Surreal - Art and Insanity

Capítulo 44 - Falhas I


Acordei um pouco tarde e cheguei na segunda aula, mas provavelmente não perdi nada importante.

Olhei para o lugar da Anne, ela estava seria olhando seu caderno como se algo ali tivesse algo muito complexo.

Ela está chateada. Ouvi de uma voz que vinha do lugar atrás de mim.

Olhei para trás, e assim que vi Albert virei-me para frente, para que ninguém percebesse que eu estava olhando o nada como se houvesse alguém ali.

Eu não podia falar com Albert numa sala cheia de gente, ou começar a sussurrar, então peguei uma caneta e comecei a escrever... Como previsto ele entendeu e debruçou-se sobre sua mesa para conseguir enxergar o que eu estava escrevendo.

Como pode saber ? escrevi e ele leu em voz alta, o que era uma coisa estranha, pois eu sabia o que tinha escrito e mais ninguém ali podia ouvi-lo, então... Ler em voz alta em situações como essa não faz o menor sentido.

Eu sei por causa do modo como ela se comportou ontem e como te olhou quando você entrou na sala ; aquilo nos olhos dela parecia uma mistura de tenho nojo de você com por que você não morre?

Certo, pode ser que ela esteja um pouco ofendida, mas eu é que deveria estar ofendido, e não estou...E quem se importa com o quanto ela está ofendida? escrevi.

Você se importa, pois se ela estiver descontente seus planos de descobrir mais serão afetados , ele falou como se fosse algo muito óbvio; e era algo óbvio, mas não estava pensando direito. As lamentações de Rita ainda ecoavam na minha cabeça.

Olhei tudo a minha volta sem procurar nada em especial, era só para pensar no que eu poderia fazer, eu estava ganhando tempo para pensar em algo que fizesse Albert parar de falar sobre a Anne e seu suposto descontentamento. Mas não consegui, minha cabeça ainda estava cheia de coisas: gritos, pensamentos e qualquer outra coisa.

O que você acha que eu deveria fazer?, indaguei sentindo-me cada ve mais perto do fundo do poço...

Agora eu estava aceitando concelhos de um ex amigo imaginário e atual apenas uma alucinação .Qual seria a próxima etapa? Sair correndo na rua e dizendo que sou um lunático e que Deus me disse que o mundo vai acabar?

Tem como isso ficar pior?

Se desculpar, Albert disse depois de alguns segundos pensando numa resposta para minha pergunta.

Pelo quê? escrevi tentando conter uma expressão de indignação que estava prestes a surgir em minha face.

Por qualquer coisa que você consiga lembrar e que possa funcionar, e se não lembrar consulte sua consciência, não a mim. Respondeu sorrindo .

Eu não precisava olhar para trás para saber que Albert não estava mais lá, ele sempre fazia isso.

Mais algum tempo se passou, com um professor repassando a matéria que algumas pessoas simplesmente ignoravam, outras fingiam estar interessadas e algumas estavam interessadas no assunto e tinham que tentar entender o que o professor dizia tão rapidamente.

No intervalo, Anne estava sentada no lugar de sempre, longe de todos.

Sentei-me ao lado dela como havia feito tantas vezes e observei seu rosto de perfil, era difícil saber quando ela estava chateada, estava sempre com aquela expressão de tédio, mas durante esse período que venho observando-a ela tem demonstrado mais, já não é como se eu estivesse falando com um boneco de corda que foi feito para responder sim ou não.

_Desculpe-me._ Falei rapidamente e ela sequer olhou-me, pensei que não tivesse ouvido então repeti: Desculpe-me.

Tudo aquilo era muito estranho para mim, eu não queria pedir desculpas e não via motivo para isso, pois não estava errado, não daquela vez. E se eu estivesse errado porque pediria desculpa? Para me redimir?

Um pedido de desculpas não muda nada, é só um pedido, são só palavras que não tem o poder de mudar nada. O que já foi feito, o que foi dito não pode ser apagado, ninguém pode voltar e fingir que nada aconteceu.

E eu ainda penso que Anne não está chateada ou magoada com algo que eu disse, ela parece estar como sempre e não parece do tipo que se magoa com algo e se isso acontecer ela faria algo para não transparecer.

_Está se desculpando pelo o quê?_ Ela perguntou erguendo uma sobrancelha.

Anne sabia o motivo de meu pedido de desculpa, mas ela estava brincando com aquela situação; e para ela não bastava um pedido, era preciso reconhecer o erro e uma bela e tocante dissertação sobre o quanto alguém pode arrepender-se. Mas eu não estava arrependido, não havia motivos para isso, mesmo assim senti que deveria continuar, eu já havia iniciado um pedido de desculpas por não ter pensado bem antes, por ter ouvido uma alucinação... E eu poderia conseguir alguma coisa com aquela situação.

Ela esperava minha resposta encarando-me, como se estivesse me pondo contra a parede.