Estávamos em Yokohama, para uma sessão de fotos. Era o 4° mini-álbum de sucesso que lançávamos e, para a capa do "Sushi Bar-special edition", precisariamos da ajuda de dois velhos amigos...

– Não, não e não! Não pretendo usar esse kimono nem fazer nada disso! - Rodolfo protestou.

– Eu topo! - André falou, animado. – A ideia parece divertida!

– Muito obrigada, Sushi! E você? A sua resposta é definitiva?

Rodolfo me olhou com raiva, enquanto o outro saía da sala.

– Claro que é! Eu não sou gay como os seus "gaze-boys" viadinhos que...

Ele paralisou, olhando para a porta, que se abrira com estrondo.

– Que o que, seu pirralho?! – A voz de Akira era alta e grosseira, o que deixaria qualquer um assustado.

Akira mantinha os punhos fechados para Rodolfo, mas eu me meti entre os dois, antes que a situação piorasse.

– Pode deixar, Reita! – eu sorri, tentando acalmá-lo, e me virei para Rodolfo. – Não vai aceitar a oferta?

– Já disse que não! - ele vociferou para mim.

– Mesmo se eu te disser que eles vão te pagar ¥500 por foto?

Vi o rosto dele vacilar.

– E que, trabalhando conosco, você ganha desconto de 60% em lojas de animes, mangás e música, além de restaurantes e bares?

Acertei. Ele revirou os olhos e olhou para a parede. Virei para Reita e perguntei.

– Só você chegou?

– Eu e o Kai, mas eu tenho quase certeza de que ele dormiu aqui. Só espero que ele não force a Mari-chan a sempre ficar com ele... Que namorado ela foi arranjar...

Nós dois rimos e eu me virei novamente para encarar Rodolfo.

– E você? O que me diz?

Ele engoliu em seco.

– Quantas fotos são?

– 15. Já são ¥7500 no seu bolso... O que acha?

– E eu vou ter que usar esse kimono... E só?

– E fazer algumas poses, mas nada que vá manchar a sua reputação.

– Usar maquiagem?

Akira riu alto.

– Um pouco.

– Um pouco quanto?

– Só pra esconder as falhas do seu rosto.

Ele passou a mão pelo rosto, visivelmente ofendido com o que eu dissera.

– Ohayo, Reita!

– Ohayo, Aoi! – Akira respondeu , ainda achando graça na preocupação de Rodolfo com a maquiagem.

– Ohayo, Chibi-chan! - ele me deu um abraço tão forte que me tirou do chão.

– Ohayo, Aoi!

– Cadê aquele safado do Ruki?

– Não sei – sorri – Não dormi em casa hoje. Fiquei no hotel e depois eu vim direto pra cá.

– Ah! Isso explica o por que de você estar com a mesma roupa de ontem.

Yutaka tinha o lindo sorriso de sempre estampado em seu rosto e vinha abraçado com Mariana.

– Ohayo para todos – ele falou – inclusive pra você, cabeludo.

Rodolfo sorriu constrangido.

– Podemos tomar café agora? – Yuu pediu.

– Por favor – disse Akira – Estou faminto!

Nós descemos as escadas do estúdio. Eu fui empurrando Rodolfo até a lanchonete, onde encontramos Kouyou.

– Ohayo, cunhadinho! – eu beijei a bochecha dele.

– Ohayo! – ele sorriu para mim. – Pra vocês também.

Os olhos dele pararam em Rodolfo, que tremia.

– Sabe onde estão os outros?

– Eu vi a Sereny e a afilhada dela indo pro departamento de som. E o Marcelo estava com o tal André indo pro departamento de roupas, falando algo sobre um tal kimono.

Yuu olhou para mim, surpreso.

– Você ofereceu o papel pro garoto, Camila?

– E ele aceitou!

– Quando você disse, eu pensei que só estivesse brincando!

– Pois é, eu ofereci sim!

– Impressionante... – Yutaka disse com a boca aberta enquanto sua namorada ria disfarçadamente.

– Com certeza! Impressionante e assustador... Mas um cara se vestir de gueixa... Ele deve ter muita coragem!

Yuu e Kou bateram as mãos no ar, animados e percebi que Rodolfo havia se assustado.

– Eles se vestiram de gueixa há algum tempo... Bizarro...

Ele apenas olhou para os dois. Parecia desesperado.

– E então? Podemos comer? – perguntei aos outros, que começaram a conversar animadamente.

– OK! – Yuu falou e se sentou ao lado de Kou. Akira, Yutaka e eu imitamos o seu gesto, mas Rodolfo permaneceu imóvel.

– Senta aqui – eu apontei pra cadeira do meu lado - antes que os meninos percebam que você travou.

Ele puxou a cadeira e se sentou. Fiz o máximo que pude para fazê-lo se sentir mais a vontade, mas ele manteve a expressão paralisada.

Eu me servi de café com leite e, quando fui dar a primeira mordida em meu pão, ouvi uma voz bem familiar.

– Ah! Você não dorme em casa e, no dia seguinte, quando eu te encontro, você está com outros cinco caras, é assim?

Takanori pegou a metade do pão que estava em minha mão e mordeu.

– Hm... – eu comecei, me virando para encará-lo, séria. – É isso que você pensa de mim, é, senhor Matsumoto?

– UH!!! – os outros três gritaram.

– Podia ter ligado avisando... – ele me devolveu o pão. – Eu fiquei muito preocupado.

– Eu tentei ligar. Mas só dava ocupado. O celular, a mesma coisa. Pode me explicar o que você ficou a noite passada?

– Eu fiquei brincando com o Sabu, mas ele encheu o saco de mim, foi pra caminha dele e dormiu. Então eu pensei em fazer pipoca e ir ver alguma coisa na televisão, acho que apaguei...

– Bebedeira, é? – brinquei e ele fez careta.

– O que é que você acha?

– Depois dessa, eu não sei de mais nada...

Os olhos dele pararam em Rodolfo, que bebia o café distraído.

– Ah... O cabeludo gago... – ele sussurrou alto.

– E o celular?

– Cama do Sabu... Como todas as noites que eu deixo ele em cima da mesa.

– Por quê?

Kou e Yuu taparam meus ouvidos e o primeiro disse.

– Você não vai querer saber!

– Mas... – eu comecei.

– Ele tem razão, você não vai querer saber! – falou Yuu.

– Tá, tá! Eu realmente não quero saber!

Quando fui comer a outra metade do meu pão, notei que, das duas metades, só uma havia sobrado.

– Hey! Você comeu metade do meu pão!

– Relaxa, você ainda tem a segunda metade.

– Kami-sama, você deve estar mesmo com fome! – Yuu falou.

– Não devia, não. Tomei café antes de sair de casa.

Eu o olhei com espanto e ele piscou pra mim.

– Fase de crescimento.

Todos rimos e eu engoli rapidamente a outra metade do meu pão, antes que o ‘boca nervosa’ abraçado em mim atacasse novamente.

– Já são nove horas! A sessão de fotos começa às nove e meia! Precisamos subir logo, cabelu... Rodolfo!

– Ele vai com você? – Takanori perguntou em tom de desaprovação.

– Se quiserem ir também, serão bem vindos.

Rodolfo empalideceu e eu notei que ele não os queria ali. Mas... Era tarde demais.

Estávamos subindo as escadas e pude ver claramente que Rodolfo estava odiando tudo aquilo.

– Ohayo! – eu gritei pro pessoal presente dentro da sala.

Eu empurrava Rodolfo pela sala e ele se assustou ao ver o cenário branco gelo e a câmera.

– Relaxa, “Kyon”! – sorri, tentando encoraja-lo. – Taka!

– Que é?! – a voz dele parecia impaciente e mal-humorada.

– Onegai, pode ligar pra Sereny e pro Marcelo?

– Por quê?

– O Marcelo vai ter que trazer o Sushi... E a Sereny... Vai querer ver!

Rodolfo me encarou, os olhos queimando de ódio. Meu sorriso devia ser demoníaco. Pude ouvir Takanori ligando para meus irmãos.

– Saiba que eu só estou fazendo isso pelo dinheiro!

– Se esqueceu do desconto para animes e mangás – eu ri. – Não pedi que fizesse nada por mim. Eu te convenci!

– Tanto faz! Pode se virar? Vou colocar a parte de baixo...

Eu me virei para o outro lado. Passou um tempo, antes de voltar.

– Posso virar? – perguntei ansiosa.

– Calma... Pronto. Vire-se – ele disse, receoso.

Olhei e me espantei. Vendo ele ali, trajando roupas adequadas para mulheres, não pude conter o riso.

– O que foi?! – Taka perguntou, parecendo preocupado.

– Queremos ver também! – Akira gritou.

– Esperem! Vou fazer o cabelo dele também!

Rodolfo se sentou numa cadeira e eu amarrei o cabelo dele num rabo-de-cavalo alto, espetando um enfeite em forma de flor junto ao elástico.

Sereny, Marcelo, Sushi e os gazettos estavam todos esperando pela “gueixa” que eu arrumava.

Saí de trás da parede e comecei.

– Agora! Vestindo um kimono feito por mim mesma, a “Gueixa #2” do mini-álbum “Sushi Bar”, a surpresa mais esperada do ano... Rodolfo!

Ele saiu de trás da parede, seu rosto estava vermelho de vergonha.

– E aí? O que acharam?

Todos, exceto Takanori, começaram a gargalhar. Talvez, aquela fosse a hora da vingança.

– É sério! Digam o que acharam...

Sereny, André, Yutaka e Mari disseram que havia ficado “bom”, mas tive a impressão de que só disseram aquilo para não magoar Rodolfo.

– Bom... – começou Yuu – na opinião de alguém que já se vestiu assim... Ele é magrelo demais!

– Sim – continuou Kou – parece que vestiram o Plank com um kimono rosa!

– Plank? – Rodolfo perguntou, com um tom inocente.

Kou, Akira e Yuu se entreolharam e Akira disse:

– Seu “sem infância”! Mas, realmente, ele parece uma tábua!

– Ok! E você, Takanori? O que achou?

Ele caminhou em volta de Rodolfo, sério.

– Bom... Realmente, ele é magrelo...

– Já vai começar... – Rodolfo reclamou.

– Cala a boca, cabeludo, e me deixe continuar.

Rodolfo se surpreendeu ao ver Taka sério daquele jeito, mas eu já estava acostumada a ouvir aquele tom de voz, afinal, ele o usava quase todos os dias com Sabu.

– Voltando... Ele é magro, mas é alto, então é só arrumar essa postura de corcunda. Mas, a roupa ficou ótima, Camila.

Agora eu estava chocada! O Takanori que eu conhecia jamais perderia a chance de zoar com a cara de Rodolfo. Mas aquele ali presente não era Takanori. Era o profissional Ruki, diretor de arte, vocalista e compositor do the GazettE.

– É mesmo – confirmou Akira. – A roupa ficou ótima!

– Realmente – Yuu falou. – Ia ser da hora ver o Marcelo num desses, hein? Cor de rosa bebê!

Marcelo socou o ombro de Yuu e Akira e Kou riram.

– Ah... Mila? – Yutaka perguntou.

– Quê?

– No que você estava pensando quando desenhou as roupas?

– Hmmm... Redenção.

Takanori, que estava abraçando minha cintura, respondeu.

– Bom... Eu vi quando ela desenhou. Só eu estava por perto quando ela desenhou – ele deu ênfase na frase “só eu”. – Diria que a expressão dela era mais de vingança do que de redenção...

– Ui! – Akira gemeu. – Vingança feminina?! Tenho pena de você, cabeludo gago...

– Não, Reita! Pior do que vingança feminina! É a vingança da chibi-chan mais perva do universo, amiguinha íntima do Mana-sama!

Todos riram, menos Rodolfo, que não entendeu a citação.

– Posso dizer algo ao meu favor? – perguntei a Taka.

– Pode falar, meu amor – ele riu, deixando um beijo em meu ombro.

– Não sou “amiguinha íntima” do Mana-sama. Só gosto do jeito como ele faz o cabelo, aí eu fui falar com ele...

– E agora ele é seu melhor amiguinho, né, bebê?

– Hm... – gemi. – Ele é um dos meus amigos mais chegados, mas não o melhor, seu cínico – eu o cutuquei de leve na barriga.

– Que tal a gente convidar o Mana-sama pra fazer o cabelo da nossa “gueixa”? – Marcelo sugeriu.

– Podemos deixar esse cara de fora? – Rodolfo pediu. – Gostei de como o cabelo ficou...

Aquilo certamente era mentira, mas ele temia o quão pior poderia ficar se os dedos experientes de Mana se aproximassem de seu cabelo.

– Por favor – Rodolfo pediu.

– OK – eu respondi e sussurrei para Marcelo que sabia alguns penteados extravagantes de Mana e algumas técnicas para fazê-los. Ele sorriu com uma ponta de malícia.

Sushi se trocou rapidamente e Rodolfo reclamou que o seu kimono era mais feminino que o dele. De fato, isso era verdade, mas antes que eu pudesse dizer algo, Takanori interviu, alegando que ambos eram rosa e delicados do mesmo jeito e, se Rodolfo continuasse a agir como um macaco, uma das gueixas seria perneta. A ameaça funcionou.

A sessão de fotos durou quase três horas e teria sido cansativo, se não tivesse sido tão divertido. Todas as vezes que o fotógrafo chamou Rodolfo de “kawaii onna” compensaram todo aquele tempo. Quando os garotos terminaram, já era hora do almoço.

Rodolfo se aproximou de mim, que estava sentada no colo de Takanori, com uma expressão raivosa.

– Com certeza, essa vai ser a última coisa que eu faço por você, Camila!!!

Eu me arrumei no colo de Taka e sorri.

– Será que se lembra do que você me disse quando estava se trocando?

A expressão dele disse o que a boca não pode: NÃO!

– Você não fez isso por mim, se lembra? Fez isso pelo dinheiro e pelos descontos que ganhou!

Ele engoliu em seco, mas eu mantive o sorriso cínico.

– Agora, “gueixa kawaii onna”, por que não vai curtir os seus descontos enquanto eu vou levar a minha namorada pra almoçar? – Taka fez o mesmo sorriso cínico que eu.

Rodolfo se espantou ao ouvir aquilo.

– É sério, Rodolfo. Você está liberado, pode ir.

Nós nos levantamos e saímos pelo corredor.

– O que é que você vai querer comer, Camila? – Takanori me perguntou, se abraçando em mim pela cintura.

– Não sei, amor. O que é que você quer comer? – eu encostei a cabeça em seu ombro.

– Não sei, também. Mas sushi eu não como nunca mais!

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.