada palavra e mesmo assim, eles vão continuar fingindo não ver. Terminei o meu pensamento e assim o meu sorvete, ele estava extremamente gelado e logo em seguida comecei a tossir. Me levantei e voltei para a casa, entrei no quarto, peguei um lâmina e me joguei na cama, o que eu mais queria era fugir daquilo tudo, me desligar do mundo, eu estava cansada, daquelas pessoas falsas, de fingir viver. Então eu achei o meu refugio, um longo e doloroso refugio, ele me acolheu quando eu precisava, ele levou minha dor embora, ele me deixou aliviada, aquele refugio foi tão bom por um tempo, mas agora ele esta me destruindo, fico fingindo sorrisos, usando blusas de mangas cumpridas. Eu usei esse refugio para pedir socorro, para implorar ajuda, mas ninguém me ouviu, ninguém viu, por mais que eu estivesse na frente de seus rostos, eles me deixaram com os pulsos abertos e sangrando. E eu pensei tudo isso, enquanto ainda continuava segurando a lâmina, então eu fiz dois pequenos cortes, mas não importa o tamanho, a cicatriz ficará eternizada aqui em meu pulso.

Eu tinha comprado maconha a um tempo e tinha guardado, havia até esquecido e decidi fumar o que tinha, bolei e o acendi, sentei no parapeito da janela, e comecei a fumar, o vento forte que soprava em meu rosto, me fazia fechar os olhos. Terminei o cigarro, e a briza já tinha subido, eu me sentia leve, sem preocupações na alma. Fechei os olhos e me senti viva por poucos minutos, me senti bem, mas como sempre passou e eu voltei a minha tristeza, e eu precisava me sentir daquele modo de novo, me sentir fora de mim, me sentir alta. Então fui atrás disso.