Surreal - Art and Insanity

Capítulo 73 - Uma troca


_Doutora...

Meu tom era serio como o de alguém que anuncia uma tragédia. Entretanto, eu tentava esconder toda a ansiedade que tentava transbordar, aquele seria um os meus grandes passos, só esperava ter pernas longas os bastante.

_Sim, Sebastian?_ Seus olhos preocupados me fitaram trazendo-me a lembrança do dia em que a fiz prometer .

**

_Posso te dizer o que me lembro, posso te dar esse “trampolim para o sucesso”, mas te custaria algo. Você faria qualquer coisa por sua carreira?

Pude ver o choque no rosto da doutora, ela não esperava tanto, mas percebi que ainda assim pensava na minha proposta.

_O que quer em troca?_ Ela perguntou e aquele era o momento pelo qual aguardava, era minha chance.

_No momento certo você saberá._ Falei, e quando vi que ela continuava com a expressão de desconfiança completei._ Mas não se preocupe não será nada... Físico.

“Ah! Ela não é tão ruim assim” Albert reclamou com humor, surgindo repentinamente como costumava fazer.

_Então?_ Perguntei cansado de esperar pela resposta da doutora.

_Irei mandar trocarem seus remédios, está muito elétrico._ Ela falou numa tentativa de fazer uma piada e tirar um pouco da tensão que havia se formado.

Olhei-a serio como se a pressionando a responder. Depois de algum tempo ela pareceu estar desconfortável.

_O que você quer Sebastian?_ Ela perguntou já sem nenhum sinal de humor.

_Ás vezes é preciso arriscar Doutora._ Respondi e voltei a olhar o nada. Ela olhou-me por alguns segundos e eu tive certeza que ela estava pensando em todos os prós e contras, em todas as possibilidades, em tudo que eu poderia estar planejando.

_Certo, faremos essa troca._ Ela disse por fim.

**

_Eu preciso da sua ajuda.

Creio que pela forma como falei ela soube ao quê me referia.

_Já estou te ajudando..._ Desconversou.

Não contive o riso fraco que me parece sem vida.

_Eu só quero escrever, só preciso escrever algo que não será lido e estudado. Não quero que alguém leia e tente entender o que quero dizer...

Dramaticamente me aproximo ajoelhando-me com o rosto próximo de seus joelhos. Sentada ela tinha uma boa visão da expressão triste no meu rosto.

_Estará me ajudando, se proteger minha memória de tamanho desrespeito, de tamanha invasão.

Era uma grande ironia eu estar pedindo sigilo a alguém. Logo Eu, que nunca fui de respeitar direitos alheios de individualidade, o respeito aos sentimentos e pensamentos. Mas eu não sou um livro aberto e não quero ser.

Um pouco desconcertada, Doutora Fisher afasta sutilmente seus pálidos joelhos de meu rosto.

_ Você havia dito que ninguém era "muito especial". Quem é especial a ponto de receber uma carta?

Não houve disfarce, a curiosidade estava em seu rosto e em suas palavras. Uma curiosidade quase possessiva em sua postura que estava rígida. Em momentos como esse agradeço a mim, por ser tão bom em mentir.

_Não é questão de alguém especial ou não. Eu apenas lembrei de uma conversa que tive antes de tudo acontecer, eu só quero dar noticias, dizer que estou vivo e que talvez tudo fique bem._ Disse sem acreditar em metade das minhas palavras.

_E quem é essa pessoa?

_Você terá que confiar em mim, assim como estou confiando em você.

Já não havia espaço para duvida ou para desistir, as sobrancelhas arqueadas da Doutora não mostravam nada mais do que uma forma de camuflar seu nervosismo, sua ansiedade e quem sabe seu medo.