Sussurros De Uma Suicida.

Capítulo 23 - "Verão" - Novas dores.


Assim que entrei em meu quarto, me deparei com ele e logo me assustei, ficamos poucos segundos nos encarando, até que tomei a falar e disse:

– O que você esta fazendo aqui? Como você entrou? – E ele continuou em silêncio a me observar com aqueles grandes olhos, cheios de lágrimas. – Em? Vitor me responde?

– Onde você estava? – Disse ele com um ar de desanimo. –

– Eu sai...

– SAIU? VOCÊ DORMIU FORA.– Dizia ele aos gritos. – EU SAI DO SERVIÇO E DEIXEI DE IR PARA CASA DE MEUS AVOS PARA TI FAZER UMA SURPRESA, E CHEGUEI AQUI AS 00HRS00MIN E VOCÊ NÃO ESTAVA...

– Calma Vitor.

– CALMA? CALMA O CARALHO. VOCÊ ESTA ME FAZENDO DE IDIOTA, EU ACABEI DORMINDO AQUI TI ESPERANDO, DEU 1HR, DEU 2HRS E NADA DE VOCÊ CHEGAR, VOCÊ ESTAVA ONDE?

– Eu sai, eu já disse.

– PORQUE VOCÊ TA FAZENDO ISSO COMIGO? – Dizia ele, quase a chorar, então me descontrolei e me pus a chorar, ali mesmo na frente dele. Ele diminuiu o tom de voz e começou a dizer. – Em? Porque?

– Desculpe, eu passei o verão todo em casa e eu quis sair hoje, já que era o meu ultimo final de semana, antes que voltasse as aulas. – Me aproximei dele. –

– Uhum. E o cara que ti trouxe? Você acha que eu não vi? Você da dando para aquele cara? É ISSO?

– Não, não Vitor, ele me deu uma carona, só isso.

– Você é mesmo uma vadia. Estou com nojo de você.

Suas palavras me atingiram como facadas, o silêncio tomou conta do quarto, ele pareceu arrependido pelo o que disse, mas de nada adiantou, ele saiu de minha casa, enquanto eu me pus a chorar, chorei como se tivesse prestes a morrer, me joguei na cama enquanto pensando no que acabara de ocorrer. Ele me feriu, literalmente me atacou com uma faca em punho, rasgando meu coração, me deixando debilitada, creio que ele não conseguiu entender, o quão mal suas palavras me fizeram, elas foram frias e me machucaram tanto, ele não tinha noção do peso e da dor que elas me causaram. Esquece-las? Eu sei que será muito difícil, eu diria que até impossível, pois ainda deitada aqui em minha cama, posso ouvi-las toda vez que ele me vem a cabeça, mas também sei que com o tempo não doerá mais, mas no momento a dor é indescritível. Mas esquece-las, eu jamais esquecerei. Acabei adormecendo depois de chorar, e depois de alguns minutos que acordei, gostaria muito que tudo aquilo tivesse sido só um pesadelo, mas não foi, foi tudo real, ele foi embora e pelo jeito não iria querer me ver nunca mais. Me sentei na cama e pudi ver uma pequena caixinha no chão, a peguei e abri e para minha surpresa, era uma aliança, e então voltei a chorar, um choro mais intenso, mais doloroso. Ele iria me pedir em namoro, e eu estraguei tudo, ele estava certo eu era uma vadia.

Só de pensar que depois que tudo que ocorreu eu teria que voltar no próximo dia para escola, já me deixava alucinada, eu tentei me conter e esquecer mesmo que fosse por poucos segundos o que aconteceu. Já tinha anoitecido e eu havia passado o resto da tarde ligando para Vitor, mas ele não me atendia, eu deixei milagres de recado, de mensagens, na esperança que talvez ele me perdoasse, mas naquele momento foi em vão. Eu fui rastejando para o banheiro, já era de madrugada e minha vista estava embaçada, acredito que pelo choro e pelo sono, entrei no banheiro meio tonta, lavei o rosto e meu olhar se pegou no espelho. Nossa, eu estava horrível, pálida, com os olhos vermelhos e inchados, então voltei a chorar, eu senti vontade de gritar, mas não podia, minha mãe devia estar dormindo no quarto ao lado. Eu tentei me controlar, sufoquei o choro com a mão na boca, na esperança de que ele parasse, mas como sempre ele saiu do controle, eu não podia, eu não devia, mas foi inevitável. Eu comecei a lembrar do que Vitor me disse, dos xingamentos, das chacotas, senti algo mexendo, tocando em minhas feridas, em meus cortes e aquilo tudo foi um peso, então eu peguei a lâmina e a posicionei em meu pulso, fechei os olhos enquanto cortava, enquanto a alojava dentro de mim, aquilo foi tão bom, aquela endorfina dentro de mim, aquele alivio, me senti bem e consegui dormi, mas só agora eu percebi, que não existe nada pior que se sentir morta, enquanto vaga por aí sem forças para seguir em frente.

Acordei pela manhã com a voz de minha mãe me chamando. "LEVANTE, NÃO VÁ SE ATRASAR.", não queria ter que ir para escola, mas mesmo assim me levantei e me arrumei, sai de casa com o maior desanimo que eu poderia estar naquela segunda-feira. Entrei na escola, e logo fui para sala, sentei no meu canto, na esperança que as aulas passassem voando, aquela patricinha que eu tinha acabado brigando quando voltei do hospital, ficou me encarando a manhã toda, o nome dela era Evellyn, seu nome, seu jeito e principalmente sua voz me dava enjoo. Não fiz questão de fazer nenhum lição naquela manhã, eu só queria ir embora, só fui para marcar presença mesmo, eu fiquei na minha, sem falar nada, e sorria quando alguém fitava os olhos em mim, não queria mostrar que estava triste, se não eles se sentiriam feliz, ou ficariam me enchendo de perguntas, principalmente aquela Evellyn, que inúmeras vezes mandou indiretas para mim e só respondia com um leve sorriso a encarando. Bateu o sinal e sai quase que correndo da escola, então encontrei Pedro, ele abriu um grande sorriso e então retribui.

– Ei, como você esta?

– Ótima e você?

– Bem.

Dizia eu, enquanto o cumprimentava, a minha vontade era de gritar dizendo que doía, que eu não suportava mais nada dentro de mim, mas eu permaneci forte e sorri enquanto conversava com ele. Depois que me despedi fui andando para casa, e avistei Ramon de longe, ele estava sentado no banco, perto da praça que ali se encontrava, fumava um cigarro como sempre. Decidi ir cumprimenta-lo, me aproximei e com um leve sorriso disse:

– Ramon?

– Oi. – Ele sorriu.– Sente aqui. Como você esta?

– Estou bem e você? –Dizia eu em todos os momentos sorrindo.–

– Bem, precisava falar com você.

– O que?

– O Edgar ficou interessado em você.

– Hãm? –Soltei uma leve risada–

– As noticias correm rápido, não se surpreenda, se ele vim atrás de você.

– Espero que isso não aconteça.

E nós dois rimos, conversei mais um pouco e me despedi, entrei em casa e logo pudi tirar aquele sorriso do rosto, me senti aliviada, meu pai estava estirado no sofá, com uma garrafa ao seu lado, ele largou o emprego, e só minha mãe estava trabalhando, ainda bem que ela ganhava bem e pudia manter a casa sozinha, mas não sei por quanto tempo. Subi para meu quarto e me atirei na cama, fiquei pensando comigo mesma, até que me perdi em meus pensamentos.



Uma pauta para você leitor

" A saudade não mata. Dor não mata. Chorar não mata. O que mata é ter que aguentar tudo isso e ainda sorrir. "