Sentados ao redor da fogueira que iluminava o andar recreativo da corporação. Olivia, Jonathan, Atsu, Ada e Natalie, compartilhavam um fardo de cerveja enquanto jogavam papo fora, em inglês, a única língua que todos tinham em comum fluentemente, zoavam uns aos outros comentando alguma estupidez feita durante missões que punham suas vidas em jogo.

— Mas então, Bob, como foram seus dias de volta pra casa? A mamãe já sabe o que a doce Oliv...ou devo dizer Barbara? já fez e ainda tem feito? - Indaga Natalie em tom sarcástico e um sorriso malicioso.

Olivia soltou um suspiro cômico. Encostada no degrau da arquibancada circular que envolvia a fogueira, era a que estava mais afastada da luz, tarde da noite, as chamas eram brandas, as trevas a acobertavam. Ela se inclinou para o centro da roda, se aproximando do fogo, revelando suas expressões insistentemente amargas e marcas ao longo de seu rosto e de seus braços rígidos cobertos por cicatrizes e tatuagens. Sorriu e fitou Natalie.

— Claro, contei cada mínimo detalhe, logo depois de, em família, sequestrar o presidente dos Estados Unidos, colocar ele em um barraco abandonado no Alasca e deixá-lo para morrer de frio ou fome, o que vier primeiro, precisava ver, minha mãe adorou o tour ecológico educativo. - O tom debochado de sua voz causava desconforto, por mais que a ideia inicial pudesse ser de piada, deixava seus ouvintes tensos.

— Tá, esquece - Diz Ada, por mais que tenha achado graça, ela podia sentir o clima pesado e tentava aliviá-lo. - O que aconteceu lá?

— Bem, o auge definitivamente foi quando me questionaram se eu ainda era BV… - Todos, inclusive Olivia, começaram a rir instantaneamente.

— É a mesma coisa que questionar a virgindade de uma prostituta. - Jonathan acrescenta as risadas.

— Me desculpe, o que foi que disse? - Olivia se afasta dele, tentava segurar o riso e manter sua pose ameaçadora e demonstrar sua indignação com a comparação.

— Desculpa, amor, mas todos aqui sabemos e comprovamos que é a dura realidade. - Ele retruca agarrando ela e a espremendo contra si.- Eu sei, eu sei, o culpado disso sou eu, se eu não tivesse tirado o seu BV, talvez você jamais teria se tornado essa inegável passadora de rodo, o que faz de mim um cara incrível, porque você voltou pra mim no final. - Ele diz de forma bem dramática como um ator de algum teatro clássico extravagante. E termina forçando uma cara de galã.

Olivia com uma notável expressão de repulsa se afasta e ri.

— O que te faz pensar que foi você quem tirou o meu BV e melhor ainda o que faz você achar que é tão incrível ao ponto de que me fez desistir de todos os outros? - Nathalie, Ada e Atsu começaram a gritar, vaiando Jonathan, enquanto Olivia ria. - Mas pode haver alguma verdade nisso, se você não prestasse ao menos um pouco eu com certeza não te daria outra chance, mas não se ache tanto, você me venceu pelo cansaço.

— Liv? Então você mentiu pra mim? Você tinha me dito que nunca tinha beijado ninguém antes de naufragar. - O rapaz parecia decepcionado e confuso.

— Ha, mas eu não menti pra você, você que teve uma interpretação egocêntrica e deturpada do que eu disse a você. - Levantou as sobrancelhas em uma demonstração de desprezo, ela achava graça naquele jeito egoísta e ingênuo.

— Então...foi depois do naufrágio e antes de mim? - Ninguém ali sabia dizer se aquela pergunta era apenas ele sendo dramático se fazendo de desentendido para fins cômicos que costumavam falhar ou se ele realmente estava desapontado. - Achei que fui seu primeiro namorado…

— Você foi… - Ela repentinamente parecia mais sombria do que o normal. - Mas houve alguém antes de você.



Já devia fazer uma semana que estávamos à deriva no mar. Fazíamos o possível para economizar suprimentos, acho que tanto o William quanto o capitão não estavam comendo. Maiara, Tomas e eu começamos a obrigá-los a comer, ao menos um pouco para não termos dois cadáveres futuramente. Tentávamos poupar o máximo de energia possível, sequer conversávamos, apenas o necessário.

O dia parecia infinito e a noite parecia ainda maior.

William se esforçava para nos manter calmos e unidos, na medida do possível. Ele era sempre muito positivo, acalmava a cada um de nós, mas quando os outros apagavam, eu o observava e podia ver seu desespero, posso jurar que o vi chorar algumas vezes. Eu tinha medo de me aproximar, mas eu queria consolá-lo de alguma forma, ele tinha feito muito por mim...por todos nós, não gostava de vê-lo assim.

Talvez fosse insônia, ou medo, mas eu quase não dormia, e com isso, eu ficava atenta o suficiente para observar todos. Maiara e Tomas pareciam ter feito as pazes, e juntos cuidavam para que o capitão comesse, enquanto eu cuidava para que William se alimentasse.

O capitão quando não estava dormindo, ou fingindo dormir, ele observava todas as direções, parecia analisar onde estávamos estudando as estrelas, nada que ele não devesse saber, afinal, esse era o trabalho dele; mas de alguma forma, me parecia que, diferente de nós, ele queria estar ali.

Esta noite todos dormiam, a julgar pela baba do capitão, ele definitivamente não estava fingindo. E assim como na noite anterior, William estava acordado, talvez, assim como eu, não conseguia dormir.

Ele estava sentado encolhido com o cobertor. Ele estava tremendo... talvez... soluçando? Não parecia notar que eu o observava, me aproximei devagar para que ele não notasse. Ele estava chorando de novo, tão absorto em seus pensamentos, que não me percebeu, ou talvez, não se incomodava com a minha presença, bom, foi o que eu pensei naquele segundo. Eu sentia algo vendo ele tão triste e não era algo bom. Queria poder fazer alguma coisa... cedi aos meus impulsos e o abracei. Imediatamente comecei a me afastar, notei o quão invasivo e estupido era aquilo, mas suas mãos seguraram meus braços antes que pudesse me afastar.

— Tudo bem. - Ele olhou pra mim. - Muito obrigado, não entenda mal, mas que bom que você está aqui. - Ele sorriu.

Como é de se imaginar, meu coração pulou para a boca, ele me puxou ainda mais, meu rosto estava colado no cobertor que envolvia suas costas. Quando ia me acomodar um pouco ele remove meu braço que está em cima dele, retira o cobertor de si e o estende por cima de mim, volta para a posição inicial, pega meu braço, o cobertor e se envolve neles. Agora meu rosto estava contra a blusa de seu uniforme de tripulação, suas mãos entrelaçadas às minhas. Pude sentir ele apertá-las ainda mais, ele não ia soltar, o que me deu algum tipo de alívio, apenas me acomodei e de alguma forma adormeci.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.