Foi um choque para Fred vê-la naquele estado. Ele não havia sido o único a sentir, como o próprio atirador ficou atordoado.

Michael deixou o revólver cair no chão, perplexo. De forma alguma queria machucar sua própria irmã, só que o amor dela pelo namorado era tão forte que a fez jogar-se na mira da arma.

Ele gritou; gritou tão alto que os guardas que o esperavam do lado de fora entraram na sala para averiguar a situação. Tudo o que viram foi o loiro segurando o corpo caído da mulher, e o chefe deles ajoelhado no chão, cobrindo o rosto em lamento.

“Não... não, não, não! Daphne!” Seu irmão gritava.

“Chefe, precisamos ir, agora!” um dos homens de Michael aproximou-se dele, levantando-o para ficar de pé. Mas ele recusou a ajuda, afastando-o para longe.

“Chefe, a situação não está boa. Agentes estão vindo para cá, temos que sair desse lugar o mais rápido possível.” O guarda que estava perto da porta tentou convencê-lo.

Michael olhou para Daphne, e reparou também em Fred, que a todo o momento tentava reanimá-la. A ruiva, assim como seu namorado, também perdia uma quantidade considerável de sangue; ela precisava de atendimento rapidamente.

“Está bem.” O homem sussurrou, levantando do chão. “Vamos logo.”

Michael e o guarda seguiram até à porta, mas antes, o homem parou e por uma última vez, observou-a, e sussurrou algo incompreensível. Fred não quis olhar no rosto dele por puro ódio e porque estava preocupado demais com sua namorada. Não agiu antes por medo de tentarem prejudicá-la em sua tentativa de escapar daquele lugar no momento.

Então eles se foram, e em seguida, o loiro ergueu Daphne em seus braços.

“Daph... eu sinto muito. Eu vou tirar você daqui o mais rápido possível.” Ele falou, saindo com ela da sala.

Ele parou ao ver dois caminhos, um norte e outro sul. Rapidamente, Fred fechou os olhos tentando se lembrar da direção em que veio. Quando os abriu, tinha certeza que era para seguir em frente.

Enquanto Fred começava a correr, não percebeu de primeiro momento que Steve vinha logo atrás chamando por seu nome.

“Ei! O que-“ após alcançá-lo, viu a cena “Ah, meu Deus! Como ela foi atingida?”

“Não há tempo para explicações, Steve, ela precisa de ajuda!”

“Será que conseguimos chegar até o avião?”

“A distância é longa demais” Fred argumentou, “talvez não tenhamos tempo.” Fred novamente começou a correr.

“Para onde vai? Nem sabe se no final haverá um transporte ou algo do tipo?!”

Fred não respondeu. Ele tinha um pressentimento que pudesse achar uma ajuda, e que precisava ser rápido. Então correu o mais rápido que pudesse com a ruiva já prestes a perder a consciência. O caminho era composto por um largo corredor que não parecia ter fim. Ele ignorava várias portas das quais passava. Steve, em vão, tentava correr tão rápido quanto o detetive para alcançá-los.

“F-fred...” Daphne tentou falar, gemendo de dor.

“Meu amor, não se esforce, tudo bem? Eu vou tirar você daqui.” Fred tentava ser forte e aparentar estar bem, mas sua condição física não estava. Nem um dia sequer havia se passado desde que foi operado improvisadamente, o que eram mais motivos que o deixavam mais debilitado a cada minuto que passava. Por dentro, sentia até como se os pontos feitos para fechar o ferimento pudessem abrir a qualquer instante.

“Eu... não...” os olhos da ruiva lentamente queriam fechar contra sua vontade.

“Daph, Daphne, olhe para mim. Não durma, por favor.”

Ela respondeu com um fraco sorriso.

O tempo estava acabando, e se não achassem uma saída rápido, seria tarde.

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No final do trajeto, havia uma única porta. Fred sentiu que aquela seria a única chance de Daphne de sobreviver. Então parou, esperando a chegada de Steve.

“É aqui mesmo?” o velho aproximou-se da porta, e vendo o loiro assentir, pressionou a maçaneta.

Ao ser aberta, todos se depararam com uma forte luz e um som grandioso. Era dia. A luz do sol adicionada ao barulho do mar dava a esperança para eles em fugir dali. Só precisavam agora achar um transporte.

Fred saiu dali com Daphne. Havia uma escada que descia até à praia. Steve desceu primeiro, correndo para achar algo que pudessem usar. Ele olhou para todos os lados, e quando finalmente avistou, parou para avisar.

“Ei!” Steve disse, a vinte metros de distância dos dois. “Tem um barco ali, vamos!” ele acenou com a mão e apontou para leste, onde havia uma espécie de mini porto. O velho correu antes para poder checar as condições do veículo que, na verdade, era uma lancha. Fred foi logo em seguida.

Por sorte, o barco estava com a chave e os três puderam usá-lo. Fred quem pilotou, enquanto Steve tentava manter a vitalidade de Daphne. De acordo com o radar e com o GPS, o local mais próximo era a baía de Callao, no Peru.

Quando chegaram, o resultado foi o esperado. Foi uma turbulência até conseguir chamar alguém para pedir ajuda. Fred não entendia muito bem o idioma peruano, e por isso, improvisava seu espanhol desesperadamente. Uma pequena multidão estarrecida formou-se, o que era inevitável.

O loiro deu graças pela ambulância ter chegado rapidamente. E após Daphne ter sido internada no hospital local, a imprensa não demorou muito e chegou aos montes. Algumas horas se passaram, e a notícia havia se espalhado pelo mundo. ‘A grande detetive, Daphne Blake, baleada e correndo risco de vida. ’ Era o que todos comentavam.

A notícia também havia chegado até os três membros da Mystery Inc.: Velma, Shaggy e Scooby. Assim que souberam, interromperam a viagem que faziam, e imediatamente tomaram um voo até Peru. Todos ficaram muito abalados, ainda mais que Fred também precisou de cuidados médicos para tratar dos ferimentos que havia recebido.

Michael havia fugido. Dois membros da turma quase foram mortos. Daphne havia entrado numa rede que não poderia sair, a não ser que acabasse com o criador.

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Três meses se passaram. Foi o tempo para que todos pudessem tentar voltar com suas vidas normalmente. Velma seguiu até Alemanha para fazer um projeto de pesquisa. Shaggy e Scooby tomaram suas ‘férias’ e foram para o Havaí. A casa ficou muito vazia e quieta depois disso. O casal ainda sentia as marcas daqueles eventos que quase culminaram em suas mortes. Daphne, ultimamente, parou de citar o nome Michael, desde a última vez que foi interrogada pelo FBI, que agora havia tomado às rédeas desse novo caso. Fred ainda tinha preocupação com sua namorada, que parecia ter mudado; mas, na verdade, ele não percebeu, mas também mudou.

Era uma manhã de segunda feira, muito parecida com a primeira vez que Daphne havia ouvido aquela ligação, o que era ruim. Ela ainda estava em sua cama, seus olhos haviam acabado de abrir, notando o homem sem camisa que estava ao seu lado. Seu peito estava à mostra, e ela ainda conseguia ver a cicatriz que parecia não sair dele. As lembranças voltaram e seus olhos ficaram vermelhos. Um sentimento de culpa tomou sua mente; queria pedir desculpas, mil desculpas. Sentiu tristeza, ódio, era uma mistura fatal.

A detetive levantou da cama e foi ao banheiro para se preparar para o dia. Saiu de lá, já vestindo outras roupas e voltou para o quarto de Fred, viu o namorado já com os olhos abertos.

“Bom dia, meu amor.” Ele virou o rosto, dando um sorriso.

“Bom dia.” Ela respondeu, quase secamente.

Lentamente, Fred sentou-se na cama, observando-a.

“Está tudo bem?”

Daphne estava de costas quando o ouviu falar. Ela virou-se para ele, com um rosto sério.

“Não está, Fred. É como se tudo estivesse errado.”

“Daph...” O loiro se levantou e foi ao encontro dela, abraçando-a fortemente. “estamos superando isso, juntos. Eu sei que é difícil, mas nós vamos conseguir.”

Ela o abraçou de volta, deixando escapar algumas lágrimas de seu rosto. Ficaram ali por algum tempo, mas ela logo levantou sua voz.

“Nós temos de dar um jeito nessa bagunça.”

Fred, em primeiro momento, não acreditou nas palavras dela, só que seu tom de voz era convincente demais para ser mentira. O que ela disse era sobre Michael e ele tinha certeza.

“O quê?” eles soltaram-se um do outro “Daphne, você quer se envolver nessa história novamente?” Fred perguntou, indignado.

“Aquilo ainda não acabou.”

“Olhe. Porque você não toma um banho para esfriar sua cabeça, depois vamos tomar café? Você deve estar estressada com toda essa história, e-“

“Eu estou estressada, sim. Mas é porque um homem está solto sabe-se lá onde, e você não acha ser tão estranho o FBI tomar conta do caso, mas parece que ele foi esquecido? Nem a imprensa noticia mais sobre isso?!”

“O FBI, com certeza, já está dando conta disso tudo, Daph. Eles são uma agência avançada, devem estar agindo em sigilo.”

“Não, Fred. Isso é muito estranho.”

“Mesmo assim, Daph. Por onde iríamos começar? Michael é um fantasma agora, não temos sequer notícias dele.”

“Isso não é verdade. Ultimamente eu tenho relacionado alguns eventos em que um homem dotado do perfil de Michael aparece como sendo o suspeito principal no comando de uma rede de tráfico de drogas.”

Fred a encarou nos olhos, tentando buscar palavras suficientes para convencê-la a desistir de seu plano.

“Amor...” ele a segurou nos dois braços carinhosamente. “Querida, nós enfrentamos muita coisa juntos, e... nossa, eu quase perdi você. Não sabe o que seria de mim se você não sobrevivesse àquele disparo.”

“Freddie...”

“Daphne, eu te amo tanto! Eu só quero que você fique segura.”

“Eu também te amo, Fred. Mas... eu não posso... eu não posso deixar que ele machuque mais ninguém.”

Ela começou a se afastar dele.

“Daphne! Por favor, pense nisso. Pare de tentar arriscar sua vida!”

“Estou fazendo isso por nós!” ela aumentou sua voz.

“Não, não está! Está apenas tentando buscar vingança!”

Daphne realmente estava estressada. Sua mente estava tão abalada, que ela explodiu.

“E se eu estiver? Ele quase matou a mim, quase matou você... e não se lembra de que ele matou Matthew?! Aquele homem está doente e precisa ser detido. Ou por eles, ou por mim.”

Os dois foram profundamente marcados por aqueles eventos. A raiva criada por Michael foi lançada contra eles mesmos.

“Então vá sozinha. Acabou.”

A ruiva não podia acreditar no que acabara de ouvir.

“O que foi que disse?”

“Se você quiser ir então vá sozinha.”

A ruiva deu dois passos para trás. Nunca imaginou receber uma reposta como aquela. Ela balançou a cabeça negativamente. Saiu em silêncio e bateu a porta do quarto dele com força.

Daphne correu para seu quarto e pegou seu celular. Digitou alguns números e fez a chamada.

“Alô? Kenny? Oi... vamos prosseguir com o plano. Encontro você daqui a pouco, até mais.”