A ruiva corria sem parar. Já não sentia mais seus pés e a única coisa que a fazia mover era sua força de vontade que aos poucos se esvaziava. Ela já não aguentava mais; parte de si gritava para ela dar meia-volta e correr de volta ao local onde Fred estava, mas isso significaria morte.

“Fred...!”

Um tiro disparado. A angústia aumentou ainda mais. Ela não fazia ideia de qual arma teria saído o disparo e se alguém fora atingido. No pior das hipóteses – o que ela não conseguia parar de pensar – seria Fred quem levara o tiro.

Seu coração apertou ainda mais. Ela queria muito voltar atrás, mas sua mente e seu corpo não deixavam-na voltar.

Ela mal podia ajudar a si mesma, muito menos tentar ajudá-lo. E uma hora ela se cansaria de correr e pararia, e não saberia o que fazer. Haviam dois assassinos (ou apenas um) naquela ilha e o medo a impedia de pensar em uma solução. Não o medo de morrer, mas o medo de perder o homem que amava.

Agora ela sentia um profundo arrependimento por ter deixá-lo para trás.

A distância era enorme, mesmo que Daphne não soubesse o quanto, ela sentia que já estava longe do perigo, e de Fred. Mas ainda assim, persistia em continuar, mesmo que suas pernas já não suportassem tanta dor.

Até que algo a fez parar. Alguém.

Breves segundos foram tomados para que ela pudesse recuperar o fôlego e descobrir quem era a pessoa que ela havia esbarrado.

“M-matthew?” ela disse, quase sem voz.

“Acalme-se, está tudo bem.” O rapaz assentiu e a segurou firmemente pelos braços. “Agora me diga, por que estava correndo daquele jeito? E onde está Fred?”

“Fred... está em grande perigo!” ela o encarou nos olhos com profunda tristeza “E eu... eu não... pude ajudá-lo.”

“Perigo? Mas...”

“Matthew, nós temos que dar um jeito, se não...”

“Como assim, perigo? Não, isso não pode ser possível.” Matthew dizia com dúvida.

“Dois assassinos nos cercaram, Matthew. E se não fosse por Fred eu estaria morta.”

“O quê?! Vamos logo então!”

Os dois já estavam prontos para correr em direção ao local onde Fred estava quando foram impedidos pela voz do homem que vinha atrás.

“Ei, vocês dois, onde estão indo com tanta pressa?” disse o homem, já cansado de tanto correr.

“Fred está em perigo, Steve!” disse Matthew dirigindo-se a ele.

Steve não apresentou nenhuma reação de surpresa ou espanto, apenas manteve a expressão séria de antes.

“Se vocês forem correndo desse jeito, vão acabar chamando atenção de seja lá quem for.”

“Temos de dar um jeito logo... antes que seja tarde.” Daphne olhou em direção à floresta, logo depois para a arma que estava em sua cintura.

“Isso é uma arma?” o rapaz arregalou as sobrancelhas.

“É uma longa história.” Ela respondeu tentando cortar o assunto, virando-se para Steve. “Você tem um plano?”

“Não podemos chegar dessa forma, é arriscado demais.” o velho respondeu.

“E não podemos ficar aqui demorando enquanto ele está lá!” a ruiva apontou para frente.

“Então vá e morra tentando salvá-lo!”

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“Você o quê?” a voz no rádio estava furiosa.

“Como eu poderia saber?”

Carlos estava nervoso. Ele havia deixado Fred caído e fazendo o caminho de volta para seu acampamento levando o corpo da irmã com ele. Ele a deixou no chão, e depois contatou o homem pelo rádio.

‘Achei que eram profissionais!’

“Você não nos contou nada sobre aqueles dois! Nem disse que estavam armados!” Carlos respondeu gritando “Eles mataram minha irmã, droga!”

‘Eu não tenho culpa da garota ser uma completa inútil.’ a voz falou em tom de zombaria.

“Isabela está morta por culpa sua!”

‘Você sabe muito bem de quem é a culpa... agora volte para cá, seu trabalho ainda não-’

Carlos não ouviu o que ele disse, pois jogou o rádio no chão e o quebrou.

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Steve parecia não acreditar na atitude da ruiva. Sem demora, ela partiu ao encontro do namorado. Era como se as forças dela estivessem retornando, já que novamente ela correu.

“Aquela garota ficou maluca.” ele falou balançando a cabeça

“Temos de ajudá-la, Steve.” Matthew se dirigiu a ele.

O velho olhou para o rapaz erguendo a sobrancelha.

“Nem devíamos estar aqui. Fomos pagos para trazê-los aqui e ir embora.” Steve continuou erguendo os braços “Mas, você tinha de estragar tudo!”

“Não podíamos deixar que eles aqui para morrerem! É isso mesmo que queríamos fazer, Steve?” Matthew falou com voz de lamento.

Steve não respondeu. Ele murmurou algo incompreensível e afastou-se um pouco dele.

“Eu não sei você, mas estou indo.” O rapaz não esperou e também correu atrás de Daphne.

“Ei, espere!”

Ao perceber que estava próxima do local onde Fred estava, ela parou de correr e começou a seguir mais lentamente. Ela se apoiava em troncos e afastava as folhas que atrapalhavam sua visão. Fred ainda não fora avistado.

“Fred...” ela sussurrou tristemente.

Não demorou muito até que uma mão tocou em seu braço, fazendo-a reagir.

“Acalme-se, sou eu, Matthew!” o rapaz falou assustado, desviando do quase golpe da mulher.

“Droga, Matthew! Você quase me matou de susto!” a ruiva falou “Estou nervosa demais... desculpe-me.”

“Novamente eu digo, acalme-se, vai ficar tudo bem. Vamos achá-lo, vivo.”

“Eu espero, Matt.” ela olhou para frente “Espero muito.”

“Matt?” o rapaz sussurrou corando.

“O que disse?” Daphne perguntou sem olhá-lo.

“Não, nada... vamos andando.”

A ruiva assentiu e os dois continuaram a caminhar, ainda temendo que Carlos estivesse por perto. Eles caminhavam lentamente, tentando fazer o mínimo possível de sons enquanto passavam pelo chão repleto de folhas mortas e gravetos escondidos.

“Ali.” A ruiva falou apontando para alguns metros à frente “É ele. Fred!” ela avistou uma figura encostada numa árvore.

“Não vejo sinal de mais ninguém. Será que é uma armadilha?” o rapaz aproximou-se mais um pouco do local, olhando para todos os cantos.

“Eu não sei...” ela balançou a cabeça preocupada, e ao se aproximar mais, notou o sangue que escorria do ferimento “ele está ferido!”

Daphne saiu correndo ao seu encontro. Matthew tentou impedi-la, mas era tarde demais.

“Fred! Fred!” ela gritou aproximando-se dele.

“Argh... D-daphne!” ele gemeu de dor, tentando pressionar a ferida com a mão. “Daphne, você está bem?” o loiro tentou se mover, mas a dor o impediu

“Não se esforce, amor. Eu vou tirar você daqui.”

Logo depois, Matthew chegou e aproximou-se dos dois.

“Essa não...” ele falou olhando para a ferida de Fred “Temos de tirá-lo daqui, rápido.” Ele correu para perto deles, e junto de Daphne levantaram o loiro, cada um usando o corpo para apoiá-lo.

O loiro continuava a gemer por mais que tentasse não fazer muito barulho. Sua situação era bastante delicada.

“Vamos procurar um lugar seguro para ele.” A ruiva falou.

“O avião.” Ele olhou para o caminho em se encontrava o veículo.

“Não sei se teremos todo esse tempo até chegarmos lá, Matthew.” Ela respondeu com dificuldade.

“Então para onde iremos levá-lo?”

Uma voz surgiu ao fundo. Era Steve, surgindo dentre as folhagens. Ele estava cansado de correr e suando muito.

“Venham comigo.” O velho sugeriu com urgência.

Os dois não tinham opção. Era concordar com Steve e seguir até o lugar indicado, ou demorar mais e deixar que Fred morresse.