Surreal - Art and Insanity

Capítulo 29 - Herança


Talvez Anne tivesse puxado seu pai, o jeito mal humorado e de poucas palavras, ou talvez não tenha herdado nenhum traço da personalidade dos pais assim como eu.

Não Herdei traços da personalidade dos meus pais, ou talvez até tenha herdado, mas eles foram traços ruins que acarretaram em meus transtornos. As únicas coisas que herdei de meus pais foram os olhos castanhos, a palidez e a capacidade de manter-se calado por muito tempo de meu pai, ele só usava sua capacidade para não contestar minha mãe, para aceitar tudo que ela dizia... Era incrível como ela sempre o controlou, ele não tinha muita autoestima, provavelmente devia pensar ser inferior a sua esposa.

O senhor Volkov também nasceu numa família endinheirada, dedicava-se aos estudos sobre arqueológicos e outras coisas assim, até que conheceu minha mãe, que até então era apenas Nádia Abramovich, uma jovem rica que estava sempre acompanhada de mais pessoas ricas que organizavam eventos beneficentes com artistas famosos.

Não sei ao certo o porquê deles terem ficado juntos, meu pai parece gostar mesmo dela... Talvez seja reciproco o que sentem um pelo outro, mas me parece uma relação um pouco sádica: meu pai aceita tudo com um pequeno sorriso, minha mãe faz questão de organizar tudo que vão fazer sem perguntar o que ele acha, ela dita as regras, ele as aceita e segue com um sorriso satisfeito.

Não há como negar que somos uma família perfeita, com os sorrisos estampados nos rostos, um primogênito com ótima aparência e com talentos finos para as artes, nossos defeitos bem escondidos por trás da bela fotografia na lareira, da bela fachada da casa grande num bairro bom, da preocupação com os que têm menos, do desaine moderno e do dinheiro gasto nos jantares com amigos... Somos perfeitos para todos que nos cercam, servimos como exemplo de família perfeita.

Isso é completamente doentio, mas quem sou eu para falar do que é doentio ou não?

Faço parte de tudo isso, sou uma ferramenta e sou quem controla parte disso, nasci nisso, tenho oportunidades para mudar, mas não me importo, eu não me importo tanto assim.

Quem se importa? Quem se incomodaria em parecer algo próximo da perfeição, em saber que ninguém percebe seus problemas?

Nunca quis estragar o belo disfarce dos meus pais, o meu belo disfarce, mas existem coisas que não podemos evitar que passam por cima de nós. Mas também foi por negligencia de minha parte que tudo acabou acontecendo, às vezes vou longe de mais para chegar a lugar algum...