Surreal - Art and Insanity

Capítulo 54 - Ócio


Desci a escada indo até a cozinha que como sempre, estava milimetricamente organizada. As empregadas arrumaram tudo antes de serem dispensadas.

Abri os móveis modernos a procura de um copo, depois de algum tempo encontrei, era estranho como meus pais gostavam de ter uma casa organizada a ponto de parecer que ninguém mora nela. A casa parecia uma instalação de arte com ares futuristas, uma coisa bem comum entre pessoas excêntricas e com muito dinheiro e que não ligam em ter uma casa que parece ser um cenário de algum filme de ficção científica.

Bebi agua, e já ia de volta para meu quarto quando retrocedi, não adiantaria voltar para a cama, já devia estar amanhecendo. Então peguei a chave reserva que ficava escondida atrás dos preciosos pratos de porcelana pintados a mão e abri a porta dos fundos.

Havia muito tempo que eu não ia ali, mas me parecia igual o que fez as lembranças inundarem minha mente, não e incomodei com a madeira fria sob meus pés descalços, o sol ainda não estava se pondo, talvez não houvesse sol naquele dia, talvez as nuvens cinza do dia anterior aparecessem novamente.

Olhei a grama escassa e amarelada, não havia nada de mais naquele lugar, mas o que o tornava diferente eram as lembranças, os momentos em que passei ali quando criança, fugindo do contato com as visitas e pensando em qualquer coisa.

Sentei-me no degrau em que sempre sentava, respirei profundamente o ar gelado. O frio não me incomodava tanto, o que incomodava de verdade era o fluxo continuo de pensamentos. Se eu pudesse parar de pensar por alguns segundos e apenas ouvir o silêncio que se fazia...

Talvez esse dia não seja tão ruim, preciso de alguma ação, preciso me manter ocupado e tentar não pensar. Tudo que houve ontem está dando voltas em minha cabeça, não sei se foi a coisa mais sensata a se fazer, mas observando o ponto em que Anne e eu chegamos, acredito que era a única coisa a ser feita, a única saída que me proporcionaria mais resultados.

Precisei tomar uma decisão rápida, e o fiz. Agora precisava aguardar, como aguardo sentado num degrau, exposto ao frio e observando a grama amarela.

De alguma forma eu estava ansioso por dentro, esperava que amanhecesse logo, que eu pudesse encontrar Anne o mais rápido possível e falar com ela.