Fiquei excitado com o que estava acontecendo entre a Anne e eu. Ela tocando suavemente o meu ombro nu, com a Cruz do Sol flutuando entre os nossos olhos, Anne me beijando com os olhos fechados... Senti o catarse dentro de mim, me queimado a cada momento de prazeroso beijo aquático. Abri os olhos mais uma vez para ver a garota dos meus sonhos me beijar continuamente, até que ela abriu os seus. Ficou espantada com o que acabou de fazer. Ela não gostou? Só de pensar, fico quase que desiludido, quando na verdade, ela estava roxa de não aguentar prender a respiração. Tivemos que emergir às pressas na superfície.

Chegamos estabanados, um se debatendo com outro, cegamente. Eu não esperava que Otto e Sophia vissem isso. Eles estavam estáticos na beira do lago.

– Nossa! - surpreendeu-se Otto. - Eu esperava tudo nesse mundo, menos vocês se beijando.

– Debaixo d'água. - completou Sophia. - Foi tão... Romântico!

Romântico?! Ela achou o nosso beijo romântico?! Debaixo d'água?! É isso aí!

– Romântico?! - Anne se aturdiu. - Não, não foi nada romântico, foi só um acidente.

– Mas... - fiquei sem falar, até que Otto observou as nossas caras coradas e tirou uma conclusão interessante, e das boas, é claro.

– Tudo faz sentido! - disse. - Vocês foram feitos um pro outro. É claro! Vieram da mesma cidade, parece que tiveram um romance platônico!

Nós nos entreolhamos, atônitos. E ele tinha razão! Me apaixonei desde sempre e todos os dias vivia correndo atrás dela na escola. Até que hoje não está tão ruim assim. Ou está. Mas mesmo assim, sorrimos cerrados.

– Imaginem a Alemanha toda vendo isso! - Sophie falou. - Vocês são capazes até de ganhar fãs por se tornarem um belo casal.

– É... - Otto concordou, até que estreitou os olhos ao olhar para cima. - Ih, acho melhor entrarmos, porque está prestes a chover. Nenhum de nós queremos apanhar um resfriado, quer?

Todos balançaram a cabeça em discordância, exceto eu.

– Mas eu quero. AIII! - gemi de dor quando Anne me deu mais um soco, ainda bem que foi no braço bom. - Calma, eu só estava brincando!

– Bobão! - Anne ralhou, rindo da minha cara.

E era verdade, pois as nuvens carregadas vinham se aproximando daqui. Anne me ajudou a sair da água, quando senti um friozinho no corpo.

– He he, foi mal se eu te beijei. - tentei me desculpar na boa, ainda com o rosto corado. Mas Anne fez a mesma coisa.

– Não, eu é que preciso me desculpar. - falou, encabulada. - Mas, até que eu gostei um pouco.

Finalmente! Pensei que ela não tivesse gostado. Fiz uma careta de dor, quando senti uma leve ardência no braço machucado.

– Que foi? - Anne se preocupou, quase tocando no meu braço nu e encharcado.

– Só um pouquinho de dor no braço atingido. - respondi.

– Ah, me desculpe, eu devia ter prestado atenção em você.

– Mas você prestou, eu é que devia ter tomado cuidado ao contatar o ferimento na água.

A trovoada soou de repente. Tivemos que entrar, com a Anne me ajudando a enfrentar a descida íngreme. Começou a chover depois que Otto tapou a entrada da caverna e cobriu a fenda com a rede. Antes disso, Sophia veio com um saquinho cheio de troços chatos, viscosos e escuros. As sanguessugas.

– Olhem o que eu trouxe! - Sophia se abaixou diante de nós dois com o saquinho de sanguessugas.

– As sanguessugas. - falei. - Elas controlam a hematoma.

– Isso! - Anne respondeu de imediato, desenrolando o curativo encharcado. Vi que o meu ferimento estava avermelhado e inchado, mas sangrava um pouco. É, até que o nosso beijo lavou muito bem. Ela aplicou três sanguessugas nas imediações do ferimento suturado. Não senti a picada, pelo fato de injetarem uma substância anestésica, mas faziam cócegas, que me faziam tremer todo.

– Olha, - comecei a falar. - Por outro lado, até que os dias no reality estão começando a ficar interessante. Até que não está tão ruim assim.

– É. - Anne concordou. - Eu também tive essa impressão com o passar dos dias. Até agora.

– Eu também.

Daí comecei a me lembrar do que ia falar, o que eu já devia ter feito hoje à tarde, se o Arnold não aparecesse para nos matar. Essa minha declaração de amor ficava há muito tempo presa em mim. Foi aí que eu comecei a falar. Não importava se eu levasse um fora dela ou se ela tem um namorado, mas sim, ela bem que poderia ser a minha amiga. Me tornarei forte.

– Anne, eu teria falado se Arnold não aparecesse naquela hora.

Ela assentiu com a cabeça. Pediu para que eu prosseguisse.

– Eu, na verdade eu sinto falta de casa, sim. Mas ainda trato de um assunto que está há tempos preso dentro de mim. Você já parou para notar que eu sempre te via passando nos intervalos na escola? Porque eu sempre estou lá, caminhando com os meus amigos. E eu... Er... E eu... Queria demonstrar a você, que eu...

– Está apaixonado por mim, não é?

Ela adivinhou! Fiquei lívido, esperando o fora que vou levar dela. Ela continuou.

– Não precisa esconder, Heinrich. Eu já sabia de tudo há muito tempo.

– Como é que você sabe? - perguntei apreensivo. Só podia ter sido aqueles caras da escola, só pode ser!

– Eu percebi o seu semblante naqueles dias. Eu sempre perguntava a mim mesma, por que aquele garoto estava me seguindo? Será que ele está apaixonado por mim? – deu uma pausa por alguns segundos para suspirar. - Era isso até hoje. Eu nem fazia ideia de como eu estava cega durante todo esse tempo. Mas não se preocupe, Richie, que eu sou solteira. Mas isso acaba aqui. - e me tascou um beijo bem grande nos meus lábios. Fiquei aliviado e extasiado ao mesmo tempo.

– Quer dizer que você me ama? - perguntei incrédulo com aquilo. Sua resposta foi balançar a cabeça em concordância e voltar a me beijar.

Me desliguei do mundo, só eu e Anne à sós. Senti sua mão tocar o meu peito nu e a outra, as minhas costas. Me deixei cair no chão, com o peso dela em mim. Deu até para sentir a camisa de algodão azul que ela usava por baixo da camisa preta no meu peito e na barriga. Eu queimava por dentro. Eu senti a Cruz do Sol correr pelo pescoço, indo parar lá atras. Me deixei levar pelo beijo. Me deixei levar pela paixão. Finalmente, Anne pôde corresponder o meu amor por ela!