Algumas vezes penso que minha personalidade é fragmentada, esses fragmentos criaram vida e são as vozes na minha cabeça, meus vislumbres. As vozes, meus demônios interiores fazem parte de mim.

E eu não sei quem sou em meio a tantos fragmentos

Fui até a garota que finalmente olhou-me, naquele olhar encontrei curiosidade, surpresa e humor. Ela era mesmo algo peculiar, em seu rosto não havia rastro de maquiagem, as unhas eram curtas e com o tom natural, o jeans claro e não muito justo acompanhado da camiseta preta sem estampas.

_Oi, você é nova aqui na sala?_ Perguntei com minha melhor imitação de pessoa simpática, com um sorriso sincero.

_O-oi, não..._ Ela falou parecendo tímida._ Estou aqui a bastante tempo, digo, desde o inicio do ano._ Ela concluiu ainda encabulada, dando um sorriso nervoso.

Existem muitas pessoas tímidas, vi muitas andando pelos corredores, dando sorrisos bobos e se escondendo atrás de franjas grandes ou óculos grossos, mas ela não tinha apenas timidez, era algo além daquela fachada comum. Era perturbador.

Senti a necessidade de saber o que ela pensava, pela primeira vez quis saber a opinião de alguém. Queria ouvi-la dissertar sobre qualquer coisa e isso me incomodava.

Precisava saciar esse desejo logo e sair de perto dela, sair do caminho daqueles olhos cobertos por lentes grossas.

_Sou muito distraído, por isso não te vi..._ Falei usando uma técnica muito velha, a de auto depreciação. Quando você se autodeprecia sutilmente, tem mais chance de ficar próximo das outras pessoas, elas têm a compaixão e a necessidade de mostrar que você não é tão ruim. Ainda mais se a outra pessoa for tímida, ela terá essa necessidade triplicada por causa da identificação._ Meu nome é Sebastian._ Completei.

_Eu sei..._ Ela falou baixinho._ Meu nome é Anne.

_Acho melhor irmos Anne, todos já saíram._ Disse já caminhando ao lado dela, eu estava sondando o campo perfeitamente. Nenhuma expressão passava despercebida, cada detalhe era devidamente registrado em minha memória.